sábado, 18 de maio de 2013


UMA MUDANÇA DE PARADIGMA - 7
Os sérios problemas que vieram 
com a Agricultura Série transcrita dos livros
"A SOPA QUÍMICA"/“THE CHEMICAL BROTH 
- Milton Maciel – Idel - 2008/2013 (Broth = Caldo)
(ver gráfico abaixo)

O Desequilíbrio Essencial (continuação)


DIETA PALEOLÍTICA                  DIETA OCIDENTAL

                                           Proteínas
30 - 50%                                              13%
fontes: carnes magras de caça,         carne gorda de criação,  peixe,
peixe, castanhas, ovos                     laticínios, grãos, leite, queijos, ovos

                                       Carboidratos
35%                                                    52%
fontes: frutas, verduras,                    cereais,farinhas e derivados,
e raízes silvestres                             açúcares refinados, doces,
                                                      refrigerantes, sorvetes, leite
                                                      iogurtes, frutas (menos de 4%)
índice glicêmico: baixo                                índice glicêmico: alto
teor de micronutrientes: alto                        teor de micronutrientes: baixo
teor de fibras: altíssimo                                teor de fibras: baixíssimo  
             
      Gorduras
            35%                                                    37%
fontes: carne magra,                          carnes gordas, embutidos,
peixe e mariscos,                               óleos vegetais, gorduras
castanhas, ovos                                 vegetais, margarinas, ovos
gorduras saturadas:30%                                   gorduras saturadas: 70%
mono e poli-insaturadas: 70%                          mono e poli-insaturadas: 30%
ômega 6 / ômega 3    < 4                                    ômega 6 /  ômega 3    > 10

                                                       Vitaminas
3 vezes maior que atual

                                            Minerais
5 vezes maior que atual                       Sódio: 8 vezes maior agora

                                                        Fibras
10 vezes maior que atual

                   Tabela 1 – Dietas Paleolítica e atual comparadas
  

Em primeiro lugar, existe uma gritante diferença entre a participação das proteínas na paleodieta e na dieta ocidental contemporânea. Nesta, percebe-se que a proteína de carnes magras e peixe foi, em grande parte, substituída por carboidratos de cereais, laticínios e açúcares, já que a participação das gorduras é praticamente igual nas duas dietas.

   Contudo, não é só a diferença quantitativa que é importante no caso das proteínas. Na verdade, a qualidade dessas proteínas é muito diferente, provocando respostas no organismo humano, que ainda não conseguiu se adaptar às proteínas dos grãos e cereais. Uma claríssima evidência dessa incompatibilidade é mostrada na doença celíaca, doença auto-imune provocada pela reação negativa ao glúten presente nos cereais. Outras moléstias relacionadas ao desequilíbrio entre as proteínas da paleodieta e as da dieta atual são a artrite reumatóide, a esclerose múltipla e o diabetes tipo 1.

   No caso dos carboidratos, fração amplamente dominante da dieta atual, o desequilíbrio é igualmente gritante. Nossos antepassados só os obtinham através da ingestão de frutas, folhas, talos e raízes, todas elas silvestres evidentemente. A participação das frutas era muito grande, podendo chegar a 15% da ingesta energética diária. Hoje, ela dificilmente alcança uma média de 4% de participação nesse teor energético diário.

   Um dos fatores mais morbidógenos no item carboidratos é a maciça participação dos açúcares refinados, que respondem hoje por até 20% da ingesta energética diária, na forma de açúcar adicionado, de açúcar oculto nos alimentos processados industrialmente, de açúcar presente em doces, bolos, sorvetes e, com grande importância nesse desequilíbrio, em refrigerantes, cujo uso cresce sem parar ano após ano, o que vai merecer de nós uma análise específica. O excesso de carboidratos de má qualidade na dieta atual, que têm alto índice glicêmico e baixíssimo teor de micronutrientes e fibras, concorre para o aparecimento de doenças como intolerância à glicose, diabetes tipo 2, obesidade e doenças cardiovasculares, entre outras.

A figura 2, a seguir, estabelece uma comparação entre os teores, em percentagem de energia na dieta diária, dos macronutrientes – que são as proteínas, os carboidratos e as gorduras. Nela fica muito fácil de ver como a fração carboidratos na dieta atual avançou sobre um espaço que era, primitivamente, ocupado pelas proteínas na dieta paleolítica. Mas essa distribuição quantitativa não é a única diferença.


                                               Fig. 2 - Dietas comparadas

Como se pode ver na Tabela 1, as diferenças qualitativas são imensas. Há uma enorme disparidade entre os tipos de proteínas, gorduras e carboidratos que proporcionaram o desenvolvimento do corpo humano e seu genoma, ao longo de milhões de anos, e os tipos dos mesmos macronutrientes que aparecem na dieta que temos hoje.

   Para que se possa ver com mais clareza ainda essas diferenças, vamos recorrer à figura 3, onde se mostra a participação dos diversos alimentos atuais na composição energética da dieta.

   A primeira coisa a observar nesta figura é que estes alimentos

Laticínios                                            10,6 %
Grãos e derivados                                23,9 %
Óleos vegetais e derivados                    17,8 %
Açúcares refinados                               18,6 %
TOTAL                                               70,9 % da energia diária

simplesmente NÃO EXISTIAM durante o paleolítico! Ou seja, nunca fizeram parte da alimentação diária dos nossos ancestrais do gênero Homo. São, por conseguinte, alimentos aos quais nosso genoma não está adaptado.

   E mesmo para os outros 29,1 %, a dissonância genética é também muito forte, face à terrível diferença qualitativa entre as carnes e ovos e também as frutas, verduras e raízes atuais em relação às congêneres paleolíticas.

   Um exemplo bem sugestivo é o da carne de aves.

   Para os nossos ancestrais, isso queria dizer carne de qualquer ave silvestre que conseguissem caçar, dentre as centenas que estavam ao alcance de suas flechas, pedras ou armadilhas. Viviam livres, exercitavam-se, voavam, eram magras e esbeltas.

   Para nós, carne de ave quer dizer, quase exclusivamente, carne de frangos criados em confinamento, alimentados somente com grãos (via rações industriais), estimulados com hormônios, defendidos preventivamente com antibióticos e sacrificados com um mês e meio de vida em linhas industriais que os abatem à taxa de 200 mil a meio milhão por dia, por abatedouro. Foi-se a diversidade de espécies, vieram a gordura saturada extrema, os resíduos de agrotóxicos nos grãos que originaram a ração industrial e os resíduos de antibióticos e hormônios que passam para nós através de sua carne, como se vê na abordagem que será feita ao Desequilíbrio Residual.

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