sexta-feira, 17 de maio de 2013


UMA MUDANÇA DE PARADIGMA - 6
Os sérios problemas que vieram 
com a Agricultura Série transcrita dos livros
"A SOPA QUÍMICA"/“THE CHEMICAL BROTH 
- Milton Maciel – Idel - 2008/2013 (Broth = Caldo)
(ver gráfico abaixo)

O Desequilíbrio Essencial (continuação)

O PERÍODO PALEOLÍTICO

   O ser humano contemporâneo, que se autodenominou modes-tamente de Homo Sapiens, surgiu nas savanas da África, entre 150 e 200 mil anos atrás. Ele evoluiu de um ramo comum que compartilha com os mais desenvolvidos primatas, os chimpanzés.


   O período paleolítico (= pedra antiga, ou seja, pedra lascada) começou a cerca de 2,5 milhões de anos e durou até 10 000 anos atrás. Começou então o neolítico (pedra nova, ou seja, pedra polida), que durou até 4500 anos atrás. A grande característica do neolítico foi a descoberta da agricultura e da criação de animais em cativeiro.

  A agricultura tem cerca de 10 mil anos, contra todo um período que é 250 vezes mais longo, o paleolítico. Para formar uma idéia mais clara desta proporção, basta imaginar que estamos percorrendo um trajeto de dois quarteirões e meio (250 metros). Só chegaremos no Neolítico (agricultura, criação) no último metro do percurso.

   Se você se esforçar mesmo para imaginar esta situação, um metro em dois quarteirões e meio, você estará conseguindo formar uma boa e prática idéia dessa proporção. Pois bem, essa é a proporção de tempo que existe entre a alimentação que temos hoje, resultante da atividade agro-pastoril e a alimentação que nós tivemos durante dois milhões e meio de anos, a DIETA PALEOLÍTICA, responsável pela formação do nosso genoma humano.

   Você pode fazer uma outra analogia, também esta bem prática: imagine que você sai para uma caminhada relativamente modesta, de dois quilômetros e meio. Durante a calma caminhada, você vai sentir fome e, por isso, você leva comida consigo. Você vai andando e comendo, sempre o mesmo tipo de alimentação.

   Mas, ao chegar nos últimos dez metros da sua caminhada, você muda de lanche, passa a comer alimentos derivados de grãos e de carnes gordas, deixando de lado as carnes magras de caça e as frutas, verduras, castanhas e ovos que constituíram sua alimentação durante a quase totalidade do seu percurso.

   Pois foi exatamente isso que aconteceu, quando o ser humano aprendeu a cultivar a terra e a produzir grãos, principalmente cereais, para a sua alimentação. Passamos, muito rapidamente, da condição primitiva e multimilenar de CAÇADORES-COLE-TORES para a de agricultores. Isso provocou uma grande revolução na sociedade humana. Acabou-se a vida nômade de caça a animais e coleta de vegetais e as primeiras aldeias humanas foram se formando, geralmente à beira dos rios e lagos, que forneciam água para as pessoas, os animais e as plantas.

   A partir daí, a posse da terra, algo impensável para os homens paleolíticos, tornou-se então de vital importância para os agricultores e criadores do neolítico. Era mistér proteger as áreas de plantação e de criação contra outros grupos humanos. Era ainda mais fundamental garantir o acesso à água. Dessa necessidade surgiram homens especializados em combater outros homens – os soldados. Rapidamente, sob a nova economia agrícola, a sociedade humana foi se estratificando, alguns poucos homens se tornando proprietários de terras e senhores de exércitos. Surgiram assim os governos e os governantes. Uma pequena elite se formou, a qual passou a ter direitos de vida e morte sobre todos os outros membros da comunidade.

   As mulheres, dentro da nova condição, passaram a ter em média um filho a cada um ou dois anos. As mulheres caçadoras-coletoras tinham seus filhos no dobro desse período, quatro anos em média. A nova disponibilidade de alimentos permitiu um rápido aumento da população, o que era de todo conveniente, por fornecer mais braços de mulheres, crianças, escravos e homens pseudo-livres para o trabalho nos campos.

   Os soldados serviam tanto para proteger as terras contra os invasores, como para tornarem-se, eles mesmos, os potenciais invasores e conquistadores das propriedades alheias. E tiveram uma outra atividade de fundamental importância nesse início do período econômico agrícola: impedir que os homens fugissem dos campos, onde eram obrigados a trabalhar em terríveis e estafantes jornadas por remuneração ínfima ou nula, e tentassem reverter à condição anterior de caçadores-coletores, onde o trabalho era incomparavelmente mais leve.

   Alguns paleontólogos chegam a cogitar que a Grande Muralha da China pode ter tido este mesmo papel como mais importante do que o de defesa pura e simples, impedindo as
fugas de aldeões e escravos das áreas de cultivo e criação.

   Duas faces terríveis dessa revolução econômica trazida pela agricultura se sobressaem então, além das já citadas características de criação da propriedade, do Estado e da guerra. Trata-se da submissão definitiva e total da mulher ao homem, que propiciou o surgimento do patriarcado agrícola machista.

   E da grande catástrofe nutricional que se abateu sobre os humanos como um todo, levando a uma rápida degenerescência física e a sérios problemas de saúde, a maioria dos quais veio piorando com o passar dos tempos, até se tornarem as grandes moléstias crônicas dos nossos dias, nos séculos XX e XXI.

   A palavra catástrofe pode parecer exagerada, mas ela é a que melhor descreve a transformação acontecida na alimentação humana, ao passar da dieta paleolítica para a dieta neolítica. Nosso genoma, desenvolvido ao longo de mais de dois milhões de anos, nos quais a única alteração alimentar foi o domínio do fogo e a cocção de alguns poucos alimentos sempre primitivos, silvícolas, não teve tempo AINDA de se adaptar à brutalidade da transformação, que contrapõe alguns escassos milhares contra milhões de anos de evolução genética.

   Essa crise de adaptação genética está na base de um grande número de moléstias que, na atualidade, são as que mais tiram vidas humanas. Os alimentos que temos hoje à nossa disposição agravaram ainda mais a catástrofe iniciada no neolítico e agravaram mais o desequilíbrio essencial.

   Podemos dizer que, em que pese a sua sofisticação intelectual e o seu terno Armani ou seu vestido Paco Rabanne, você continua constitutivamente um caçador-coletor paleolítico! Seu corpo foi formado durante milênios em que ele só se alimentou de uma dieta variadíssima, com mais de cem diferentes “pratos”, todos baseados em carnes magras de caça, peixe e marisco, insetos, frutas, verduras, raízes rústicas, castanhas, e ovos crus de aves silvestres.

   Em contraste, temos a alimentação iniciada no neolítico, com o advento da agricultura: carnes gordas de animais de cativeiro, laticínios, carboidratos derivados de grãos e açúcares simples. Os animais de criação passaram, em nossos tempos atuais, a serem maçicamente alimentados com grãos também, apinhados em confinamentos onde o aumento da gordura saturada da carne é estarrecedor.

   De uns dois séculos para cá, tivemos o advento do “benefi-ciamento” dos grãos, o que ocasionou uma piora extraordinária das suas já discutíveis propriedades nutricionais. Farinha de trigo e pão brancos, arroz branco e, como tiro de misericórdia, o açúcar branco refinado e seu parceiro tão ou mais pernicioso: o xarope de milho de alta frutose (XMAF = HFCS, High Fructose Corn Sirup, em inglês), que nos merecerá atenção especial mais adiante.

   O grande problema que nós tivemos e temos ainda que enfrentar, tanto nos dias iniciais da agricultura como nos dias de hoje, é a incompatibilidade do nosso genoma multimilenar com o novo sistema de alimentação baseado em grãos e carnes gordas, acrescidos presentemente de açúcares refinados, óleos vegetais e gorduras trans.


  Como nós continuamos sendo geneticamente iguais aos nossos ancestrais caçadores-coletores da Idade da Pedra Lascada, temos um genoma que se desenvolveu ao longo de mais de dois milênios até se tornar totalmente compatível com os tipos de proteínas, carboidratos, gorduras, vitaminas, minerais e fibras encontrados normalmente na dieta paleolítica.
  Os tipos desses nutrientes presentes nas dietas de origem agro-pastoril neolíticas e atuais são muito diferentes, tanto qualitativa quanto quantitativamente daqueles da dieta paleolítica.

   É isso que se pode ver na Tabela 1, a seguir, onde a dieta paleolítica e a dieta ocidental atual são comparadas, sendo as respectivas participações de macro e micro nutrientes especificadas em termos de percentuais da energia total diária da dieta. 

Tabela 1 de THE CHEMICAL BROTH - MILTON  MACIEL  2013





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