Os sérios problemas que vieram com a
Agricultura
Série transcrita dos livros "A SOPA QUÍMICA"/
“THE CHEMICAL BROTH - Milton Maciel –
Idel - 2008/2013 (Broth =
Caldo)
(ver gráfico abaixo)
A
degeneração pelo grão (continuação)
Para reforçar o que aqui se diz, vamos recorrer à Tabela 2, que
relaciona exemplos de diferentes fontes de proteínas em função da qualidade
delas.
Alta qualidade
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Média Qualidade
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Baixa Qualidade
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Leite humano
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Arroz
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Farinha de trigo
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Leite de vaca
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Aveia
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Farinha de milho
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Carnes magras
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Farinha de soja
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Ervilha
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Ovos
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Batata
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Gelatina
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Peixe
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Semente
de girassol
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Mandioca
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Proteína concentrada de soja
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Mariscos
|
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Tabela 2 – Fontes de
proteínas de alta, média e baixa qualidades (Harper e Yoshimura – Nutrition Vol
9, No. 5 1993)
Como se pode ver, a
substituição de fontes protéicas da primeira coluna por fontes da segunda e
terceira implica num empobrecimento substancial em qualidade protéica e,
conseqüentemente, no equilíbrio de
aminoácidos disponíveis. É preciso também considerar que os próprios
cereais foram empobrecidos ainda mais, de uns 200 anos para cá (200 em 2
milhões e meio de anos!) pelo processo de moagem e beneficiamento industrial.
Ou seja, pela remoção do farelo e do gérmen, fontes de fibras e
micro-nutrientes e a conservação apenas do endosperma do grão, moído finamente
para se transformar em
farinha. Essas farinhas brancas (algumas até branqueadas
artificialmente) são rigorosamente cereais desna-turados,
ou seja, o que já não era muito bom acabou ficando muito pior!
Historicamente, é bom comentar aqui, a
farinha de trigo sempre foi integral, até que foi inventado o processo de
retirar dela o farelo e o gérmen, o que resultava na coloração alva procurada e
contribuía para que a mesma tivesse mais vida útil, pois os componentes oleosos
do gérmen apressam a decom-posição da farinha.
O procedimento era
inicialmente bastante caro, de forma que só os mais ricos podiam comer pães
brancos, cabendo ao restante todo da população contentar-se em comer pães
integrais. Exatamente o contrário do que acontece hoje, quando os pães
integrais é que são substancialmente mais caros do que os brancos.
Comer pão branco foi, assim,
inicialmente um sinal de status. A cara farinha branca servia também a outra
interessante função, esta de ordem estética: polvilhar as perucas dos nobres da
corte, de modo que todos tivessem imensas cabeleiras rigorosamente brancas,
como se vê nos filmes de época. Obviamente, esse procedimento era não apenas
precário como anti-higiênico.
As perucas iam deixando
cair e espalhando farinha branca pelas roupas e ambientes. E, além disso,
serviam como natural criatório para carunchos, larvas e micróbios à vontade,
passando também por óbvios processos de fermentação, de onde se depreende que
se desprende de tal adorno um cheiro tão desagradável que não há perfume
francês que o logre ocultar. Tal era, na origem, a realidade das lindas
cabeleiras, repositórios de farinha branca a adornar as nobres cabeças daqueles
que eram os únicos a poderem comer pão branco.
Evidentemente, à medida que
o quadro se inverteu e a farinha branca, produzida maciçamente, se tornou mais
barata que a integral, ela foi progressivamente se fazendo uma parcela cada vez
mais ponderável na base alimentar contemporânea e virou comida de pobre!
O que se vê agora é que,
quanto mais pobre é uma população, maior vai ser a participação dos grãos e da
farinha branca na base de sua dieta diária. Com carnes, peixes e laticínios
consideravelmente mais caros e menos acessíveis, as populações de baixa renda
se vêem obrigadas a depender cada vez mais dessa base de alto conteúdo de
carboidratos e de baixíssimo teor de proteínas de alta qualidade e aminoácidos
em equilíbrio.
Para estas pessoas, o
conceito tradicional de feijão com arroz virou arroz (muito) com feijão
(pouco), o que, em si, já quer dizer empobrecimento protéico, já que a
leguminosa contribui com a parcela protéica maior. A esse arroz com feijão
soma-se o festival de farinha branca: pão, macarrão e biscoitos, boa parte
destes cheios de açúcar e gorduras trans. Está aí uma excelente receita para
produzir levas e levas de pessoas obesas nas favelas e bairros de baixa renda
média. E, obviamente, com tal desequilíbrio levado às raias do paroxismo, vamos
encontrar nestas mesmas populações, alarmantes níveis de hipertensão,
hipercolesterolemia, intolerância à glicose, diabetes tipo 2 e outras moléstias
crônicas graves, como doença cardiovascular e derrame – o que, para o
observador leigo, seria um grande contra-senso, pois a lógica pareceria indicar
que tais populações deveriam ser maciçamente magras, já que dominadas
quantitativamente por indivíduos muito pobres. Deveriam ser desnutridos e
magros.
Mas acontece que ali estão,
em grande número, indivíduos desnutridos e gordos! O paradoxo é simplesmente o
resultado do desequilíbrio essencial: ninguém é capaz de ingerir tanto
cereal, mais tanto açúcar e tanto óleo vegetal e escapar incólume a isso. Só
que isso também á válido para os indivíduos das classes economicamente mais
altas. O dilúvio de carboidrato de cereal (grãos beneficiados, pães e massas),
de açúcar e óleos refinados, também os atinge no dia-a-dia. A diferença a favor
deles é que podem consumir carnes, peixes e laticínios regular e abundantemente,
melhorando sua ingesta de proteínas, o que é vedado aos outros, menos
favorecidos.
O indivíduo de baixo poder
aquisitivo, entupido de cereal e derivados farináceos – por não ter outra saída
– e com excesso de açúcar e de gorduras
de má qualidade na alimentação, acaba com excesso de peso (e, portanto com uma
ou mais moléstias crônicas), e se torna um dos mais perfeitos exemplos dos
efeitos do desequilíbrio essencial.
É importante que não se
cometa o engano de concluir simplisticamente que esses indivíduos têm sobrepeso
ou são mesmo obesos porque apenas comem demais. Na verdade, TODOS comem demais,
exceção feita dos que passam fome, dos anoréxicos e de raríssimas pessoas que
comem de forma totalmente proporcional às suas necessidades diárias – uma
absoluta exceção.
CONTINUA
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