domingo, 12 de maio de 2013


UMA MUDANÇA DE PARADIGMA - 3
Os sérios problemas que vieram com a Agricultura
Série transcrita dos livros "A SOPA QUÍMICA"/
“THE CHEMICAL BROTH - Milton Maciel –
 Idel - 2008/2013   (Broth = Caldo)
(ver gráfico abaixo)
A degeneração pelo grão (continuação)



   Para reforçar o que aqui se diz, vamos recorrer à Tabela 2, que relaciona exemplos de diferentes fontes de proteínas em função da qualidade delas.

Alta qualidade
Média Qualidade
Baixa Qualidade
Leite humano
Arroz
Farinha de trigo
Leite de vaca
Aveia
Farinha de milho
Carnes magras
Farinha de soja
Ervilha
Ovos
Batata
Gelatina
Peixe
Semente
de girassol
Mandioca
Proteína concentrada de soja


Mariscos



Tabela 2 – Fontes de proteínas de alta, média e baixa qualidades (Harper e Yoshimura – Nutrition Vol 9, No. 5 1993)

   Como se pode ver, a substituição de fontes protéicas da primeira coluna por fontes da segunda e terceira implica num empobrecimento substancial em qualidade protéica e, conseqüentemente, no equilíbrio de aminoácidos disponíveis. É preciso também considerar que os próprios cereais foram empobrecidos ainda mais, de uns 200 anos para cá (200 em 2 milhões e meio de anos!) pelo processo de moagem e beneficiamento industrial. Ou seja, pela remoção do farelo e do gérmen, fontes de fibras e micro-nutrientes e a conservação apenas do endosperma do grão, moído finamente para se transformar em farinha. Essas farinhas brancas (algumas até branqueadas artificialmente) são rigorosamente cereais desna-turados, ou seja, o que já não era muito bom acabou ficando muito pior!

    Historicamente, é bom comentar aqui, a farinha de trigo sempre foi integral, até que foi inventado o processo de retirar dela o farelo e o gérmen, o que resultava na coloração alva procurada e contribuía para que a mesma tivesse mais vida útil, pois os componentes oleosos do gérmen apressam a decom-posição da farinha.

   O procedimento era inicialmente bastante caro, de forma que só os mais ricos podiam comer pães brancos, cabendo ao restante todo da população contentar-se em comer pães integrais. Exatamente o contrário do que acontece hoje, quando os pães integrais é que são substancialmente mais caros do que os brancos.

   Comer pão branco foi, assim, inicialmente um sinal de status. A cara farinha branca servia também a outra interessante função, esta de ordem estética: polvilhar as perucas dos nobres da corte, de modo que todos tivessem imensas cabeleiras rigorosamente brancas, como se vê nos filmes de época. Obviamente, esse procedimento era não apenas precário como anti-higiênico.

   As perucas iam deixando cair e espalhando farinha branca pelas roupas e ambientes. E, além disso, serviam como natural criatório para carunchos, larvas e micróbios à vontade, passando também por óbvios processos de fermentação, de onde se depreende que se desprende de tal adorno um cheiro tão desagradável que não há perfume francês que o logre ocultar. Tal era, na origem, a realidade das lindas cabeleiras, repositórios de farinha branca a adornar as nobres cabeças daqueles que eram os únicos a poderem comer pão branco.

   Evidentemente, à medida que o quadro se inverteu e a farinha branca, produzida maciçamente, se tornou mais barata que a integral, ela foi progressivamente se fazendo uma parcela cada vez mais ponderável na base alimentar contemporânea e virou comida de pobre!

   O que se vê agora é que, quanto mais pobre é uma população, maior vai ser a participação dos grãos e da farinha branca na base de sua dieta diária. Com carnes, peixes e laticínios consideravelmente mais caros e menos acessíveis, as populações de baixa renda se vêem obrigadas a depender cada vez mais dessa base de alto conteúdo de carboidratos e de baixíssimo teor de proteínas de alta qualidade e aminoácidos em equilíbrio.

  Para estas pessoas, o conceito tradicional de feijão com arroz virou arroz (muito) com feijão (pouco), o que, em si, já quer dizer empobrecimento protéico, já que a leguminosa contribui com a parcela protéica maior. A esse arroz com feijão soma-se o festival de farinha branca: pão, macarrão e biscoitos, boa parte destes cheios de açúcar e gorduras trans. Está aí uma excelente receita para produzir levas e levas de pessoas obesas nas favelas e bairros de baixa renda média. E, obviamente, com tal desequilíbrio levado às raias do paroxismo, vamos encontrar nestas mesmas populações, alarmantes níveis de hipertensão, hipercolesterolemia, intolerância à glicose, diabetes tipo 2 e outras moléstias crônicas graves, como doença cardiovascular e derrame – o que, para o observador leigo, seria um grande contra-senso, pois a lógica pareceria indicar que tais populações deveriam ser maciçamente magras, já que dominadas quantitativamente por indivíduos muito pobres. Deveriam ser desnutridos e magros.

   Mas acontece que ali estão, em grande número, indivíduos desnutridos e gordos! O paradoxo é simplesmente o resultado do desequilíbrio essencial: ninguém é capaz de ingerir tanto cereal, mais tanto açúcar e tanto óleo vegetal e escapar incólume a isso. Só que isso também á válido para os indivíduos das classes economicamente mais altas. O dilúvio de carboidrato de cereal (grãos beneficiados, pães e massas), de açúcar e óleos refinados, também os atinge no dia-a-dia. A diferença a favor deles é que podem consumir carnes, peixes e laticínios regular e abundantemente, melhorando sua ingesta de proteínas, o que é vedado aos outros, menos favorecidos.
 
  O indivíduo de baixo poder aquisitivo, entupido de cereal e derivados farináceos – por não ter outra saída –  e com excesso de açúcar e de gorduras de má qualidade na alimentação, acaba com excesso de peso (e, portanto com uma ou mais moléstias crônicas), e se torna um dos mais perfeitos exemplos dos efeitos do desequilíbrio essencial.

   É importante que não se cometa o engano de concluir simplisticamente que esses indivíduos têm sobrepeso ou são mesmo obesos porque apenas comem demais. Na verdade, TODOS comem demais, exceção feita dos que passam fome, dos anoréxicos e de raríssimas pessoas que comem de forma totalmente proporcional às suas necessidades diárias – uma absoluta exceção.

   A partir do momento em que se tem comida disponível em quantidade, ao alcance do bolso, na geladeira, lanchonete ou supermercado, todos comem demais. Isso porque comer deixou de ser, há muito tempo, somente um ato fisiológico de manutenção da vida. O homem moderno, se com um mínimo de poder aquisitivo, come para TER PRAZER! 
CONTINUA

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