sábado, 28 de maio de 2016

MINHA AVÓ ERA HOMEM 
MILTON  MACIEL  

Pois é. Sim, é isso mesmo que vocês leram aí. Minha avó... era HOMEM. Já vou explicar. Sabe como é, todas as famílias têm seus segredos. Aliás, quando algum deles é descoberto, sempre é possível recorrer à velha justificativa:Isso acontece nas melhores famílias. Eu, infelizmente, não posso.

É que a minha não pode, de forma alguma, ser incluída entre as melhores famílias. Tenho uma irmã que deu o golpe da barriga num homem rico, já levando para a cama dele, na primeira vez, uma sementinha (Sabem, os bebês nascem de uma sementinha!) gentilmente fornecida por um namorado dela. Como ela fez o otário do meu cunhado acreditar que ainda era virgem (isso eu não vou contar hoje, outro dia eu falo), o cara nunca pensou em fazer um exame de DNA. Ele veio prontamente assumir a responsabilidade por ter feito mal à moça virgem de 20 anos (justiça seja feita, ela, de fato, foi virgem até os 13)  e casou logo, a tempo de a barriga não atrapalhar o casamento religioso. Véu e grinalda, é claro.

Mas não é por isso que eu estou excluindo a minha do rol das boas famílias. Tem muito mais coisa e a mau caráter da minha irmã, que continua aprontando das dela, não tem nada a ver com isso. Nós temos um segredo tenebroso, que é a razão maior da nossa vergonha. Não sei se vou ter coragem de contar aqui, mas pelo menos o lance da vovozinha eu não me importo que os outros saibam. Afinal, já faz tanto tempo e a velhinha já morreu mesmo. Bem, o lance foi o seguinte:

Um dia eu subi ao depósito de tralhas que a gente tem no segundo andar. É um bagunça familiar típica. Gerações de relaxados e porcalhões passaram por ali largando bagulhos e badulaques mil, sempre à espera do dia em que a grande faxina geral vai ser feita. Lá em casa deve haver umas mil camadas de sedimentos inúteis, só um bom arqueólogo poderia começar os trabalhos de remoção.

Bom, aquele era um dia de chuva e de tédio. De repente lembrei do museu dos Martini e resolvi dar uma xeretada. Assim do nada, não pensei em procurar coisa alguma, só xeretar mesmo. É claro que lá é escuro a qualquer hora do dia, amontoaram coisas até o nível do teto, lógico, lâmpada de luz fica sempre bloqueada. Então, quando eu entrei, no primeiro metro já dei uma chifrada de fazer gosto em algo suspenso do teto. Aí me desequilibrei e, pra não me estabacar no chão, deu um salto espetacular. Mas aí caí em cima de uma tábua solta, que girou pra cima e demoliu o meu joelho. Gastei todo o meu estoque de palavrões em questão de minutos, até a dor passar. Aí resolvi dar um jeito na maldita da tábua.

É, eu tenho que admitir aqui pra vocês que eu também contribuo para o mau nome da família. Por causa do meu mau gênio, sabe? Sou um ariano típico, fervo a 10 graus centígrados e quando me irrito, não consigo deixar de soltar as patas. Mas vamos voltar à tábua. Eu desci furioso, peguei uma lanterna grande e o machado. Eu estava tão enraivecido, que acho que passei uns quinze minutos dando machadada a esmo naquele piso. Ainda bem que a maior parte estava mesmo coberta de tralhas. Mas, onde havia um pedacinho de tábua de piso aparecendo, eu lasquei o machado com raiva um sem número de vezes.

Claro, tive que pagar o conserto, depois. O pessoal ficou uma fera comigo. Não por causa do estrago, mas porque tiveram que tirar toda aquela tralha mofada e fedida e espalhar pela garagem e pelas outras peças da casa. Minha irmã caçula não fala comigo até hoje, quase um mês depois. Mas isso não interessa, vamos voltar à tábua quebra-joelhos.

Pois é, quando eu fui obrigado a parar minha obra prima de demolição, porque estava tão suado e com tanta dor nos braços que não agüentava mais nem o peso do machado, eu sentei no chão, no lugar onde a agressora tinha estado. E aí, pra minha grande surpresa, eu vi uma caixa preta que estivera escondida debaixo daquela tábua. Apanhei-a com o coração na mão. Podia ter um tesouro lá dentro, jóias, moedas de ouro, sei lá! Pelo menos, nos filmes sempre tem. Que nada! Dentro só tinha um diário e um álbum de fotografias. Levei a caixa com seu conteúdo pro meu quarto, de qualquer forma aquilo era um descoberta arqueológica minha e, mesmo se não tivesse valor algum, não era idéia minha compartilhar meus achados com ninguém.

Mas quando comecei a ler o diário e a olhar as fotografias, eu levei o maior susto. Cara, a minha avó Tereza era HOMEM! É isso aí, no duro. A velhinha que eu conheci e da qual lembrava com tanto carinho, era um velhinho. A manobra aconteceu quando ela e o meu avô chegaram ao Brasil, vindos da Itália. Vinham fugidos da segunda guerra mundial, que tinha feito um arraso total na vila deles. Os dois eram muito amigos e embarcaram como clandestinos no mesmo navio. Aí sabe como é, meses de viagem, os dois juntinhos escondidos,  amontoados em baixo das lonas no porão de cargas, acabou rolando um clima. Você precisam ver como o sacana do meu avô contou isso no diário dele, páginas e páginas de apimentadíssima pornografia gay, com desenhos que ele fazia a toda hora, pra explicar melhor. 

No dia do desembarque, eles tinham que se misturar com o povo e mostrar os documentos de imigração. Que eles não tinham, é claro. Mas aí o mau-caráter do meu avô conseguiu roubar os passaportes de um casal de genoveses da 3ª. classe, deixando o cravo pros coitados, bem típico desta minha família de safados. Aí o carinha que ia ser a minha avó conseguiu surrupiar uma mala de mulher e aproveitou para se vestir com um dos vestidos que estavam lá dentro. Ficou de chinelas mesmo, lascou um lenço na cabeça, e os dois conseguiram desembarcar.

Assim começou a história da minha família no Brasil, os Martini. Que era o sobrenome dos genoveses, vejam só! Por aí você vê como essa família começou mal, com esses dois boiolas pilantras, não podia dar em boa coisa! Vê também que meus avós foram os pioneiros do casamento gay no Brasil. E eles mantiveram a farsa por todo o sempre. Vovô Albino e Vovó Tereza, nascidos, criados e casados em Gênova, Itália - Que mentirosos!

Com o tempo, como vovó fosse estéril, coitadinha, eles adotaram uma menininha (minha mãe) e dois menininhos gêmeos (meus tios). Que nunca souberam que eram adotivos, o que é incrível, porque tanta gente sabia das adoções.  E a coisa andou bem, vovozinha querida na cozinha e cuidando da casa, dos filhos e depois dos netinhos (olha eu ali!), e vovozão trabalhando na cidade.

Foi bem até o dia que a velha bateu com as dez de repente, coração. O velho estava viajando, os filhos já adultos tinham se mudado pra outra cidade, minha mãe sozinha ali não aguentou o rojão. Sempre teve medo de defunto, mesmo sendo a mãe não quis saber de chegar perto. Pediu que o cara da funerária viesse, levasse o corpo e tratasse de tudo, até dos documentos. O que ele fez, é claro, por uma boa grana. Agora imagina a surpresa dele quando tirou as roupas da velha para lavar o cadáver e deu de cara com aquele pacotão no lugar errado. A velha era HOMEM!

O agente funerário era esperto o bastante para saber que tinha tropeçado numa mina de ouro. Ficou bem quieto, esperando meu avô voltar. O velho nunca que ia querer que a família e a cidade toda ficassem sabendo daquele escândalo velho de décadas. De fato, depois que ele mostrou a meu avô as fotografias que fez, com a vovozinha vestidinha de mulher, com parte de baixo exposta e com a vovozinha peladinha, aparecendo em primeiro plano aqueles penduricalhos murchos, o velho Albino ficou nas mãos dele. Começou a extorquir o vovozinho toda semana. Mas ele não sabia que vovô não era genovês coisa nenhuma, era um calabrês de sangue quente. Na terceira semana, ele marcou com o papa-defunto num lugarzinho mais conveniente e despachou o cara com dois tiros nas fuças. A polícia nunca ficou sabendo quem era o assassino.

Pois é, agora vocês sabem: O assassino foi meu avô! Meu avô era assassino e homossexual. Já minha avó era bichona mesmo. Me diga se não é um baita segredo de família, desses que, quando se joga no ventilador, espalha coisa pra tudo que é lado. Pronto, contei tudo!

Bem, tudo não. O maior e o pior segredo da nossa família bem poucas pessoas conhecem. Eu vou contar pra vocês aqui em particular, porque confio na discreção de vocês. É um segredo de lascar, a gente tem a maior vergonha dele. Mas, bom, paciência, eu estou cansado de carregar essa cruz sozinho, peço que vocês me ajudem a levá-la um pouco. Mas sejam discretos, pelo amor de Deus. Senão eu vou ter que mudar de cidade, mais provavelmente eu opte por sair do Brasil. Não, é muita vergonha mesmo, até pra um cara de pau como eu. Sabem o que é?

Bem, meu irmão é DEPUTADO FEDERAL! É, é horrível mesmo, eu aceito a piedade de vocês. É muito vexame mesmo! O filho da puta (desculpe, mãe, é jeito de falar) já se reelegeu três vezes, portanto é dos piores que existem naquele covil de Brasília. Sabe o que aquele ladrão arquicorrupto falou , quando votou "sim" no impeachment? Pois é, vejam só: "Pela minha honra (!), pelas criancinhas, pelo Papa, contra a corrupção!" 

Ah, a gente faz que não conhece esse sujeito, quando a imprensa procura alguém da família, nós todos negamos, ameaçamos processar, damos umas porradas nos caras, tomamos o maior cuidado pras crianças não descobrirem. Sabe como é, traumas de infância são coisas que a gente carrega pelo resto da vida.

É isso, desabafei. Mas agora, por favor, mostrem que são meus amigos. Não contem essa barbaridade pra ninguém! Pelo amor dos seus filhinhos! Jurem pelo que há de mais sagrado. Eu NÃO SOU irmão de DEPUTADO FEDERAL. NÃO SOU!!! NÃO SOU!!!

terça-feira, 17 de maio de 2016

COMO É CARO SER MULHER - 3
MILTON MACIEL

SER HOMEM É MUITO MAIS FÁCIL 

Fisicamente, a menina não custava mais do que o menino (eu disse fisicamente, não vamos falar neste ponto de roupinhas ou cabelinhos, que são comportamentais) até que chegou à puberdade.

Aí botou peitos e menstruou. Pronto: começou a despesa! Já pode ficar grávida (Não, não pode!), já pode ter complicações hormonais, infecções, já precisa de absorvente, anticoncep-cional, roupinha (de cima e de baixo) sexy, moda, pintura, cosméticos. Deus nos livre e guarde: começou o gasto sem fim, o desmonte impiedoso e cruel de toda uma vida financeira, o desrespeito gritante ao sacrossanto suor da mulher que trabalha!

Agora a menina ficou muito mais cara que o menino!

E vai seguir assim durante o resto da vida, até o fim, quando se descobre que um penico para uma velhinha, que uma bengala para uma velhinha, totalmente iguais aos dos velhinhos, custam 30% a mais. Só porque a velhinha é mulher! Ah, são as malditas causas mercadológicas, motivo da terceira sessão deste livro, o arqui-injusto imposto da vagina.

Bem no meio do caminho, entre a menarca e a velhice muito avançada, surgem o climatério e a menopausa.

Oba! Não menstruar nunca mais! É  fim de todos os problemas!

Antes fosse. É o fim de alguns problemas, sim: risco de gravidez, por exemplo. Absorvente. TPM. Cólica. Mas... é o começo de outros problemas. E que problemas! Será que é trocar seis por meia dúzia?

Parece que o departamento de projetos da Mãe natureza resolveu pegar pesado com a mulher. Não lhe dá descanso nem na hora de parar de menstruar. Vai aos poucos trocando umas aflições por outras, deixando-as, por um longo tempo, na base do tudo junto e misturado.

Nós, homens, vivemos um declínio tranquilo da nossa fertilidade e da nossa virilidade, nossa possível andropausa ocorrendo mais tarde e de forma incomparavelmente mais suave do que as complexas fases de climatério e menopausa femininos. Os homens sempre viram no seu declínio o grande fantasma da impotência. Pois até nisso se viram privilegiados: foi inventado o comprimido azul e seus concorrentes. E hoje discute-se, acerrimamente, as conveniências ou não da reposição hormonal masculina. Prolongou-se ainda mais a vida útil do minhocão. E, convenhamos, o comprimido azul é bem barato.

Nós, homens, somos de fato fisicamente mais rústicos e muito menos complicados que as mulheres. À complexidade do útero opomos a simplicidade da próstata (que demora muito mais tempo para crescer e dar problema; e, se ainda morremos muito de câncer de próstata, é por puro machismo, por medo de tomar no... rabinho e perder a tão ciosamente defendida virgindade para um frio e desamante proctologista ou urologista).

Opomos a extrema simplicidade de um meato urinário à ampla complexidade, amplidão e delicadeza de uma vagina, e  mais um meato.adicional na mulher.

E opomos a simplicidade da nossa andropausa à absurda complexidade do climatério e da menopausa.

Não há como negar: ser homem é muito mais fácil, mais barato, menos doloroso e menos arriscado que ser mulher.

E, claro, incomparavelmente mais barato! Caro, mesmo, é ser mulher.

Uma coisa que me incomoda e que me leva a repetir sem cessar essa afirmação, é constatar que os homens não percebem as causas reais por trás dessa realidade. Pensam que é tudo uma coisa de gastar descontroladamente com roupas, sapatos, bolsas, cosméticos e até jóias. Ora isso é só uma parte do conjunto todo..
Estou me esforçando ao máximo – e abusando quiçá da paciência de quem me lê – para deixar muito evidente, neste livro, que há outras causas que não só as ligadas a uma errônea ideia de desperdício e luxo com roupas e acessórios.

Os custos biológicos e mercadológicos são igualmente muito grandes e os homens não os percebam. E grande parte das mulheres também, o que é mais estarrecedor.

Mais do que me incomodar, irrita-me sobremaneira ver que a há homens que não conseguem entender todos os sofrimentos inerentes à condição feminina. Ou os desconhecem, ou os conhecem superficialmente e, acima de tudo, quando os conhecem, não valorizam as pessoas que são submetidas a eles todos os dias de uma longa vida.

Não reconhecer o valor de uma pessoa que vai à luta diariamente em sua dupla jornada de trabalho, enfrentando condução, trânsito, escritório, loja ou fábrica, colegas de trabalho, concorrentes, chefes, salários ou ganhos baixos, responsabilidades, horários, broncas, panelas, filhos, escolas, doenças em família e muito mais – tudo a bordo de um corpo que massacra com TPM, ou menstruação e cólica, ou corrimento e coceira, ou gravidez, ou amamentação, ou fogachos de climatério, ou cansaço e astenia.  E que, ainda por cima, tem que estar coberto por lingerie e roupa da moda, que não pode ser repetida no trabalho ou na festa, o sapato e o saldo bancário apertados, o cartão de crédito e a cintura de pneuzinhos estourando os dois... Ah, e ainda por cima, chegando em casa e tendo que dar muita atenção ao parceiro, ao tal dono do minhoco sempre faminto, virar gata sedutora e tirar um tesão, sabe-se lá de onde, para encarar a tarefa final do roteiro do dia, antes de ir dar mais uma olhada nas crianças.

Acho de uma grossura extrema não saber reconhecer e acompanhar a via crucis de sua companheira quando ela começa a enfrentar o climatério, quando em meio aos transtornos e sofrimentos que cercam a menopausa, uma mulher vai chegando ao seu ponto de maior valor na vida, a maturidade.

Caramba, com é difícil tudo isso! Só porque, ao nascer, a opção foi uma vagina...

Como gaúcho que sou, depois de conviver com esposas, filhas (3) e netas (2) e um grande número de mulheres das quais tenho sido amigo, professor ou consultor, costumo declarar com autoridade:

Olha aqui, tchê: pra poder ser mulher, tu tens que ser muito macho!

De fato, com sua baixa resistência à dor física, dor para a qual as mulheres são treinadas desde menininhas, se o homem menstruasse, como sugere Gloria Steinem, seria certamente na UTI de um hospital. E, se tivesse que suportar a dor do parto, com certeza iria exigir seu sagrado direito à eutanásia. Em compensação, a população do mundo teria se estabilizado, há milênios, em 5000 pessoas somente e não teríamos problemas como superpopulação, poluição e aquecimento global.

CONTINUA

domingo, 15 de maio de 2016

COMO É CARO SER MULHER - 2
MILTON MACIEL

2 - SER MULHER É MUITO CARO

Ser mulher é muito mais caro do que ser homem. As causas são várias, todas elas ocasionando, no entanto, custos que os homens não têm ou os têm muito menores. Essas causas podem ser divididas assim:

I – CAUSAS BIOLÓGICAS
II – CAUSAS COMPORTAMENTAIS
III – CAUSAS MERCADOLÓGICAS

Vamos começar pelas primeiras: 
CAUSAS BIOLÓGICAS

3 – OS SEIOS
 
As causas biológicas são simplesmente inevitáveis: Seios, vulva, vagina, útero, trompas, ovários. Versus pênis, escroto, testículos, canais, próstata. A comparação de complicações e custos é uma verdadeira covardia!

Uma mulher tem um par de seios proeminentes, em luta permanente contra a lei da gravidade, a qual teima em aproximá-los mais e mais do solo a cada dia que passa. Para ajudar nesse combate diário, foi inventado o sutiã. Na sua forma atual, possivelmente em 1813, em Nova Iorque.

 Homens, durante toda uma vida, não precisam gastar um único tostão com sutiãs para eles.

Já as mulheres têm peito para gastar por ano, em todo o mundo, US$ 16 000 000 000.00 (16 bilhões de dólares = 58 bilhões de reais, em maio de 2016) em sutiãs. Mais adiante, Na seção “A Cruel Obrigação de Andar na Moda”, no capítulo “Vestuário”, nós vamos voltar ao tema do sutiã com mais profundidade, abordando inclusive o valor estético e erótico dos seios e dos acessórios que os servem.

a) SEIOS E BELEZA

Ora, os seios acabam tendo uma inegável consequência estética, submissos, portanto, aos esmagadores padrões da moda de cada época e lugar. E aí surgem os inevitáveis problemas: muito pequenos, muito grandes, caídos, flácidos, auréolas grandes demais, muito escuras... e por aí vai, com boa parte desses problemas sendo mais imaginários ou originados apenas do senso estético ou da excessiva autocrítica da porta-dora dos mesmos.

Surgem então certas despesas nada pequenas, com cirurgias plásticas e próteses de silicone para aumentar ou cirurgias drásticas para reduzir o tamanho dos seios – o que, em alguns casos, ultrapassa o limite da estética para chegar ao da saúde, pela perturbação à postura e à coluna vertebral. Em ambos os casos, incorre a mulher em altos custos.

b) SEIOS E AMAMENTAÇÃO

 Contudo, muito além do combate diário que eles travam contra a inconveniente gravidade, os seios foram concebidos para a tarefa de amamentar. E, muito embora nem todas as mulheres cheguem a ser mães e nem todas as mães cheguem a amamentar, para a grande maioria delas isso ainda segue acontecendo até os dias de hoje.

E amamentar custa caro! Mesmo que só ocorra umas duas vezes, em média, na vida, obriga a gastos adicionais de que os homens estão totalmente eximidos, exceto quando, como companheiros e pais solidários, estão ajudando a arcar com essas despesas.

Temos que admitir que, lamentavelmente, isso nem sempre irá acontecer.

Tudo começa com os cuidados preliminares, durante a gestação, quando os seios começam a crescer desmesuradamente e passam a exigir sutiãs progressivamente maiores. Seguem-se os sutiãs especiais para amamentação – dos mais variados estilos, materiais e modelos, mas normalmente mais caros que os convencionais: taça cem, reforçado, com bojo, em lingerie, modelador, em algodão, estampado, com fecho click, transpassado, com renda, nadador... todos para serem usados e esquecidos um dia.

Se os mamilos forem planos ou invertidos, toca comprar com-chas de plástico e gel de massagem, para tentar dar uma conformação mais anatômica ao bico do seio, na fase final da gestação. Há modelos de conchas usadas para recolher o leite que vaza de um seio, enquanto o bebê mama no outro.

Para recolher o leite que vaza espontaneamente entre as mama-das, usa-se absorventes para seios, colocados dentro do sutiãzão, permitindo que este e as roupas acima dele fiquem secas e sem manchas entre as mamadas. Para muitas mulheres, não para todas, esse absorvente precisa ser usado desde muito antes do parto, porque o colostro pode vazar espontaneamente desde o quinto mês de gravidez.

c) SEIOS E DORES

Também há que considerar o importante cuidado com os sensíveis mamilos, solicitados de forma às vezes até um tanto brutal e dolorosa pelo bebê faminto e ávido por leite. Quando ele dá suas célebres mordidas, agradece a mãe que ele ainda não tenha dentes.

Podem ocorrer rachaduras nos mamilos. Para tratá-las,
consome-se pomadas especiais, à base de lanolina ou similares, para ajudar na cicatrização dessas dolorosas fissuras.
Já o empedramento das glândulas mamárias pode exigir, além da clássica compressa de água fria, para tentar aliviar um pouco a dor, cuidados médicos especializados. E, naturalmente, corrigir a ‘pegada’ do bebê. São muitas as dores extra-parto...

d) DORES E MAIS DORES

Os homens – e as mulheres que nunca pariram – tendem a considerar somente a mais do que justamente famosa dor do parto. De fato, esta pode ser excruciante. Mas ela é de curta duração. Pelo geral, restringe-se a algumas difíceis horas de sofrimento brutal. Mas há as dores – e desconfortos – pré-parto (enjoos, vômitos, fomes, desejos, aumento de peso real, coluna vertebral, seios crescendo, hemorroidas, inchaço, estrias) e as diversas dores pós-parto (pontos no períneo ou pontos de cesárea, seios empedrados, mamilos rachados, coluna vertebral ainda, hemorroidas ainda).

Essas dores, mais difusas, porém de forma alguma facilmente suportáveis, duram muitos meses; e há também as dores nos braços, braços de mães que vão carregar bebês cada vez maiores e mais pesados por muitos e muitos anos. Os pais fortões, bíceps definidos da malhação ou da profissão, pegam o neném e o carregam como se ele fosse uma pluma. Dez minutos depois eles disfarçam e sentam, passam o fardo gorducho e pesado para o colo: os braços estão doendo demais! Já a mãe, por um lado treinada no dia-a-dia, por outro lado estoica perante qualquer dor, carrega-o horas inteiras ao longo do dia, nos braços incansáveis.

Em outras culturas, as mães carregam os filhos pequenos nas costas, em estranhas bolsas marsupiais em forma de pano ou cesto. Pelo geral, para poderem ter as duas mãos livres para cumprirem suas tarefas inadiáveis e a cabeça disponível para carregar cargas pesadas. Claro, isso não é considerado tarefa de macho!

CONTINUA





sábado, 14 de maio de 2016

COMO É CARO SER MULHER
MILTON  MACIEL

Depois que foi lançado o LUA OCULTA nas livrarias, no último dia 7 de maio, fiquei contratualmente impedido, pela editora, de continuar postando, no meu blog e no Face e seus grupos, os capítulos finais do romance, que acabou ficando com a bagatela de 1088 páginas e mais alto do que a lista telefônica amarela de São Paulo. É que nesses oito capítulos finais há uma reviravolta e aparecem culpados por crimes onde não estavam sendo imaginados pelos leitores. E há o fechamento, através de um grande flash back, dez anos depois.

Em compensação, começo hoje a postar, em partes, um livro que não é de ficção, como o LUA OCULTA, ou seja, não tem enredo que envolva romance, sedução, sexualidade, futebol, humor, flamenco, mulheres que batem em homens, serial killers e detetives, desfilando suas ações em Santa Catarina, Pernambuco e Paris.

Este novo livro é a 2ª. edição, muito ampliada, do meu bem-sucedido COMO É CARO SER MULHER, que terá seu lançamento nacional no próximo dia 10 de Junho.

O que COMO É CARO SER MULHER se propõe é mostrar, exatamente como o título diz, que é muito caro, caríssimo, ser mulher no mundo de hoje. As causas que levam a vida de uma mulher a custar mais caro que a de um homem equivalente são três: causas biológicas, causas comportamentais e causas mercadológicas. Mostro-as em detalhes mais adiante.

Seguramente, é muito mais caro ser mulher do que ser homem. E, para a mulher que trabalha, é muito mais difícil conseguir juntar tanto dinheiro quanto o seu colega de trabalho, que exerce a mesma profissão, no mesmo cargo e na mesma empresa.

Isso porque o mundo é cruelmente exigente com as despesas de uma mulher, forçosamente muito maiores do que as de um homem. No livro eu vou mostrando isso em números reais.

Para escrever COMO É CARO SER MULHER, desenvolvi, durante dois anos, uma ampla pesquisa nos Estados Unidos e, depois, no Brasil, países entre os quais tenho alternado minha residência desde 2007. A parte nova foi acrescentada em 2016, em Santa Catarina.

Este é um livro de economia feminista. E pretende, com isso, ser um livro de autodefesa para a mulher. Participo, como coautor, de um outro livro de autodefesa feminina, A BELA MORDE A FERA (Idel, São Paulo, 2009), junto com a autora Ellen Snortland, advogada e professora universitária de Los Angeles, Califórnia, onde o assunto é autodefesa física e psicológica da mulher ante os diversos tipos de agressão que ela recebe constantemente: psicológica, midiática, profissional, física e sexual.

Considero o COMO É CARO um livro de autodefesa porque ele vai, aos poucos e com muito humor, tratando de um assunto muito sério e até revoltante: a exploração das vulnerabilidades e do trabalho da mulher por um sistema extremamente ganancioso, que vai drenando as economias das mulheres e as encaminhando para certos complexos industriais, comerciais e financeiros. Estes, em conjunto, vão tomar uma enorme parte do dinheiro que a mulher vai ganhar ao longo de uma vida inteira de trabalho e sacrifícios (só do pescoço para cima, a parte mais barata, dos 14 aos 65 anos, um gasto total equivalente ao preço de um carro médio zero quilômetro, 42 mil reais) E, com isso, tornam muito mais difícil a ascensão econômica e social da mulher. Nutrem-se do que eu chamo “o suor sacrossanto da mulher que trabalha”. E qual a mulher que não trabalha? Ou fora ou em casa ou no estudo, esforço nunca para de lhe ser cobrado. Como canta Rita Lee, em ‘Cor-de-rosa Choque’: “Dondoca é um tipo em extinção”.

As três causas
As causas que levam a vida de uma mulher a custar mais caro que a de um homem equivalente são três: causas biológicas, causas comportamentais e causas mercadológicas.

Causas biológicas são ônus adicionais, advindos de se possuir seios, útero e seus anexos. Coisas que decididamente o homem não tem. São custos involuntários, completamente inevitáveis pela mulher.

Causas comportamentais provêm dos costumes fixados pela cultura patriarcal, como a moda, por exemplo. Estes custos não são necessariamente obrigatórios, mas as mulheres se vêm pressionadas a incorrer neles, forçadas pelo peso do ambiente cultural. Para dar um pano de fundo, divido-os em capítulos que têm os nomes: a cruel obrigação de ser bela; a cruel obrigação de ser magra; a cruel obrigação de ser jovem (para sempre), a cruel obrigação de andar na moda; a cruel obrigação de ter homem (mesmo quando ela é homo); a cruel obrigação de ser mãe (de filhos e marido); a cruel obrigação de ser profissional de sucesso; a cruel obrigação de ser rica.

Causas mercadológicas advém de custos adicionais ainda mais injustos, porque, como vamos mostrar, as mulheres são levadas a pagar mais do que os homens pelos mesmíssimos produtos, ao passo que ganham menos pelo mesmo trabalho. Por exemplo, o mesmo desodorante na embalagem verde custa 30% mais barato que o da embalagem cor-de-rosa, para mulher. Certamente a tinta cor-de-rosa deve ser caríssima! Nos Estados Unidos, chamávamos a isso o imposto da vagina (vagina tax).

CONTINUA



LUA OCULTA
MILTON  MACIEL

Depois que foi lançado o LUA OCULTA nas livrarias, no último dia 7 de maio, fiquei contratualmente impedido, pela editora, de continuar postando, no meu blog e no Face e seus grupos, os capítulos finais do romance, que acabou ficando com a bagatela de 1088 páginas e mais alto do que a lista telefônica amarela de São Paulo. É que nesses oito capítulos finais há uma reviravolta e aparecem culpados por crimes onde não estavam sendo imaginados pelos leitores. E há o fechamento, através de um grande flash back, dez anos depois, de todo um enredo que envolve romance, sedução, sexo, futebol, humor, flamenco, mulheres que batem em homens, serial killers e investigadores, desfilando suas ações em Santa Catarina, Pernambuco e Paris.

Em compensação, começarei hoje a postar, em partes, um livro que não é de ficção, como o LUA OCULTA. Trata-se da 2ª. edição de meu bem-sucedido COMO É CARO SER MULHER, que terá lançamento nacional no próximo dia 10 de junho.

O que COMO É CARO SER MULHER se propõe é mostrar, exatamente como o título diz, que é muito caro, caríssimo, ser mulher no mundo de hoje. As causas que levam a vida de uma mulher a custar mais caro que a de um homem equivalente são três: causas biológicas, causas comportamentais e causas mercadológicas. Mostro-as em detalhes mais adiante.

Seguramente, é muito mais caro ser mulher do que ser homem. E, para a mulher que trabalha, é muito mais difícil conseguir juntar tanto dinheiro quanto o seu colega de trabalho, que exerce a mesma profissão, no mesmo cargo e na mesma empresa.

Isso porque o mundo é cruelmente exigente com as despesas de uma mulher, forçosamente muito maiores do que as de um homem. No livro eu vou mostrando isso em números reais.


Aguarde a postagem.