Os sérios problemas que vieram com a
Agricultura
Série transcrita dos livros "A SOPA QUÍMICA"/
“THE CHEMICAL BROTH - Milton Maciel –
Idel - 2008/2013 (Broth =
Caldo)
(ver gráfico abaixo)
A
degeneração pelo grão
A súbita mudança
de base alimentar no Neolítico provocou uma rápida resposta degenerativa no ser
humano, que não estava preparado geneticamente para os novos alimentos,
basicamente os novos carboidratos, constituintes majoritários dos grãos.
O começo do processo
degenerativo se dá pela troca praticamente instantânea da base alimentar, que
passa a ser, pela primeira vez na multimilenar história humana, baseada nos
grãos, que são apenas as sementes daquelas gramíneas e leguminosas selecionadas
pelos agricultores neolíticos. Aos grãos das gramíneas vai ser dado o nome de cereais.
Na linguagem popular e
comercial, cereal é o grão usado na alimentação humana, não importando se ele é
uma semente de gramínea ou não. Assim, no dicionário Houaiss, por exemplo, são
incluídos como cereais tanto o arroz e o trigo quanto a soja, esta, na verdade,
uma leguminosa, como o são, também, os feijões.
Contudo, usando maior rigor
técnico classificatório, os cereais são quase que uniformemente, sementes de gramíneas.
Entre estes cereais,
podemos destacar os de valor comercial:
Arroz
Trigo
Milho
Aveia
Cevada
Centeio
Sorgo
Triticale
Painço
Também são chamados de
cereais, embora não sejam sementes de gramíneas, o trigo sarraceno, o amaranto
e a quinoa.
São os três primeiros da
lista os mais importantes, constituídos em base alimentar das populações, desde
o neolítico até os dias de hoje:
Arroz, o cereal-base do Extremo Oriente
Trigo, o definidor do Oriente Médio e, depois, da Europa antiga
Milho, o cereal por excelência das Américas
A domesticação das espécies
de gramíneas selvagens e o conseqüente consumo sistemático de suas sementes, de
início apenas cozidas, depois moídas entre pedras e transformadas numa farinha
rústica foi capaz de provocar a drástica transformação de base dietética que
causou nosso desequilíbrio nutricional essencial.
Os cereais e suas farinhas
são fontes consideravelmente pobres em proteínas e altamente concentradas em carboidratos. Mas
as proteínas que eles contêm, alem de estarem em quantidade insuficiente, não
são consideradas proteínas de alta qualidade, como aquelas que estão
normalmente presentes nas carnes, ovos e leite. Proteínas de alta qualidade são aquelas que proporcionam todos os
aminoácidos necessários ao funcionamento correto do corpo, em especial os nove aminoácidos
chamados de essenciais, uma vez que esses o organismo humano é incapaz de
sintetizá-los (histidina, isoleucina,
leucina, lisina, metionina, fenilalanina, treonina, triptofano e valina).
O milho, como exemplo de um cereal típico, é um alimento de alto valor
energético e de baixo valor protéico que, além disso, apresenta uma carência em
aminoácidos essenciais como lisina e triptofano. O teor de proteínas nos milhos
híbridos cultivados atualmente oscila entre 8 e 11%, um teor que é bem mais
alto do que o presente na maior parte do milhos primitivos, como conseqüência
de um trabalho constante de seleção de variedades e de cruzamentos específicos
entre elas, realizado pela pesquisa agronômica.
Já as sementes de leguminosas, como os feijões e, ainda mais, a soja,
são muito mais ricos em proteínas do que os cereais, sendo que a soja está bem
mais aquinhoada em termos de proteínas de alta qualidade, embora ainda com
algumas limitações, especialmente substâncias bloqueadoras de proteólise e das denominadas lectinas (Cuidado: não confundir lectina com lecitina,
neste caso!)
A substituição das proteínas de alta qualidade de origem animal por uma
quantidade proporcional de carboidratos, como se pode ver na Figura 2 – Dietas comparadas: macronutrientes foi um
dos pecados mortais da transformação da dieta paleolítica na dieta
contemporânea.
fig. 2
Por outro lado, há que considerar, em termos dessa fração das proteínas
na dieta atual, também o fator qualitativo,
não só o quantitativo. Ou seja, nós atualmente não só consumimos menos
proteínas no balanço energético diário, como as que consumimos são
drasticamente mais pobres do que as
ingeridas na paleodieta. Isso porque
uma proporção significativa delas se origina dos próprios cereais, maciçamente
consumidos in natura e
industrializados. Nisso temos também uma contribuição importante dos feijões, incluída
a soja, que são leguminosas.
Essa discrepância explica perfeitamente por que dietas de emagrecimento
por restrição de carboidratos, das quais a dieta
Atkins é a mais representativa, dão resultados tão rápidos. Não que elas
possam ser aceitas como dietas alimentares normais, de manutenção, após a perda
do excedente de massa corpórea, uma vez que restringem a ingestão de
carboidratos a um nível insuficiente para a manutenção diária. Contudo, elas
são extremamente eficientes em produzir perdas rápidas e consistentes do
excesso de peso, exatamente porque retiram o indivíduo do mergulho absurdo no
excesso de carboidratos em que ele se encontra com sua dieta habitual.
Esse desequilíbrio é tão flagrante, que basta afastar a pessoa do
dilúvio de carboidratos e ela começa a perder peso rapidamente. E o dilúvio de
carboidratos da dieta atual é conseqüência direta da hipertrofia da
participação do cereal como base da alimentação diária.
Mas, como qualquer pessoa que tenha o traço genético que predispõe à
obesidade bem sabe, emagrecer não é a coisa mais difícil: o método de Atkins e
dezenas de outros, inclusive os que restringem apenas parcialmente os
carboidratos, permitem que isso seja conseguido, com maior ou menor
dificuldade. Difícil é não
voltar a engordar, tanto ou mais do que anteriormente à dieta de perda
de peso.
Para reforçar o que aqui se diz, vamos recorrer à Tabela 2, que
relaciona exemplos de diferentes fontes de proteínas em função da qualidade
delas
CONTINUA
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