NÓS VELHOS JÁ NASCEMOS FEIOS,

NÓS JOVENS JÁ NASCEMOS BURROS.

MILTON MACIEL

Para comemorar a provecta idade deste velho blog, que hoje completa 11 meses de vida

“Nós, gatos, já nascemos pobres
Porém, já nascemos livres.
Senhor, senhora ou senhorio,
Felino, não reconhecerás.”

(Chico Buarque, em Saltimbancos)

Os velhos são diferentes dos gatos. 

Não nascem pobres, ficam. Nem todos, é claro. 

Uns poucos se dão bem nesse quesito, 

Mas não é por isso que invoquei São Chico 

e seus saltimbancos. Foi só para poder parafrasear:

NÓS VELHOS JÁ NASCEMOS FEIOS,

PORÉM JÁ FICAMOS SÁBIOS.

Pois é. É isso. Nós, velhos, já nascemos feios. Porque beleza no duro, metáforas fora, sensibilidades fora, poesias fora, é coisa de juventude. Duvidou? Tudo bem, eu espero: você vai atrás de uma foto da Brigite Bardot no mês passado. Dá um Google, você acha centenas dela(s) – da Brigite sex symbol da juventude até à respeitável senhora defensora dos animais de hoje.  Viu as fotos? Deu pra entender? Certo, então vamos em frente.

Os jovens, ao contrário, já nascem belos. Atingem o apogeu aos poucos meses de vida, depois que se livram daquela cara de joelho enrugado que sofreu uma cirurgia de menisco,  com a qual todos nascem e que os torna todos iguais.  Muito embora mães e avós, dotadas todas da Visão, insistam em dizer que eles nascem bonitinhos e que são a cara de alguém da família. Claro, concordo: são a cara do joelho de alguém da família: “Olha só, que horrivelzinho, é a cara do joelho do vô Nicássio!”

Mas, superada essa fase, há que reconhecer que os danadinhos e danadinhas ficam exuberantes. Nada mais fofo e gracioso que um bebê, certo? Não, nem todos concordam. Há os que aplicam isso é para a Angelina Jolie aos 17 anos. Gosto não se discute. Para muitas chinesas, lindo mesmo era o Mao Tse Tung aos 20.

Mas. seja como for, pode-se alocar o beneplácito da beleza às criaturas jovens, desde a infância até àquela fronteira não muito bem esclarecida que os Reniews, os Kronos e outros que-tais – e, na improrrogável falha deles, os Pitanguís – tendem a empurrar cada vez mais para além dos quarenta anos.

Na hora em que nada disso mais funcionar, você é oficialmente declarado Velho. Ou, mais difícil ainda, Velha! Ser velho não é uma questão de idade cronológica, é questão de ter cara de velho, pelanca de velho, juntas de velho, andar de velho. Ou, mais exatamente, de ser tratado como velho: “meu velho”; “meu bom velho”; “velho do cacete”; “velho caquético”; para os mais atirados: “velho tarado”. Também vale o “velho filho da puta”, mas isso costuma estar mais adstrito à boa etiqueta dos motoristas no trânsito e dos genros e noras longe do sogro.

Já os jovens nascem é BURROS. O que têm de belos, têm de imbecis. Também, coitados, não podem evitar, nascem ignorantes e levam décadas para aprender alguma coisa de útil. Aprendem rápido a usar celular, computador e a se masturbar. Alguns poucos conseguem ir um pouco mais adiante e aprendem a se masturbar sem parar de usar o celular e o computador, tudo bem rápido e ao mesmo tempo, apesar de terem só duas mãos. E chega a haver até aqueles que  aprendem uma profissão.

Mas não adianta, mesmo esses são principiantes, não sabem fazer nada direito, têm que aprender tudo na prática. Só o tempo é que vai lhes dar capacidade real. Ou seja, como burros que são de nascença, vão fazer todas as besteiras regulamentares que os jovens fazem, Não adianta aconselhar essas cavalgaduras. Eles vão errar, trair e ser traídos, aprender a ser precários pais e mães às custas dos próprios filhos, vão se esfalfar em trabalhos horrorosos, vão passar a maior parte da vida deles endividados, sugados pelos agiotas de plantão dos bancos e financeiras, comprando quase sempre o que não necessitam, deixando de comprar o que necessitam, se entupindo de comida venenosa e excessiva. Vão gastar fortunas para se envenenar, como exibicionistas, com cerveja, uísque e cigarro. Isso sem falar nos maníacos carro-dependentes, os piores tipos de viciados, a alegria e encanto da GM e da BMW. Os caras vão fazer cada estupidez para conseguir comer alguém ou alguéns! Cada complicação! E cada divórcio que lhes levarão até as cuecas mais amareladas!

As jovens, coitadas, vão gastar uma fortuna incalculável e um tempo absurdo tentando ficar belas para as outras mulheres e mentindo para si mesmas que é para os homens. Depois, quando chega a era dos renews, vão gastar outra fortuna para afastarem a temida linha da velhice um pouquinho mais para a frente e mais outra grana preta para travar a cruel batalha contra a balança. Os fabricantes e os comerciantes, os marqueteiros e os publicitários, os agiotas dos cartões de crédito, todos a morrer de rir das jovens e dos jovens. Que, aliás, não percebem que os donos desses negócios que os sugam e manipulam são somente os Velhos, que usam a mídia, também sempre nas mãos de machos velhos ultra-reacionários, para enganá-los o tempo todo e fazerem com que eles creiam no mito que afirma “o mundo é dos jovens”.

Quando é patente que o mundo é de quem tem o dinheiro – e as armas e os políticos, mercadorias baratas e sem valor que o dinheiro compra diariamente. E os jovens ainda não têm dinheiro, o dinheiro está sempre nas mãos dos velhos, que sugam o trabalho dos jovens e os fazem se matar pelo tal dinheiro. Os jovens, coitados, não se dão conta que, no Mundo Real, que é o mundo dos velhos, os jovens só vão ter dinheiro – se tiverem – quando forem por sua vez Velhos!

Porém, o que se pode fazer? Os jovens já nascem burros. A gente sabe, a gente já teve esse defeito de fabricação, já  foi jovem, já passou por tudo isso, já fez as mesmas besteiras, todas as besteiras que eles ainda vão fazer ou estão fazendo.

Então é assim o mundo:

NÓS VELHOS JÁ NASCEMOS FEIOS.

NÓS JOVENS JÁ NASCEMOS BURROS.