Os sérios problemas que vieram
com a Agricultura Série
transcrita dos livros "A SOPA QUÍMICA"/“THE CHEMICAL BROTH - Milton
Maciel – Idel - 2008/2013 (Broth = Caldo)
(ver
gráfico abaixo)
O Desequilíbrio Essencial
Recordando o que se disse
na Introdução, o que se discute aqui não é a ausência ou decréscimo deste ou
daquele micronutriente ou antioxidante, não é a presença de um resíduo
inaceitável de herbicida, hormônio ou corante, mas algo muito mais profundo,
algo que está na base, está na essência
da qualidade dos alimentos à nossa disposição. E aí, uma volta ao passado mais
distante coloca nossa alimentação atual completamente em cheque.
Correndo o risco de magoar
meus amigos vegetarianos, devo dizer que o ser humano é fundamentalmente onívoro. Historicamente é difícil
conceber algum tipo de animal que o homem já não tenha caçado e comido, do
piolho ao mamute, do camarão à baleia, da codorna ao avestruz, da cobra ao
gorila. Comer carne fez a grande diferença evolutiva que acabou distinguindo os
humanos dos outros primatas.
O vegetarianismo surgiu
como um fenômeno evolutivo de escolha
consciente, de base filosófica, escudado em alguns exemplos de exceção de povos
e de muitos exemplos de pessoas manifestamente vegetarianas. Embora não se
possa afirmar, com embasamento científico, que o ser humano é por essência
vegetariano, pode-se dizer que ele pode se tornar vegetariano por opção
consciente – ou por imposição ambiental, mais raramente. Contudo, ele também
terá que enfrentar o mesmo problema genético de adaptação ao cereal que o
onívoro contemporâneo enfrenta por sua vez.
De qualquer forma, a carne
que o onívoro humano tem hoje à sua disposição é de péssima qualidade, quando comparada com a que estava disponível
para os nossos ancestrais do paleolítico. E essa carne (bovinos, ovinos,
caprinos, suínos, aves, peixes, crustáceos, mariscos), cuja produção é cada vez
mais dependente de grãos cultivados e criação em regime de confinamento (a
aqüicultura é o mais novo exemplo), é um tal absurdo do ponto de vista
energético que, na possibilidade de uma crise de energia, ela pode se tornar
maciçamente inacessível a grande parte da humanidade. Se isso se tornar
realidade, bem, então teremos que aprender a ser vegetarianos ‘na marra’, por
falta de opção.
Até este momento, o que se
viu foi exatamente o contrário. O crescimento econômico de gigantes
populacionais como a China e a Índia tirou da faixa da miséria e da pobreza, em
pouquíssimo tempo, um contingente populacional maior do que um Brasil inteiro.
E o ganho de poder aquisitivo, a mudança de faixa econômica, leva os antes
impossibilitados a se lançarem de imediato ao consumo acrescido de proteína de
origem animal. Os chineses querem bife, querem hambúrguer, querem ovos, os
Mcdonalds pululam na China, Cantão foi invadida pelo Junk Food. Rapidamente o país passou de exportador a grande
importador de grãos. Desde 2008
a China varre o mundo com desespero, comprando petróleo
e comprando soja.
Soja e milho, sabe-se, são a
base de toda as rações animais. Dois terços desses grãos produzidos no mundo
acabam sendo utilizados hoje para esse fim, servindo para produzir leite e
laticínios, ovos e carnes do todos os tipos. Antes para deleite de
norte-americanos, europeus e japoneses, hoje ao alcance dos Nouveaux Riches do Extremo Oriente. E,
na esteira de alguns anos de crescimento econômico mundial, muitos países,
Brasil, México e África do Sul entre eles, ascenderam também a novos níveis de
consumo das proteínas mais caras.
Contudo, se uma crise do
tipo Pico do Petróleo se confirmar um dia, a reversão dessa tendência vai ser
observada em todo o mundo. O resultado final talvez venha a ser até positivo,
em termos de saúde pública, de consumo de energia e de aquecimento global, como
se verá mais adiante quando abordamos a produção e consumo de carne no mundo,
que serão fatalmente mais limitados.
Mas a pergunta que se impõe
a esta altura é a seguinte: por que razão se afirma aqui que a carne disponível
para consumo atualmente é de péssima qualidade, quando comparada com a carne
consumida por nossos ancestrais do paleolítico? A resposta é bastante simples:
trata-se da gritantesca diferença entre a carne magra de caça e peixe, única
presente na dieta paleolítica e a carne gorda de animais de criação, uma grande
maioria deles oriundos de confinamentos onde são alimentados basicamente com
derivados de cereais e, não, com seus alimentos naturais.
A carne moderna não tem
apenas um teor muito maior de gordura do que a carne de caça, mas essa gordura
é muito mais danosa para a saúde humana, por sua grande concentração em
gorduras saturadas que têm amplo
predomínio dos ácidos graxos do tipo ômega-6
sobre os mais saudáveis ômega-3. As
carnes disponíveis atualmente contribuem em boa parte para o enorme
desequilíbrio quantitativo e qualitativo da fração GORDURAS em nossa dieta
contemporânea, nossa alimentação suicida.
Uma outra fonte atual de
gorduras e que era inexistente na pré-história são os óleos vegetais refinados
e seus derivados perigosos, as gorduras TRANS, usadas em margarinas e em um
grande número de alimentos industrializados – um verdadeiro pecado original do ponto de vista genético.
Existe, contudo, um
desequilíbrio ainda mais dramático, igualmente do ponto de vista genético, na
nossa alimentação atual – aquele que está ligado à fração CARBOIDRATOS. Estes,
na dieta paleolítica, durante a qual nosso presente genoma foi formado, vinham
basicamente de frutas, verduras, castanhas e raízes – todas selvagens, uma vez
que ainda não existia a agricultura. Hoje nossos carboidratos provêm
fundamentalmente de CEREAIS, AÇÚCARES refinados e LATICÍNIOS, já que o consumo
médio de frutas e verduras é uma fração muito pequena daquela que era consumida
por nossos ancestrais.
Para terminar esta rápida
introdução, resta mencionar o desequilíbrio na fração PROTEÍNAS. Estas eram
ingeridas em proporção bem maior na dieta paleolítica – mais do que o dobro da
atual. Qualitativamente, as proteínas vinham não só das carnes magras de caça e
de peixe, mas também de um significativo consumo de castanhas, algo
praticamente inexistente na dieta atual. Quadro similar se vê ao estudar a
dieta dos poucos povos caçadores-coletores que chegaram aos dias de hoje.
CONTINUA
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