terça-feira, 14 de maio de 2013


UMA MUDANÇA DE PARADIGMA - 5
Os sérios problemas que vieram 
com a Agricultura Série transcrita dos livros "A SOPA QUÍMICA"/“THE CHEMICAL BROTH - Milton Maciel – Idel - 2008/2013 (Broth = Caldo)
(ver gráfico abaixo)

O Desequilíbrio Essencial

   Recordando o que se disse na Introdução, o que se discute aqui não é a ausência ou decréscimo deste ou daquele micronutriente ou antioxidante, não é a presença de um resíduo inaceitável de herbicida, hormônio ou corante, mas algo muito mais profundo, algo que está na base, está na essência da qualidade dos alimentos à nossa disposição. E aí, uma volta ao passado mais distante coloca nossa alimentação atual completamente em cheque.

   Correndo o risco de magoar meus amigos vegetarianos, devo dizer que o ser humano é fundamentalmente onívoro. Historicamente é difícil conceber algum tipo de animal que o homem já não tenha caçado e comido, do piolho ao mamute, do camarão à baleia, da codorna ao avestruz, da cobra ao gorila. Comer carne fez a grande diferença evolutiva que acabou distinguindo os humanos dos outros primatas.

   O vegetarianismo surgiu como um fenômeno evolutivo de escolha consciente, de base filosófica, escudado em alguns exemplos de exceção de povos e de muitos exemplos de pessoas manifestamente vegetarianas. Embora não se possa afirmar, com embasamento científico, que o ser humano é por essência vegetariano, pode-se dizer que ele pode se tornar vegetariano por opção consciente – ou por imposição ambiental, mais raramente. Contudo, ele também terá que enfrentar o mesmo problema genético de adaptação ao cereal que o onívoro contemporâneo enfrenta por sua vez.

   De qualquer forma, a carne que o onívoro humano tem hoje à sua disposição é de péssima qualidade, quando comparada com a que estava disponível para os nossos ancestrais do paleolítico. E essa carne (bovinos, ovinos, caprinos, suínos, aves, peixes, crustáceos, mariscos), cuja produção é cada vez mais dependente de grãos cultivados e criação em regime de confinamento (a aqüicultura é o mais novo exemplo), é um tal absurdo do ponto de vista energético que, na possibilidade de uma crise de energia, ela pode se tornar maciçamente inacessível a grande parte da humanidade. Se isso se tornar realidade, bem, então teremos que aprender a ser vegetarianos ‘na marra’, por falta de opção.

   Até este momento, o que se viu foi exatamente o contrário. O crescimento econômico de gigantes populacionais como a China e a Índia tirou da faixa da miséria e da pobreza, em pouquíssimo tempo, um contingente populacional maior do que um Brasil inteiro. E o ganho de poder aquisitivo, a mudança de faixa econômica, leva os antes impossibilitados a se lançarem de imediato ao consumo acrescido de proteína de origem animal. Os chineses querem bife, querem hambúrguer, querem ovos, os Mcdonalds pululam na China, Cantão foi invadida pelo Junk Food. Rapidamente o país passou de exportador a grande importador de grãos. Desde 2008 a China varre o mundo com desespero, comprando petróleo e comprando soja.

   Soja e milho, sabe-se, são a base de toda as rações animais. Dois terços desses grãos produzidos no mundo acabam sendo utilizados hoje para esse fim, servindo para produzir leite e laticínios, ovos e carnes do todos os tipos. Antes para deleite de norte-americanos, europeus e japoneses, hoje ao alcance dos Nouveaux Riches do Extremo Oriente. E, na esteira de alguns anos de crescimento econômico mundial, muitos países, Brasil, México e África do Sul entre eles, ascenderam também a novos níveis de consumo das proteínas mais caras.

   Contudo, se uma crise do tipo Pico do Petróleo se confirmar um dia, a reversão dessa tendência vai ser observada em todo o mundo. O resultado final talvez venha a ser até positivo, em termos de saúde pública, de consumo de energia e de aquecimento global, como se verá mais adiante quando abordamos a produção e consumo de carne no mundo, que serão fatalmente mais limitados.

   Mas a pergunta que se impõe a esta altura é a seguinte: por que razão se afirma aqui que a carne disponível para consumo atualmente é de péssima qualidade, quando comparada com a carne consumida por nossos ancestrais do paleolítico? A resposta é bastante simples: trata-se da gritantesca diferença entre a carne magra de caça e peixe, única presente na dieta paleolítica e a carne gorda de animais de criação, uma grande maioria deles oriundos de confinamentos onde são alimentados basicamente com derivados de cereais e, não, com seus alimentos naturais. 

   A carne moderna não tem apenas um teor muito maior de gordura do que a carne de caça, mas essa gordura é muito mais danosa para a saúde humana, por sua grande concentração em gorduras saturadas que têm amplo predomínio dos ácidos graxos do tipo ômega-6 sobre os mais saudáveis ômega-3. As carnes disponíveis atualmente contribuem em boa parte para o enorme desequilíbrio quantitativo e qualitativo da fração GORDURAS em nossa dieta contemporânea, nossa alimentação suicida.

   Uma outra fonte atual de gorduras e que era inexistente na pré-história são os óleos vegetais refinados e seus derivados perigosos, as gorduras TRANS, usadas em margarinas e em um grande número de alimentos industrializados – um verdadeiro pecado original do ponto de vista genético.

   Existe, contudo, um desequilíbrio ainda mais dramático, igualmente do ponto de vista genético, na nossa alimentação atual – aquele que está ligado à fração CARBOIDRATOS. Estes, na dieta paleolítica, durante a qual nosso presente genoma foi formado, vinham basicamente de frutas, verduras, castanhas e raízes – todas selvagens, uma vez que ainda não existia a agricultura. Hoje nossos carboidratos provêm fundamentalmente de CEREAIS, AÇÚCARES refinados e LATICÍNIOS, já que o consumo médio de frutas e verduras é uma fração muito pequena daquela que era consumida por nossos ancestrais.

   Para terminar esta rápida introdução, resta mencionar o desequilíbrio na fração PROTEÍNAS. Estas eram ingeridas em proporção bem maior na dieta paleolítica – mais do que o dobro da atual. Qualitativamente, as proteínas vinham não só das carnes magras de caça e de peixe, mas também de um significativo consumo de castanhas, algo praticamente inexistente na dieta atual. Quadro similar se vê ao estudar a dieta dos poucos povos caçadores-coletores que chegaram aos dias de hoje.
CONTINUA


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