MILTON MACIEL
Pois é, o Chico
Barbosa é uma figuraça. Ele se diz um liberal de direita. Quando falam que ele
é preconceituoso, ele fica uma fera:
– Eu NÃO
sou preconceituoso, pô! Eu só não gosto
é de preto, de viado, de puta, de mulher dirigindo carro, de mulher que
trabalha fora de casa, de católico, de espírita e de umbandista. Isso é ser
preconceituoso? Claro que não. Isso é ter opinião! Eu sou um homem de opinião,
é isso.
Bem, por ser um
homem de opinião, Chico Barbosa gosta de mostrar que tem outras mais: Ele diz
que o Brasil precisa é de DOI-CODI, não de delegacia de polícia, se declara
viúva espiritual do Delegado Fleury e pensa que governo civil é um absurdo
inaceitável. Tem saudades de Dona Solange, porque acha que imprensa sem censura
é anarquia.
Quanto a
Congresso, ele acha que é bom ter um sim, mesmo com ditadura, o regime de
governo ideal para ele (“Ter um congresso
é legal, parece uma coisa civilizada, mas sem esses bandidos de esquerda. E com
bipartidarismo: só dois partidos, o partido do Sim e o partido do Sim-Senhor,
este do Governo e o outro nominalmente da oposição, mas os dois votam com o
Governo, é claro”)
Chico Barbosa
que, cada vez que tem uma diarréia forte, o médico lhe receita um
anti-hemorrágico, fica irritado quando ouve dizer que no Brasil existe
preconceito de cor. Ele revida na hora:
– Que preconceito de cor, o que! Eu, por
exemplo, prefiro o azul (O Chico é mineiro e cruzeirense), mas não tenho
preconceito contra as outras cores: vermelho e preto de Flamengo, Vermelho só
de Internacional, azul mais claro de Grêmio, amarelo de Borussia Dortmund. Só
não pode ser preto e branco, que atleticano só matando! Mas no Brasil pode ter
tudo que é cor, sim, ora bolas.Isso de espalhar que aqui tem esse tal de
preconceito de cor só pode ser coisa de preto ou viado.
E o Chico
Barbosa, que cada vez que levanta do vaso sanitário diz que “sente uma sensação
de leveza, como se tivesse tirado um peso da cabeça”, é contra delegacia da
mulher. Aliás, ele é contra mulher na delegacia, seja para apresentar queixa
contra homem (Audácia! Se apanhou é por
que deu motivo.), seja – muito pior para ele – para ser delegada e
investigadora. “Onde já se viu: mulher na
polícia, no exército, na marinha... Isso é uma aberração!”
Como não aceita
mulher tomando liberdades, Chico Barbosa nunca casou. Mas agora, como está com mais
de 60 anos, falou que vai arranjar uma. Ontem, durante o carteado na birosca do
Vandão, ele nos disse:
– Tou mal das juntas, não consigo abaixar direito, vou
precisar de uma mulher pra me calçar as meias. E aí já aproveito pra mais
alguma coisa que eu mande a diaba fazer: cozinhar, lavar, cerzir as tais das
meias, lavar piso, encerar... (O Chico ainda é do
tempo do piso de parquet e da
enceradeira!). Ah, e pode servir também pra
jogar o lixo. E, me lembrei agora: pode ser útil pra lamber selo e levar as
cartas pro correio (O Chico odeia computador,
acha uma invenção do diabo e nunca soube o que é e-mail). E, ainda por cima, pode atender o telefone e anotar os recados (Claro,
o Chico acha que celular também é
coisa do tinhoso). Vou botar um anúncio
num correio sentimental pedindo uma pra casar. Tem que ser obediente, recatada,
séria, trabalhadeira, com boa saúde, todos os dentes, feia (pra não interessar
os outros homens) e sem estudos (pra não se meter a besta comigo). Dou casa
(que ela limpa), comida (que ela prepara) e roupa lavada (que ela lava e
passa). Não tá bom demais pra ela?
Pois é, minha
querida leitora, se você ficou interessada, fique atenta: o correio sentimental
do Chico Barbosa sai na próxima quarta-feira, no primeiro número de
relançamento da revista Fon-fon. Corra, seja a primeira a comprar, recorte,
preencha, envelope, sele e leve correndo para o correio. Telefone? Não, só por
correio. Mas ele disse que vai observar o horário de postagem como item de
desempate.
Interessada
mesmo? Então se avie, mulher!
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