quarta-feira, 22 de maio de 2013


UMA MUDANÇA DE PARADIGMA - 10  
Os sérios problemas que vieram 
com a Agricultura Série transcrita dos livros
"A SOPA QUÍMICA"/“THE CHEMICAL BROTH 
- Milton Maciel – Idel - 2008/2013 (Broth = Caldo)
(ver mapa abaixo: PAPUA NOVA GUINÉ e as TROBRIAND)

CAÇADORES-COLETORES CONTEMPORÂNEOS REAIS

   Nos dias atuais ainda é possível encontrar alguns poucos grupos humanos que persistem em seus hábitos alimentares ancestrais, remontantes ao paleolítico. Recusam-se a se dedicar à agricultura, normalmente por que acham que ela não compensa: obriga-os a trabalhar muito mais do que no seu dia-a-dia de coletores e caçadores e empobrece demais sua dieta.

   O exemplo que mencionamos páginas atrás, dos índios brasileiros, entre os quais havia apenas uma agricultura incipiente e parcial de mandioca e milho só entre os grupos mais aculturados e uma total ausência de cultivo agrícola entre os demais grupos de tribos, ilustra perfeitamente a questão. Ou seja, é possível manter populações humanas, estáveis durante milênios, baseadas apenas na exploração de áreas suficientes de florestas naturais, onde os exemplares retirados pela caça e pela coleta limitados encontram fácil reposição natural, face ao nomadismo das populações, que nunca chegam a levar coleta ou caça aos níveis da sobre-exploração insustentável.

   (Mas que ninguém se assuste! Não vou dizer neste livro que nós teremos que reverter a essa condição primitiva. Há outros caminhos mais modernos, porém mais inteligentes que os que temos seguido até aqui).

   Existem, contudo, outras populações que chegaram ao nosso tempo como caçadoras-coletoras e que foram muito bem estudas pelos cientistas atuais. Entre eles podemos destacas os bosquímanos do Kalahari, na África (bushmen = homens dos arbustos, dos bosques. Favor não confundir com Bush men, uma tribo contemporânea altamente guerreira e profundamente envolvida com negócios de petróleo, etanol de milho, subsídios e endividamento nacional crônico).

  Mas vou preferir a citação dos nativos das Ilhas Trobriand, no arquipélago de Papua Nova Guiné. Este país situa-se na Ilha de Nova Guiné, que compartilha com outro país, as Filipinas. A metade oriental dessa grande ilha é Papua Nova Guiné, que possui também um grande número de outras ilhas menores.

KITAVA

   Especificamente a investigação que nos interessa envolve os nativos da ilha Kitava, uma das ilhas Trobriand de Papua Nova Guiné. Os habitantes das Trobriand foram extensivamente estudados por especialistas de várias áreas, como antropólogos e etolólogos sociais, e por equipes de médicos e de nutricionistas, bem como por especialistas em química e bioquímica bioarquelógicas, mais recentemente. As conclusões desses especialistas conduzem à confirmação da enorme superioridade da dieta paleolítica sobre a dieta contemporânea.

  A primeira coisa que chamou a atenção dos especialistas na população de Kitava foi a total ausência de q            ualquer tipo de moléstia cardiocoronariana. Nunca houve nenhum caso de morte súbita cardíaca ou de angina nem mesmo entre os 6% da população entre 60 e 100 anos de idade. Estas pessoas idosas, mesmo as de máxima idade, não demonstram nenhum problema de memória, muito menos de demência.

   Obviamente, também não manifestam nenhum dos tipos de doenças crônicas e degenerativas características da civilização contemporânea. Não há obesos, nem hipertensos, nem diabé-ticos. Mortes súbitas só por acidentes, afogamento, brigas e um caso insólito de queda do alto de um coqueiro.

  Mortes por infecções – principalmente malária – podem atingir as crianças significativamente. Há também mortes por complicação de parto. Para todos os outros casos, a causa é pura e simplesmente a velhice. Os mais idosos permanecem ativos e com perfeita memória até os dias finais, quando começam a sofrer de fadiga por uns poucos dias e então morrem por causa de alguma infecção ou degeneração muito rápidas. Os velhos têm uma excelente qualidade de vida nas Ilhas Trobriand.

   Levantamentos com eletrocardiógrafos, feitos não só em Kitava, mas em grande parte das Ilhas Trobriand como um todo revelaram a inexistência de doença cardíaca isquêmica. Não existem casos não só infarto do miocárdio e angina pectoris, como também não há casos de derrame em hipótese alguma.

  Qual a alimentação dos habitantes de Kitava, então?  A resposta é bem simples:

Peixe e mariscos
Coco – em alta quantidade
Raízes – cará, inhame (taro), batata doce, mandioca
Frutas – banana, mamão, abacaxi, manga, goiaba, melancia e frutas silvestres diversas
Verduras rústicas diversas

   Apesar do contato com as populações das Filipinas e da Austrália, os países mais próximos, e da existência de comércio e presença de ocidentais por ali, a participação de alimentos da dieta ocidental é de menos de 0,2% da ingesta calórica diária. Esses alimentos, que podem chegar a ser mais de 75% na dieta ocidental contemporânea, são os cereais e derivados, fariná-ceos, açúcares refinados, óleos e gorduras vegetais, leite e laticínios; e álcool.

   Essa proporção de 75 para 0,2 (ou seja, de 375 para 1) explica claramente a razão de ser da saúde extraordinária dos trobrianos. Ou seja, eles não comem nada que possa fazer mal à saúde, mas, em compensação, têm uma alimentação perfeitamente equilibrada, saudável e riquíssima em minerais, vitaminas e fibras. A dieta é muito rica em gorduras poli-insaturadas e ácidos graxos ômega-3 (peixes e mariscos), mas tem também uma proporção significativa de gordura saturada de melhor qualidade, por causa do grande consumo de coco.

   Uma recapitulação ajuda a deixar tudo muito claro:

ALIMENTOS QUE NÃO SÃO USADOS
Carnes de boi, porco, frango e outras
Cereais de nenhuma espécie; e feijões, soja, ervilha
Massas, pães, bolos, pizzas, farináceos em geral
Leite e laticínios
Açúcares
Doces e sorvetes
Refrigerantes
Óleos vegetais
Gorduras vegetais
Gorduras trans
Bebidas alcoólicas

ALIMENTOS QUE SÃO USADOS
Peixe e mariscos
Coco – em alta quantidade
Raízes – cará, inhame, batata doce, mandioca
Frutas – banana, mamão, abacaxi, manga, goiaba, melancia e frutas silvestres em grande variedade
Verduras rústicas diversas
E o sal marinho grosso, não-refinado, é usado em uma proporção que é de apenas 20% da ingesta ocidental média

DOENÇAS QUE NÃO EXISTEM
Doença coronariana
Infarto do Miocárdio
Angina pectoris
Derrame
Excesso de peso
Obesidade
Intolerância a glicose
Diabetes
Dislipidemia
Intolerância à lactose
Doença celíaca
Prisão de ventre
Cálculos renais e biliares
Artrose e artrite
Perda de memória
Demência
Doenças degenerativas
Esclerose múltipla
Mal de Alzheimer
Mal de Parkinson
Cânceres em geral
Acne

   É preciso dizer mais alguma coisa?!

   Bem, os pesquisadores observaram que não existe nem fome nem desnutrição. Todo mundo come muito bem. E esse muito bem quer dizer que ninguém, na prática, se entope de comida.    
CONTINUA
   


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