MILTON MACIEL
Final da parte 12
– Moça Gabi
vem cum a gente, intão? Ajuda Ritinha?
– Ah, eu vou sim, com certeza. Mas...
onde é que a gente tem que ir?
– Mano Jeremias é qui sabe adonde qui
painho falô qui ia. Ele até nos falô o nome do dono da fazenda, num é, mano
Bastião?
– Verdade. Intão toca saí, gentes,
vamo si mexê. Vamo buscá mano Jeremias, qui tá no jogo de carteado aqui
pertinho.
PARTE 13
Saíram todos e Bastião foi buscar Jeremias
nos fundos do bar, ali mesmo, quase ao lado da lanchonete do posto. Jeremias
saiu logo, não estava ganhando nem perdendo, estava era enfadado com aquele
jogo. Bastião contou tudo o que tinha se passado, fez questão de ressaltar o
quanto Ritinha era criança, garantiu que ela não era quenga coisíssima nenhuma e mencionou a ameaça que havia
feito a quem falasse que ela era. Jeremias sentiu um enorme alívio. Com que,
então, a menina não era quenga?! Mas isso era uma beleza, resolvia todo o
enrosco. Se era mentira que a menina tinha emputecido, então painho não ia
implicar com ela. Só faltava saber se ela era mesmo filha de painho e irmã
deles. Bastião, auto-constituído advogado e defensor perpétuo de Ritinha,
apresentou seu certificado de garantia:
– Pois si ocê
vê a cara, os quexo í os óio da minina, ocê acredita!
– Ai é?! Dá
pra si vê pelo fucinho i pelos óio, mano Bastião?
– Pois si le
digo, mano véio. Mano Osmar, qui é intiligente qui nem dotor, é qui notô isso
na hora, assim qui viu a minina. Eu, muito do grosso, num sei vê essas coisa.
Mai, dispois qui ele falô, quarqué um qui cunheça painho vai vê qui Osmar tá
cum a razão.
– Mai intão
s’imbora cunhecê minha irmãzinha, sô! Minha irmãzinha qui num é quenga!
– Ela num é.
Mas a mocinha qui tá cum ela, essa é quenguinha sim. Mai é bem novinha, quase
criança, tem uns quatorze ano só.
Jeremias levou um susto:
– I o que uma
quenga faiz cum nossa irmã criança?
– Pois foi
ela qui achô Ritinha dismaiada na rua í sarvô a vida dela. É ela qui cuida di
Ritinha até hoje, levô ela pra casa, dá di cumê, remédio i ropa pra ela. Ocê
pricisa di vê qui cuidado qui ela tem com nossa maninha!
– Mai a troco
di que?
– Pois num
sei le dizê. Mai a minina é coisa muito boa, Jeremias. Veja lá cumo é qui ocê
vai tratá ela. Nóis deve muito agradecê pra ela.
– Num se preocupe,
mano. Não vô distratá argúem qui sarvô a vida di uma Timbó. Ocê fique tranquilo.
Agora vamo lá, intão, qui eu num güento di vontade di vê essa minina. I quero
vê si eu também acho parecença dela cum painho.
Jeremias e Bastião saíram do bar e se
dirigiram para a frente da lanchonete. O encontro de todos foi ali fora mesmo.
– Mano
Jeremias: sua irmã Ritinha i nossa amiga Gabi.
– Pois intão
dexe vê, dexe vê. Mai si num é mesmo verdade, gentes! O quexo di painho. I os
óio, também. Prazê di le cunhecê, Ritinha, seje bem-vinda à famia. Agora ocê é
uma di nóis, pode contá cum nóis tudo pro qui dé i vié.
– Obrigada,
Jeremias. Muito obrigada. Eu também estou muito feliz de conhecer meus irmãos,
vocês estão sendo muito bons comigo.
– Vixe!
Maninha fala bunito, como gente istudada. Gostei di le ouvi.
– I viu cumo qui ela é bunitinha, mano veio?
Num dá orguio tê uma irmãzinha assim? – atalhou Osmar.
– Ara, pois
num é mesmo? Vamo levá ela pra painho vê i le botá a bênça.
– Ela tá cum
arreceio di vê painho, Jeremias. Mai já tá aceitando di i cum a gente. A moça
Gabi também vai, é quem sarvô i cuida di nossa irmã. Esta aqui é Gabi, mano
véio.
– Muito
gosto, mocinha. Mano Bastião mi contô di tudo qui ocê feiz por nossa irmã.
Quero le agradecê também, qui nem eles. Painho também vai le agradecê, tenho
certeza. Mas ocês qué sabê donde qui painho foi, num é, pra procurá Marta, mãe
di Rita? Pois o nome do dono da fazenda é Geraldo Fontes.
– Vamo
perguntá, intão, pras pessoa daqui. Eles deve di cunhecê esse tar di Geraldo
Fontes – observou Jeremias.
Conheciam, é claro. Era um antigo prefeito
local. A fazenda ficava muito perto dali, se pudessem ir de carro, é claro.
Coisa de menos de meia hora, explicou o frentista consultado. Era o mesmo que
tinha emprestado a chave do caminhão azul para Bastião e Osmar. Aliás, ao falar
com ele de novo, Osmar acabou lembrando que ele havia sugerido que gostaria de
receber uma gorjeta, um agradinho qualquer, pelo favor do caminhão. Botou a mão
no bolso e tirou uma nota de dez reais.
Ao entregá-la ao homem, este fez uma proposta
surpreendente:
– Eu tô
saindo agora, acabou meu turno. Vocês querem ir até a fazenda do Geraldão. É
bem perto daqui e eu posso levar todos de caminhão. E aí vocês se lembram deste
amigo no fim da jornada. Que tal?
– I ocê tem
caminhão é? – estranhou Bastião.
– Tenho não,
mas meu cunhado tem. O caminhão tá aqui no posto e a chave tá comigo. Ficou
para lavar e revisar. Então, se os amigos quiserem, eu sei levar todos até o
Geraldão.
Não foi preciso repetir a oferta. Em poucos
minutos estavam as meninas sentadas na cabine e os três irmãos Timbó na
carroceria. O frentista dirigiu com calma pelo asfalto, saiu dele tomando uma
estrada de terra razoavelmente esburacada e chegou à fazenda de Geraldo Gomes
antes das nove da noite. Ainda estavam todos acordados. Na varanda, o dono da
fazenda conversava com Dito Timbó. Ao lado deste, estava Marta, pensativa.
A atenção de todos se voltou para o caminhão
que estava chegando, já com evidente autorização de se aproximar da casa-séde.
Olhando os homens na carroceria, Dito Timbó falou alto:
– É meus
minino! Cumo é qui mi encontraro aqui? Se apeie, gentes, vamo chegando!
Nesse momento viram Manoela que passava como
um raio em direção ao caminhão, numa carreira impressionante:
– Ritinha!
Ritinha! Ritinha! É Ritinha, mãe!
Naquele instante a porta do caminhão se
abriu e uma menina pulou e correu de encontro a Manoela: era Rita,
efetivamente.
Enquanto as duas meninas se abraçavam e se
beijavam, Marta ficou imóvel, paralisada. Arregalou os olhos, abriu a boca e...
caiu dura no chão. Timbó e Geraldão, que ainda não tinham entendido o que se
passava, levaram o maior susto. O fazendeiro soergueu a mulher desacordada,
Dito Timbó a pegou no colo e clamou:
CONTINUA
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