sexta-feira, 23 de abril de 2021

 LIVRA-ME, LIVRO 

MILTON MACIEL

Livra-me, Livro, do SILÊNCIO

Porque de ti vem som de vozes e palavras,

Que ouço na mente, ora suaves, ora bravas,

Ora sussurros, meiga poesia, acerba prosa.

Vem-me o sonido da música harmoniosa,

Que tu cantas desde as pautas e das claves.

Enches-me os olhos com imagens multicores,

Falas de vida, de sonhar, falas de amores

E também gritas o sofrer das horas graves.


Livra-me, Livro, da SOLIDÃO

Porque que é em ti que está o melhor remédio

Para o olvido, para o abandono, para o tédio,

Quando a vida lá fora faz-se escura.

Abro tuas páginas e então - magia pura! -

Saio do meu, pois mergulho no teu mundo.

Horas a fio tu me embalas e me aqueces,

Mostras caminhos, aventuras, mostras preces.

E que outros vivem em abismo mais profundo.

.

Livra-me, Livro, da IGNORÂNCIA

Porque é contigo que aprendemos cada passo.

Desde pequenos, foste-nos régua e compasso,

Pois que o ensinar é tua mais nobre missão.

Desde o bê-á-bá até os manuais de profissão,

Foram tuas páginas as mãos que nos guiaram.

Encadearam-se, dentro em ti, milhões de mentes,

Desde os primórdios até os tempos mais presentes,

Que do cegar da ignorância nos livraram.

.

Livra-me, Livro, do ORGULHO

Muitos de nós em tuas folhas se embebedam,

Sobe-lhes à mente o Saber tal qual o vinho,

É em saber mais, só saber mais, que se obsedam;

Mas, sem compartir, o Saber se faz mesquinho!

Mostra-nos, Livro, quando nos julgarmos sábios,

Mil bibliotecas, com milhões de alfarrábios,

A que jamais chegaremos... numa só jornada.

Lembra-nos sempre, com teu paternal carinho,

Que nós, no fundo, não sabemos quase NADA!