segunda-feira, 13 de maio de 2013


UMA MUDANÇA DE PARADIGMA - 4
Os sérios problemas que vieram 
com a Agricultura
Série transcrita dos livros "A SOPA QUÍMICA"/
“THE CHEMICAL BROTH - Milton Maciel –
 Idel - 2008/2013   (Broth = Caldo)
(ver gráfico abaixo)

A degeneração pelo grão (continuação)

   A partir do momento em que se tem comida disponível em quantidade ao alcance do bolso, na geladeira, lanchonete ou supermercado, todos comem demais. Isso porque comer deixou de ser, há muito tempo, somente um ato fisiológico de manutenção da vida. O homem moderno, se com um mínimo de poder aquisitivo, come para TER PRAZER!

   Há uma gigantesca diferença entre comer a carne de um tamanduá que você, verde de fome, acaba de caçar – e esta é a única opção no menu, talvez por vários dias – e entrar num Mc Donalds, erguer a cabeça e fazer a sua escolha (a opção número 5, com refrigerante e fritas gigantes) pagar no caixa e ir devorar esse tipo diferente de ‘caça’ na mesinha da lanchonete ou da praça de alimentação.

  Ou, quem sabe, ir ao restaurante e esperar pacientemente enquanto preparam seus coquilles Saint-Jacques. Você também pode encomendar uma pizza com entrega em domicílio. Ou quem sabe, um pouco mais próximo de ser como o caçador paleolítico, ir a uma churrascaria rodízio e comer só as diferentes espécies de carnes, abstendo-se de todos os carboidratos que não venham de verduras ou frutas.

   A dona de casa, quando decide o cardápio para o almoço de amanhã, tem que levar em consideração os gostos de toda a família: o marido não come se não tiver feijão e carne, os filhos só querem saber de hambúrguer, fritas e refrigerante e ela, para variar de regime, tem que se contentar com salada e duas colheres de arroz integral, mais 60 gramas de peito de frango grelhado. Para completar, a cunhada, hóspede da casa, é vegetariana macrobiótica.

   Para a noite a coisa pode ser mais simples: o marido tem um jantar de negócios, numa cantina italiana e a cunhada come na faculdade mesmo, sabe-se lá o que. As crianças ficam na sala vendo TV, comendo pipoca doce de microondas e biscoitos doces recheados com mais açúcar, provavelmente apoiados por um pouco de chocolate em barra. E, se a mãe não ficar atenta, lá vão elas para o refrigerante de novo.

   Uma visão atualizada do novo tipo de caçador-coletor dos dias de hoje pode ser encontrada no supermercado: com um ou dois carrinhos de compra, ele coleta pacotes e mais pacotes de comida industrializada, garrafas de estranhas beberagens com açúcar e/ou álcool, frutas que já saíram das árvores há muitos dias e viajaram milhares de quilômetros até ali. Ele também ‘caça’ animais – previamente cortados em pedaços e embalados ao quilo, muitos deles congelados, como aquelas estranhas aves esbranquiçadas a que nos referimos antes e que, na nova ‘natureza’, ocorrem em gôndolas refrigeradas, em bandos imóveis e empilhados. Basicamente a nova caça e coleta dependem agora de saldo no cartão de crédito e combustível no carro para o transporte.

   Comparado com o nosso ancestral e seu tamanduá, nosso moderno “caçador-coletor de supermercado’ tem todas as vantagens, exceto uma: saúde. Não corre perigo constante de virar caça, como o outro corria. Os únicos riscos que tem ocasionalmente que enfrentar são o de levar uma multa por estacionamento proibido ou ter que encarar um assaltante tardio no caminho de casa, tornando-se, neste casos sim, caça por sua vez, nas mãos armadas de um predador moderno .

   Mas, no quesito saúde, a coisa deixa muito a desejar. A enorme diversidade de coisas gostosas – que quer dizer ‘com gosto bom’, o que significa: que dão prazer! – e a grande acessibilidade desse manancial de alimentos ofertados aos milhares nas prateleiras, leva o consumidor ao erro quantitativo. Literalmente, ele se entope de comidas ‘gostosas’, refrigerantes, cervejas, uísques e doces.

   Os que têm tendência genética à obesidade, com maior compulsão a esse tipo de prazer oral, engordam mais e mais, como conseqüência. Os normais e os magros (ou seja, com genética mais favorável ou desfavorável para o outro lado, o da magreza excessiva) igualmente se entopem dessas coisas a pretexto de alimentação. Apenas que estes eliminam mais facilmente os excessos pelos intestinos e bexiga, de forma que dão mais trabalho é para a companhia de esgotos da municipalidade. Nas cidades modernas, a conversão de alimentos em excrementos ocorre em uma taxa tão gigantesca quanto lamentável, escandalosa mesmo.

   Nossos ancestrais do paleolítico tinham que se movimentar todos os dias, se quisessem encontrar comida e água. Ainda não havia sequer o “ganharás o teu pão com o suor do teu rosto”, posto que não havia pão algum ainda. Comer e beber eram obrigatoriamente atos que demandavam esforço físico, muitas vezes extremo. Neanderthais ou Cro-magnons, eles faziam academia de graça, malhavam o tempo inteiro, comiam dietas total e absolutamente equilibradas para os seus corpos e estes, portanto, era saradíssimos! Caçador-coletor barrigudo não podia existir: simplesmente não conseguiria sobreviver como caçador, que dirá conseguir escapar à outra face da caçada: a possibilidade, sempre presente nas matas e savanas, de virar caça de um minuto para o outro.

   Hoje, comer e beber exige ainda esforço físico: sentar-se à mesa e mastigar. E, mais estafante ainda, brandir garfo e faca sobre o prato continuamente. Ou, ainda pior, ter o desgaste de andar até o refrigerador ou até o microondas. Isso sem falar no horror que representa o desgaste muscular de abrir as embalagens e – supremo sacrifício – transportar sacolas de compras até o porta-malas do carro e, deste, numa jornada ingente, carregá-las para dentro de casa, muitas vezes tendo o desgaste adicional de enfrentar um lance de escadas ou vários andares de elevador. Ufa! 

   Por outro lado, se os antigos tinham que andar quilômetros todos os dias para coletar ou caçar os alimentos das matas, os modernos também são obrigados a longas e esgotantes caminhadas entre as alas de gôndolas dos supermercados, com maciço dispêndio calórico que tem que ser, com justiça, compensado com um chocolate ou um sanduíche adicionais.

 Não bastasse isso, nossos antepassados, coitados, ainda não tinham inventado a cadeira e o sofá, muito menos o controle remoto, nosso ícone maior da sedentariedade.

 Ou seja, eles ainda não sabiam o que é hemorróida
CONTINUA.



Nenhum comentário:

Postar um comentário