Os sérios problemas que vieram
com a Agricultura
Série transcrita dos livros "A SOPA QUÍMICA"/
“THE CHEMICAL BROTH - Milton Maciel –
Idel - 2008/2013 (Broth = Caldo)
(ver gráfico abaixo)
A degeneração pelo grão (continuação)
A partir do momento em que
se tem comida disponível em quantidade ao alcance do bolso, na geladeira,
lanchonete ou supermercado, todos comem demais. Isso porque comer deixou de
ser, há muito tempo, somente um ato fisiológico de manutenção da vida. O homem
moderno, se com um mínimo de poder aquisitivo, come para TER PRAZER!
Há uma gigantesca diferença
entre comer a carne de um tamanduá que você, verde de fome, acaba de caçar – e
esta é a única opção no menu, talvez
por vários dias – e entrar num Mc Donalds, erguer a cabeça e fazer a sua
escolha (a opção número 5, com refrigerante e fritas gigantes) pagar no caixa e
ir devorar esse tipo diferente de ‘caça’ na mesinha da lanchonete ou da praça
de alimentação.
Ou, quem sabe, ir ao restaurante e esperar
pacientemente enquanto preparam seus coquilles
Saint-Jacques. Você também pode encomendar uma pizza com entrega em domicílio. Ou quem
sabe, um pouco mais próximo de ser como o caçador paleolítico, ir a uma
churrascaria rodízio e comer só as diferentes espécies de carnes, abstendo-se
de todos os carboidratos que não venham de verduras ou frutas.
A dona de casa, quando
decide o cardápio para o almoço de amanhã, tem que levar em consideração os
gostos de toda a família: o marido não come se não tiver feijão e carne, os
filhos só querem saber de hambúrguer, fritas e refrigerante e ela, para variar
de regime, tem que se contentar com salada e duas colheres de arroz integral,
mais 60 gramas
de peito de frango grelhado. Para completar, a cunhada, hóspede da casa, é
vegetariana macrobiótica.
Para a noite a coisa pode
ser mais simples: o marido tem um jantar de negócios, numa cantina italiana e a
cunhada come na faculdade mesmo, sabe-se lá o que. As crianças ficam na sala
vendo TV, comendo pipoca doce de microondas e biscoitos doces recheados com
mais açúcar, provavelmente apoiados por um pouco de chocolate em barra. E , se a mãe não
ficar atenta, lá vão elas para o refrigerante de novo.
Uma visão atualizada do
novo tipo de caçador-coletor dos dias de hoje pode ser encontrada no
supermercado: com um ou dois carrinhos de compra, ele coleta pacotes e mais
pacotes de comida industrializada, garrafas de estranhas beberagens com açúcar
e/ou álcool, frutas que já saíram das árvores há muitos dias e viajaram
milhares de quilômetros até ali. Ele também ‘caça’ animais – previamente
cortados em pedaços e embalados ao quilo, muitos deles congelados, como aquelas
estranhas aves esbranquiçadas a que nos referimos antes e que, na nova
‘natureza’, ocorrem em gôndolas refrigeradas, em bandos imóveis e empilhados.
Basicamente a nova caça e coleta dependem agora de saldo no cartão de crédito e
combustível no carro para o transporte.
Comparado com o nosso
ancestral e seu tamanduá, nosso moderno “caçador-coletor
de supermercado’ tem todas as vantagens, exceto uma: saúde. Não corre perigo constante de virar caça, como o outro
corria. Os únicos riscos que tem ocasionalmente que enfrentar são o de levar
uma multa por estacionamento proibido ou ter que encarar um assaltante tardio
no caminho de casa, tornando-se, neste casos sim, caça por sua vez, nas mãos
armadas de um predador moderno .
Mas, no quesito saúde, a
coisa deixa muito a desejar. A enorme diversidade de coisas gostosas – que quer dizer ‘com
gosto bom’, o que significa: que dão
prazer! – e a grande acessibilidade desse manancial de alimentos ofertados
aos milhares nas prateleiras, leva o consumidor ao erro quantitativo. Literalmente, ele se entope de comidas ‘gostosas’,
refrigerantes, cervejas, uísques e doces.
Os que têm tendência
genética à obesidade, com maior compulsão a esse tipo de prazer oral, engordam
mais e mais, como conseqüência. Os normais e os magros (ou seja, com genética
mais favorável ou desfavorável para o outro lado, o da magreza excessiva)
igualmente se entopem dessas coisas a pretexto de alimentação. Apenas que estes
eliminam mais facilmente os excessos pelos intestinos e bexiga, de forma que dão
mais trabalho é para a companhia de esgotos da municipalidade. Nas cidades
modernas, a conversão de alimentos em excrementos ocorre em uma taxa tão
gigantesca quanto lamentável, escandalosa mesmo.
Nossos ancestrais do
paleolítico tinham que se movimentar
todos os dias, se quisessem encontrar comida e água. Ainda não havia sequer o “ganharás o teu pão com o suor do teu
rosto”, posto que não havia pão algum ainda. Comer e beber eram
obrigatoriamente atos que demandavam esforço
físico, muitas vezes extremo. Neanderthais ou Cro-magnons, eles faziam
academia de graça, malhavam o tempo inteiro, comiam dietas total e
absolutamente equilibradas para os seus corpos e estes, portanto, era
saradíssimos! Caçador-coletor barrigudo não podia existir: simplesmente não
conseguiria sobreviver como caçador, que dirá conseguir escapar à outra face da
caçada: a possibilidade, sempre presente nas matas e savanas, de virar caça de
um minuto para o outro.
Hoje, comer e beber exige
ainda esforço físico: sentar-se à mesa e mastigar. E, mais estafante ainda,
brandir garfo e faca sobre o prato continuamente. Ou, ainda pior, ter o
desgaste de andar até o refrigerador ou até o microondas. Isso sem falar no
horror que representa o desgaste muscular de abrir as embalagens e – supremo
sacrifício – transportar sacolas de compras até o porta-malas do carro e,
deste, numa jornada ingente, carregá-las para dentro de casa, muitas vezes
tendo o desgaste adicional de enfrentar um lance de escadas ou vários andares
de elevador. Ufa!
Por outro lado, se os antigos tinham que
andar quilômetros todos os dias para coletar ou caçar os alimentos das matas,
os modernos também são obrigados a longas e esgotantes caminhadas entre as alas
de gôndolas dos supermercados, com maciço dispêndio calórico que tem que ser,
com justiça, compensado com um chocolate ou um sanduíche adicionais.
Não bastasse isso, nossos
antepassados, coitados, ainda não tinham inventado a cadeira e o sofá, muito
menos o controle remoto, nosso ícone maior da sedentariedade.
CONTINUA.
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