quinta-feira, 22 de setembro de 2016

A DISTÂNCIA E O PASSADO: SOU AMADO?  
MILTON  MACIEL  
“Dicen que la distancia es el olvido,
pero yo no concibo esta razón.” 
(Luis Miguel, La Barca)

I – A DISTÂNCIA

Porque me preocupar, se a distância nos separa,
Se tenho você, dentro de mim, o tempo inteiro?
Se, para ver você, basta só que eu feche os olhos
E vem-me a sua imagem... E sinto até seu cheiro!

II – O PASSADO

Por que temer a sua ausência em meu futuro,
Se vivo pleno de você no meu passado?
Se reconheço que o que em mim há de mais puro
Nasceu dos anos que vivemos lado a lado!

E esse passado é todo meu encantamento,
Imensa, em mim, a gratidão que experimento,
A você, pela paciência, amor, carinho...
E a Deus, que pôs você no meu caminho.

III – SOU AMADO?

Pra que saber se amado sou ou não,
Se o que conta é somente o amor que sinto,
Que me guia, como um fio num labirinto,
Que extrapola a própria lógica e a razão?

É um amor imune ao tempo que se arrasta,
É um amor que vence o Não e a vida exorta.
Sou amado? Sim. Talvez. Ou não! Que importa?
Que importa? Se eu amo. E isso é tudo que me basta! 

terça-feira, 20 de setembro de 2016

HERÓI  FARRAPO     
MILTON MACIEL

Levei pontaço de lança,
Quatro tiros de fuzil,
Enquanto estava lutando
Pra transformar o Brasil.
Passei fome e muito frio,
Era na chuva e no estio,
Pelas coxilhas sangrando,
A minha vida ofertando
Pro sonho republicano.
Lutando ano após ano,
Resistindo aos atropelos,
Pelo pampa e na coxilha.

Por ter um filho e uma filha,
Foi pensando em defendê-los
Que fui herói farroupilha.
Lutei no campo e na serra,
Lutei no mar e na terra.
Lutei no forte e na ilha.

Com Garibaldi em Laguna,
Fui marinheiro de escuna.
Com o Neto eu fui lanceiro,
Com Bento fui fuzileiro,
A guerra, minha tribuna.

Cruzei espada e facão,
Na baioneta ou na mão,
Nunca refuguei combate!
Gaúcho bom não se abate
Por mais que esteja ferido.
Pelo Rio Grande querido
Entrega o corpo e a alma.

Mesmo ante a morte tem calma,
Não se assusta nem baqueia.
Entende que é mesmo assim,
Pois sabe que, até o fim,
Não tá morto quem peleia!

domingo, 18 de setembro de 2016

CONFISSÕES DO FIM DO MUNDO   
MILTON   MACIEL    (1a. Parte)

Rio de Janeiro, 20 de Dezembro de 2012

O mundo vai acabar amanhã, 21 de dezembro, não sei a hora local. Contudo, para não passar para o outro lado (pois eu acredito que exista um outro lado!) cheio de pecados, resolvi fazer aqui as minhas confissões, para poder transitar para lá de alma pura.

Para minha sogra confesso: fui eu quem esvaziou os quatro pneus do seu carro naquela noite em 1999, na entrada do túnel Rebouças. E botei a culpa naqueles moleques, lembra? Que moleques? Ora, os que te assaltaram, não é?

Para minha primeira esposa confesso: Sim, eu traía você com aquela que seria a minha segunda esposa. Você estava certa, mas eu sempre neguei.

Para minha segunda esposa confesso: Sim, eu traía você com aquela que seria a minha terceira esposa. Idem, idem.

Para minha terceira esposa, confesso: Sim, eu traía você com a minha primeira esposa, então já minha primeira ex. Idem, idem.

Para minha terceira esposa, confesso: Sim, eu acho você gorda! Gordaaaa! Gordíssima. Uma baleia. Mas eu minto, dizendo que não me importo. Bem, confesso que agora eu não me importo muito porque... Bom, sabe a sua priminha de Fortaleza, a Marilda, que está passando uma temporada conosco... Sim, sim: esta é mesmo mais uma confissão!...

Para o meu chefe confesso: Sim, eu tentei conquistar sua filha. Mas seu irmão mais novo já estava na parada faz tempo, não deu jeito. Dê um aperto nele: se o seu irmão também achar que o mundo acaba amanhã, ele confessa.

Para meu confessor, Padre Onésio, confesso: Perdão, Padre, porque pequei: sua “protegida” Maricotinha também me recebia nas noites de 4ª. feira, antes que o senhor chegasse.

Para minha ex-colega Altamira e para meu chefe confesso: Não, não foi Altamira quem soltou aquele terrível peido no elevador naquela noite fatídica, o que resultou em sua sumária demissão. Eu a acusei e todos acreditaram. Na verdade, o culpado fui eu.

Para a minha seguradora confesso: Sabem o carro que deu perda total em Março passado e você me pagaram o valor de um novo? Pois bem, eu armei tudo e joguei o bicho contra o poste. Pulei antes, é claro. Não, não me machuquei, não se preocupem, treinei bastante antes, sabe como é.

Bom isso é que existe de mais leve. O resto é muito feio, muito mais feio mesmo, algo que até um cara de pau como eu tem vergonha de confessar de público. Mas isso tudo eu já confessei para o Padre Onésio ontem, na tarde de quarta-feira, antes de precedê-lo nos doces mistérios de Maricotinha. Coitado, acho que ele deve estar em choque até agora! Só não confessei nossa sociedade de responsabilidade limitada (a ele, que entra com a grana e o apartamento), o que tenho a hombridade de fazer aqui e de público hoje.

Agora vou para casa, vou começar a rezar. Pela minha alma? Não, vou rezar para que de fato aconteça o fim do mundo amanhã.

Porque, se não acontecer a hecatombe universal, depois de todas as confissões que eu fiz aqui e ao Padre, eu estou é LASCADO!

Assinado: Ricardo Guarani-Kaiowá Lewandowski Barbosa Cachoeira
(Sim, Ricardão para as íntimas, isso mesmo!)