sábado, 25 de maio de 2013

MALDITAS CÂMERAS DE 16 MEGAPIXELS !
MILTON MACIEL

Estou cada vez mais decepcionado com a evolução da moderna tecnologia das câmeras digitais. Não era isso o que eu esperava. Mas quanto mais os anos passam e mais essa tecnologia evolui, piores são os resultados.

Ainda ontem tive mais uma inequívoca demonstração dessa degradação. Parentes meus postaram na rede social fotografias onde apareço de frente e de perfil, coisa que eu, francamente, jamais faria. Olhei desgostoso para aquelas imagens e liguei para meu primo, o autor da peripécia.

Ele atendeu todo entusiasmado do outro lado da linha. Como de hábito, não me deixou falar o que eu queria. Aliás, nem perguntou o que eu queria. Desandou a fazer uma catilinária contra as câmeras dos Iphones, exaltou-se dizendo que como Nikon não tem e aí, para meu maior desespero, começou a fazer a apologia e a descrição técnica de sua nova câmera de 16 megapixels. Calculei quanto tempo aquilo ia levar, saí da sala, saí do apartamento, peguei o elevador e fui comer um pãozinho de queijo na padaria lá em baixo. O cafezinho deles é ótimo! Dei um tempo na banca de revista e voltei para falar com meu primo. Ele continuava lá, é claro, nem tinha notado minha curta ausência.

Como o Haroldo é um consumado perdigoteiro (que é o infeliz que, quando fala, cospe o tempo todo na gente), calculei que o telefone dele já devia estar embaixo d’água e fiquei com esperança que afundasse mais. E aí desisti, não ia dar mesmo. Pois se eu tinha ligado justamente para reclamar daquela maldita câmera dos tais 16 megapixels dele! Grande porcaria! E ele pagou os olhos da cara por aquela inutilidade.

Explico: Essa tecnologia de câmeras digitais não me convence. Foi entrar em ação e acabar covardemente com as maravilhosas máquinas de filme e imediatamente a piora das imagens foi sempre crescendo. A gente vai aparecendo nas tais fotos digitais cada vez mais gordo, cada vez com menos cabelos, com mais rugas, numa evidente degradação tecnológica das imagens.

Aliás, a própria mulher do Haroldo, a Hildinha, é minha aliada nessa minha insatisfação. Há muito tempo que ela não se deixa mais fotografar pelo marido, evidentemente por causa da mania que o cara tem de usar as famigeradas máquinas digitais e depois postar tudo na Internet. Pois o Haroldo teimou, pegou a Hildinha dormindo na sala e lascou uma foto dela no Facebook. Quando ela viu, tomou duas providências bem práticas, com toda a calma. Na primeira jogou todas as câmeras do Haroldo lá do 16º. andar. Por via das dúvidas, jogou o celular também. E aplicou um mês de interdição total: sofá da sala e proibição de chegar a menos de 10 metros dela.

Foi por isso que o Haroldo comprou essa maldita máquina nova, a tal dos 16 megapixels. E, claro, exibicionista como só, saiu fotografando tudo e todos. É, desgraçado, me pegou desprevenido! A tudo e a todos, menos a Hildinha dormindo, é lógico, que ele agora não é mais tão louco assim. Aliás a Hildinha me segredou que ficou tão furiosa com ele por causa de umas certas rugas que apareciam para todos verem no Facebook. E chegamos à mesma conclusão:

Não se fazem mais máquinas como antigamente! E ninguém percebe isso...

Ainda ontem eu achei uma caixa com fotos antigas minhas: Formatura, casamento, escalada do Aconcágua, a baita festa de divórcio que eu e minha mulher demos para comemorar e estimular nossas amigos ainda casados a fazerem o mesmo. Ah, mas não deu outra: Olha eu ali magrinho, alinhado, cabeludo, cara lisinha, bíceps delineado.

E aí fui ver de novo as tais fotos minhas, que o imbecil do Haroldo postou no Facebook. Desde quando 22 anos de evolução tecnológica podem ter o direito de piorar tanto a imagem das pessoas? Eu odeio câmeras digitais!


Meu amigo Hilton Goerrensen, grande cronista, diz que ‘não gosta de fotografias porque elas mostram como as pessoas o vêem e, não, como ele se vê’. Mas aposto que isso é só porque ele ainda não se deu conta que a culpa, no duro, é dos malditos megapixels.  Acorda, Hilton!

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