MILTON MACIEL
Estou cada vez
mais decepcionado com a evolução da moderna tecnologia das câmeras digitais.
Não era isso o que eu esperava. Mas quanto mais os anos passam e mais essa
tecnologia evolui, piores são os resultados.
Ainda ontem tive
mais uma inequívoca demonstração dessa degradação. Parentes meus postaram na
rede social fotografias onde apareço de frente e de perfil, coisa que eu,
francamente, jamais faria. Olhei desgostoso para aquelas imagens e liguei para
meu primo, o autor da peripécia.
Ele atendeu todo
entusiasmado do outro lado da linha. Como de hábito, não me deixou falar o que eu
queria. Aliás, nem perguntou o que eu queria. Desandou a fazer uma catilinária
contra as câmeras dos Iphones, exaltou-se dizendo que como Nikon não tem e aí,
para meu maior desespero, começou a fazer a apologia e a descrição técnica de
sua nova câmera de 16 megapixels. Calculei quanto tempo aquilo ia levar, saí da
sala, saí do apartamento, peguei o elevador e fui comer um pãozinho de queijo
na padaria lá em baixo. O cafezinho deles é ótimo! Dei um tempo na banca de
revista e voltei para falar com meu primo. Ele continuava lá, é claro, nem
tinha notado minha curta ausência.
Como o Haroldo é
um consumado perdigoteiro (que é o infeliz que, quando fala, cospe o tempo todo
na gente), calculei que o telefone dele já devia estar embaixo d’água e fiquei
com esperança que afundasse mais. E aí desisti, não ia dar mesmo. Pois se eu
tinha ligado justamente para reclamar daquela maldita câmera dos tais 16
megapixels dele! Grande porcaria! E ele pagou os olhos da cara por aquela
inutilidade.
Explico: Essa
tecnologia de câmeras digitais não me convence. Foi entrar em ação e acabar
covardemente com as maravilhosas máquinas de filme e imediatamente a piora das
imagens foi sempre crescendo. A gente vai aparecendo nas tais fotos digitais
cada vez mais gordo, cada vez com menos cabelos, com mais rugas, numa evidente
degradação tecnológica das imagens.
Aliás, a própria
mulher do Haroldo, a Hildinha, é minha aliada nessa minha insatisfação. Há
muito tempo que ela não se deixa mais fotografar pelo marido, evidentemente por
causa da mania que o cara tem de usar as famigeradas máquinas digitais e depois
postar tudo na Internet. Pois o Haroldo teimou, pegou a Hildinha dormindo na
sala e lascou uma foto dela no Facebook. Quando ela viu, tomou duas
providências bem práticas, com toda a calma. Na primeira jogou todas as câmeras
do Haroldo lá do 16º. andar. Por via das dúvidas, jogou o celular também. E
aplicou um mês de interdição total: sofá da sala e proibição de chegar a menos
de 10 metros dela.
Foi por isso que
o Haroldo comprou essa maldita máquina nova, a tal dos 16 megapixels. E, claro,
exibicionista como só, saiu fotografando tudo e todos. É, desgraçado, me pegou
desprevenido! A tudo e a todos, menos a Hildinha dormindo, é lógico, que ele
agora não é mais tão louco assim. Aliás a Hildinha me segredou que ficou tão
furiosa com ele por causa de umas certas rugas que apareciam para todos verem
no Facebook. E chegamos à mesma conclusão:
Não se fazem mais
máquinas como antigamente! E ninguém percebe isso...
Ainda ontem eu
achei uma caixa com fotos antigas minhas: Formatura, casamento, escalada do
Aconcágua, a baita festa de divórcio que eu e minha mulher demos para comemorar
e estimular nossas amigos ainda casados a fazerem o mesmo. Ah, mas não deu
outra: Olha eu ali magrinho, alinhado, cabeludo, cara lisinha, bíceps
delineado.
E aí fui ver de
novo as tais fotos minhas, que o imbecil do Haroldo postou no Facebook. Desde
quando 22 anos de evolução tecnológica podem ter o direito de piorar tanto a
imagem das pessoas? Eu odeio câmeras digitais!
Meu amigo Hilton
Goerrensen, grande cronista, diz que ‘não
gosta de fotografias porque elas
mostram como as pessoas o vêem e, não, como ele se vê’. Mas aposto que isso
é só porque ele ainda não se deu conta que a culpa, no duro, é dos malditos
megapixels. Acorda, Hilton!
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