SEDE ETERNA
MILTON MACIEL
Assedentado de você
por todo o sempre,
Em mil suspiros a
vagar pelo borriço,
Sigo perdido,
pelo ambiente encharcadiço,
Sem ter de mim a
mais ínfima consciência.
Por pressentir a minha
própria impermanência,
Me arrasto a
custo pela transitoriedade.
O que me arrasa é
padecer esta saudade,
Que me aprisiona
num perpétuo desvario.
Hórrido é o ímpeto
de arrojar-me neste rio
E afogar nele meu
corpo e minhas mágoas,
Como se fosse
possível, em suas águas,
Fazer finito o
meu ser em sua inteireza.
Talvez assim não
fosse eu mais só uma Incerteza,
Assedentada de você por todo o sempre!
Maravilhoso!
ResponderExcluirComo não sou poeta...
Mar Absoluto
Cecília Meireles
"Sede assim — qualquer coisa
serena, isenta, fiel.
Flor que se cumpre,
sem pergunta.
Onda que se esforça,
por exercício desinteressado.
Lua que envolve igualmente
os noivos abraçados
e os soldados já frios.
Também como este ar da noite:
sussurrante de silêncios,
cheio de nascimentos e pétalas.
Igual à pedra detida,
sustentando seu demorado destino.
E à nuvem, leve e bela,
vivendo de nunca chegar a ser.
À cigarra, queimando-se em música,
ao camelo que mastiga sua longa solidão,
ao pássaro que procura o fim do mundo,
ao boi que vai com inocência para a morte.
Sede assim qualquer coisa
serena, isenta, fiel.
Não como o resto dos homens."