quinta-feira, 7 de março de 2013

SEDE ETERNA    
MILTON MACIEL 

Assedentado de você por todo o sempre,
Em mil suspiros a vagar pelo borriço,
Sigo perdido, pelo ambiente encharcadiço,
Sem ter de mim a mais ínfima consciência.

Por pressentir a minha própria impermanência,
Me arrasto a custo pela transitoriedade.
O que me arrasa é padecer esta saudade,
Que me aprisiona num perpétuo desvario.

Hórrido é o ímpeto de arrojar-me neste rio
E afogar nele meu corpo e minhas mágoas,
Como se fosse possível, em suas águas,
Fazer finito o meu ser em sua inteireza.

Talvez assim não fosse eu mais só uma Incerteza,
Assedentada de você por todo o sempre!

Um comentário:

  1. Maravilhoso!
    Como não sou poeta...

    Mar Absoluto

    Cecília Meireles

    "Sede assim — qualquer coisa
    serena, isenta, fiel.

    Flor que se cumpre,
    sem pergunta.

    Onda que se esforça,
    por exercício desinteressado.

    Lua que envolve igualmente
    os noivos abraçados
    e os soldados já frios.

    Também como este ar da noite:
    sussurrante de silêncios,
    cheio de nascimentos e pétalas.

    Igual à pedra detida,
    sustentando seu demorado destino.
    E à nuvem, leve e bela,
    vivendo de nunca chegar a ser.

    À cigarra, queimando-se em música,
    ao camelo que mastiga sua longa solidão,
    ao pássaro que procura o fim do mundo,
    ao boi que vai com inocência para a morte.

    Sede assim qualquer coisa
    serena, isenta, fiel.

    Não como o resto dos homens."

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