quinta-feira, 21 de março de 2013


A  PRINCESINHA QUER DANÇAR – parte 5  
MILTON  MACIEL 

“Eu lhe disse, meu querido,
Sua idéia era loucura.
Agora você está sozinho.
Para que tanta amargura?”

“Por que você não aceita
A alegria que há na vida?
Por que você foi tão duro
Com nossa filha querida?”

“Para poder impedi-la
De dançar, por alegria,
Você calou todo um reino
E fez de noite o seu dia.”

Assim falou a rainha.
Seus olhos, então, brilharam
E desses olhos bondosos
Duas lágrimas rolaram.

“Meu filho!” – falou, surpresa,
Ante o vulto que avançava.
O rei voltou-se também:
Era o príncipe que chegava.

“Meu pai” – disse Don Juliano,
“Que foi que lhe aconteceu?
Você perdeu o juízo,
Ou foi a fé que perdeu?”

“Foi a fé na humanidade,
Ou foi a fé em você?
Ou foi mesmo a fé em Deus?
Em que você hoje crê?’

“Esqueceu-se dos momentos
Mais suaves da existência,
Quando você me ensinava
Da música a doce essência?”

“Esqueceu-se que seus dedos
Levaram os meus ao teclado?
E que o dom da poesia
Me veio foi por seu lado?”

“Esqueceu-se da magia
Que infundiu no meu mundo,
Me ensinando Astronomia
E seu mistério profundo?”

“Ah, meu pai, mas que loucura
Isso que estou vendo agora!
Mal posso crer que é você
Esse monstro que devora.”

“Devora a alma de um povo,
Devora a Dança e a Arte,
Com a força de um exército,
Com o furor de um Bonaparte.”

“Agora não sei, meu pai,
O que fazermos consigo.
Mas deixe lhe sugerir:
Retorne à praça comigo.”

O rei, ainda hesitando,
Deixou-se levar pelo filho.
Na praça, a voz da princesa
Entoava um estribilho.

O rei foi chegando perto,
A multidão foi se abrindo.
Viu os olhos de Samantha,
Que lhe acenava, sorrindo.

Sem parar um só momento
De cantar e de dançar,
A princesa evoluía
Pela praça, a flutuar.

Sim, sua dança, tão leve,
Mais um flutuar parecia.
Enquanto dançava, cantava;
E enquanto cantava, sorria.

CONTINUA AMANHÃ
De: A PRINCESINHA QUER DANÇAR – Milton Maciel – pgs 18, 19 e 20)

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