VERDADEIRA
MILTON MACIEL
Não se deixe
enganar. A crise que está lá fora veio para ficar. Nada existe no horizonte que
possa redimir a Europa do seu encolhimento, de arcar com as conseqüências dos
seus erros acumulados. O mesmo pode ser pensado, embora de uma forma apenas um
pouquinho mais atenuada, para os Estados Unidos. E, neste mundo sublunar,
quando os leões ficam doentes, as gazelas e as hienas adoecem também.
Mas, qual é a verdadeira
crise por trás do que vemos hoje, se o que hoje vemos apenas retrata as
conseqüências dela? Ela é financeira, como parece? Não, de forma alguma, isso é
conseqüência somente. A crise é ESTRUTURAL. E significa simplesmente a EXAUSTÃO
DO SISTEMA, que é a verdadeira causa.
Chegamos enfim a
esbarrar nos LIMITES PARA O CRESCIMENTO. Para compreender isso com toda a
facilidade, eu sugiro que você faça uma experiência muito simples. Dissolva uma
colher de sopa de açúcar num copo de água mineral (não pode ser a água clorada
da torneira). E então coloque uma colherinha de chá de levedo de cerveja,
agitando bem para homogeneizar a suspensão. Depois de algum tempo você vai ver
que começam a subir bolhas dentro do copo. E essa produção de bolhas vai
começar a se intensificar cada vez mais, chegando a ficar quase violenta, a
temperatura no copo aumentando muito. Depois, a produção de bolhas vai começar
a cair e cair, até que todo o processo, que passa a declinar rapidamente, termina.
Esse
procedimento simples mostra para você como é que as usinas fabricam álcool a
partir do caldo da cana moída. As leveduras são fermentos, microorganismos
vivos que se alimentam do açúcar dissolvido no caldo. Você vai notar, no fim da
sua experiência, que o volume de levedura em repouso no fundo do copo é agora
maior do que o volume que você adicionou com sua colherinha. O que aconteceu?
Ora, as leveduras, comendo açúcar, se multiplicaram, cresceram e cresceram
extraordinariamente em número. E quanto
mais leveduras presentes, mais violento o processo de digestão do açúcar que
produz basicamente dois catabólitos: o gás carbônico, que você vê abandonar o
sistema na forma de bolhas e o etanol ou álcool etílico, que fica na solução
aquosa.
E porque o
processo todo, após passar por um pico de atividade, vai diminuindo até parar
completamente? Ora, porque aconteceu a EXAUSTÃO DO SISTEMA. E essa exaustão tem
duas causas concomitantes, que concorrem para acelerá-la do meio para o fim do
processo: O fim do açúcar disponível e o aumento da poluição do sistema
(álcool).
1)
O fim do açúcar disponível. Sendo o sistema finito, quanto mais leveduras novas surgirem, face
à abundância de alimento disponível inicialmente, mais rapidamente ocorrerá o
fim desse alimento. Claro, como se diz popularmente, “em casa em que comem dois,
comem três.” Pode ser, só que a verdade é que a comida acaba mais cedo também.
As leveduras, à medida que a disponibilidade de alimento se aproxima do fim,
param de se multiplicar e começam a morrer. Ou seja, há agora um EXCESSO DE
POPULAÇÃO para os recursos disponíveis, o que acaba de se tornar um novo
problema, inexistente na fase áurea de crescimento, quando tudo era um mar de rosas
e havia açúcar à vontade para todo mundo.
2)
O aumento do teor de álcool
na solução. Acontece que o álcool é um
catabólito um produto de eliminação das
leveduras (o cocô delas). Portanto, ele é nocivo para elas e gera POLUIÇÃO no
ambiente onde elas se alimentam e crescem. Quanto maior o número de
microorganismos se alimentando, maior o teor do álcool excretado na solução. A
partir de um certo ponto, essa poluição vai se tornando letal e as leveduras ‘adoecem’,
começam a ter o crescimento inibido, se desorganizam e começam a morrer
aceleradamente.
Resumindo, como
o sistema é FINITO, a coexistência de uma quantidade de alimento LIMITADA com
uma explosão demográfica acelerada, leva fatalmente ao declínio e à morte da
superpopulação formada. Mas, ainda antes que isso ocorra pela depleção do
alimento, a poluição começa a tornar o processo de débâcle mais acelerado.
É como se
animais (humanos, por exemplo) encontrassem uma quantidade muito grande de
alimento facilmente disponível e começassem a comer muito, comer demais, e, na
base do amai-vos e multiplicai-vos, construíssem rapidamente um quadro de
superpopulação. Só que, concomitantemente, esses animais em explosão demográfica
estão produzindo mais e mais cocô, que não conseguem eliminar do sistema em que
vivem. Assim, quando o limite é atingido, quer de disponibilidade de alimento,
quer de resistência à auto-poluição (somados), o declínio vai se de dar de
forma exponencial também, tanto quanto se deu o crescimento inicial. É um
cenário desolador, quando você morre por escassez de alimento, afogado em seu
próprio cocô! E a existência desse cocô no sistema, vai fazer com que você
ADOEÇA muito antes de começar a perceber que existe alguma coisa de errada no
sistema.
Ora, para que
essa história de copo dá água com açúcar e de levedura? O que isso tem a ver
com a crise?
Bem,
simplesmente tudo: O copo acaba de retratar para você a crise REAL: a
Exaustão do Sistema.
Vamos considerar
aqui dois exemplos de copo. O primeiro será o planeta Terra. O segundo, a
cidade de São Paulo.
PLANETA TERRA
Considere as
figuras anexadas. A primeira mostra a explosão populacional ocorrida no século
XX e que continua agora. A segunda detalha um período do século XX e suas
projeções. Em números, podemos dizer que a humanidade precisou milhões de anos
de história para atingir seu primeiro bilhão de habitantes, na segunda metade
do século XIX. Abrimos o século XX, em 1901, com 1 bilhão e meio de habitantes.
E abrimos o presente séc. XXI com 6
bilhões, uma multiplicação de 4 vezes em
um único século! Atingimos 7 bilhões entre Outubro de 2011 e Março de 2012.
Em 2025, apenas 12 anos a contar de agora, poderemos estar chegando a algo
entre 8,5 bilhões e 9 bilhões, segundo diferentes estimativas.
Quer dizer, as
leveduras humanas estão encontrando bastante açúcar para comer, sua população
explode rapidamente, mas os primeiros sinais de exaustão do sistema já
começaram a aparecer. A poluição do ambiente como um todo, um nível crescente
de gases de estufa no ar, a degradação dos solos e aqüíferos, o envenenamento
progressivo das populações através dos alimentos contaminados, as doenças
crônicas e degenerativas, causadas basicamente pela imposição de um sistema
alimentar errado, são sinais óbvios que a componente poluição já começou a
escapar de controle.
Por outro lado,
é inegável o problema de abastecimento de alimentos no mundo. Com as populações
sempre crescentes, a disponibilidade de alimentos não tem conseguido crescer na
mesma proporção do crescimento daquelas. A conseqüência é o encarecimento
gradual dos alimentos e do próprio custo de vida. E há também que considerar a
crescente perda de qualidade de vida nas grandes metrópoles.
Nem todos sabem,
mas o que permitiu a explosão demográfica dos últimas 110 anos não foi
exatamente a disponibilidade de alimentos abundantes e mais baratos então. Isso
foi conseqüência. A causa verdadeira foi a ENERGIA BARATA. E isso atende pelo
nome de PETRÓLEO. É basicamente petróleo o que comemos em nossos pratos atualmente.
(a continuar na
2ª. parte)
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