quarta-feira, 6 de março de 2013


ACORDE PARA A CRISE VERDADEIRA  
MILTON  MACIEL   -   2ª. parte

Nem todos sabem, mas o que permitiu a explosão demográfica dos últimas 110 anos, quando passamos de 1,5 para 7 BILHÕES de habitantes na Terra, não foi exatamente a disponibilidade de alimentos abundantes e baratos. Isso foi conseqüência! A causa verdadeira foi a ENERGIA BARATA. E isso atende pelo nome de PETRÓLEO. É basicamente petróleo o que comemos em nossos pratos atualmente.

Como as bactérias se reproduzindo aceleradamente num meio de cultura (no nosso exemplo, as leveduras no copo de água com açúcar), quanto mais alimento acessível houver, maior e mais rápido será o crescimento populacional. E foi exatamente isso que aconteceu neste último período de pouco mais de 100 anos. Com o advento de uma fonte de energia BARATA e compacta, fácil de obter e de transportar, todo o sistema inchou quase que de repente, pois a produção e o transporte de alimentos mudou todo o panorama inicial: muito mais açúcar disponível para nós, as leveduras humanas, nos multiplicarmos rapidamente.

O petróleo é uma fonte de energia compactada, energia solar absorvida e concentrada há centenas de milhões de anos, transformada pelas reações ocorridas lentamente no interior da Terra em um líquido viscoso de facílima extração, ao menos nos seus primórdios.

O fato de o petróleo ser líquido, permitiu seu bombeamento e deslocamento através de extensas tubulações, os oleodutos, capazes de vencer centenas e até mesmo milhares de quilômetros, da fonte de extração até as refinarias. Nestas, a matéria-prima bruta foi dividida em uma série enorme de produtos e sub-produtos, dos quais os mais importantes para nós foram os dois combustíveis fósseis responsáveis por nosso grande salto de desenvolvimento: a gasolina e o óleo diesel.

Dois homens, dois norte-americanos desempenharam papéis cruciais nessa transformação, para o bem e para o mal: Henry Ford e John D. Rockfeller.

Ford porque transformou uma carruagem de luxo motorizada, que os muito ricos encomendavam em oficinas especializadas, no início do século XX, pagando até 50 000 dólares por veículo, num item de produção em massa, que saía das primeiras grandes linhas de montagem industrial da história, nas fábricas Ford , para serem vendidos pelo inacreditável preço de 800 dólares por automóvel (modelo T, em 1928 – que podia ser de qualquer cor que o cliente quisesse, desde que fosse preto! O dono que pintasse depois! Ou seja, eram todos rigorosamente iguais, sem frescuras ou acessórios e podiam durar até 50 anos rodando).

Mas Ford fez ainda mais, muito mais: inventou e fabricou o primeiro TRATOR. E, com isso, revolucionou todo o processo de produção agrícola. É exatamente a partir da apropriação do motor de explosão, inicialmente movido a gasolina, a um veículo de trabalho na agricultura, que começou a explosão da produção de alimentos no mundo. Até então o duro, pesado e lento trabalho da terra era feito exclusivamente pela força humana e a dos animais de tração – bois a cavalos. Em 1911, o Departamento de Agricultura dos EUA relatou a existência de 25 milhões de cavalos e mulas no país e que eles valiam, no seu conjunto, cerca de 30% do que valia todo o rebanho bovino americano de então. Então vieram o trator, o automóvel e o caminhão. E o número de cavalos no país, em 1959, já tinha caído para 4.5 milhões – menos de 20 % do rebanho de 1911.

O trabalho de John Rockfeller, magnata do petróleo, foi o de forçar o uso de veículos movidos a combustíveis fósseis e incentivar a indústria de veículos pesados – caminhões e ônibus – sua grande garantidora de consumo de gasolina e diesel, a adotar políticas agressivas contra outros meios de transporte. Foi assim que essa aliança resultou na extinção das grandes empresas que exploravam os bondes urbanos elétricos nas cidades americanas. A GM – General Motors – praticou o crime de ir comprando uma a uma essas companhias para extingui-las e substituir todos os veículos elétricos por ônibus a gasolina. A mesma coisa foi estendida ao transporte ferroviário, que quase morreu nas mãos dos homens do petróleo, ávidos de substituí-lo pelo transporte rodoviário em caminhões, no que tiveram êxito completo.

Rockfeller foi também responsável pela proibição da fabricação de álcool, quando maquinou a genial jogada da Lei Seca nos EUA. O motores dos carros Ford originais eram FLEX, ou sejam podiam operar com álcool, também. Para isso bastava girar um comprido parafuso na alimentação do motor. E os donos de carro saíam em seus passeios pelos subúrbios e zonas rurais, onde em cada propriedade existia um alambique, fabricando bebida alcoólica e álcool, e ali abasteciam seus automóveis de álcool. A Lei Seca colocou todos os alambiques fora da lei, é óbvio. Carro flex é novidade? Pois sim!

E tem mais:em 1934, porque sua esposa detessse o cheiro de gasolina que acompanhava os motores dos carros Ford, Henry Ford não teve a menor dúvida: mandou instalar um motor elétrico, um banco de baterias comuns de chumbo-ácido, fez as necessárias adaptações e O CARRO DA FAMÍLIA FORD ERA UM CARRO ELÉTRICO. Em 1934!

E o Brasil?

No Brasil, esse morticínio a favor do petróleo nem precisou ser feito. Como a industrialização do país veio bem depois da americana, aqui já foi implantado um modelo viciado, baseado no caminhão e no ônibus, não permitindo sequer o desenvolvimento inicial de uma sólida malha ferroviária e hidroviária. Até hoje nosso transporte depende maciçamente da queima diuturna de milhões de barris de petróleo, usados por veículos de carga extremamente ineficientes, caros, poluidores e que forçam um custo de abertura e manutenção de estradas muitíssimas vezes mais caras do que as ferrovias e hidrovias. O pouco que se fez de ferrovias, foi criminosamente sucateado, com a conivência dos governos, a favor do transporte rodoviário.

Na agricultura, o petróleo chegou para revolucionar. Não só por permitir a substituição do trabalho humano e dos animais de tração pelo do trator e das outras máquinas agrícolas que a este seguiram, mas porque o petróleo passou a ser a grande base para a produção de FERTILIZANTES químicos, sem os quais a instalação de um modelo reducionista de produção em alta escala, em extensas monoculturas – a chamada agricultura industrial – seria impossível.

A explosão do petróleo dentro das propriedades agrícolas não teve apenas o efeito de quase zerar o número de cavalos e mulas de produção, mas também praticamente zerou o número de trabalhadores no campo. Essa mão-de-obra multimilenar se viu rapidamente expulsa dos campos para as cidades, resultando no rápido inchaço das cidades, que, via de regra, não estavam capacitadas para receber uma tal explosão demográfica em tão pouco tempo. A mecanização e a quimificação da agricultura, devidas exclusivamente ao petróleo, é que estão por trás das periferias pobres das cidades da maior parte dos países do mundo. O petróleo provocou uma revolução irreversível e foi a causa do crescente processo de URBANIZAÇÃO das populações.

A figura 3 retrata fielmente essa urbanização no Brasil: no período entre 1950 e 2000, a população rural, maior em 1950 que a população urbana, esteve sempre em declínio crescente, ao passo que a população urbana cresceu 7 vezes, esvaziando o campo e concentrando até 90% dos habitantes em áreas urbanas. Nestas áreas, o concomitante crescimento da indústria, da construção civil e do comércio foi capaz de absorver uma parte da mão-de-obra migrante, embora não tivesse vagas para todos, mormente porque essa mão-de-obra de origem rural não tinha capacitação para os trabalhos urbanos.

Mas o inchaço das cidades mudou tudo. Onde antes havia pouco milhares, em poucos anos havia centenas de milhares. Onde antes havia centenas de milhares, então em poucos anos passou-se a contar com MILHÕES de habitantes urbanos.

Estes, indivíduos que antes produziam sua própria comida no campo, passaram a ter que ser alimentados nas cidades. E estas tiveram que acomodá-los com novas moradias – a maior parte resultando em favelamento – e novas ruas, escolas e hospitais, e mais energia elétrica, e mais água encanada e mais esgoto sanitário. Ou seja, o custo do homem do campo na cidade cresceu astronomicamente, ainda mais considerando-se a larga fatia desempregada e subempregada, a necessitar assistência social permanente.

No entanto, a revolução do petróleo foi ainda muito mais adiante: ele chegou a todos os tipos de alimentos que nós colocamos no nosso prato e levamos à nossa boca, ingerindo-o. Todo o processo de produção, transporte, beneficiamento, industrialização e distribuição dos alimentos modernos é maciçamente baseado no e dependente do petróleo. Por isso uma crise eventual no petróleo redundaria fatalmente numa crise mundial de alimentos.

Numa cidade como São Paulo, por exemplo, basta um problema de abastecimento que deixe inabilitada a gigantesca e quilométrica fila de caminhões que demandam a capital, sua CEASA e seus muitíssimos outros centros de distribuição, por apenas TRES DIAS,  e a cidade toda entrará em colapso: vai faltar TUDO. Tão logo os supermercados, mercearias, bares e restaurantes, quitandas e botecos sejam SAQUEDOS pela população ensandecida, o espectro à frente é exclusivamente o da fome. Um pequenino ensaio geral dessa circunstância aparece cada vez que há uma greve de caminhoneiros ou outra greve qualquer que mantenha a estes bloqueados nas estradas.

Ou seja, nas cidades que precisam depender de alimentos que são produzidos (e industrializados) a centenas ou milhares de quilômetros, o INDICE DE SEGURANÇA ALIMENTAR é quase zero.

A seguir, vamos explorar a presença do petróleo dentro dos nossos alimentos e, consequentemente, dentro dos nossos próprios organismos, onde a colaboração dele e de seus resíduos costuma nos brindar com delicadíssimos problemas de saúde.

Nós somos o que comemos. E o que comemos é petróleo. Isso é fácil demais de demonstrar. 
(Continua na 3ª parte)

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