ACORDE PARA A CRISE VERDADEIRA
MILTON MACIEL
- 2ª. parte
Nem todos sabem,
mas o que permitiu a explosão demográfica dos últimas 110 anos, quando passamos
de 1,5 para 7 BILHÕES de habitantes na Terra, não foi exatamente a
disponibilidade de alimentos abundantes e baratos. Isso foi conseqüência! A
causa verdadeira foi a ENERGIA BARATA. E isso atende pelo nome de PETRÓLEO. É
basicamente petróleo o que comemos em nossos pratos atualmente.
Como as
bactérias se reproduzindo aceleradamente num meio de cultura (no nosso exemplo,
as leveduras no copo de água com açúcar), quanto mais alimento acessível
houver, maior e mais rápido será o crescimento populacional. E foi exatamente
isso que aconteceu neste último período de pouco mais de 100 anos. Com o advento
de uma fonte de energia BARATA e compacta, fácil de obter e de transportar,
todo o sistema inchou quase que de repente, pois a produção e o transporte de
alimentos mudou todo o panorama inicial: muito mais açúcar disponível para nós,
as leveduras humanas, nos multiplicarmos rapidamente.
O petróleo é uma
fonte de energia compactada, energia solar absorvida e concentrada há centenas
de milhões de anos, transformada pelas reações ocorridas lentamente no interior
da Terra em um líquido viscoso de facílima extração, ao menos nos seus
primórdios.
O fato de o
petróleo ser líquido, permitiu seu bombeamento e deslocamento através de
extensas tubulações, os oleodutos, capazes de vencer centenas e até mesmo
milhares de quilômetros, da fonte de extração até as refinarias. Nestas, a
matéria-prima bruta foi dividida em uma série enorme de produtos e
sub-produtos, dos quais os mais importantes para nós foram os dois combustíveis
fósseis responsáveis por nosso grande salto de desenvolvimento: a gasolina e o
óleo diesel.
Dois homens,
dois norte-americanos desempenharam papéis cruciais nessa transformação, para o
bem e para o mal: Henry Ford e John D. Rockfeller.
Ford porque
transformou uma carruagem de luxo motorizada, que os muito ricos encomendavam
em oficinas especializadas, no início do século XX, pagando até 50 000 dólares
por veículo, num item de produção em massa, que saía das primeiras grandes
linhas de montagem industrial da história, nas fábricas Ford , para serem
vendidos pelo inacreditável preço de 800 dólares por automóvel (modelo T, em
1928 – que podia ser de qualquer cor que o cliente quisesse, desde que fosse preto! O dono que
pintasse depois! Ou seja, eram todos rigorosamente iguais, sem frescuras ou
acessórios e podiam durar até 50 anos rodando).
Mas Ford fez
ainda mais, muito mais: inventou e fabricou o primeiro TRATOR. E, com isso,
revolucionou todo o processo de produção agrícola. É exatamente a partir da
apropriação do motor de explosão, inicialmente movido a gasolina, a um veículo
de trabalho na agricultura, que começou a explosão da produção de alimentos no
mundo. Até então o duro, pesado e lento trabalho da terra era feito
exclusivamente pela força humana e a dos animais de tração – bois a cavalos. Em
1911, o Departamento de Agricultura dos EUA relatou a existência de 25 milhões
de cavalos e mulas no país e que eles valiam, no seu conjunto, cerca de 30% do
que valia todo o rebanho bovino americano de então. Então vieram o trator, o
automóvel e o caminhão. E o número de cavalos no país, em 1959, já tinha caído
para 4.5 milhões – menos de 20 % do rebanho de 1911.
O trabalho de
John Rockfeller, magnata do petróleo, foi o de forçar o uso de veículos movidos
a combustíveis fósseis e incentivar a indústria de veículos pesados – caminhões
e ônibus – sua grande garantidora de consumo de gasolina e diesel, a adotar
políticas agressivas contra outros meios de transporte. Foi assim que essa
aliança resultou na extinção das grandes empresas que exploravam os bondes
urbanos elétricos nas cidades americanas. A GM – General Motors – praticou o
crime de ir comprando uma a uma essas companhias para extingui-las e substituir
todos os veículos elétricos por ônibus a gasolina. A mesma coisa foi estendida
ao transporte ferroviário, que quase morreu nas mãos dos homens do petróleo,
ávidos de substituí-lo pelo transporte rodoviário em caminhões, no que tiveram
êxito completo.
Rockfeller foi
também responsável pela proibição da fabricação de álcool, quando maquinou a
genial jogada da Lei Seca nos EUA. O motores dos carros Ford originais eram
FLEX, ou sejam podiam operar com álcool, também. Para isso bastava girar um
comprido parafuso na alimentação do motor. E os donos de carro saíam em seus
passeios pelos subúrbios e zonas rurais, onde em cada propriedade existia um
alambique, fabricando bebida alcoólica e álcool, e ali abasteciam seus
automóveis de álcool. A Lei Seca colocou todos os alambiques fora da lei, é
óbvio. Carro flex é novidade? Pois sim!
E tem mais:em
1934, porque sua esposa detessse o cheiro de gasolina que acompanhava os
motores dos carros Ford, Henry Ford não teve a menor dúvida: mandou instalar um
motor elétrico, um banco de baterias comuns de chumbo-ácido, fez as necessárias
adaptações e O CARRO DA FAMÍLIA FORD ERA UM CARRO ELÉTRICO. Em 1934!
E o Brasil?
No Brasil, esse
morticínio a favor do petróleo nem precisou ser feito. Como a industrialização
do país veio bem depois da americana, aqui já foi implantado um modelo viciado,
baseado no caminhão e no ônibus, não permitindo sequer o desenvolvimento
inicial de uma sólida malha ferroviária e hidroviária. Até hoje nosso
transporte depende maciçamente da queima diuturna de milhões de barris de
petróleo, usados por veículos de carga extremamente ineficientes, caros,
poluidores e que forçam um custo de abertura e manutenção de estradas
muitíssimas vezes mais caras do que as ferrovias e hidrovias. O pouco que se
fez de ferrovias, foi criminosamente sucateado, com a conivência dos governos,
a favor do transporte rodoviário.
Na agricultura,
o petróleo chegou para revolucionar. Não só por permitir a substituição do
trabalho humano e dos animais de tração pelo do trator e das outras máquinas
agrícolas que a este seguiram, mas porque o petróleo passou a ser a grande base
para a produção de FERTILIZANTES químicos, sem os quais a instalação de um
modelo reducionista de produção em alta escala, em extensas monoculturas – a chamada
agricultura industrial – seria impossível.
A explosão do
petróleo dentro das propriedades agrícolas não teve apenas o efeito de quase
zerar o número de cavalos e mulas de produção, mas também praticamente zerou o
número de trabalhadores no campo.
Essa mão-de-obra multimilenar se viu rapidamente expulsa dos campos para as
cidades, resultando no rápido inchaço das cidades, que, via de regra, não
estavam capacitadas para receber uma tal explosão demográfica em tão pouco
tempo. A mecanização e a quimificação da agricultura, devidas exclusivamente ao
petróleo, é que estão por trás das periferias pobres das cidades da maior parte
dos países do mundo. O petróleo provocou uma revolução irreversível e foi a
causa do crescente processo de URBANIZAÇÃO das populações.
A figura 3
retrata fielmente essa urbanização no Brasil: no período entre 1950 e 2000, a
população rural, maior em 1950 que a população urbana, esteve sempre em
declínio crescente, ao passo que a população urbana cresceu 7 vezes, esvaziando
o campo e concentrando até 90% dos habitantes em áreas urbanas. Nestas áreas, o
concomitante crescimento da indústria, da construção civil e do comércio foi
capaz de absorver uma parte da mão-de-obra migrante, embora não tivesse vagas
para todos, mormente porque essa mão-de-obra de origem rural não tinha
capacitação para os trabalhos urbanos.
Mas o inchaço
das cidades mudou tudo. Onde antes havia pouco milhares, em poucos anos havia
centenas de milhares. Onde antes havia centenas de milhares, então em poucos
anos passou-se a contar com MILHÕES de habitantes urbanos.
Estes,
indivíduos que antes produziam sua própria comida no campo, passaram a ter que
ser alimentados nas cidades. E estas tiveram que acomodá-los com novas moradias
– a maior parte resultando em favelamento – e novas ruas, escolas e hospitais,
e mais energia elétrica, e mais água encanada e mais esgoto sanitário. Ou seja,
o custo do homem do campo na cidade cresceu astronomicamente, ainda mais
considerando-se a larga fatia desempregada e subempregada, a necessitar
assistência social permanente.
No entanto, a
revolução do petróleo foi ainda muito mais adiante: ele chegou a todos os tipos
de alimentos que nós colocamos no nosso prato e levamos à nossa boca,
ingerindo-o. Todo o processo de produção, transporte, beneficiamento,
industrialização e distribuição dos alimentos modernos é maciçamente baseado no
e dependente do petróleo. Por isso uma crise eventual no petróleo redundaria
fatalmente numa crise mundial de alimentos.
Numa cidade como
São Paulo, por exemplo, basta um problema de abastecimento que deixe
inabilitada a gigantesca e quilométrica fila de caminhões que demandam a
capital, sua CEASA e seus muitíssimos outros centros de distribuição, por
apenas TRES DIAS, e a cidade toda entrará
em colapso: vai faltar TUDO. Tão logo os supermercados, mercearias, bares e
restaurantes, quitandas e botecos sejam SAQUEDOS pela população ensandecida, o
espectro à frente é exclusivamente o da fome. Um pequenino ensaio geral dessa
circunstância aparece cada vez que há uma greve de caminhoneiros ou outra greve
qualquer que mantenha a estes bloqueados nas estradas.
Ou seja, nas
cidades que precisam depender de alimentos que são produzidos (e
industrializados) a centenas ou milhares de quilômetros, o INDICE DE SEGURANÇA
ALIMENTAR é quase zero.
A seguir, vamos
explorar a presença do petróleo dentro dos nossos alimentos e,
consequentemente, dentro dos nossos próprios organismos, onde a colaboração
dele e de seus resíduos costuma nos brindar com delicadíssimos problemas de
saúde.
Nós somos o que
comemos. E o que comemos é petróleo. Isso é fácil demais de demonstrar.
(Continua na 3ª
parte)
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