MILTON MACIEL
2a.
parte – A cruel obrigação de ser MAGRA!
Na cruel batalha diária em busca de
auto-confiança e de um mínimo de condições para não sair humilhada da cruenta
guerra contra as outras mulheres, combate sem tréguas de mais de dez mil anos,
a mulher moderna tem mais uma obrigação. Não basta apenas ser bela, pois o
cânone atual impõe um segundo parâmetro a satisfazer, como conditio sine qua non de
aceitabilidade social: a obrigação de ser MAGRA.
Sim, de nada lhe vale ter um rostinho
bonito, belos cabelos, olhos, sorriso, simpatia, gentileza, finesse, boa educação. O tempo inteiro
matraqueia em sua mente a terrível palavra: GORDA!
E O
QUE É SER GORDA ATUALMENTE?
Basicamente é ousar ultrapassar os estritos
limites da anorexia superior. Que é aquela que aceita na mulher um máximo
de 20% de peso, em carnes, acima daquilo que pesariam os ossos do seu esqueleto,
depois de lavados e desengordurados com éter etílico.
O outro limite, o da anorexia inferior, que é
aquele tido como ideal pelas meninas aspirantes a modelo, é exatamente igual ao
peso total dos ossos desengordurados, sem nenhum graminha a mais. Este, embora
alcançável, é mais difícil de atingir ainda com pulso, mas parece ser uma
tendência irreversível que veio para ficar, estimulando na indústria a
fabricação de roupas femininas adultas nos manequins 40, 32 e 26.
Pois é, não bastasse o tormento de ter que
ser BELA, você ainda tem que encarar a obrigação de ser MAGRA.
BELEZA
É FÁCIL!
A BELEZA, sabemos, é FÁCIL: É só uma
questão de hidratante, primer, corretivo,
base, pó, curvex, rímel, delineador, lápis,
blush, sombra, removedor, peeling, outro lápis, batom, brilho
labial, chapinha, shampoo, condicionador, tintura, tonalizante, fixador,
esmalte, brilho, depilador, lente de contato. Ufa, SIMPLES ASSIM! Está certo
que é um pouco caro, é verdade. Está certo que acaba tomando um tempo
desgraçado todos os dias, também é verdade. Mas, paciência, o que se há de
fazer, é a regra do jogo. As desgraçadas das OUTRAS fazem isso, não fazem?!
Para o item esmalte, que é mais baratinho,
você tem o disponível na sua bolsa. Para todos os outros, existe Mastercard. E,
claro, aquela maldita fatura no fim do mês, com os juros de agiotagem mais
escandalosos do planeta Terra, praticados pelos perigosíssimos caras de colarinho branco dos bancos e
companhias de cartão de crédito. E aí você acaba tendo que gemer ainda mais sob
o peso da beleza. É a beleza com juros!
Mas, se tudo acabasse por aí, até que você
conseguiria agüentar. Afinal, é só uma questão de dinheiro e tempo, Mas é seu
dinheiro e seu tempo, ninguém tem que dar palpite! Você dá um duro danado,
merece ganhar esse seu suado dinheirinho e pode gastar do jeito que bem lhe
aprouver. Se você vai consumir, durante a vida, o equivalente a um bom carro
zero em cosméticos para pele, olhos, cabelos e unhas, ninguém tem nada com
isso. E daí que você prefira se sentir linda, deslumbrante, dentro do ônibus ou
dirigindo o seu “pois é”? Direito
seu, não fique ninguém se metendo onde não é chamado.
E daí que você tenha que dormir uma hora
menos por dia para poder pintar sobre a base do seu rosto aquela mulher linda
que você sabe que pode criar, com tempo, esforço, engenho e arte? Ou, se tiver
que usar muita base, esculpir, antes de pintar. Mais uns minutos para retocar
durante o dia, mais um tempo à noite para remover, e é só. É seu tempo. Ninguém
tem nada com isso.
Afinal, o que é uma mísera hora por dia,
ora bolas? Só 365 horas por ano, apenas 18250 horas dos 15 aos 65 anos, o que
dá só 760 dias ao todo, quer dizer só dois anos inteiros e mais um mês de vida cuidando
da maquiagem. Acaso isso é muito tempo?
Pior o homem, que, no mesmo período de
vida, fazendo a barba todos os dias em cinco minutos (só que boa parte dos
malandros não faz barba todos os dias, sem falar nos que usam barba direto),
vai consumir dois meses inteiros da sua vida só para tentar manter aquela cara
de safado lisinha que nem bunda de neném e levar você no bico mais fácil.
Pois é, mas não adianta ficar dando voltas,
enrolando, enrolando, falando de beleza. Temos que encarar o seu problema maior
de frente, GORDA!
Ah, você não é gorda? Não é ainda, MAS
SERÁ! A menos que você tenha aquela genética prodigiosa, que lhe permite comer
DEMAIS, como fazem TODOS, gordos ou magros, e não acumular peso. Mesmo assim,
ainda existe o problema da natural tendência de ganhar peso com o passar do
tempo: mais idade, mais peso – mais gordura, menos músculo. Então, mesmo com a
genética prodigiosa da sua avó, você ainda corre um certo risco no futuro. Mas
isso é só com você. Para todas as outras existe o MASTERPESO.
Que é o peso que se ganha quando se é
normal, sem a proteção da genética dos ruins-de-engorda. Então para você,
mulher normal, existe o SUPLÍCIO diário da DIETA! Não posso comer palito, por que me engorda! Mas, mesmo assim, você
vai almoçar no regulamentar POR-QUILO. E aí, sabe como é, quando chega na
balança... do restaurante, é aquela problema. Mas depois, quando chega naquela
maldita sádica, que se compraz em torturar você, cada vez que você sobe nela lá
no seu banheiro... aí sim é que é frustração!
Ou seja, a coisa é mais ou menos assim: ou
você passa fome de ficar verde, ou você ouve o pessoal cochichando às suas
costas: “Nossa, como ela engordou!” O que dá uma bruta raiva, que só pode ser
aplacada na sorveteria mais próxima, onde você pode afogar suas mágoas em bolas
de abacaxi, menta e pistache.
Verdade. O problema é que os caras criaram
esse padrão DESUMANO de beleza anoréxica e, impondo-a às mulheres do planeta
Terra, garantem o extraordinário faturamento de centenas de bilhões de dólares
anuais das indústrias da moda e do emagrecimento. Se hoje eles mudassem o
cânone e permitissem que você pudesse ter mais 10 quilos e, ainda assim, ser considerada
MAGRA, seria a falência para todos esses prósperos ramos de negócios.
Se você tivesse nascido no final da Idade
Média e início do Renascimento, você seria uma musa, uma menina extremamente
desejável, se pudesse expor a sua semi-nudez exuberante de 90 quilos. As magras
de hoje seriam internadas obrigatoriamente em sanatórios para tísicas.
Mas o problema é que você é uma mulher do
século XXI. Conforme sua altura, 60 quilos é mais do que suficiente para você
se sentir a Moby Dick com TPM.
Vamos dar continuidade a este assunto na 3ª
parte desta série, mostrando como o SISTEMA faz para garantir que você engorde,
gastando os tubos em comida. E aí precise gastar, depois, os tubos em
emagrecimento. Então até breve... Gordinha,
atual ou futura.
Na
mesma série:
1 –
A cruel obrigação de ser Bela
2 –
A cruel obrigação de ser Magra
3 –
A cruel obrigação de ser Jovem
4 –
A cruel obrigação de andar na Moda
5 –
A cruel obrigação de ser Mãe (de marido e filhos)
6 –
A cruel obrigação de ser Profissional de Sucesso
7 –
A cruel obrigação de ser Rica
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