sexta-feira, 22 de março de 2013


A  PRINCESINHA QUER DANÇAR – parte 6   
MILTON  MACIEL

Era uma cena tão sublime,
Tão bela, transcendental!
Parecia até que um anjo
Dançava ante o Portal.

Então houve algo incrível:
O rei começou, dolente,
A se mover pela praça,
Num passo algo vacilante.

Aos poucos o povo todo
Foi vendo o rei se mover:
“Impossível – o rei dança!”
Algo difícil de crer…

Mas aquilo era verdade,
O rei dançava de fato.
Ao som da voz de sua filha,
Encenava um novo Ato.

Ato, talvez, de ópera,
Ou de cantata, quiçá.
Quê de coisas impossíveis,
Na alma de cada um está!

Pois o rei dançou em transe
Moveu-se com elegância,
Como seu corpo fora leve,
Como flutuasse à distância.

A princesa deu-lhe a mão,
Conduziu-o ao chafariz.
Lavou-lhe a fronte, tirando
A coroa da Flor de Lis.

Tudo isso foi sem parar
De dançar um só momento.
E, dançando, a acompanhava
O rei com encantamento.

“Cante comigo, meu pai,
Como há muito tempo atrás,
Nos dias em que você
Não sendo rei, tinha paz.”

“Cante com aquela voz suave
Que me embalou tantas vezes.
Cante e dance aqui comigo,
Façamos de vez as pazes.”

O velho rei bem tentou,
Mas a voz não lhe saía,
Embargada num soluço:
De tudo se arrependia.

E outro milagre se deu
Ante o povo estupefato:
O rei começou a cantar
E a interpretar novo ato.

Fez-se límpida sua voz,
Já todos podiam ouvir.
E em versos, de improviso,
O rei começou a abrir…

A abrir seu peito dorido
Pelo mal que havia causado.
Falou dos seus destemperos
E do quanto havia errado.

Declarou o seu amor
Pela rainha e a seus filhos.
E o quanto que lhe custara
Ter que ser rei – E o que errara.

Disse amar a Astronomia
E, que a partir daquele dia,
Só a ela se dedicava
E, portanto…abdicava!

“Pensei, enquanto dançava,
E a uma conclusão cheguei
Ser monarca foi engano,
Não sirvo para ser rei.”

CONTINUA AMANHÃ
(De: A PRINCESINHA QUER DANÇAR – Milton Maciel – pgs 21, 22, 23 e 24)

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