MILTON MACIEL
A SEGUNDA BATALHA DA PONTE.
E o “Lago”, mais uma vez
Nenhum deles foi
atingido! Nenhum civil foi alvo fácil para as flechas dos hunos, que se
concentraram na área demarcada pelas tochas encravadas no leito da estrada.
Quando o grande
alarido do ataque dos cavaleiros de Alana se fez ouvir, os operários da ponte
foram, por sua vez, envolvidos subitamente por uma massa de mais de 500 homens
armados, todos francos evidentemente, que pareciam ter surgido do nada. Os
operários na ponte eram apenas uns 60 coitados, carpinteiros e ajudantes,
grande parte deles gépides e, não, hunos.
Vérica falou a
Meroveu que eles não deveriam ser mortos, o que seria um ato de crueldade e
covardia. Eram apenas homens desarmados. De mais a mais, precisavam que alguém
fosse contar ao grosso da tropa, acampada a seis quilômetros dali, o que tinha
acontecido, para atrair esses hunos para o “lago”, ainda de noite.
Então mandaram
os homens montarem 60 cavalos, dos 200 que os cavaleiros abatidos tinham
deixado ali e irem embora para o sul, juntar-se aos seus. Os pobres operários
mal podiam acreditar que estavam sendo poupados. E saíram tão depressa quanto
puderam, a galope, ainda com medo de serem atingidos pelas costas por uma saraivada
de flechas. No caminho, iluminados por um estranho grupo de tochas fincadas na
areia da estrada, viram o dantesco quadro dos corpos dos hunos abatidos pelos
visigodos.
Enquanto isso,
sem ter que se preocupar com tempo, Vérica e seu grupo de cavaleiros
descarregaram seus barris de óleo combustível e começaram, à luz das mesmas
tochas que os operários estavam usando há pouco, o meticuloso trabalho de
espalhar combustível sobre e embaixo das grandes toras já colocadas na ponte.
Tiveram o cuidado de fazer o mesmo com os três enormes montes de troncos que
aguardavam, empilhados, o momento de serem utilizados na construção. E ficaram
felizes ao constatar que o grupo de operários tinha bastante óleo estocado para
suas tochas ali na ponte, uma vez que iriam trabalhar de noite também. Usaram o
óleo dos próprios hunos e puderam, assim, poupar bastante do seu, levando-o de
volta para a fortaleza.
Ao cabo de dez
minutos, estava tudo pronto. Então Vérica começou a fazer a mistura final dos
dois ingredientes do fogo grego e,
após mais cinco minutos, aplicado esse material pronto em pontos estratégicos
da estrutura e das pilhas, jogou na ponte uma flecha incendiária comum. Alguns
estampidos foram ouvidos e, a seguir, as chamas começaram a subir cada vez mais
alto. Todo o trabalho dos hunos estava a caminho da total destruição.
Enquanto isso,
os civis já tinham encetado a caminhada de volta, pelo mesmo caminho por onde
vieram, usando agora, cada um, a outra tocha que tinham trazido consigo, para
iluminar abundantemente um caminho que já era o mais fácil de todos. E os cavaleiros de Alana formavam, montados,
o grupo que iria atrair os cavaleiros hunos, que não deveriam tardar a chegar,
para a escura armadilha do “lago” Châlons. Os 540 homens de infantaria dos
francos já haviam encetado também sua marcha, para as bordas do pantanal, onde iriam
esperar pelos hunos.
Evidentemente,
bem antes que os 60 operários da ponte, montados em cavalos, chegassem ao
acampamento do grosso da cavalaria huna, as sentinelas ali já tinham percebido
a luz e as altas línguas de fogo que subiam ao céu na direção da ponte.
Correram a comunicar o fato aos chefes, acordando-os no meio da noite. Mas a
conclusão a que os homens mal-despertos chegaram foi muito diferente: Ora, era
evidente que os arqueiros que estavam na ponte tinham resolvido atacar a
fortaleza dos francos com flechas incendiárias e agora os malditos pesteados
estavam ardendo em chamas dentro do seu próprio sarcófago.
Uma boa idéia,
sem duvida, se bem que muito arriscada. Queimavam os doentes e se livravam do
perigo da doença. Mas, por chegarem tão perto da fortaleza, poderiam alguns dos
homens ter contraído a peste. Como eram só duzentos homens, deliberaram os
sonolentos chefes, seria mais seguro na manhã seguinte, quando chegassem à
ponte, ordenar que aqueles duzentos homens fossem embora pelo rio e não
ousassem nunca mais se aproximar. Seriam facilmente substituídos. E teriam
prestado o grande benefício de eliminar a peste da região da ponte. Átila
adoraria essa novidade, mandariam um mensageiro à primeira hora da manhã.
Mas a paz de
espírito dos chefes do acampamento durou apenas alguns minutos mais. Mais
exatamente até chegarem os operários montados. Então tudo desmoronou e os
chefes tiveram não só que despertar completamente, como fazer acordar todo
mundo a toque de caixa e fazer todos os soldados montarem, armados para
combate. Precisavam correr para a ponte e expulsar ou matar os francos
atacantes, de tal forma que ainda pudessem apagar o incêndio e salvar a ponte e
as grandes toras de madeira, tão arduamente conquistadas à floresta.
Saíram de
qualquer jeito, aos magotes, desorganizados, a única coisa de importância sendo
chegar o mais breve possível à ponte e tratar de salvá-la da destruição. Mas
lembraram-se de levar o maior número de baldes que puderam arranjar no
acampamento.
Os operários
foram intimados a voltar imediatamente com o regimento, precisariam deles para
continuar a construção da ponte.
Dessa forma, em
poucos minutos, os seis quilômetros foram vencidos e uma impressionante massa
de quase 4 800 cavaleiros chegou à região da ponte, cavalgando pela Via Agripa
dentro da noite escura. O barulho dos cascos dos milhares de animais no leito
da estada era assustador e a nuvem de poeira que eles levantavam mais parecia
uma tempestade de areia. Antes tiveram que passar, pisoteando-os, pelos corpos
dos 200 homens de armas que tinham deixado para carregar troncos e fazer a
segurança da ponte durante a noite.
Os primeiros a
chegarem à ponte receberam ordens de desmontar a correr, com os baldes, para o
rio, de forma que, formando correntes humanas, pudessem apagar rapidamente o
fogo nas madeiras já instaladas na ponte, as quais tinham prioridade,
evidentemente. Mas aí aconteceu um coisa que os hunos não conseguiram entender
e explicar de forma alguma.
Em alguns
lugares da ponte, a água jogada em rápida seqüência conseguia extinguir as
chamas. Mas em outros, inexplicavelmente, cada vez que jogavam água, ocorria
uma espécie de explosão, um chiado e as chamas de erguiam rápidas, de mistura
com uma luz branco-esverdeada inexplicável. E essas chamas incontroláveis
voltavam a animar áreas de fogo que tinham sido aparentemente extintas. Depois
de algum tempo, os hunos entenderam, perplexos, que jogando água naquele fogo
de cor diferente, ele só aumentava e se multiplicava. Que mágica seria aquela.
Será que os francos tinham feiticeiros poderosos com eles? Essa era a única
explicação aceitável, por que não era possível existir um fogo que não pudesse
ser apagado com água.
Mas existia. E
desde a antiguidade, quando os gregos começaram a usá-lo em suas batalhas
navais. No que foram sucedidos pelos bizantinos, séculos depois. Esse segredo
chegou como conhecimento iniciático às sacerdotisas da grande Deusa. Só elas
sabiam, na atualidade, preparar o estranhíssimo fogo-grego. O único fogo, no mundo, que não se apaga com água, que
a água só faz multiplicar – pois ela reage com um dos componentes da fórmula e
o faz inflamar-se violentamente, ateando fogo ao que estiver ao redor.
E isso estava
acontecendo agora com as toras da ponte. A luta continuou por um bom pedaço de
noite, mas os hunos acabaram tendo que desistir. Chegou um ponto em que a ponte
virou, toda ela, uma gigantesca fogueira de muitos metros de altura. E o mesmo
aconteceu com as três pilhas de toras cortadas e transportadas até ali com
tanta dificuldade por centenas de homens durante o dia. Todo o trabalho estava
perdido!
E, com toda
certeza, não haveria tempo hábil para se fazer tudo de novo. Ao que tudo
indicava, a batalha contra os romanos e seus aliados era agora inevitável e se
daria exatamente ali onde estavam, nos Campos Catalaúnicos, à beira do rio
Marne, em Châlons. Era preciso mandar realmente um emissário muito veloz para
Átila, só que a notícia, ao invés de ser sobre a agradável queima da fortaleza
dos francos pesteados, seria sobre a terrível queima da preciosa ponte da Via
Agripa sobre o Marne.
Os chefes do
regimento estavam ainda deliberando o que fazer, quando houve um grande alarido
numa parte da formação onde os homens, desmontados, aguardavam determinações de
seu superiores. Rapidamente perceberam que aquele flanco desguarnecido estava
sendo atacado por um destacamento de cavalaria inimiga, em plena escuridão, sob
a pouquíssima iluminação de um pálido crescente lunar.
– Visigodos! –
gritaram os homens daquele flanco, enquanto tratavam de correr para por-se a
salvo da carga de cavalaria inimiga, tendo reconhecido os uniformes dos
cavaleiros que os atacavam, apesar da escassa luz reinante.
Então, para os
chefes hunos, a coisa toda se fez clara: os atacantes que incendiaram a ponte e
as madeiras não eram francos. Claro, não poderiam ser, pois os francos da
fortaleza estavam todos pesteados, à beira da morte. Os atacantes eram
visigodos! E deveriam estar escondidos ali naquela escuridão em um número muito
grande, senão não se atreveriam a atacar um regimento de quase 5000 homens,
como o que tinham ali.
Colhidos assim
de surpresa, não tendo como avaliar o número de visigodos atacantes, os chefes
hunos perderam um grande tempo discutindo entre si. Nesse ínterim, a cavalaria
visigoda, tendo como comandante uma figura impressionante de armadura prateada,
montada num cavalo enorme de agilidade totalmente fora do comum, provocou uma
enorme devastação na parte do destacamento atacada e, imediatamente, fazendo
meia-volta, partira de novo para a escuridão de onde viera. Tudo para
ressurgir, 500 metros mais ao norte, mais perto da ponte e repetir o mesmo tipo
de carga, desta vez sobre o grupo desmontado que havia tentado combater o incêndio
e onde estavam todos os chefes hunos do regimento.
Outra vez a
devastação foi enorme entre os hunos desmontados. Mas agora, claramente visível
o palco da luta, por causa das grandes chamas da ponte e dos montes de toras,
era possível ver perfeitamente o inimigo. De fato, um grupo de cavaleiros
visigodos uniformizados, tendo à frente uma figura infernal, que atacava com uma
destreza inimaginável num homem. Ele montava um animal enorme, que mais parecia
formar uma só pessoa com aquele “cavaleiro
do inferno”, como os hunos passaram a se referir a ele.
O cavalo não
tinha rédeas e o cavaleiro tinha as duas mãos livres para combater. Ao invés de
optar por um escudo, o feroz combatente tinha na mão esquerda uma larga espada
e, na direita, uma maça, com cuja esfera de dentes pontiagudos fazia terríveis
estragos nos homens que atacava. A maça cortava os escudos hunos como se eles
fossem de couro, o giro dela era tão rápido, seu raio de alcance tão grande,
que os soldados hunos mais próximos só tratavam de correr para se por a salvo,
desorganizando qualquer possibilidade de resistência.
De novo, tão
rápidos quanto vieram, os cavaleiros visigodos rumaram para o lado esquerdo da
estrada e desapareceram na escuridão, atendendo a um único assobio daquele
cavaleiro do inferno, cujo cavalo fez uma impressionante meia-volta, saltando
no ar, coisa que nunca um cavalo normal
poderia fazer. Seria de novo coisa de bruxaria? –começaram a se perguntar os
hunos supersticiosos. Isso explicaria tudo, porque nem aquele homem, nem aquele
cavalo podiam ser reais. O que eles eram capazes de fazer escapava a toda
lógica e a tudo que eles já tinham visto antes em combates de cavalaria. Com
toda certeza, era coisa sobrenatural!
Mas desta vez,
até porque três dos seis chefes hunos daquele regimento estavam agora abatidos no
chão, os outros chefes ordenaram que os cavaleiros que estavam montados
seguissem o grupo atacante, cujo tropel ainda podia ser ouvido. Era óbvio que
eles se afastavam para o leste, margeando o rio. O grupo em si não era muito
numeroso, isso pudera ser avaliado à luz das grandes fogueiras. Duzentos a
quatrocentos homens, no máximo. Claro que aquilo podia ser só um destacamento
de ponta, correndo para levar os hunos para uma armadilha, onde cairiam, na
escuridão da noite, nas mãos de milhares de visigodos emboscados.
Ma aquele não
era o momento de ser prudente, sem que isso fosse sinal de covardia. E os
chefes, pensando também em vingar seus companheiros mortos, acharam por bem
atacar, contando com sua grande força numérica. E assim, tão rápido como era
possível colocar em manobra um contingente tão grande e tão desorganizado como
estava aquele, ainda mais desfalcado de três lideranças fundamentais, os
cavaleiros hunos, gépides e alamanos trataram de seguir o grupo de visigodos
que parecia não ter muita pressa na fuga.
Os visigodos
eram visíveis, ainda que com certa dificuldade, na escuridão da noite. Os hunos
perseguidores puderam ver quando eles fizeram uma grande volta para a direita,
deixando a margem do rio e começando a tomar um rumo que os intranqüilizou
demais, pois parecia ser a direção da cidadela dos francos doentes.
À medida que se
afastavam eles, os hunos e aliados, do rio, a vegetação foi crescendo de altura
até se tornar duas vezes mais alta que um homem. Mas havia uma grande clareira,
que foi onde os visigodos entraram. Os hunos entraram por ela também. Contudo,
ao avançarem mais um pouco, a vegetação gigante começou a envolvê-los mais e
mais, de forma que a pouca luz do crescente foi ficando cada vez mais
inacessível. Então ouviram claramente os gritos de combate dos visigodos a uma
distância de uns cem ou duzentos metros mais à frente. Localizado de novo o
inimigo, o comandante da operação ordenou o galope, apesar da vegetação que o
dificultava e os cavaleiros avançaram rapidamente, já com seus arcos preparados
para o disparo. E então algo de insólito aconteceu.
As primeiras
linhas de cavaleiros simplesmente desapareceram da frente dos que vinham atrás.
Estes tentaram frear seus animais, mas a manobra foi impossível e mais duas
linhas de cavaleiros hunos desapareceram nas águas turvas do grande pantanal de
Châlons. O barulho de animais e homens se debatendo na água, tentando nadar,
gritando, era impressionante. Sem ninguém mais atrás saber do que se passava,
os cavaleiros continuaram avançado e, em sucessão, muitos outros caíram nas
águas traiçoeiras e pantanosas do “lago” Châlons.
Instalou-se uma
completa desorganização entre os cavaleiros hunos. No meio dos grandes capins,
ninguém identificava ninguém, no meio da escuridão era impossível reconhecer
quem quer que fosse. A desorganização das linhas foi total. Finalmente,
amontoados uns contra os outros, os cavaleiros que não caíram nas águas
pantanosas entenderam que era impossível continuar. Sem se preocupar em
socorrer os que se debatiam dentro das águas, pedindo socorro e ajuda para sair
de lá, os hunos e seus aliados trataram de dar meia-volta e fugir daquele
inferno de águas traiçoeiras escondidas, pensando só em se por a salvo.
No momento em
que chegaram à clareira, porém, caiu sobre eles uma chuva da terrível arma dos
francos, a “Francisca”, como os
romanos a chamavam. Francisca (o nome
vinha da palavra franco mesmo) era uma
espécie de machado pequeno, com uma peça metálica em meia lua, com cerca de um
quilo ou dois de peso e uns trinta centímetros de comprimento na lâmina de aço.
O cabo de madeira era curto, da ordem de meio metro. E os francos eram exímios
atiradores de Francisca, treinavam seu arremesso desde crianças. Arremessada
com perícia e muita força no braço, aquele machado era terrível para os
inimigos. O golpe na cabeça era fatal, mesmo quando ela estava protegida com
capacete metálico. E os pequenos escudos de braço dos hunos eram amassados ou
rasgados como se fossem brinquedos de criança.
Por isso tudo,
uma “chuva” de Franciscas era algo
desolador para os atingidos. Mais de quinhentos machados foram arremessados e
isso botou fora de combate um numero mais ou menos equivalente de cavaleiros.
Os machados tinham surgido de repente do nada, de muitos lugares diferentes no
meio daquele maldito capim-gigante. Os homens, em pânico, ensaiavam já uma
retirada totalmente desorganizada quando uma segunda chuva de armas os atingiu,
acertando os que ainda não haviam caído. Agora eram os javelins, as lanças curtas para arremesso de pequena distância.
Mais de 500 dessas peças foram arremessadas sobre os hunos em retirada e um
enorme número deles tombou, atingido.
E, quando já estavam
na margem do rio, prontos para bater em retirada, os retardatários foram
atingidos por uma impressionante saraivada de flechas, disparadas por 80 arqueiros
francos, igualmente escondidos por aquela maldita vegetação tão alta e densa.
Entre as flechas, algumas poucas eram de um tamanho simplesmente impossível! Um
homem, atingido por uma dessas, foi arrancado de seu cavalo, erguido no ar como
se fosse um boneco de pano e jogado a uma distância de mais de cinco metros do
seu animal. Os hunos em fuga conseguiram retirar uma dessas flechas gigantescas
do chão, onde ela se encravara, depois de atravessar o corpo de um homem e sair
deixando um rombo por onde podia entrar facilmente um punho.
Essa flecha,
levada para os chefes hunos depois, serviu para dar apoio à fantasiosa idéia de
que os visigodos tinham um pacto com os
demônios: Primeiro tinha sido aquele cavaleiro
do inferno. Depois essas flechas
enormes, grandes como pequenas lanças, que só podiam ser arremessadas por um arco
gigantesco. E isso queria dizer que, entre os arqueiros visigodos, existiam gigantes! E gigantes não eram seres
normais, eram seres demoníacos.
Como resultado
dessa malfadada incursão os 4800 cavaleiros hunos, gépides e alamanos viram seu
contingente encurtar em mais de 1000 homens, tombados nas águas pantanosas, na
clareira sob o impacto das Franciscas
e dos javelins e, na margem do Marne,
sob o efeitos de centenas de flechas, inclusive as flechas imensas dos
gigantes. E mais os homens abatidos durante as duas fulminantes investidas dos
cavaleiros visigodos liderados pelo cavaleiro
do inferno.
Apavorados, tudo
o que os homens queriam era fugir dessa malfadada região, a qual, como se não
bastassem todas as coisas que lhes aconteceram ali, como a destruição da ponte
de pedra com as catapultas e da de madeira com o fogo, como o abate dos 200
cavaleiros que acompanhavam os operários da ponte, ainda tinha aquela tenebrosa
fortaleza, eivada de francos entupidos de peste negra.
Quando chegaram
à Via Agripa, os homens tomaram o rumo sul a todo galope, deixando para trás os
companheiros feridos e uma grande quantidade de cavalos aproveitáveis pelos
inimigos, possivelmente quase um milhar de animais ilesos. O que tinham para
comunicar aos seus superiores era algo de assustador. A ponte estava
irremediavelmente destruída e um grande destacamento de visigodos – cavalaria,
infantaria e arqueiros, talvez mais de 5000 homens – estava ali à espera dos
hunos.
Na cabeça
supersticiosa dos invasores, os 540 francos e os 200 cavaleiros visigodos tinham
sido todos promovidos a visigodos e multiplicados até 5000 homens. Além disso,
os visigodos tinham aliados tenebrosos, criaturas das trevas, um ‘cavaleiro do inferno’, que não era nem
do inferno nem cavaleiro, muito menos homem, mas a bela sacerdotisa Alana,
fundida com sua grande égua Almarak. E as outras criaturas das trevas, os
demoníacos gigantes, capazes de arremessar as grandes flechas, que respondiam,
todos eles, pelo belo nome celta de Vérica.
CONTINUA
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