QUEM
NOS HÁ DE LER? – 2ª. parte
O
futuro do livro impresso
MILTON
MACIEL
Uma
tragédia anunciada – O nosso adorado livro impresso
vive dias de agonia. O encolhimento do negócio de redes de livraria nos EUA é
seu maior indicador. Duros tempos estes, em que se há que estar apto e pronto a
sobreviver via Internet e não mais com base em amplos estoques distribuídos ao
longo de vários estados e países, em centenas de livrarias próprias. O modelo
Amazon, com sua gigantesca concentração de maior livraria virtual do mundo e,
ultimamente, com sua nítida migração para o livro eletrônico, o e-book,
sinalizou o começo do fim para as grandes cadeias de livrarias.
BORDER’S – Até 2010, a Amazon dividia o mercado americano com duas grandes
redes de livrarias, a Border’s e a Barnes and Noble. A Border’s teve expressão
inclusive internacional, com lojas na Austrália, Nova Zelândia e Singapura. Por
volta de 2006 esse modelo de expansão encontrou o seu limite e começou a
encolher. Em 2008 a Border’s teve que vender essas lojas no exterior e fechar
as da Austrália, que não acharam comprador. Era o sinal dos tempos. Para a
Border’s, o sinal do final dos tempos!
Em Fevereiro de 2011, a Border’s entrou com
pedido de concordata e fechou 226 de suas lojas nos EUA. Mas não conseguiu comprador para o espólio e
em Julho veio a falência: todas as
restantes 399 lojas nos Estados Unidos foram sendo rapidamente fechadas até
Setembro seguinte. Eu mesmo compareci a algumas das últimas liquidações em
lojas de Miami e região, confesso que com um travo amargo na boca. Era um
tristeza saber que a gente aproveitava aqueles preços tão baixos porque, em
poucos dias, aquela livraria, aquele templo de cultura e prazer, estaria para sempre liquidada.
BARNES
AND NOBLE – A
concorrente Barnes and Noble comprou da Border’s a marca e a lista de clientes, junto com o
website, que passou a redirecionar o leitor para o site da B&N. Era o fim
da Border’s e, supunha-se, o fortalecimento da única rede remanescente de
livrarias de grande expressão nos EUA. Mas não foi isso que aconteceu. A
revolução do e-book e a turbulência da economia americana falaram mais alto.
Na esteira do sucesso do Kindle, da Amazon,
a B&N também lançou seu e-book reader, o Nook. O negócio de venda de livros
físicos recuava rapidamente e o de e-books aumentava exponencialmente. Ciente
de que não poderia mais se manter só com o livro físico, a B&N colocou suas
grandes esperanças na plataforma Nook. Não deu certo, porém. Com a total
abertura do mercado de e-books e sua pulverização entre muitos sistemas e plataformas
concorrentes, que além do Kindle e do Nook, passaram a contar com o da Apple e
o do sistema Android, além de outros como Kobo, de certa expressão, a fatia da
B&N ficou pequena demais.
Atualmente a operação Nook está dando um
prejuízo de 330 milhões de dólares. Isso está funcionando como um verdadeiro
golpe de misericórdia na combalida situação da empresa, acossada pelo encolhimento
constante do mercado do livro físico, que ela não conseguiu compensar com a
venda de Nooks e seus respectivos e-books.
Ontem tive o desprazer e a trsiteza de
postar no Facebook uma matéria do Yahoo
Finance (5 Big Retailers That’ll Be Gone in 5 Years) na
qual a B&N é apontada como uma das redes de distribuição comercial que
deverá estar encerrada nos próximos cinco anos! Para quem se interessar, aqui
está o link para o texto e para o vídeo, que tem mais material ainda: http://finance.yahoo.com/blogs/breakout/5-retailers-ll-gone-5-years-125839002.html
O fim da
Barnes and Noble! O que sobrará então para nós por aqui? De fato, há poucos
dias atrás veio a terrível notícia que a
B&N estava fechando sua loja de Aventura/North Miami. Não! Justo a do meu
bairro?! Há anos que eu me delicio entre aquela prateleiras, naquelas grandes
bancadas de liquidação de saldos, onde já comprei um dicionário em dois
volumes, com as biografias de todos os astrônomos importantes do mundo desde a
antiguidade, com 1500 páginas, formato de atlas, e pesando mais de quatro
quilos – tudo por 11 dólares (22 reais). E no balcão do Starbucks Coffee
interno à loja, que ali está de frente para as mesinhas onde a gente senta para
sorver café enquanto examina dezenas de livros e revistas, com toda a calma e
regalo. Pois é, como vamos sobreviver a estes novos tempos?
Por algum
tempo viveremos a transição do universo dos livros impressos para o dos livros
eletrônicos. Depois, os novos leitores, que estão aprendendo e ler somente nos
tablets e que estenderão sua leitura adulta ao mundo das telas, de todas as
telas, darão a palavra final.
TABLETS e E-BOOKS – A revolução nada
silenciosa
Ontem
postei uma imagem que reproduzo hoje novamente, por considerá-la emblemática e
de grande poder de demonstração. Nela um grupo de crianças da Etiópia, que
vivem numa zona rural paupérrima, em casebres de pau-a-pique e onde não existe
escola, foram alfabetizadas e aprenderam efetivamente a ler usando tablets
doados por uma ONG. Aprenderam a ler em DOIS idiomas: o seu próprio e o inglês!
Com resultados fantásticos, muito acima do esperado pelos fomentadores do
programa denominado: “Cada criança (do mundo), um tablet”.
Pois eu
lhes peço que, na fotografia, dêem uma boa olhada para a cara do pequeninho, o
menininho sem tablet: A atenção e o interesse dele, seus olhinhos brilhando de
curiosidade, DIZEM TUDO! (tem uma foto bem grande lá embaixo, no final do texto). Essa é a grande diferença. Essa é a força combinada do
e-book e do tablet. A mesma linguagem sedutora de cor e imagem, de animações,
basicamente uma imagem televisiva e cinematográfica, é capaz de magnetizar a
atenção da criança e levá-la a aprender de uma forma quase automática. Mas,
acima de tudo, e aqui está o grande segredo, de uma forma PRAZEIROSA!
Mas o
mais notável neste caso etíope, é que as crianças aprenderam a ler SEM
PROFESSOR. O programa é auto-instrutivo e leva a criança, passo a passo, em
direção a uma viagem maravilhosa e excitante de auto-aprendizagem. Isto é
REVOLUÇÃO.
Agora,
vocês querem saber o que motivou a aplicação desse programa à região? O governo
local argumentou que seria muito CARO produzir, transportar e distribuir para
cada criança TODOS OS LIVROS FÍSICOS de que elas necessitariam no curso básico,
além de ter que construir salas de aula e contratar professores. As famílias
dessas crianças vivem de plantar batatas e produzir mel. Todos os adultos são
analfabetos. Menos uma moça, que se encarrega de carregar os tablets com um
pequeno gerador solar, doado também pela ONG americana “One Laptop Per child”.
Essa jovem diz que “se lhes déssemos
refeições e água, eles nunca sairiam da sala de computadores, eles passariam
dia e noite lá.”
Ora,
TODOS OS LIVROS que uma criança precisa no curso PRIMÁRIO INTEIRO,
magistralmente ilustrados, cabem num único tablet! Na sua memória interna. E
vejam que não estou me referindo sequer ao uso da Internet, que obviamente não
é acessível naquele lugar. Ou seja, um tablet é muito mais barato que todos os
livros escolares.
Tremam,
portanto, na base as grandes editoras de livros didáticos e seus lobbies junto
aos professores e concorrências públicas. Seu futuro, por mais táticas
“ocultas” que venham a usar em desespero, está totalmente ameaçado. Aproveitem,
pois, estes últimos anos de farra do boi. Neste país, onde em 2013 deveremos
publicar um total de 63 000 títulos diferentes de livros – o que realmente é um
número expressivo – ainda predomina o fato de que o grosso do faturamento fica
nas mãos das editoras de livros didáticos, que o governo compra às dezenas de
milhões, a um preço médio de quase nove reais cada um.
O tablet
certo, o tablet ético, pode mudar totalmente esse cenário. E o que quero eu
dizer por tablet certo ou ético? Certamente não é o último modelo de Ipad ou
Samsung de 10 polegadas, com mil sofisticações tecnológicas, para ser vendido a
500 dólares ou mais e, sob o lamentável “custo Brasil” a mais de 2000 reais.
Não esse não é o tablet certo, esse não é revolucionário, esse só serve a quem
já está lá, a quem pode pagar por ele. E a seus fabricantes e revendedores
milionários.
O tablet certo é o tablet simples sem
rebuscamentos, como o Cruz, vendido a 67 dólares. É o tablet de 50 dólares,
produzido aos BILHÕES, para ser entregue a cada criança deste planeta e
revolucionar todo o processo de aprendizagem e auto-aprendizagem. E que, como
conseqüência, entronizará o NOVO TIPO DE LEITOR, aquele que NOS HÁ DE LER a nós
escritores e educadores. E que não se contentará mais com o tom monocórdio dos
nossoS livros de papel. Regozijem-se as árvores, comprem comprimidos para dor
de cabeça e gastrite os executivos das indústrias de papel, das editoras, das
grandes gráficas e das LIVRARIAS.
Felicitem-se
os professores, um novo mundo onde poderão aprender e ensinar, e a aprender a
ensinar, está chegando. A primeira coisa que eles vão adorar saber, é que vão
acabar aquelas horrorosas pilhas de provas a corrigir em casa. Pode deixar que
o programa faz isso sozinho no mesmo segundo em que o estudante toca na tecla final. E já trata de realimentar o
aluno, redirecioná-lo aos pontos onde ele se confundiu, ao mesmo tempo em que
arquiva ou manda por Internet para o professor uma avaliação COMPLETA do
desempenho do aluno naquela prova específica. Tem muito mais do que isso, mas
esse não é exatamente o nosso tema nesta série.
Barnes
and Noble, com pré-saudade eu me despeço: Baby: bye, bye! Não, não é gozação!
Vai ser duro para mim também: eu sou um viciado em livros de papel, sou
livro-de-papel-dependente, benditos traficantes de livro e de cultura me
induziram a esse vício quando eu era só um menininho indefeso. Só que, pelo
menos, já fiz algum progresso: pois o grande problema do viciado é não
reconhecer e admitir seu próprio vício.
CONTINUA
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