O POETA E O GUASCA - parte 2
(Vamos compondo, vamos postando...)
Diz que o homem tem fardão
De uma tal de Academia,
De tão bom que é na Poesia!
Mas sofre com a situação:
Morde-lhe o frio, qual cruzeira,
Pois treme em frente à lareira.
(Última estrofe de ontem)
Mesmo assim vai à vidraça,
A chamá-lo o firmamento.
E o sublime do momento
É tanto... que até o frio passa!
É quando ouve a voz chorona,
Que vem de uma cordeona.
Mal entreouve a melodia...
Mas parece tão bonita,
Que sua alma fica aflita
E lhe inspira a ousadia:
Correa vidraça de lado,
Vergasta-o o ar gelado!
Mais que homem, ele é Poeta,
É a Beleza o que o inspira.
E o ar gelado que aspira
Não intimida o esteta.
Bebe a melodia triste:
“Deus, é a mais bela que existe!”
Agora canta o gaiteiro.
E os versos que ele entona,
Ao som de sua cordeona,
São um poema verdadeiro.
E eis que Poeta se encanta
Com o que o gaúcho canta.
“Tirana do meu desejo,
Guria do meu encanto,
Ó deusa do meu espanto,
Quanto faz que não te vejo?!
Por falta de ti, guria,
Morro um pouco a cada dia”
“Lembra do dia da dança
Quando eu disse o meu amor?
Pois ali, sem tirar nem por,
Tu não me deste esperança!
Desde então, apaixonado,
Vivo triste, abichornado.”
“Foste embora pra cidade
Cuidar da tua carreira
Me deixaste, sorrateira.
Mas tenho dignidade:
Minha dor, desde o começo,
Só à sanfona confesso.”
O poeta ouvia, extasiado,
Aquela simplicidade!
Os seus versos de cidade
Eram um emaranhado
De construções tão complexas
Que eram soltas, desconexas.
De vanguarda, sua poesia,
Que tantos prêmios lhe dera
Parecia uma quimera
Ante aquela nostalgia
No guasca o emocionava
A dor que comunicava.
Ansioso por conhecê-lo
Esperou que o som parasse,
Que a voz do guasca calasse
E que ele pudesse vê-lo.
Pediu que entrasse o gaúcho
No seu ambiente de luxo.
(CONTINUA AMANHÃ)
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