MILTON MACIEL
Para Kawany Victória
(que os fabricantes de bebida alcoólica mataram, através de um dependente químico)
E para Jéssica, jovem mãe ilesa despedaçada.
[Perdão, poetas, se ouso invadir o sagrado
espaço das musas com gemidos que não são de amor, mas de
indignação. Não, não me tomem por moralista ou
religioso. Não sou nem um nem outro. Graças a Deus!]
Fuma.
Bebe.
Se droga.
(Psiu: Ninguém aqui está falando de
maconha, cocaína e outros afins.
Essas são drogas leves. Estou me referindo
às pesadas, às que matam milhões!)
Fuma.
Bebe.
Se droga.
(Se droga com isso mesmo: fumo e álcool! Essas
duas é que são as piores drogas da humanidade! Bebida alcoólica causa mais
prejuízo que todas as outras drogas do mundo COMBINADAS! Exceto o tabaco, é
claro, que tem seu próprio inferno)
Cigarro
Cerveja
Cachaça
Uísque
(Cerveja é a pior droga alcoólica do
Brasil. Responsável pelo maior número de acidentes e mortes no trânsito. Por
brigas e agressões sem fim. Por violência doméstica e estupros aos milhares)
Cerveja
Latinha
Garrafa
(Só o maior fabricante de cerveja produz 25
milhões de unidades por dia!
Ele sabe que mata todos os dias. Mas morre
de rir. É, ele põe a culpa em você!)
“Beba com moderação”,
Diz o fabricante cretino
Em sua propaganda.
E em sua embalagem
(convenientemente, omite ali
a caveira e as duas tíbias).
(Como se isso fosse possível! Como se o
incauto jovem, vítima preferencial das campanhas milionárias de propaganda,
fosse capaz de moderação nessa idade!)
Perdão, Erato!
Se hoje guardo a lira e empunho a espada.
Mas todos os dias os meninos matam e se
matam.
Bêbados, entupidos da droga-cerveja
Perdão, Polimnia!
Porque os hinos aqui são funéreos.
Mas os homens matam os homens.
Mas os homens matam suas mulheres.
Mas os homens matam crianças, matam bebês.
Bêbados, entupidos da droga-cerveja, da droga-cachaça,
da droga-uísque.
Perdão, Melpômene!
Mas hoje eu choro a Tragédia maior
Da morte de um bebê de três meses!
Esmagado pelo álcool no cérebro de mais um
bêbado ao volante.
(Às vésperas do seu batizado! O álcool destroçou
uma mãe por dentro, para sempre!)
Nove meses de sacrifício. Três meses de
alegria. Um ano de esperança.
Um segundo de crueldade: e o fabricante de
bebida ceifou mais uma vida inocente!
Perdão, Calíope!
Se tenho que invadir o espaço sagrado da
poesia
Com a Eloqüência antipática dos que gritam
contra a morte e o abuso
Perdão, Tália!
Mas hoje estou triste, muito triste! Hoje a
própria Comédia chora.
Hoje é de Melpômene o canto trágico que
entoa o réquiem a um bebezinho morto.
Perdão, Terpsícore!
Mas hoje não podemos dançar, hoje temos que
gritar aos quatro cantos do mundo.
Bradar contra os Pablo Escobar do álcool e
do fumo, das drogas legalizadas.
Que fazem pose de respeitáveis cidadãos.
Enquanto, como o falecido Escobar,
Enriquecem e matam!
Perdão, Clio!
Mas hoje a História tem mais uma lágrima a
verter.
Continuaremos contando a saga da estupidez
humana. Da sua hipocrisia.
Da sua cobiça. Da falta de escrúpulos dos
governantes antiéticos do mundo todo.
Que fazem sociedade com os Pablo Escobar do
álcool e do fumo.
E escorcham com juros altíssimos os
cidadãos que ajudam a drogar e matar! É o PIB!
Perdão, Euterpe!
Mas que Música tocaremos hoje?
Ah, Calíope da bela voz!
Fiquemos mudos então. Calemo-nos!
Perdão, Urânia!
Da sagrada ciência-arte da Astrologia,
(Tão vilipendiada pelos charlatães de
plantão
E pelos ignorantes obscurantistas dos
fundamentalismos religiosos).
Ah, podes tu, bendita Urânia, dar-nos
informação em teus indicadores cósmicos
De que está estupidez humana um dia terá
fim?
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