A NOIVINHA – 10 - Conclusão
Final
da parte 9
– Em
João Boto?! Não me diga que você já encontrou o desgraçado, Dito! É verdade ou
eu, muito burra, entendi tudo errado?
–
Verdade, sim. Nós já incontremo o desinfeliz i já demo um jeito nele. Esse num
incomoda mais ninguém. Num tem mais pirigo di fazê mal a essa aí o a mais
ninhuma outra.
–
Quer dizer que vocês mataram o animal?! – Marta não cabia em si de surpresa e
contentamento – O maldito tá morto?! Capado?
–
Capado, sim. Morto, não. Ainda não.
PARTE
10
E então Timbó desatou a falar, no seu palavreado lento,
gutural. Contou toda a história da noivinha, falou dos filhos que vieram com
ele, do acerto feito com Zé Bode e o sargento. E terminou por fazer uma
recomendação a Marta:
– Carece di mecê fazê uma visitinha ao sargento, num sabe? Fale em
meu nome i faça uma visita à noivinha. Mecê vai si sinti di alma lavada, ah, si
vai! Pena qui ocês vieram si acoitá nesta fazenda i não pudero vê tudo qui o
povo da cidade viu.
– Ah, nem me diga! Como que eu queria estar lá pra ver o amaldiçoado
vestido de noiva, com a bunda exposta, as coisas capadas fora, de atadura. Mas
o que eu queria mais ver é esse nojento experimentando o seu próprio veneno,
sendo estuprado pelos presos todos! Ah, mas que coisa mais bem feita, Dito!
Deus bendiga e proteja você, Deus lhe pague! Eu sempre lhe estimei demais, Dito
Timbó, nunca me esqueci de você, mas agora eu posso dizer e vou dizer pra todo
o povo ouvir: eu tenho é orgulho de
ter uma filha com Dito Timbó! Como eu tenho orgulho de ter deitado e emprenhado
de um homem como você, Dito. Eu tenho esta outra menina e tenho os dois meninos
gêmeos, menorezinhos, que estão brincando lá nos fundo agora, tudo de pai
diferente. Mas ter uma cria sua, Dito Timbó, me deixa cheia de orgulho, sim
senhor!
Aquele palavreado bonito,
sincero, emocionado da mulher abalou Dito profundamente. Nesse momento ele teve
certeza total de que Marta falava a verdade: Ritinha só podia, de fato, ser
filha dele! Aquilo tudo era novo e diferente para aquele homem duro e seco.
Emoções esquisitas, diferentes daquelas que ele mais apreciava, como quando
estava escondido numa tocaia ou como quando via o encomendado tombar por terra
com seu tiro certeiro.
Então era certo que Ritinha
era filha sua, saída dos seus ovos, sem dúvida. Que pena que agora fosse uma
puta, vergonha da família, que não desse para fazer mais nada por ela. Mas a esta Manuela, ele haveria de dar um
amparo, assim expiava sua culpa pela desgraça da outra, da qual não estivera
próximo para proteger da desgraça. Nunca fizera nada por nenhuma filha mulher.
Pois agora iria fazer por uma que, ironia, nem filha sua era. Pela filha
verdadeira nada mais podia fazer, era uma puta de rua agora.
Dito Timbó contemplava a
mulher à sua frente. Quantos anos devia ter agora? Uns trinta, no máximo. Ela
era bem novinha quando se deitara com ele, uns onze anos atrás. Daquele chamego
havia nascido Ritinha, sua filha quenguinha. Marta ainda era uma mulher muito
bonita. Delgada, pequena, delicada. Lembrava-se de como ela o havia
impressionado muito com sua aparência de fragilidade, como se fosse quebrar ao
ser tocada. E, ao mesmo tempo, tinha um gênio tão bom, tão divertida que ela
era. O tipo da mulher que podia fazer um homem comum muito feliz. Um homem comum,
é claro, não um pistoleiro matador como ele.
Matador não pode ter família, sempre existe o perigo de tirarem
vingança em cima dos familiares dele. Por essa razão, Dito Timbó nunca deixava
que nenhum xodó durasse mais do que uns poucos dias, semanas no máximo, quando
a mulher era muito especial. Assim tinha sido com Marta. Por isso, quando
Bastião lhe deu a notícia da carta, não teve dificuldade alguma em lembrar quem
era aquela Marta. E agora, premido pelas novas emoções, tomou uma resolução
extrema:
– Acho qui mecê pricisa di uma nova chance di começá tudo di novo.
Tô disposto a le dá essa chance. Cate seus fio e seus teréns e venha s’imbora
comigo. Eu tenho uma casa boa lá em Missão Velha , na roça, tá carecendo di uma
mulerzinha assim qui nem ocê pra tomá conta dela. Aí a gente cuida dessa
mocinha aqui. Sabendo qui ela é fia di Dito Timbó, home ninhum nunca vai tê
corage di atentá contra ela.
Comovida, Marta tomou a mão de Dito, cobriu-a de beijos e lágrimas. Era
sua forma de dizer que sim. Depois passou a mão a Manuela. A bênça, painho! – e Manuela se fez Timbó.
FIM DO CAPÍTULO "A NOIVINHA"
2o. capítulo do livro A ESPERA E A NOIVINHA - MILTON MACIEL - IDEL - S.PAULO
O livro pode ser obtido através do e-mail: delphos09@terra.com.br
2o. capítulo do livro A ESPERA E A NOIVINHA - MILTON MACIEL - IDEL - S.PAULO
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