MILTON MACIEL
Ultima estrofe da parte 4:
Não chorar, nem escondido,
E engolir toda sua mágoa;
Não ter olhos rasos d’água
Se o coração foi partido.
O que é que temos aqui?
Um Alfred de Vigny?”
PARTE V
Ué, meu patrão, quem é esse,
O tal de Alfredo Devinhí?
Que ele nunca veio aqui,
Pelo nome é estrangeiro,
Nem parece brasileiro.”
“E tem razão, meu amigo
É da França e um grande poeta.
Tenho sua obra completa
Que trago sempre comigo.
Veja só este livro aqui:
É de Alfred de Vigny.
Veja aqui estes dois versos:
Parece você quem os fez.
Primeiro eu leio em francês
Depois traduzo de
vez :
Quand on voit ce
qu'on fut sur terre et ce qu'on laisse,
Seul le
silence est grand; tout le reste est faiblesse.
Quando vemos o que fomos na terra e o que se deixa,
Só o silêncio é grande; todo o restante é
fraqueza.”
“Cuepucha,
patrão, que lindo!
Bonito
barbaridade...
E o que
ele diz é verdade.
Não se
deve andar caindo
Pelos
cantos, como um fraco,
Que é
mais embaixo o buraco.
Pois é: ‘o
silêncio é grande
E todo o resto é fraqueza!’
Pra mim
isso é fortaleza
De um
macho que se garante.
Esse tal
francês De Vigny
Seria mui
bem-vindo aqui.”
“Pena
que o homem nasceu
Há mais
de duzentos anos.
Viveu sérios
desenganos,
De um
brabo câncer morreu.
Porém
nunca se queixou,
Tudo
firme ele aguentou.
Hoje,
ouvindo o seu cantar
Foi dele
que me lembrei.
E foi
também o que achei
Por seu
modo de falar:
Nós
temos no pampa, aqui,
Outro
Alfred de Vigny.”
“Quem me
dera, meu bom patrão
Ser
poeta como esse aí!
Desse
Alfred de Vigny,
Só tenho
a disposição.
E o
senhor, na sua poesia
Tem a
mesma valentia?”
“Que
nada, meu companheiro,
Eu sou é
um grande chorão!
E a dor
no meu coração
Eu berro
pro mundo inteiro.
Eu
confesso pra você:
Sou um
Alfred de Musset!”
CONTINUA (Figura: Alfred de Vigny)
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