sexta-feira, 26 de abril de 2013

O POETA E O GUASCA - 5  
MILTON MACIEL

Ultima estrofe da parte 4:

Não chorar, nem escondido,
E engolir toda sua mágoa;
Não ter olhos rasos d’água
Se o coração foi partido.
O que é que temos aqui?
Um Alfred de Vigny?”

PARTE   V

Ué, meu patrão, quem é esse,
O tal de Alfredo Devinhí?
Que ele nunca veio aqui,
Não é alguém que eu conhecesse.
Pelo nome é estrangeiro,
Nem parece brasileiro.”

“E tem razão, meu amigo
É da França e um grande poeta.
Tenho sua obra completa
Que trago sempre comigo.
Veja só este livro aqui:
É de Alfred de Vigny.

Veja aqui estes dois versos:
Parece você quem os fez.
Primeiro eu leio em francês
Depois traduzo de vez :

Quand on voit ce qu'on fut sur terre et ce qu'on laisse,
Seul le silence est grand; tout le reste est faiblesse.

Quando vemos o que fomos na terra e o que se deixa,
Só o silêncio é grande; todo o restante é fraqueza.”

“Cuepucha, patrão, que lindo!
Bonito barbaridade...
E o que ele diz é verdade.
Não se deve andar caindo
Pelos cantos, como um fraco,
Que é mais embaixo o buraco.

Pois é: ‘o silêncio é grande
E todo o resto é fraqueza!’
Pra mim isso é fortaleza
De um macho que se garante.
Esse tal francês De Vigny
Seria mui bem-vindo aqui.”

“Pena que o homem nasceu
Há mais de duzentos anos.
Viveu sérios desenganos,
De um brabo câncer morreu.
Porém nunca se queixou,
Tudo firme ele aguentou.

Hoje, ouvindo o seu cantar
Foi dele que me lembrei.
E foi também o que achei
Por seu modo de falar:
Nós temos no pampa, aqui,
Outro Alfred de Vigny.”

“Quem me dera, meu bom patrão
Ser poeta como esse aí!
Desse Alfred de Vigny,
Só tenho a disposição.
E o senhor, na sua poesia
Tem a mesma valentia?”

“Que nada, meu companheiro,
Eu sou é um grande chorão!
E a dor no meu coração
Eu berro pro mundo inteiro.
Eu confesso pra você:
Sou um Alfred de Musset!”
CONTINUA                          (Figura: Alfred de Vigny) 

Nenhum comentário:

Postar um comentário