segunda-feira, 22 de abril de 2013


O  POETA E O GUASCA 
MILTON MACIEL 
(Vamos compondo, vamos postando...)

                 I
Em noite de lua nova
Dois homens o céu contemplam.
E enquanto as nuvens se ausentam,
Um guasca compõe sua trova.
E o fole da gaita puxa,
Em suave toada gaúcha.

Ali, exposto ao relento,
Sobre a cabeça o sereno,
O guasca acha o frio ameno
E não se importa com o vento.
No chão a tralha gaúcha:
Facão, guaiaca e garrucha.

Os dedos sobre a cordeona
O céu com miles de estrelas,
O guasca, encantado, a vê-las
Por todas se apaixona.
E pensa em sua gaúcha,
Mistura de fada e bruxa.

Ali, bem perto, na casa
Olhando pela janela
Outro homem pensa nela,
Por ela também se abrasa.
É um hóspede da cidade,
Poeta bom barbaridade!

Diz que o homem tem fardão
De uma tal de Academia,
De tão bom que é na Poesia!
Mas sofre com a situação:
Morde-lhe o frio, qual cruzeira,
Pois treme em frente à lareira.

(continua amanhã)

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