O POETA E O GUASCA
MILTON MACIEL
(Vamos compondo, vamos postando...)
I
Em noite de lua nova
Dois homens o céu contemplam.
E enquanto as nuvens se ausentam,
Um guasca compõe sua trova.
E o fole da gaita puxa,
Em suave toada gaúcha.
Ali, exposto ao relento,
Sobre a cabeça o sereno,
O guasca acha o frio ameno
E não se importa com o vento.
No chão a tralha gaúcha:
Facão, guaiaca e garrucha.
Os dedos sobre a cordeona
O céu com miles de estrelas,
O guasca, encantado, a vê-las
Por todas se apaixona.
E pensa em sua gaúcha,
Mistura de fada e bruxa.
Ali, bem perto, na casa
Olhando pela janela
Outro homem pensa nela,
Por ela também se abrasa.
É um hóspede da cidade,
Poeta bom barbaridade!
Diz que o homem tem fardão
De uma tal de Academia,
De tão bom que é na Poesia!
Mas sofre com a situação:
Morde-lhe o frio, qual cruzeira,
Pois treme em frente à lareira.
(continua amanhã)
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