E saber AGRADECER. Mas é também
olhar
para a frente e NÃO TER MEDO!
MILTON
MACIEL
O
verdadeiro amor, por exemplo, está muito mais em ter tido a felicidade de partilhar doces e duros momentos, os altos
e baixos do simples dia-a-dia; está muito mais no acumular de experiências e
vivências, que constroem um passado de compreensão e tolerância, amizade e carinho,
em que pese termos vivido desencantos e desilusões, arrufos e brigas, porque
isso é simplesmente o NORMAL da vida.
As
pessoas nem sempre percebem que ser feliz é OLHAR PARA TRÁS. Ao contrário...,
elas tendem a ficar infelizes com um veneno chamado MEDO DO FUTURO, medo de
perder. Só que aquilo que você já tem dentro de si não pode mais ser perdido. É
tesouro. É Indestrutível. Uma relação pode acabar, o afeto de amanhã pode
mudar. Mas tudo o que foi vivido não muda, está guardado para SEMPRE, per omnia secula seculorum. Portanto,
ser feliz é, acima de tudo, um estado
contínuo de GRATIDÃO pelo que de bom já vivemos na vida. E isso,
certamente, todos nós tivemos e muito.
Quantos
são os que dizem, merecidamente: EU ERA FELIZ E NÃO SABIA. Pois é, isso é bem
do ser humano: não saber reconhecer um estado de felicidade que está escondido
numa aparente calmaria, num dia-a-dia sem sobressaltos, sem eventos novelescos
e excitantes. Foi pensando nisso que um dia escrevi um poema muito simples(*),
mas que retrata essa realidade, a qual fica oculta aos olhos das pessoas no
dia-a-dia de suas vidas agitadas, em que elas não se permitem reconhecer a
sutileza dos bons momentos que permeiam os menos agradáveis – a porque a VIDA É
ASSIM, simplesmente.
Contudo,
é da natureza humana, por causa do EFEITO SOMBRA que ataca do fundo do
inconsciente, dar um peso diferente aos momentos infelizes, muito maior do que
o atribuído aos momentos felizes. É o mesmo fenômeno que faz os jornais e os
telejornais estamparem as desgraças e os crimes, as baixarias e as fofocas,
preferencialmente a outros temas. Isso vende jornal, isso faz as TV’s faturarem
horrores com excrescências tipo BBB. De uma certa forma, nós estamos preparados
para o que é ruim, esperamos por ele, pela mediocridade inclusive
.
As pessoas não costumam – porque
ninguém lhes ensinou isso – apreciar a felicidade que está no que já passou, de onde nasce o sentimento de
plenitude que se chama GRATIDÃO. Exatamente por causa desse que é, como Jung
tão bem o demonstrou, o maior medo dos seres humanos: O MEDO DE SOFRER! É por medo
de sofrer que nós deixamos passar muitas das melhores oportunidades na vida. E
deixamos de nos livrar de relações negativas, quer na família, no trabalho ou
no amor. E deixamos de encetar outras tantas relações novas. Em suma, como ser
humano, VOCÊ MORRE DE MEDO DE SER INFELIZ. MORRE DE MEDO DE SOFRER. MORRE DE
MEDO DE PERDER.
Um dia Clarice Lispector perguntou a Hélio
Pelegrino, o grande psicanalista brasileiro: Viver é bom?
A resposta de Hélio Pelegrino ela anotou
e colocou em livro:
“Viver,
essa difícil alegria. Viver é jogo, é risco. Quem joga pode ganhar ou perder. O
começo da sabedoria consiste em aceitarmos que perder também faz parte do jogo.
Quando isso acontece, ganhamos alguma coisa de extremamente precioso: ganhamos nossa possibilidade de ganhar.
Se sei perder, sei ganhar. Se não sei perder, não ganho nada, e terei sempre as
mãos vazias. Quem não sabe perder acumula ferrugem nos olhos e se torna cego – cego
de rancor. Quando a gente chega a aceitar, com verdadeira e profunda humildade,
as regras do jogo existencial, viver se torna mais do que bom --se torna
fascinante."
(*) ODE
A UMA DIA COMUM
MILTON MACIEL
Ontem não aconteceu nada,
Foi só um dia comum.
Ontem nada deu certo;
Porém, nada deu errado.
Se nada teve conserto,
Nada também foi quebrado.
Tive alegrias? Que nada!
Mas nada me incomodou.
Fiquei chateado? Que nada!
No entanto, nada mudou.
Nada de novo na esquina,
Nada fugiu da rotina.
Nada houve de horroroso...
Que dia MARAVILHOSO!!!
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