MILTON MACIEL
Sabe o meu compadre Onofre, aquele que
deram por morto e iam interrá vivo, e que só não interraram por que o baile da
sentinela dele tava tão bom que ninguém queria pará de dançá pra mode interrá defunto? E aí ele
acordou-se no outro dia, não tinha morrido cosa nenhuma? Pois nem le conto,
vivente, otra que passou-se com o índio velho faz uns par de dia.
Pois o Onofre tem uma vaquinha meio
velhusca, uma tal de Brasina, que só solta o leite com ele, não adianta ninguém
mais, nem peão, nem china, querê ordenhá a cabortera, que ela não solta o leite
de jeito nenhum. Mas vai o Onofre e no pegá o balde e o banquinho já o leite
começa a pingá das teta da sem-vergonha, sabe como é? Bueno, é que esses dois
se adora, pode se dizer, há muitos anos que é ele só que trata dela e ordenha.
As otra vaca dele tudo solta leite fácil
com qualqué um, acho que até com essas máquina do demônio, as tal de
ordenhadera, iam dá leite. Mas Deus me livre de usá umas barbaridade dessas na
minha fazenda! E o compadre Onofre acha o mesmo que eu. Na estância dele essas
tal de modernidade não entra. Pois se ele não tirô a relhaço de lá o
veterinário da loja da cidade, que apareceu na estância querendo vendê uma
porcaria dessas pro compadre?
Bueno, como eu ia começando a le contá, faz
um par de dia que a Brasina deu de incomodá o compadre na hora da ordenha otra
vez. Pois a vaca tem a mania de batê com aquele rabo comprido quando menos se
espera. E a danada aprendeu a libertá o rabo da maneia que prende ele na pata nessa hora. E aí parece que ela faz a cosa só pra se diverti, dá cada rabaço no
compadre, quando ele tá sentado no banquinho tirando leite! Tem vez que ela
consegue mexê o rabo e uma pata e derruba o balde que já tá cheiode leite. Ai o
compadre fica mui brabo e grita um monte de palavrão com a bicha. Mas ele nunca
que ia batê na ordinária, porque gosta muito dela e sabe que ela tá só se
divertindo.
Entonces ontônti, quando ele tava no bem
bom do serviço, a danada da Brasina consegue outra vez soltá o rabo da maneia e
começa a atazaná a vida do Onofre. Bueno, mas aí o índio velho teve uma idéia
até que macanuda. Ele foi buscá uma corda comprida, amarrô uma ponta da corda
na ponta do rabo da vaca e jogô a otra ponta pra cima, na intenção de passá ela
pela trave do telhado e pegá de volta, pra suspendê bem alto o rabo do bicho.
Aí ele queria vê a Brasina dá rabaço!
Mas acontece que a tesora do telhado do
galpão é mui alta e o Onofre não conseguia alcançá direito prá passá a corda.
Ele então lembrou-se do banquinho e botô ele por trás da vaca, pra mode alcançá
a trave. E aí conseguiu.
Mas tava difícil era de dá o nó, que a
corda pra isso era mui curta. Então o Onofre meio que se estica daqui, meio que
se estica dali, e quando tava conseguindo amarrá o nó, com o rabo da vaca bem
levantado pra riba, o esforço foi tanto que as bombacha do índio velho caiu. E
aí tu sabe como é, gaúcho macho não usa essas tal de cueca, cosa de fresco, Porque
a gente usa bombacha bem larga, desde piazito, já é pra criá o bicho solto lá
dentro, sem nada pra segurá o crescimento do turuna.
Pois imagina só o quadro, vivente: o índio
velho trepado no banquinho, atrás da vaca de rabo bem alevantado, com as
bombacha arriada até os pé e aquele baita trabucão de fora. Tu ia morrê de ri!
Mas acontece que bem nessa hora entrô no galpão a Idalina, a mulher dele, minha
comadre. E quando ela viu aquilo, o que
que ela podia pensá? Pois é o que tu pensô que ela ia pensá, mesmo. E diz que
ela garrô a falá umas barbaridade, que sempre desconfiô, que tinha que tê uma
razão praquele agarramento todo da vaca com o Onofre, por tantos anos assim. E
dizque ela falô mui braba:
– E agora, tu vai negá, vai?!
Bueno, vivente, o que é que um home faz
numa hora dessas? O Onofre pensô rápido e viu que ia se incomodá mais se
negasse, que a china dele ia aprontá o maior escarcéu o resto do dia e da
semana, obrigá ele a dá-lhe um corretivo, quem sabe. E então o compadre fez o
que achô que era o melhor pra ele e respondeu:
– Pois é isso mesmo que tu tá vendo, eu ia
mesmo me aliviá com essa vaca. E a culpa é tua, que não dá o suficiente pra um
macho forte que nem eu.
A mulher ficô parada, pensando, de boca
aberta, sem ação. E aí, depois de um certo tempo, por fim falô alguma cosa:
– Bah, tu acha é?... Qué dizê que se eu
comparecê mais com os finalmente, tu deixa dessa vaca sem-vergonha e fica só
comigo?
O Onofre aproveitô a deixa e respondeu na
mesma hora:
– Pois eu te juro, minha prenda, porque tu
é muito más bonita e gostosa do que essa porcaria dessa vaca, cosa más feia,
más sem graça.
Bueno, não é que a mentira deu certo!
Dizque hoje os dois tá de novo que nem um grude, a comadre Idalina, que ainda é
uma coroa de dá um bom caldo, mas que tava descuidada das cosa fazia um bom tempo,
voltô a se interessá pelo compadre e dizque agora eles tá andando de mãozita dada,
nuns agarramento de deixá peão envergonhado e dizque até eles vai fazê uma
viagem de trem até Dom Pedrito, cosa de umas quatro hora, que é pra mode
comemorá a segunda lua-de-mel.
Oiga-lê vaquita buena, tchê! Mas tem uma
cosa: O Onofre aceitô que, daquele dia em diante, ele só ordenha a Brasina com a
comadre junto, ela é que segura a corda com o rabo da vaca preso. E diz que
prende pra baixo, por vias das dúvida, que é pro compadre não vê as cosa e,
quem sabe, tê uma recaída. Tu vê!
(*
)Adaptado do anedotário gaúcho
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