quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013


A LÂMPADA MÁGICA  
MILTON MACIEL


Um dia encontrei uma lâmpada mágica. Sei que é inverossímil, não peço que você acredite. Foi num hotel em Brasília. O hóspede anterior deve ter esquecido. Ou, quem sabe, resolveu se livrar dela, não sei.

O fato é que, assim que entrei no apartamento 603, notei aquele estranho objeto ao lado do telefone: uma típica lâmpada de Aladim. Não é que eu seja crédulo ou ingênuo, mas... não pensei duas vezes, oportunidade é oportunidade, tratei logo de esfregá-la com uma toalha de rosto. Como de praxe, veio a fumaça, tomou conta do quarto e dela, impressionante, emergiu o gênio. 

Minha maior surpresa foi constatar que o gênio era um conhecido senador, com vários mandatos sucessivos, várias vezes fora presidente do Senado. Perguntei-lhe ansioso por meus três pedidos. Só um, respondeu ele, estavam em época de contenção nas Arábias, explicou. Consequencia da crise do euro, desemprego na Espanha, corte de importações de petróleo, o novo campo de golfe do xeique Adbul Asizz em uma enorme ilha artificial, que ainda estava sendo gerada no mar.

Puxa, que azar o meu, justo na minha veZ! Eu já estava pré-libando as moreninhas rechonchudinhas (meu fraco!) que eu ia pedir às dúzias! Só um? Nessas circunstâncias pedi dinheiro, é claro: Quero ser multimilionário! E fiquei esperando pela montanha de reais. De dólares, seria ainda mais adequado.

Mas o que veio foi nova decepção. O velho senador me explicou que não era mais assim que as coisas funcionavam. Eu ia ter que ganhar o dinheiro. Ia ter que ter negócios próprios. E, claro, ia ter que ganhar fortunas negociando com o Governo, armando concorrências frias, coisas do gênero, pagando muito suborno e muita comissão também. O velho senador, torcendo os fios do seu bigode ralo com rara elegância, me explicou que aquele era o jeito mais rápido e mais garantido de ganhar montanhas de dinheiro, depois do tráfico de drogas e de ser pastor de igreja evangélica de massas.

 E ele ia fazer isso tudo para mim naquele momento mesmo. Ato contínuo, ele pegou seu telefone celular e começou a fazer ligações. Foram muitas. Eu, atento, só a ouvir nomes: Paulo Maluf, Marcos Valério, Nicolau dos Santos Neto, Luiz Estevão, Carlos Cachoeira, Renan Calheiros. Gente que naquele tempo, coisa de mais de dez anos atrás, eu praticamente não conhecia. Hoje, logicamente, são ou foram meus parceiros de negócios. Estou rico, milionário, multimilionário. Sou empreiteiro de obras, dos grandes, dos maiores do país. 

O gênio cumpriu sua missão. E eu cumpro a minha palavra com ele, que é não revelar jamais quem ele é. Só posso garantir que ele vai ter muitos mandatos mais pela frente e vai voltar a presidir  aquela casa suspeita várias vezes. Afinal, os gênios são imortais.

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