MILTON MACIEL
Resumo do cap. - 12 – Vérica entrou em desespero
quando ficou sabendo que a Deusa a concedeu ao rei Meroveu. Ela o deseja
fisicamente e o tem como foco de suas fantasias sexuais de mulher virgem, mas
tem pavor da ideia de ser subjugada por um homem. Por isso, ao saber da
notícia, ela corre para a floresta, em plena noite e lá passa horas de
desespero, até se acalmar, porque consegue formular a esdrúxula idéia de usar
Meroveu sexualmente até saciar-se e, depois, para poder manter sua liberdade e
sua carreira de sacerdotisa, livrar-se dele, matando-o.
Os hunos atacam
à noite
Pensando assim,
Vérica conseguiu por fim acalmar-se. Quando o tumulto queria voltar a se
instalar em sua mente e em seu coração, ela empunhava o punhal e se imaginava
terminando com todo o seu sofrimento empurrando-o, ora na garganta, ora no
peito do homem que havia ultimamente aquecido suas noites de tórridas fantasias
sexuais.
Saiu da
floresta, começou a caminhar na planície calmamente em direção à muralha sul da
cidadela, por onde saíra usando sua corda de escalada, que ainda estava lá
pendente, no mesmo lugar onde a havia deixado. Foi nesse momento, quando ainda
estava um pouco longe da muralha leste, que sua atenção foi despertada por um
movimento muito sutil que pensou ver lá embaixo, no lugar do fosso que, há
poucas horas, havia engolido mais de uma centena de cavaleiros hunos.
Um ser humano
normal não teria percebido aquele movimento quase imperceptível dentro da noite
escura. Mas Vérica não era uma pessoa comum, era uma sacerdotisa celta! E sua
intuição lhe gritava a palavra perigo. Vérica alcançou a muralha leste e
começou a se esgueirar bem rente a ela, numa posição tão colada à pedra que as
sentinelas nas ameias não poderiam percebê-la.
Quando chegou à
esquina com a muralha norte, o movimento distante tornou a se repetir, agora
mais perceptível para sua visão aguçadíssima. Aos poucos começou a formar uma
imagem mais completa: sem dúvida, vários homens se arrastavam na região do
grande fosso. O que quer dizer que só poderiam ser hunos. O coração de Vérica
disparou. Não de medo, mas de excitação e prazer! Com que então tivera a
felicidade de surpreender o inimigo preparando um ataque secreto noturno! Por
um instante ela começou a imaginar o que faria, no lugar dos hunos, para poder
cruzar o fosso na calada da noite. Eles não poderiam usar grandes toras de
madeira, que teriam que transportar com animais, ao longo dos tortuosos
caminhos leste e oeste dos alagados. E isso eles jamais poderiam esconder dos
vigias francos nas muralhas.
Sim, só havia
uma outra forma, exatamente aquela que ela mesma acabara de usar: CORDAS. E
Vérica continuou pensando como ela organizaria um ataque assim. As cordas não
poderiam ser presas a estacas, impossível batê-las fundo sem fazer um grande
barulho! Então era evidente o que eles estavam fazendo: alguns poucos pioneiros
haviam descido ao fosso com uso de cordas e, através delas, conseguiram emergir
do outro lado. Com cordas longas o suficiente para terem ficado com a outra
ponta ainda do lado de lá do fosso, seria possível, agora, que esses homens que
haviam atravessado simplesmente ficassem segurando sua ponta da corda. Do outro
lado, outro grupo de homens seguraria a sua própria ponta. E eles retesariam e
segurariam a corda, enquanto um enorme número de outros homens conseguiria
facilmente cruzar os dez metros de largura do fosso, um após o outro, usando
apenas as mãos para se deslocarem ao longo da corda.
Toda uma
operação feita no mais absoluto silêncio. Mas o que acontecera com as
sentinelas nas ameias da muralha norte? Por mais que os hunos trabalhassem com
a proteção da noite escura, agora quase de lua nova, seria impossível não serem
notados por quem ocupasse posição tão privilegiada no topo da muralha. Imediatamente
uma idéia sinistra passou-lhe pela mente. As sentinelas haviam sido
silenciadas! Mas... Como?!
Precisou
arriscar-se mais a ser notada pelos inimigos, o que não lhe causava o menor
medo. A bem da verdade, nada que de longe pudesse cheirar a combate ou inimigo
causava medo em Vérica. Pelo contrário, dava-lhe somente entusiasmo e animação.
Então, muito excitada, ela começou a avançar rastejando em frente à muralha Sul
agora, colada à parede, de frente para os invasores, que estavam tranquilamente
absorvidos em sua tarefa de estender cordas sobre o fosso e permitir a
travessia dele pelos soldados suspensos pelas mãos nas mesmas cordas.
Ao cabo dos
primeiros cem metros, ela percebeu um vulto imóvel no chão. Era uma das
sentinelas francas, sem dúvida. Tinha um punhal cravado nas costas. Ou seja,
fora atacado por trás! E arremessado lá de cima sobre o capim alto ali em
baixo. Nas costas? Hunos? Impossível! Seriam percebidos se aproximando da
muralha, teriam que arremessar cordas de abordagem. Fora de cogitação. Uma
outra hipótese desenhou-se então, clara, na mente da jovem sacerdotisa:
TRAIÇÃO! Os militares de sentinela haviam sido apunhalados pelas costas, de tal
forma que não pudessem gritar. Como seria isso possível? Somente se os
assassinos fossem seus próprios colegas.
Mas aí uma outra
percepção ocupou, rápida, sua mente: MULHERES! E Vérica viu nitidamente duas
mulheres dando bebida aos soldados e fazendo amor com eles nas ameias. E viu-as
depois, a esfaquearem os homens já dopados. E a arremessarem-nos lá do alto.
Voltou a caminhar agachada: um outro corpo devia estar por ali, teria
certamente deixado claros vestígios no capim esmagado. Menos de 10 metros de
distância do primeiro, encontrou o corpo do segundo homem. Com que, então, o
inimigo era mais insidioso do que se supunha: estava ali mesmo, dentro das
muralhas e estava na pele de mulheres jovens que se ofereciam aos soldados.
Vérica tivera percepção de duas delas, mas tinha certeza que havia uma
terceira, essa a mais perigosa! Precisava dividir esse segredo imediatamente
com suas parentas e irmãs sacerdotisas.
E então Vérica
deslocou-se o mais rápido que pôde, contornando o resto da muralha norte, toda
a muralha oeste, até chegar à sua corda de escalada, suspensa na muralha sul.
Subiu-a numa velocidade impressionante, como nenhum homem conseguiria fazê-lo,
mas nenhum homem tinha nos braços o preparo muscular de Vérica, única capaz de
retesar seu grande arco celta mais de uma vez. Enquanto a jovem corria dentro
da cidadela em direção a seu alojamento, onde teria que despertar suas
parentas, estas já tinham saído à rua e corriam, por sua vez, em direção à
muralha sul. Encontraram-se no meio do caminho.
O entendimento
entre elas foi rapidíssimo, quase dispensando palavras.
– Flechas
incendiárias! É isso que eles pretendem lançar sobre a cidadela. E dentro de
pouquíssimos minutos!
– Sim Alana, é
só isso que eles podem fazer lá de baixo, assim que conseguirem chegar bem
perto da muralha norte. Obviamente esse é o plano. E muito engenhoso, por
sinal!
– Como podemos
detê-los, avó? Vamos acordar o rei e todos os arqueiros francos?
– Seria inútil,
criança. Não há mais tempo para isso. Até que eles acordem, se ajeitem, se
organizem, apanhem as armas e se disponham em linha de tiro, as flechas
incendiárias dos hunos já nos estarão convertendo em assados vivos.
– Tão pouco
tempo assim avó?
– Dois minutos,
talvez três
– E então o que
faremos, mãe?
– Vérica o fará,
filha! Vamos todas correr para o alojamento. Vérica, pegue o seu arco e quantas
flechas tiver e corra para o topo da muralha norte. E você, Alana, venha
comigo, vamos preparar o FOGO GREGO imediatamente.
– O fogo grego!
Brilhante idéia, mãe!
– Sim, sim,
filha! Mas vamos correr agora, ainda temos que fazer a mistura final, vamos
fazê-lo a caminho da muralha de Vérica e lá em cima também.
Dois minutos foi
tudo o que as três mulheres precisaram para ir ao alojamento, apanhar todos os
materiais e correr para o alto da muralha norte. Quando lá chegaram, puderam
ver com nitidez um grupo de homens que começava a dar seus primeiros passos em
direção à muralha. Todos eles portavam arcos, mas ainda estavam a uma distância
grande demais para poderem atirar flechas incendiárias para dentro da
fortaleza. Nenhum fogo fora ainda acendido. Evidentemente só o fariam no
momento exato de começarem a atirar as primeiras setas.
Mas não era
distância demais para a grande flecha de Vérica, mandada do alto da muralha em
sentido oposto, a favor da gravidade, em direção ao fosso e aos homens que o
transpuseram. A um sinal de Kyna, Vérica retesou seu enorme arco, com uma
flecha que agora tinha um estranho objeto amarrado por Alana à sua extremidade.
Ela e Kyna trabalhavam febrilmente em misturar duas massas gelatinosas
estranhas e encher com elas uma espécie de cone, que amarravam imediatamente à
ponta das flechas gigantes de Vérica.
Quando Vérica
terminou o enorme esforço de retesar completamente seu monstruoso arco, com a
flecha já apontada na direção correta, tendo avaliado mentalmente o desvio de
trajetória a ser produzido pelo peso adicional e pela resistência que o cone
ofereceria ao ar, Alana acendeu um fogo e ateou-o à ponta da flecha.
Imediatamente, para surpresa total do hunos, um raio de luz esbranquiçada, como
eles nunca tinham visto, partiu do alto da muralha e em segundos estava
atingindo em cheio a posição onde eles estavam.
O que veio a
seguir deixou todos apavorados. Ouviram um enorme estrondo, um fogo imenso se
esparramou pelo chão, correu entre eles, incendiando a quem encontrava pelo
caminho. Ao mesmo tempo, o alto capim verde, que não pegaria fogo se alguém
tentasse ateá-lo com tochas, inflamou-se como que por uma mágica do inferno e o
fogo começou a se alastrar ainda mais rapidamente. No meio das labaredas, os
arqueiros hunos largavam seu arcos e flechas e corriam para o fosso. Só que, na
desorganização que se seguiu, não havia homens para segurar as cordas para que
os outros as atravessassem.. Todo mundo queira apenas transpor o fosso e
ninguém segurou as cordas do lado de cá. Em desespero, homens com os corpos em
chama jogavam-se no fosso, imitando outros que ainda estavam ilesos. Para
piorar, a cada minuto uma nova flecha incendiária partia do alto da muralha e
fazia um novo e maior estrago nas hostes hunas. Caindo do lado de lá do fosso,
as flechas incendiárias, com o estanho fogo branco, revelaram outro grupo
enorme de hunos a correr desesperados para o norte. Eram os homens que
esperavam sua vez de atravessar o fosso pelas cordas suspensas.
No alto da
muralha franca, homens em armas chegavam sonados, correndo assustados pelo
ruído dos estrondos que os acordaram. Meroveu chegou correndo entre eles, quase
nu, com sua espada desembainhada na mão. Ao verem as três sacerdotisas em
combate, arremessando as setas gigantes com aquele estranho fogo branco, ficaram
todos sem palavras.
Vérica viu
Meroveu e teve vontade de virar contra ele o seu arco com flecha de fogo grego.
Ele arderia inteiro e se desintegraria em segundos, o fim do problema dela!
Mas, no instante seguinte, olhou seu torso nu, seus músculos salientes, viu suas coxas retesadas e notou aquele volume salientado pelo pouco tecido entre elas.
Os pensamentos homicidas sumiram de sua mente, dando lugar àquele calorão
interno, seguido de tremor, tão seus conhecidos. Virou-se para os inimigos e
disparou a última seta gigante para qual Alana e Kyna tinham ainda munição
explosiva. Mirou no fosso, retesou pela última vez naquela madrugada o arco,
com seus braços que agora ardiam com se tivessem eles pegado fogo. Mas soltou a
flecha pensando no corpo de Meroveu. Todo o corpo dela ardia mais do que o
campo de capim gigante lá embaixo, onde o inimigo havia encontrado um destino
muitas vezes pior do que aquele que viera impor à cidadela que dormia.
CONTINUA (NOSSO BLOG COMPLETA HOJE 8 MESES DE VIDA, COM 11424 ACESSOS. Muito obrigado, leitoras e leitoras
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