MILTON MACIEL
Resumo do cáp. 14 – Depois de sua impressionante performance com o arco e as flechas com o fogo grego, Vérica se refugia numa das ameias da muralha sul. Lá passa da extrema irritação com Meroveu ao extremo desejo sexual por ele. Então ela decide que está na hora de sua iniciação e entra nos aposentos de Meroveu, Os dois desnudos, ela o faz desempenhar o papel do gamo-rei celta e tudo acontece sob sua condução. A sacerdotisa e a Deusa vão cavalgar o gamo até deixá-lo exausto e sem sentidos.
VÉRICA E O GAMO-REI
A jovem
sacerdotisa Vérica manteve o controle total sobre os atos de sua iniciação
sexual, do começo ao fim Instruiu Meroveu a comportar-se de uma forma obediente
e passiva, a repetir com ela palavras sagradas e a proceder à semelhança do
gamo-rei celta, segundo as mais rigorosas tradições iniciáticas, tanto quanto
um franco poderia fazê-lo, isto é, canhestramente. Depois, quando partiu para
os movimentos físicos, manteve-se o tempo todo em cima dele.
No momento
culminante, quando recitando uma torrente de frases mágicas, ela conduziu
aquela que seria a sua primeira penetração, sua consciência se bipartiu.
Participando consciente de tudo e tudo sentindo, ao mesmo tempo ela dava
passagem à própria Deusa, que vinha desfrutar daquele momento único e mágico
com sua sacerdotisa. O gamo-rei foi então cavalgado por uma mulher e por uma
Deusa, privilégio que poucos homens podiam ter na Terra.
Por quase duas
horas, a mulher e a Deusa se revezaram sobre Meroveu, o novo gamo-rei. E
enquanto isso aconteceu, ele, sem poder entender de onde lhe vinha tanta força,
manteve-se permanentemente ereto. E, cada vez que o corpo de Vérica estremecia
em devastadores orgasmos, que quase a faziam desmaiar, o gamo-rei sentia
esvair-se abundantemente dentro dela, tirando energia e material de uma origem
completamente inexplicável para ele. Quando do último arranco da cavalgada, que
levou Vérica ao último grito de prazer, Meroveu se viu completamente esgotado.
Ficou num estado semi-letárgico, sem força alguma para mover sequer os braços e
as pernas. Um resquício de consciência o mantinha ainda acordado e participante
de uma experiência única, como jamais havia imaginado pudesse acontecer em sua
vida.
E, com esse
resto de consciência, ele avaliou que nunca, em todos os seus inúmeros casos
com mulheres, vivenciara algo assim. Nunca tivera múltiplos orgasmos, coisa que
sabia ser muito fácil para as mulheres e impossível para os homens por óbvias
razões. Contudo, a cada vez que sua parceira vivera a plenitude do gozo, ele
também a vivera e isso era totalmente impossível de compreender. Nenhuma
mulher, por mais experiente que fosse, mesmo cortesãs, havia feito amor com ele
com tanta perícia e intensidade. Com tanta profundidade, podia dizer também.
Mas aquela quase menina, virgem e inexperiente, superara todas elas em tudo.
Meroveu viveu uma espécie de êxtase, uma profunda comoção e uma sensação de que
saía do nível terreno para chegar ao campo do divino. Nessas cogitações estava,
sem condições de sequer abrir os olhos, quando o sono o dominou completamente.
Meroveu
sentiu-se primeiro afundar como que para dentro da cama, depois foi como se seu
corpo começasse a flutuar e a subir. Abaixo de si, a uns dois metros, podia ver
seu mesmo corpo, igualmente nu, imóvel sobre a cama. Então todo o ambiente foi
inundado por uma luz branca e intensa, que o envolveu como se fosse ofuscá-lo.
E, subitamente, à sua frente, Meroveu viu, pela primeira vez na vida, o rosto
resplandecente da Deusa. Imediatamente sentiu-se cair vertiginosamente na cama,
integrando-se de novo ao corpo, que estava em estado de completo torpor, de
desmaio total. Todo e qualquer resquício de consciência esvaiu-se
completamente. Aquela havia sido sua grande prova. Poderia ter morrido ali. Mas
era forte e havia agradado à Deusa. Sobreviveu.
Vérica, em pé ao
lado da cama, já composta com sua túnica sacerdotal, a tudo assistiu calada.
Quando percebeu o desmaio do rei, deixou o aposento e caminhou calmamente para o
alojamento das sacerdotisas. Sim, estava realizada! E por sua própria
iniciativa. Finalmente estava livre da vergonha de ser uma virgem.
E a experiência
havia sido maravilhosa. Nada que, nem de longe, se assemelhasse a uma dor. Pelo
contrário, sentira somente prazer, uma onda de vários ciclos sucessivos de um
prazer imenso, arrebatador, enlouquecedor. Desmanchara-se em gozos. Desde o
primeiro instante, quando começara a contemplar o corpo do macho nu. E depois,
quando tomara em suas mãos aquelas partes dele que ela não conhecia. E,
finalmente, quando as usara e direcionara para dentro de seu próprio corpo,
então o tempo todo havia oscilado entre o maravilhoso e o enlouquecedor.
Caminhava
contente, sentindo-se leve como uma pluma, feliz, inteiramente feliz pela
primeira vez em muitos anos. Agora era uma mulher como as outras! Nenhuma
delas, a partir de agora, a poderia olhar com desdém pelas costas, por sabê-la
ainda virgem. Livrara-se para sempre de sua incômoda e vergonhosa virgindade e,
ao mesmo tempo, fizera-o transformando aquele franco tosco, momentaneamente, no
sucedâneo de um gamo-rei. Assim, ela o havia deflorado também. Com certeza,
esta fora para ele uma experiência de iniciação sexual, tanto quanto o fora
para ela. Mesmo sendo um rústico, um mero homem franco, ele não poderia deixar
de sentir todas as sensações e conseqüências de fazer amor com a própria Deusa.
Estava contente que ele tivesse sobrevivido. Ela havia gostado demais dos jogos
do amor e agora haveria de forçar o seu gamo-rei a servi-la muitas e muitas
vezes. Por dia, se ele agüentasse!
Aquilo era
imensamente melhor do que o que conseguia por conta própria, com suas mãos e
sua imaginação. Era inimaginável, só mesmo vivendo a plenitude do que vivera
para poder aquilatar isso agora. Não, não podia mais pensar em eliminar
Meroveu. Agora entendia que precisava
dele. E precisava tão ardentemente que, enquanto caminhava, veio-lhe o desejo
de retroceder e tornar a montar nele por muito mais tempo. Mas, reconheceu,
Meroveu estava completamente fora de combate, sem sentidos e, muito provavelmente
não recobraria a consciência por muitas e muitas horas.
Vérica cogitou
se isso não levaria o pânico aos seus homens. Provavelmente seria melhor que
ela ou uma de suas parentas o fosse tratar em seguida. Mas logo reconheceu que
ela não seria a pessoa indicada. Se o visse ali, novamente nu à sua disposição,
não pensaria duas vezes e, se o revivesse, seria apenas para forçá-lo a se
submeter de novo à sua enorme vontade de sexo. E isso poderia colocar a saúde e
até mesmo a vida dele em risco. Pediria ajuda a Avó.
Quando entrou
nos aposentos das sacerdotisas, não as encontrou dormindo, como imaginara. Sua
mãe, que orava ante a efígie da Deusa, levantou-se e veio acolhê-la entre os
braços. Com um longo beijo, Alana lhe disse:
– Bem vinda,
irmã e filha. Agora você é inteiramente uma de nós.
Kyna surgiu,
radiosa de felicidade, da outra peça da habitação, com um cálice fumegante nas
mãos. Levou-o à altura dos lábios de Vérica e disse:
– Tome, criança.
Neste momento você precisa desta infusão. Não é vontade sua, muito menos o é da
Deusa, que você fique grávida agora. Seu gamo-rei não foi um legítimo gamo
celta e não pode, por isso, levá-la a conceber, já na primeira injeção do
líquido da vida, uma filha para ser sacerdotisa da Deusa, como sua
continuadora.
Vérica sorveu,
encantada, todo o conteúdo quente do cálice de uma só vez. Ah, como era bom que
existissem Kyna e Alana em sua vida! Quem mais podia entendê-la completamente,
ler seus pensamentos e desnudar sua alma, como aquela duas mulheres
maravilhosas? Como era bom saber que não poderia jamais ter segredos para com
elas. E, enquanto as olhava com os olhos umedecidos pela comoção, o
reconhecimento e a gratidão, pensou se algum dia seria capaz de amar outra
criatura no mundo como amava aquelas duas mulheres divinas à sua frente. Alana
lhe respondeu aos pensamentos:
– E nós amamos também
você demais, nossa divina criança – que hoje se fez mulher.
– Sim, SE fez,
literalmente – disse Kyna, rindo
divertida – Aposto que o seu gamo rei não deve ter tido mais iniciativa do que
um saco de cevada.
E todas
prorromperam numa gostosa gargalhada. Vérica se sentia triunfante, uma mulher,
não mais um virgem inútil! Estava orgulhosa de si, feliz demais consigo mesma,
com sua iniciativa, com sua capacidade de conduzir com perfeição toda uma longa
vivência para a qual não tinha a menor experiência prévia. Alana, contudo, após
alguns minutos, em que a deixou saborear mais um pouco os louros da vitória,
falou-lhe:
– Bem, bem,
mocinha, agora chega. Vá tomar um banho outra vez, não a queremos por aqui com
cheiro de macho. Eu vou com você, tenho que lhe ensinar algumas coisas a
respeito de como você vai se higienizar a partir de hoje. E como vai se livrar
dessas coisas que os homens vão esguichar dentro de você. Aliás, se depender de
você agora, pobre Meroveu!
– É mesmo,
filha. Essa aí vai transformar o pobre gamo franco numa constante cavalgadura.
E, por falar em Meroveu, já vou indo tratar dele, senão o coitado não acorda
nem hoje e nem amanhã. Quando a Deusa faz amor com um homem, se não o leva à
morte por exaustão completa, pode deixá-lo inerte por dois ou mais dias. Já
imaginou o efeito disso sobre o moral das tropas francas? Vou restituí-lo de
volta à vida o mais rápido que eu puder, ainda hoje com certeza.
– Ah, mãe, é
melhor que capriche ainda mais nos sortilégios e nas poções, reforce bem o
homem, porque esta aqui, com todo o fogo que tem, agora que aprendeu o caminho
da cama do rei, pode exauri-lo tanto ou mais do que a Deusa. Pobre Meroveu! Eu
e que não queria estar na sua pele!
E as
sacerdotisas mãe e avó prorromperam em nova gargalhada, enquanto Vérica se
sentiu corar energicamente. Depois deu de ombros. Ora, aquela duas! Sabiam de
tudo, sabiam que era verdade mesmo!
Outra trégua
inesperada
Os dois dias que
se seguiram foram isentos de combates. Tanto para os francos quanto para
Meroveu.
Para os francos,
porque os hunos estavam em estado de choque, aparvalhados com a nova arma
mortífera dos francos, aquele terrível fogo branco que viajava nas flechas
gigantes da mulher inimiga e se espalhava velozmente, provocando explosões e
incêndios devastadores. Se uma só pessoa do inimigo, uma mulher ainda por cima,
podia provocar tanto estrago, o que não aconteceria quando muitos, senão a
totalidade, dos arqueiros francos os atacassem com flechas incendiárias daquele
mesmo horrível tipo desconhecido?
Para Meroveu,
foram dois dias de trégua porque Kyna e Alana foram taxativas. Como
sacerdotisas da Deusa, usaram sua autoridade para proibir Vérica de se
aproximar sequer do homem em convalescença. Não conseguiriam se impor se fossem
apenas a mãe e a avó da moça, conheciam Vérica de sobra e seu caráter forte e
intempestivo. Quando queria uma coisa!...
Mas eram sacerdotisas,
eram suas superiores hierárquicas e, contra isso, não havia nada que a jovem
pudesse fazer. Teve que ficar se roendo de desejo e de impaciência, com aquele
conhecido fogo a consumi-la agora com muito mais intensidade. Foi preciso que
Alana passasse com ela praticamente o mesmo número de horas que Kyna estava
passando com Meroveu, para restaurar no rei a consciência e um mínimo de forças,
que lhe permitissem se locomover com relativa autonomia.
Nessas horas
Alana ficou literalmente doutrinando Vérica a respeito do controle das energias
sexuais, da imensa força que elas representavam, da sua capacidade de
transmutação e elevação, com o que uma iniciada podia adquirir poderes
extraordinários. Explicou-lhe que muito da força que ela e Kyna dispunham era
proveniente dessa transmutação. Que elas tinham aprendido as técnicas de
autocontrole e que tinham tido que dominar seus próprios impulsos ardentes de
desejo.
– Vérica, minha
filha, minha irmã na Deusa: todas nós já passamos por isso, por esse deslumbramento,
essa sofreguidão aparentemente incontrolável, esse desejo de macho e dos gozos
imensos que eles nos podem proporcionar, quando devidamente domados e usados
para nosso prazer. É realmente algo incomparável. Mas isso não é tudo, minha
filha. Existe muito mais prazer a conquistar, mas dentro da alma, não somente
no corpo. Esse prazer só vem quando você se torna capaz de AMAR um homem de
verdade. Então o foco do prazer se desloca do corpo para o espírito e o gozo é
ainda maior, incomparavelmente maior, porém não mais vinculado à sensação
física de orgasmo. Isso certamente lhe irá acontecer um dia, assim como
aconteceu para Kyna e para mim. Porém não pode acontecer com nossos gamos-reis
da iniciação. A esses nós apenas os usamos, para que eles nos deflorem e nos
engravidem de nossas meninas sacerdotisas e nos proporcionem prazeres
incomparáveis. E também os usa a própria Deusa, como você descobriu hoje. Mas nós
nunca amamos nossos gamos-reis. Porém amamos depois um ou mais homens, ao longo
de nossa vida, mesmo quando já ultrapassamos a idade de setenta anos. Você vai
ver tudo isso acontecendo em sua vida.
– Mas, mãe, isso
quer dizer que eu não vou poder desfrutar do meu gamo como estou pensando? Vou
ser proibida?
– Não, minha
filha, nós não somos tão insensíveis assim. Também nós já passamos por essa
fase de arrebatamento e explosão, de descoberta do prazer extremo que nos pode
dar um homem viril e submisso. Nós podemos extrair todos os deleites deles e
você vai poder fazer o mesmo com o gamo que conquistou. Só que isso vai ter que
ter um limite no tempo, não pode durar demais, senão o homem não agüenta e sua
saúde, tanto física, quanto mental, se deteriora rapidamente. Nesse caso, nós
passamos a funcionar como se fôssemos verdadeiros vampiros e isso é contra a
grande Lei, percebe?
– Sim, mãe. Mas
o que eu faço, então?
– Daqui a dois
dias você pode voltar a usar seu gamo-rei, mas terá que fazê-lo com mais
autocontrole, usando as técnicas que eu e sua avó vamos lhe ensinar. Mas sim,
você pode desfrutar dele, pode ter muito prazer, pode fazê-lo até uma vez por
dia no início. Depois, com o que vamos lhe ensinar, com o que vamos lhe dar
para beber, com o creme que vamos lhe dar para introduzir em você mesma, você
verá que esse fogo terrível, pior que o fogo francês, vai se acalmar. E também
tem mais uma coisa, Vérica: o fato de nós não sentirmos amor por nosso gamo-rei
faz com que nós nos cansemos dele depois de um tempo mais ou menos curto. Mas
por enquanto, esqueça isso tudo, espere só dois dias e pode desfrutar do seu
servo submisso o quanto ele agüentar.
– E como eu
saberei quando devo parar?
– Quando você
sentir que está começando a ter que passar energia da Deusa para ele, para que
ele possa continuar nos jogos de amor. Aí, se você continuar para ter o seu
prazer, você o deixará exaurido e extenuado. Então estará infringindo a Lei e
terá que enfrentar as conseqüências. E você deve imaginar que não há gozo ou
prazer neste mundo que possam justificar tal sacrifício, não é?
– Sim, mãe,
compreendo. Prometo que vou aprender a me controlar. Mas, por favor,
ensine-me!...
CONTINUA
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