sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013


QUEM NOS HÁ DE LER?  
MILTON  MACIEL

Internet. E-mails, Google. Redes sociais. Internetês. Comunicação massificada, difusão ultra-democrática do conhecimento. Maravilhas!

Contudo, acompanhando a evolução da linguagem praticada através das infovias, há que se ter um pouco de preocupação também. Por um lado se enriquece a língua portuguesa com centenas e centenas de neologismos. Por outro lado, se empobrece o idioma à medida que as crianças e os jovens, ao se acostumarem à essa que vai ser a nova linguagem  – irreversivelmente, creio eu – se desacostumam da riqueza vocabular do nosso idioma, tão ciosamente preservada ao longo de séculos por nossa literatura e pelo esforçado ensino do Português em nossas escolas.

Tenho tido muita proximidade com professores e estudantes de nível básico e médio, numa parte do Brasil tida como bem aculturada: o Sul. E o que constamos, eles e eu, é que o hábito da leitura, tal qual o conhecemos por centenas de gerações, está mudando rápida e drasticamente. A leitura de livros se tornou mais e mais desinteressante para estas novas gerações. Elas migraram para a Internet, onde passam muitas horas do dia, justamente aquelas de que dispõem quando não estão assistindo televisão. Ou seja, estão sempre em frente a um ou outro tipo de tela, o que eu apelidei de TELA-educação.

Com seu batalhão de tablets, smart phones, netbooks e notebooks – tornados cada vez mais acessíveis a quase todos, em casa e na escola, (e isso é bom!) – os jovens, cada vez mais conectados à Internet e interligados pelas redes sociais, tendem a ler somente os livros que lhes são exigidos, impostos mesmo, pelos professores.

Precisamos estar à altura de reconhecer este fenômeno e abordá-lo de uma forma criativa, para tentar aprender com ele e descobrir como corrigir facetas eventualmente negativas; e investir no inegável potencial positivo que ele encerra.

Esse movimento, esta rápida transição, é de fato irreversível. Não podemos observá-lo com saudosismo ou pessimismo somente. Essas crianças e adolescentes, esses jovens adultos também, são os leitores de hoje e de amanhã. E eles estão maciçamente na Internet hoje.

Então é na Internet que nós devemos IR DE ENCONTRO a eles. É nos computadores, grandes ou pequenos (como os telefones inteligentes) que nós temos que nos comunicar com eles. Há toda uma nova linguagem a aprender e a desenvolver. O esforço deve ser nosso, enquanto educadores. Nós não vamos mais conseguir impor os mesmos valores e metodologias que serviram de esteio à nossa geração e às dos nossos pais e avós.

Lembro-me que, na terceira série do primeiro grau, eu costumava inventar mil pretextos para sair da aula e me enfiar, muitas vezes escondido, na biblioteca da escola. Ensinaram-me a ler muito cedo e ensinaram-me a ler livros. Eu ansiava por eles, queria ler todos os livros da biblioteca ao mesmo tempo! E essa era a única biblioteca a que eu tinha acesso com aquela idade.

Mas hoje tudo é muito diferente. Para todos, inclusive as crianças, existe a Internet e existem os buscadores como o Google. Bibliotecas inteiras podem ser arquivadas em telefones celulares. Porque, felizmente, agora existe o e-book.

Contudo, o que me preocupa é o tipo de leitor que nós, educadores e escritores, vamos encontrar nesse futuro que já está chegando. Qual vai ser o universo cultural desse novo leitor médio? Ainda temos gerações que passaram pelos bancos escolares e aprenderam a ler livros. Mas estas gerações serão – e já estão sendo – inevitavelmente substituídas pelas novas gerações de REDE-LEITORES (netreaders), um pessoal que só lê em telas de dispositivos eletrônicos.

E, mesmo que eles leiam o que publicamos na rede, como textos avulsos ou como e-books, que LINGUAGEM usaremos? Vamos ter, por exemplo, que baixar o nível vocabular e semântico de nossa comunicação para nos adaptarmos a um universo de crescente empobrecimento do vernáculo e, paradoxalmente, a seu crescente enriquecimento com neologismos incorporados às centenas celeremente, a maior parte meras adaptações de termos técnicos novos ou apenas anglicismos inevitáveis – em grande número e, pelo geral, de forma sintetizada ou abreviada.

Como escritor e como educador, preocupa-me o perfil do meu leitor daqui para a frente. Por enquanto ainda tenho leitores da – digamos – ‘velha guarda’. Só que essa ‘velha guarda’ tem todas as idades, inclusive gente bem jovem, pois esses foram os que aprenderam desde cedo a ler e a amar livros, os bons e velhos livros de papel, que constituíram sempre o nosso universo de leitura.

Mas os tempos mudaram. Muitas das pessoas que, pouco tempo atrás, você veria nas ruas e parques com livros nas mãos, hoje você encontra é às voltas com tablets e celulares, lendo também. Mas lendo o que? E em que linguagem?

Grande parte está lendo e-mails, lendo e mandando mensagem de texto, vidradas em Facebooks ou Orkuts. Até mesmo ao atravessar ruas ou ao dirigir carros! Sim, essa pessoas estão lendo. Mas... o que? E, quando estão em casa? E quando querem ler por puro prazer, qual será a sua leitura?

Aí está o grande desafio que se apresenta a todos nós como escritores, educadores e como mães e pais esclarecidos e responsáveis. Há uma revolução em curso. Isso é inegável. Isso não é mais futuro, já é presente. E a pergunta que se impõe é:

COMO VAMOS ENSINAR NOSSAS CRIANÇAS A LER NESTES NOVOS TEMPOS?

Vai ter que ser valorizando o livro de papel, mas, em grande parte, terá que ser também pelas infovias, onde o pessoal da ‘velha guarda’ da leitura (insisto: que tem hoje de 6 a 90 anos de idade), está trocando rapidamente o livro impresso pelo e-book.

Mas pouco importa se é impresso ou e-book: é LIVRO! E como vamos conseguir que esta nova forma de leitor, de ciber-leitor, de rede-leitor, se interesse por ler LIVROS? Esse é o desafio em si. Ou será que é o próprio conceito de LIVRO que vai mudar, engolido pela nova realidade?

Para citar apenas um exemplo, num dos livros que estou escrevendo no momento comoghost-writer, para um cliente de área técnica, estou incorporando quadros e imagens coloridas fantásticos, fotografias (policromias que inviabilizariam um livro impresso, certamente), ANIMAÇÕES flash e VÍDEOS. Além disso, há links no livro que levam aowebsite do meu cliente, para aprofundar o diálogo com o leitor e criar vínculos comerciais potenciais. E, nas referências bibliográficas, grande parte da lista é formada por links ativos, que levam o leitor diretamente para os artigos publicados ali referidos. Claro, isso na versão E-BOOK. Mas... que livro é esse? Sim, sem sombra de dúvida, um NOVO LIVRO, um livro vivo e interativo e que, para completar, vai ser atualizado MENSALMENTE. Ou seja, a tal da nova edição, revista e ampliada, torna-se simplesmente automática.

Mas, deixando de lado esse caso em particular, e pensando em todo tipo de literatura e livro, não-ficção e ficção, volto à pergunta do título:

QUEM NOS HÁ DE LER?... E... Como vamos escrever para eles?  (MM)

2 comentários:

  1. Brilhante seu texto como sempre. Também vinha me fazendo a mesma pergunta. Agora, baixar o nível vocabular e semântico não aceito.

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  2. Sem dúvida! Não podemos nivelar por baixo, mas vamos ter que aprender a escrever para esses leitores da baixa extração e procurar desenvolver uma linguagem de transição, não para baixar e permanecer no nível deles, mas para tratar de elevar o nível em que eles ficam e atraí-los para uma riqueza vernacular maior. Só que isso é problema NOSSO, nós é que temos que atinar com as respostas a este problema. E QUE PROBLEMA!!!

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