DIVERSÕES COM O PORTUGUÊS - 2
Língua Portuguesa (Olavo Bilac); e
Extrema Expressão da Beleza (Milton Maciel)
LÍNGUA
PORTUGUESA
OLAVO BILAC (foto)
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o tom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o tom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: "meu
filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
SUPREMA EXPRESSÃO DA BELEZA
MILTON MACIEL
Ó divinos criadores, arquitetos celestiais,
Eis o novo desafio, de dimensões colossais:
É mister que, hoje, criemos o canto de uma
nação
E, para os seus habitantes, uma forma de
expressão.
Seja uma forma falada das mais sutis
melodias,
Que possa cantar, a um tempo, os amores e
elegias.
Que tenha o sonido cavo do ribombo dos
trovões,
Expresse o bramido das ondas, o ronco dos
furacões.
Mas que possa, ao mesmo tempo, doces amores
cantar,
E espalhe os suaves sussurros dos amantes
pelo ar.
Que ela traduza, dolente, mil sutis
sonoridades,
Que vão do brilho dos céus até a escuridão
do Hades.
Que abrigue, em seio gentil, as rimas mais
primorosas
E que descreva, inebriante, cores e aromas
de rosas.
Mas também saiba dizer, a mais que suaves
dosséis,
O estrupidar violento dos cascos de mil
corcéis.
Cante a vida delirante, com seus prazeres
sensuais,
Mas grite também lamentos, nos momentos
mais fatais.
Que externe a alegria que encanta e a mágoa
que corrói
E celebre, em triunfantes odes, os seus
maiores heróis.
E ao chegarmos, no final, a tão suprema
Beleza,
A esta jóia chamaremos de Língua
Portuguesa!
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