sábado, 2 de fevereiro de 2013


O DRAMA DE TER COMIDA DEMAIS – 1ª. PARTE     
E suas conseqüência para a saúde e a beleza 
(Adaptado de A SOPA QUÍMICA – MILTON MACIEL, IDEL – 2008)    

   É importante que não se cometa o engano de concluir, simplisti-camente, que as pessoas que têm sobrepeso e as que são obesas são aquelas que comem demais. Porque, na verdade, TODOS comem demais, com exceção das pessoas famintas do mundo, das anoréxicas e daquelas que comem de forma perfeitamente proporcional às suas necessidades diárias – uma raridade absoluta!

   A partir do momento em que se tem acesso a muita comida, disponível em grande quantidade e em incrível variedade, ao alcance do bolso, na geladeira, lanchonete, restaurante ou supermercado, TODOS COMEM DEMAIS. Isso porque comer deixou de ser, há muito tempo, um ato fisiológico de manutenção da vida. O ser humano moderno, desde que com um mínimo de poder aquisitivo, COME PARA TER PRAZER!

   Fazendo uma comparação com nossos ancestrais caçadores-coletores do paleolítico, há uma imensa diferença entre comer a carne de um tamanduá que você, desesperado de fome, conseguiu enfim caçar (e esta é a única opção do menu, talvez por vários dias) e entrar num Mcdonalds, apontar o dedo e fazer a sua escolha (Número 5, com refrigerante e fritas gigantes!), pagar no caixa e, instantes depois, começar a devorar essa “caça” imediatamente na mesinha da lanchonete ou praça de alimentação.

   Ou, quem sabe, num ato de extrema paciência, você vai ao restaurante e espera todo o tempo necessário até que o garçom lhe traga sua porção de coquilles Saint-Jacques. Ou você pode encomendar uma pizza para entrega em domicílio.

   A dona de casa, quando decide o cardápio para o almoço de amanhã, tem que levar em consideração os gostos de toda a família: o marido não come se não tiver feijão e arroz. Os filhos só querem saber de hambúrguer, fritas e refrigerantes. Ela, para variar de regime, tem que se contentar com salada, duas colheres de arroz e 60 gramas de peito de frango grelhado. Já a cunhada, hóspede da casa, é vegetariana macrobiótica.

   Para a noite a coisa pode ser mais simples: o marido vai ter um jantar de negócios numa cantina italiana, a cunhada come na faculdade mesmo, sabe-se lá o que, e as crianças ficam na sala vendo TV, comendo pipoca de microondas, biscoitos doces recheados, cheios de açúcar, talvez rematados com um chocolate em barra. E, se a mãe não ficar atenta, lá vão elas para o refrigerante de novo.

   Uma visão mais atualizada do novo tipo de caçador-coletor dos dias de hoje pode ser encontrada no supermercado. Com seu carrinho de compras, ele coleta pacotes e mais pacotes de comida industrializada, garrafas e mais garrafas de estranhas beberagens com açúcar e/ou álcool, alguns poucos tipos de frutas que saíram das árvores há muitos dias e viajaram centenas ou milhares de quilômetros até ali.

   Ele também “caça” animais – previamente cortados em pedaços e embalados ao quilo, muitos deles congelados, como aquelas estranhas aves esbranquiçadas que, na nova ‘natureza’, ocorrem em gôndolas refrigeradas, em bandos imóveis e empilhados. Basicamente a nova caça e coleta dependem agora de saldo no cartão de crédito e combustível no carro para o transporte.

   É um exemplo bem sugestivo, esse da carne de aves.

   Para os nossos ancestrais, isso queria dizer carne de qualquer ave silvestre que conseguissem caçar, dentre as centenas que estavam ao alcance de suas flechas, pedras ou armadilhas. Viviam livres, exercitavam-se, voavam, eram magras e esbeltas.

   Para nós, carne de ave quer dizer, quase exclusivamente, carne de frangos criados em confinamento, alimentados somente com grãos (via rações industriais), estimulados com hormônios, defendidos preventivamente com antibióticos e sacrificados com um mês e meio de vida em linhas industriais que os abatem à taxa de 200 mil a meio milhão por dia, por abatedouro. Foi-se a diversidade de espécies, vieram a gordura saturada extrema, os resíduos de agrotóxicos nos grãos que originaram a ração industrial e os resíduos de antibióticos e hormônios que passam para nós através de sua carne, como se vê na abordagem que será feita ao Desequilíbrio Residual.

   Nossas aves são diferentes das de nossos antecessores: vivem presas, não voam mais, não se exercitam, são gordas, poluídas por resíduos químicos e biológicos (salmonelas, por exemplo) e sujeitas a muitas doenças. Como óbvia conseqüência, suas carnes nos fazem gordos – ou obesos – e suscetíveis a muitas doenças, como as que se menciona neste trabalho.

  Situação muito semelhante ocorre quando comparamos os OVOS consumidos nas duas dietas.

   Para os caçadores-coletores paleolíticos (que é o que nós somos, ainda hoje, constitucionalmente, geneticamente) ovos eram apanhados diretamente dos ninhos das aves, no alto das árvores, que eles tinham que escalar. E comidos de imediato, fresquinhos e crus!

  Mas para nós, os modernos, ovos são especificamente os produzidos por galinhas criadas em gaiolas suspensas, em grandes confinamentos com dezenas ou centenas de milhares de aves apinhadas, comendo ração à base exclusiva de grãos e, obviamente, recebendo também doses de hormônios e antibióticos através dessas rações. A diferença é que não precisamos mais subir nas árvores para consegui-los.

   Para todos os efeitos, ovos são, para nós, alimentos de formato característico ovóide, que dão em caixinhas de plástico expandido ou de papelão, em dúzia exatas, encontráveis nos supermercados. Para obtê-los, ao invés do desconforto de trepar em árvores, precisamos apenas dirigir nossos automóveis até o supermercado mais próximo, gastando para isso uma certa quantidade de petróleo, às vezes similar àquela que foi gasta para produzir, embalar e transportar esses ovos até colocá-los ao alcance do nosso cartão de crédito.

   Como os pregos, os tapetes ou os telefones celulares, ovos são simplesmente produtos industrializados, produzidos em grandes linhas de montagem. De vez em quando acontecem alguns problemas numa dessas linhas e é preciso, como com qualquer produto industrial, produzir um recall de ovos com defeito – o mais comum deles, que hoje produz um medo considerável nos consumidores mais esclarecidos, sendo a contaminação com Salmonelas.

   Para centenas de milhões de crianças urbanas, ovos e frangos são, efetivamente, coisas que dão em supermercados: os ovos nascem em dúzias dentro de caixinhas e os frangos são aquelas coisas esquisitas, peladas, esbranquiçadas, sem pé nem cabeça, envoltas em plástico com muita água congelada por dentro, que dão em gôndolas refrigeradas de supermercado. Do animal em si, formam uma idéia aproximada, mais para as imagens vistas em desenhos animados da TV ou filmes de animação digital dos cinemas, do que para a realidade do bicho galináceo.

   Comparado com o nosso ancestral e seu tamanduá, nosso moderno “caçador-coletor de supermercado’ tem todas as vantagens, exceto uma: saúde. Não corre perigo constante de virar caça, como o outro corria. Os únicos riscos que tem ocasionalmente que enfrentar são o de levar uma multa por estacionamento proibido ou ter que encarar um assaltante tardio no caminho de casa, tornando-se, neste casos, sim, caça por sua vez, nas mãos armadas de um moderno predador.

   Mas, no quesito saúde, a coisa deixa muito a desejar. A enorme diversidade de coisas gostosas – que quer dizer ‘com gosto bom’, o que significa: que dão prazer! – e a grande acessibilidade desse manancial de alimentos ofertados aos milhares nas prateleiras, leva o consumidor ao erro quantitativo. Literalmente, ele se entope de comidas ‘gostosas’, refrigerantes, cervejas, uísques e doces.

   Os que têm tendência genética à obesidade, com maior compulsão a esse tipo de prazer oral, engordam mais e mais, como conseqüência. Os normais e os magros (ou seja, com genética mais favorável – ou desfavorável para o outro lado, o da magreza excessiva) igualmente se entopem dessas coisas a pretexto de alimentação. Apenas que estes eliminam mais facilmente os excessos pelos intestinos e bexiga, de forma que dão mais trabalho é para a companhia de esgotos da municipalidade. Nas cidades modernas, a conversão de alimentos em excrementos ocorre em uma taxa tão gigantesca quanto lamentável, escandalosa mesmo.

   Nossos ancestrais do paleolítico tinham que se movimentar todos os dias, se quisessem encontrar comida e água. Ainda não havia sequer o “ganharás o teu pão com o suor do teu rosto”, posto que não havia pão algum ainda. Comer e beber eram obrigatoriamente atos que demandavam esforço físico, muitas vezes extremo. Neanderthais ou Cro-magnons, eles faziam academia de graça, malhavam o tempo inteiro, comiam dietas total e absolutamente equilibradas para os seus corpos e estes, portanto, era saradíssimos! Caçador-coletor barrigudo não podia existir: simplesmente não conseguiria sobreviver como caçador, que dirá conseguir escapar à outra face da caçada: a possibilidade, sempre presente nas matas e savanas, de virar caça de um minuto para o outro.

   Hoje, comer e beber exige ainda esforço físico: sentar-se à mesa e mastigar! E, mais estafante ainda, brandir garfo e faca sobre o prato continuamente. Ou, ainda pior, ter o desgaste de andar até o refrigerador ou até o microondas. Isso sem falar no horror que representa o desgaste muscular de abrir as embalagens e – supremo sacrifício – transportar sacolas de compras até o porta-malas do carro e, deste, numa jornada ingente, carregá-las para dentro de casa, muitas vezes tendo o desgaste adicional de enfrentar um lance de escadas ou vários andares de elevador. Ufa!






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