O DRAMA DE TER COMIDA DEMAIS – 1ª. PARTE
E suas conseqüência para a saúde e a beleza
(Adaptado de A SOPA QUÍMICA – MILTON MACIEL, IDEL – 2008)
É importante que não se cometa o engano de
concluir, simplisti-camente, que as pessoas que têm sobrepeso e as que são
obesas são aquelas que comem demais. Porque, na verdade, TODOS comem demais,
com exceção das pessoas famintas do mundo, das anoréxicas e daquelas que comem
de forma perfeitamente proporcional às suas necessidades diárias – uma raridade
absoluta!
A partir do momento em que se tem acesso a muita
comida, disponível em grande quantidade e em incrível variedade, ao alcance do
bolso, na geladeira, lanchonete, restaurante ou supermercado, TODOS COMEM
DEMAIS. Isso porque comer deixou de ser, há muito tempo, um ato fisiológico de
manutenção da vida. O ser humano moderno, desde que com um mínimo de poder
aquisitivo, COME PARA TER PRAZER!
Fazendo uma comparação com nossos ancestrais
caçadores-coletores do paleolítico, há uma imensa diferença entre comer a carne
de um tamanduá que você, desesperado de fome, conseguiu enfim caçar (e esta é a
única opção do menu, talvez por vários dias) e entrar num Mcdonalds, apontar o
dedo e fazer a sua escolha (Número 5, com refrigerante e fritas gigantes!), pagar
no caixa e, instantes depois, começar a devorar essa “caça” imediatamente na
mesinha da lanchonete ou praça de alimentação.
Ou, quem sabe, num ato de extrema paciência,
você vai ao restaurante e espera todo o tempo necessário até que o garçom lhe traga
sua porção de coquilles Saint-Jacques.
Ou você pode encomendar uma pizza para entrega em domicílio.
A dona de casa, quando decide o cardápio
para o almoço de amanhã, tem que levar em consideração os gostos de toda a
família: o marido não come se não tiver feijão e arroz. Os filhos só querem
saber de hambúrguer, fritas e refrigerantes. Ela, para variar de regime, tem
que se contentar com salada, duas colheres de arroz e 60 gramas de peito de
frango grelhado. Já a cunhada, hóspede da casa, é vegetariana macrobiótica.
Para a noite a coisa pode ser mais simples:
o marido vai ter um jantar de negócios numa cantina italiana, a cunhada come na
faculdade mesmo, sabe-se lá o que, e as crianças ficam na sala vendo TV,
comendo pipoca de microondas, biscoitos doces recheados, cheios de açúcar,
talvez rematados com um chocolate em barra. E, se a mãe não ficar atenta, lá
vão elas para o refrigerante de novo.
Uma visão mais atualizada do novo tipo de
caçador-coletor dos dias de hoje pode ser encontrada no supermercado. Com seu
carrinho de compras, ele coleta pacotes e mais pacotes de comida
industrializada, garrafas e mais garrafas de estranhas beberagens com açúcar
e/ou álcool, alguns poucos tipos de frutas que saíram das árvores há muitos
dias e viajaram centenas ou milhares de quilômetros até ali.
Ele também “caça” animais – previamente
cortados em pedaços e embalados ao quilo, muitos deles congelados, como aquelas
estranhas aves esbranquiçadas que, na nova ‘natureza’, ocorrem em gôndolas
refrigeradas, em bandos imóveis e empilhados. Basicamente a nova caça e coleta
dependem agora de saldo no cartão de crédito e combustível no carro para o
transporte.
É um exemplo bem sugestivo, esse da carne de aves.
Para os nossos ancestrais, isso queria dizer
carne de qualquer ave silvestre que conseguissem caçar, dentre
as centenas que estavam ao alcance de suas flechas, pedras ou armadilhas.
Viviam livres, exercitavam-se, voavam, eram magras e esbeltas.
Para nós, carne de ave quer dizer, quase
exclusivamente, carne de frangos criados em confinamento,
alimentados somente com grãos (via rações industriais), estimulados com
hormônios, defendidos preventivamente com antibióticos e sacrificados com um
mês e meio de vida em linhas industriais que os abatem à taxa de 200 mil a meio
milhão por dia, por abatedouro. Foi-se a diversidade de espécies, vieram a
gordura saturada extrema, os resíduos de agrotóxicos nos grãos que originaram a
ração industrial e os resíduos de antibióticos e hormônios que passam para nós
através de sua carne, como se vê na abordagem que será feita ao Desequilíbrio
Residual.
Nossas aves são diferentes das de nossos
antecessores: vivem presas, não voam mais, não se exercitam, são gordas,
poluídas por resíduos químicos e biológicos (salmonelas, por exemplo) e
sujeitas a muitas doenças. Como óbvia conseqüência, suas carnes nos fazem
gordos – ou obesos – e suscetíveis a muitas doenças, como as que se menciona
neste trabalho.
Situação muito semelhante ocorre quando
comparamos os OVOS consumidos nas
duas dietas.
Para os caçadores-coletores paleolíticos (que é o que nós somos, ainda hoje,
constitucionalmente, geneticamente)
ovos eram apanhados diretamente dos ninhos das aves, no alto das árvores, que
eles tinham que escalar. E comidos de imediato, fresquinhos e crus!
Mas para nós, os modernos, ovos são
especificamente os produzidos por galinhas
criadas em gaiolas suspensas, em grandes confinamentos com dezenas ou centenas
de milhares de aves apinhadas, comendo ração à base exclusiva de grãos e,
obviamente, recebendo também doses de hormônios e antibióticos através dessas
rações. A diferença é que não precisamos mais subir nas árvores para
consegui-los.
Para todos os efeitos, ovos são, para nós,
alimentos de formato característico ovóide, que dão em caixinhas de plástico
expandido ou de papelão, em dúzia exatas, encontráveis nos supermercados. Para
obtê-los, ao invés do desconforto de trepar em árvores, precisamos apenas
dirigir nossos automóveis até o supermercado mais próximo, gastando para isso
uma certa quantidade de petróleo, às vezes similar àquela que foi gasta para
produzir, embalar e transportar esses ovos até colocá-los ao alcance do nosso
cartão de crédito.
Como os pregos, os tapetes ou os telefones
celulares, ovos são simplesmente produtos industrializados, produzidos em
grandes linhas de montagem. De vez em quando acontecem alguns problemas numa
dessas linhas e é preciso, como com qualquer produto industrial, produzir um recall de ovos com defeito – o mais
comum deles, que hoje produz um medo considerável nos consumidores mais
esclarecidos, sendo a contaminação com Salmonelas.
Para centenas de milhões de crianças
urbanas, ovos e frangos são, efetivamente, coisas que dão em supermercados: os
ovos nascem em dúzias dentro de caixinhas e os frangos são aquelas coisas
esquisitas, peladas, esbranquiçadas, sem
pé nem cabeça, envoltas em plástico com muita água congelada por dentro,
que dão em gôndolas refrigeradas de supermercado. Do animal em si, formam uma
idéia aproximada, mais para as imagens vistas em desenhos animados da TV ou
filmes de animação digital dos cinemas, do que para a realidade do bicho
galináceo.
Comparado com o nosso ancestral e seu
tamanduá, nosso moderno “caçador-coletor
de supermercado’ tem todas as vantagens, exceto uma: saúde. Não corre perigo
constante de virar caça, como o outro corria. Os únicos riscos que tem
ocasionalmente que enfrentar são o de levar uma multa por estacionamento
proibido ou ter que encarar um assaltante tardio no caminho de casa,
tornando-se, neste casos, sim, caça por sua vez, nas mãos armadas de um moderno
predador.
Mas, no quesito saúde, a coisa deixa muito a
desejar. A enorme diversidade de coisas
gostosas – que quer dizer ‘com gosto
bom’, o que significa: que dão
prazer! – e a grande acessibilidade desse manancial de alimentos ofertados
aos milhares nas prateleiras, leva o consumidor ao erro quantitativo. Literalmente, ele se entope de comidas ‘gostosas’,
refrigerantes, cervejas, uísques e doces.
Os que têm tendência genética à obesidade,
com maior compulsão a esse tipo de prazer oral, engordam mais e mais, como
conseqüência. Os normais e os magros (ou seja, com genética mais favorável – ou
desfavorável para o outro lado, o da magreza excessiva) igualmente se entopem
dessas coisas a pretexto de alimentação. Apenas que estes eliminam mais
facilmente os excessos pelos intestinos e bexiga, de forma que dão mais
trabalho é para a companhia de esgotos da municipalidade. Nas cidades modernas,
a conversão de alimentos em excrementos ocorre em uma taxa tão gigantesca
quanto lamentável, escandalosa mesmo.
Nossos ancestrais do paleolítico tinham que
se movimentar todos os dias, se
quisessem encontrar comida e água. Ainda não havia sequer o “ganharás o teu pão com o suor do teu
rosto”, posto que não havia pão algum ainda. Comer e beber eram
obrigatoriamente atos que demandavam esforço
físico, muitas vezes extremo. Neanderthais ou Cro-magnons, eles faziam
academia de graça, malhavam o tempo inteiro, comiam dietas total e
absolutamente equilibradas para os seus corpos e estes, portanto, era
saradíssimos! Caçador-coletor barrigudo não podia existir: simplesmente não
conseguiria sobreviver como caçador, que dirá conseguir escapar à outra face da
caçada: a possibilidade, sempre presente nas matas e savanas, de virar caça de
um minuto para o outro.
Hoje, comer e beber exige ainda esforço físico:
sentar-se à mesa e mastigar! E, mais estafante ainda, brandir garfo e faca
sobre o prato continuamente. Ou, ainda pior, ter o desgaste de andar até o
refrigerador ou até o microondas. Isso sem falar no horror que representa o
desgaste muscular de abrir as embalagens e – supremo sacrifício – transportar
sacolas de compras até o porta-malas do carro e, deste, numa jornada ingente, carregá-las
para dentro de casa, muitas vezes tendo o desgaste adicional de enfrentar um
lance de escadas ou vários andares de elevador. Ufa!
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