quinta-feira, 3 de janeiro de 2013


SONO, SONHOS E AUTOCONTROLE – 3              Jan 03
MILTON MACIEL
OS CICLOS CIRCADIANOS

Um importantíssimo conceito a considerar, quando se pensa em eficiência e rendimento, seja no trabalho ou no esforço intelectual, é o de ritmo circadiano. A palavra vem do latim e se refere a um ritmo vital que é submúltiplo do dia de 24 horas. (circa diem = ao redor do dia).

De fato, há milhões de anos o ser humano ‑ como também todos os seres da natureza, animais ou vegetais ‑ são submetidos à cons­tante alternância entre dia e noite, no ciclo diário de 24 horas. É na­tural, portanto, que essa alter­nância cíclica esteja completamen­te impregnada tanto no seu in­consciente como em sua própria organização genética. É o que se convencionou chamar de relógio biológico.

A mais fácil observação desse relógio, em seu funcionamento diário, se dá no ambiente rural, onde as pessoas praticamente acordam com o sol e têm o seu rit­mo de vida totalmente vinculado ao ritmo terrestre diário. Quando uma pessoa da cidade, acostumada a levantar mais tarde e a dormir tarde, passa muitos dias em uma propriedade rural, de uma manei­ra quase automática o seu ciclo de sono e vigília vai se alterando e, depois de algum tempo, essa pes­soa tende a acordar mais cedo e a dormir mais cedo, igualando seu ritmo ao dos habitantes do lugar.

Isso é uma simples demonstra­ção da nossa submissão aos ritmos circadianos. Mas há um outro rit­mo, muito mais sutil na sua ob­servação no indivíduo adulto, que é vital para todos nós, para os nossos estudos, para o nosso trabalho e para a própria economia. É o ritmo de 3 horas, um subciclo circadiano.

Esse ritmo é muito facilmente observado nos bebes. Eles dor­mem quase o tempo todo, mas acordam, de forma automática, a cada 3 horas, para mamar. Seu relógio biológico está ajustado, com o des­pertador programado para soar a cada 3 horas.

O que as pessoas em geral não sabem é que esse ritmo de 3 horas, tão evidente no recém–nascido, permanece em nós pelo resto de nossas vidas, afetando completa­mente nossa capacidade de aten­ção e concentração. Isto é, você que já está bem crescidinha, que já é uma pessoa adulta, continua acordando para mamar a cada 3 horas.

Isso quer dizer que o nosso rendi­mento mental oscila dentro desse ritmo. Começamos a render men­talmente, somos capazes de aten­ção, concentração e memorização, porém temos nossos limites impos­tos pelo ritmo circadiano. Nosso rendimento atinge o máximo e começa a declinar ràpidamente. Depois de um certo tempo é extre­mamente difícil prestar atenção, reter, memorizar, manter interes­se. 0 aluno "voa", o professor "se perde", o orador divaga, o partici­pante perde o controle da reunião, o médico exita no diagnóstico, o técnico erra tudo no computador e vai ter que repetir o extenuante trabalho.

Pior ainda: o motorista profissional, seja do táxi, do ônibus ou caminhão, perde acuidade visual e reflexos, sente impaciência, sonolência ou má‑vontade, irrita-se, discute, causa acidentes. A não observância da necessidade de o trabalhador e o estudante reciclarem-se  segundo o ritmo circadiano de rendimento cerebral, psicológico, é responsável, em última análise, por um imenso numero de acidentes de trânsitos e de acidentes do trabalho, custam a vida de milhares de pessoas, e dão milhões de dólares de prejuízo diariamente, em todo o mundo.

Não, não há exagero! o prejuízo é imenso mesmo. Não só pelos acidentes e suas conseqüências, mas, ainda muito mais, pelo prejuízo constante das falhas de aprendizagem, de comunicação e de rendimento e perfeição no trabalho. Se mais atenção fosse dada ao ritmo de 3 horas, haveria menos defeitos de fabricação, erros de digitação, trocas de embala­gens, equívoco de medicamentos e assim por diante. As divisões erradas da jornada de trabalho e os intervalos de recuperação e descanso mal programados, são uma importante causa de todos esses males.
(CONTINUA   AMANHÃ)

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