domingo, 20 de janeiro de 2013


 SAL E AÇÚCAR: O AMARGO DOCE  ENGANO - Parte 2
Ou: Sua Tragédia Oculta de Todos os Dias (*)
MILTON  MACIEL
(Série A SOPA QUÍMICA)


Antes de continuar nossa perseguição aos açúcares ocultos, os açúcares adicionados em nos alimentos processados – e como devemos identificá-los, através das tabelas nutricionais obrigatórias na embalagem – temos que entender quais os problemas que eles acarretam, para levar a sério sua gravidade. Vamos transcrever um pequeno trecho do nosso livro A SOPA QUÏMICA, do capítulo “Discutindo leptina, insulina e lectinas” :

  
  “Tanto os açúcares que colocamos intencionalmente no café, nos doces, sorvetes, bolos e refrigerantes, quanto os açúcares que os fabricantes de alimentos industrializados escamoteiam em seus produtos sem nos consultar – os açúcares adicionados – provocam respostas enérgicas e muito rápidas na produção e injeção de outro hormônio na circulação sanguínea: a insulina. A mesma coisa acontece quando ingerimos derivados dos grãos, como a farinha de trigo, por exemplo, cheios de amido, uma forma polimerizada de açúcar, de rápido e fácil desdobramento em açúcares simples no organismo, a partir da boca.

   O nosso pãozinho branco de todos os dias também provoca respostas rápidas das Ilhotas de Langerhans que, dentro do pâncreas, produzem diversos hormônios, dentre eles a insulina. A insulina tem a função de permitir que a glicose transportada pelo sangue possa penetrar em todas as células do organismo, onde ela vai ser ‘queimada’ para a produção de energia, ao reagir com o oxigênio que foi, por sua vez transportado e ‘escoltado’ para dentro das células pela hemoglobina das hemácias.

   A digestão do amido do pão ou do açúcar da sobremesa é muito rápida, por isso quantidades grandes de glicose são produzidas e penetram do sangue rapidamente. Estes alimentos possuem o que se chama alto índice glicêmico. Já os carboidratos ligados a fibras, como os normalmente presentes em frutas e verduras, são de digestão mais lenta, apresentando índice glicêmico mais baixo.

   Quanto maior for o teor de açúcar refinado ou de amido presente num alimento, maior o seu índice glicêmico e, portanto, mais rapidamente ele vai provocar, logo após sua ingestão, uma enérgica injeção de insulina na corrente sanguínea. O sangue precisa se livrar desse excedente de açúcar e a insulina extra vai fazer o excesso penetrar nas células, onde, como todo e qualquer excesso, ele vai causar problemas.

   Forma-se um desequilíbrio forçado pela maciça e rápida entrada de glicose no sangue, proveniente da ingestão sistemática de carboidratos com alto índice glicêmico. A resposta rápida do pâncreas, produzindo mais insulina emergencial, leva a uma rápida diminuição do nível de glicose no sangue, que passa do excesso à falta muito rapidamente. Um nível baixo de glicose no sangue é denominado hipoglicemia.

   O sangue oscila, pois, rapidamente, da hiperglicemia inicial, pós-prandial, para a hipoglicemia resultante. Mas a hipoglicemia momentânea vai ser, por sua vez, decodificada no hipotálamo como sinal de perigo de desnutrição. É aí que é deflagrado o processo indesejado por quem acaba de se fartar com uma refeição cheia de carboidratos de alto índice glicêmico: o hipotálamo ordena ao organismo a sensação de FOME urgente. Hipoglicemia clama por ingestão urgente de alimentos com alto índice glicêmico.

   Então, um par de horas depois de sair da mesa do jantar, concluído com uma generosa porção de sobremesa, você já está de novo sentindo fome – na verdade uma fome seletiva, que lhe dá um desejo estranho de voltar à geladeira e pegar mais sobremesa. (Não, agora um sorvetinho caía melhor!) Ou de homenagear o generoso jantar com um mais um cafezinho, só que desta vez com uns biscoitinhos doces, que ninguém é de ferro.
  
Ou você justifica que agora está com sede, muita sede, socorro! Só que não é sede que se mate com água, é sede de Coca-Cola! Ou de cerveja, quem sabe. É, boa idéia, uma cervejinha enquanto você acompanha o jogo na televisão. – Bem! Põe um saco de pipocas no microondas e vem ver o jogo comigo! E traz uma gelada!

   Não, você não está com fome, não pode estar com fome! Está certo, você quer ter mais PRAZER, isso sim. Mas... tem lugar no estômago para mais este reforço de jantar? Pelo jeito tem, sim. E até para um par daqueles bombonzinhos, afinal são bem pequenos! Amanhã você compensa, manera. Na segunda-feira, dia nacional da dieta – você jura! – vai começar mais uma.

   Só que mais uma ingestão de carboidratos de alto índice glicêmico, é mais uma lambada de glicose entrando em seguida no sangue, mais uma pancada maciça de insulina chegando para tirar aquela glicose toda dali. No pâncreas não há descanso. As fábricas de insulina trabalham em turno extra, a todo vapor, com capacidade máxima. Não dão conta de tanto pedido de insulina em carteira. Nem bem fizeram aquele despacho gigante de mercadoria há pouco e já chegaram novos pedidos, todos com o carimbo fatídico: URGENTE!”  (Continua...)

(*) Baseado no livro A SOPA QUÍMICA, Nossa Alimentação suicida - MILTON MACIEL, IDEL 2008)

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