SAL E AÇÚCAR: O AMARGO DOCE ENGANO - Parte 2
MILTON MACIEL
(Série A SOPA QUÍMICA)
Antes de continuar nossa perseguição aos açúcares ocultos, os
açúcares adicionados em nos alimentos processados – e como devemos
identificá-los, através das tabelas nutricionais obrigatórias na embalagem –
temos que entender quais os problemas que eles acarretam, para levar a sério
sua gravidade. Vamos transcrever um pequeno trecho do nosso livro A SOPA
QUÏMICA, do capítulo “Discutindo leptina,
insulina e lectinas” :
“Tanto os açúcares que
colocamos intencionalmente no café, nos doces, sorvetes, bolos e refrigerantes,
quanto os açúcares que os fabricantes de alimentos industrializados escamoteiam
em seus produtos sem nos consultar – os açúcares
adicionados – provocam respostas
enérgicas e muito rápidas na produção e injeção de outro hormônio na circulação
sanguínea: a insulina. A mesma coisa acontece quando ingerimos derivados dos
grãos, como a farinha de trigo, por exemplo, cheios de amido, uma forma
polimerizada de açúcar, de rápido e fácil desdobramento em açúcares simples no
organismo, a partir da boca.
O nosso pãozinho branco de
todos os dias também provoca respostas rápidas das Ilhotas de Langerhans que, dentro do pâncreas, produzem diversos
hormônios, dentre eles a insulina. A insulina tem a função
de permitir que a glicose transportada pelo sangue possa penetrar em todas as
células do organismo, onde ela vai ser ‘queimada’ para a produção de energia,
ao reagir com o oxigênio que foi, por sua vez transportado e ‘escoltado’ para
dentro das células pela hemoglobina das hemácias.
A digestão do amido do pão
ou do açúcar da sobremesa é muito rápida, por isso quantidades grandes de
glicose são produzidas e penetram do sangue rapidamente. Estes alimentos
possuem o que se chama alto índice
glicêmico. Já os carboidratos ligados a fibras, como os normalmente
presentes em frutas e verduras, são de digestão mais lenta, apresentando índice
glicêmico mais baixo.
Quanto maior for o teor de
açúcar refinado ou de amido presente num alimento, maior o seu índice glicêmico
e, portanto, mais rapidamente ele vai provocar, logo após sua ingestão, uma
enérgica injeção de insulina na corrente sanguínea. O sangue precisa se livrar
desse excedente de açúcar e a insulina extra vai fazer o excesso penetrar nas
células, onde, como todo e qualquer excesso, ele vai causar problemas.
Forma-se um desequilíbrio
forçado pela maciça e rápida entrada de glicose no sangue, proveniente da
ingestão sistemática de carboidratos com alto índice glicêmico. A resposta
rápida do pâncreas, produzindo mais insulina emergencial, leva a uma rápida
diminuição do nível de glicose no sangue, que passa do excesso à falta muito
rapidamente. Um nível baixo de glicose no sangue é denominado hipoglicemia.
O sangue oscila, pois,
rapidamente, da hiperglicemia
inicial, pós-prandial, para a hipoglicemia
resultante. Mas a hipoglicemia momentânea vai ser, por sua vez, decodificada no
hipotálamo como sinal de perigo de desnutrição.
É aí que é deflagrado o processo indesejado por quem acaba de se fartar com uma
refeição cheia de carboidratos de alto índice glicêmico: o hipotálamo ordena ao
organismo a sensação de FOME urgente. Hipoglicemia clama por ingestão urgente
de alimentos com alto índice glicêmico.
Então, um par de horas
depois de sair da mesa do jantar, concluído com uma generosa porção de
sobremesa, você já está de novo sentindo fome – na verdade uma fome seletiva, que lhe dá um desejo estranho
de voltar à geladeira e pegar mais sobremesa. (Não, agora um sorvetinho caía melhor!) Ou de homenagear o generoso
jantar com um mais um cafezinho, só que desta vez com uns biscoitinhos doces,
que ninguém é de ferro.
Ou você justifica que agora está com sede, muita sede, socorro! Só
que não é sede que se mate com água, é sede de Coca-Cola! Ou de cerveja, quem
sabe. É, boa idéia, uma cervejinha enquanto você acompanha o jogo na televisão.
– Bem! Põe um saco de pipocas no
microondas e vem ver o jogo comigo! E traz uma gelada!
Não, você não está com
fome, não pode estar com fome! Está certo, você quer ter mais PRAZER,
isso sim. Mas... tem lugar no estômago para mais este reforço de jantar? Pelo
jeito tem, sim. E até para um par daqueles bombonzinhos, afinal são bem pequenos!
Amanhã você compensa, manera. Na
segunda-feira, dia nacional da dieta – você jura! – vai começar mais uma.
Só que mais uma ingestão de
carboidratos de alto índice glicêmico, é mais uma lambada de glicose entrando
em seguida no sangue, mais uma pancada maciça de insulina chegando para tirar
aquela glicose toda dali. No pâncreas não há descanso. As fábricas de insulina
trabalham em turno extra, a todo vapor, com capacidade máxima. Não dão conta de
tanto pedido de insulina em
carteira. Nem bem fizeram aquele despacho gigante de
mercadoria há pouco e já chegaram novos pedidos, todos com o carimbo fatídico:
URGENTE!” (Continua...)
(*) Baseado no livro A SOPA QUÍMICA, Nossa Alimentação suicida - MILTON MACIEL, IDEL 2008)
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