terça-feira, 8 de janeiro de 2013


DEUS LHE PAGUE, BORBOLETA ! 
MILTON  MACIEL 

Vivi enredado em perigoso tremedal,
Enovelado em sortilégios de sultana,
Só um a mais em seu harém de soberana,
Escravo dócil do seu jogo sensual.
Aprisionado em seu fascínio sexual,
Fui consumido até à última energia.
Ela usou-me, enquanto ainda eu lhe servia,
Depois cansou-se de mim – foi meu final!

Errei imerso num vazio espectral,
Por muito tempo eu vaguei ali perdido,
Perdeu a vida, para mim, qualquer sentido,
Quis arrojar-me em um vórtice abismal.
No exato instante do meu ato terminal,
Eu vi um verme ali, suspenso no abismo.
Ele lutava, como um louco em paroxismo,
Suspenso por um tênue fio, excepcional.

Vi que suas forças já estavam no final,
E o peguei, tendo o máximo cuidado,
Fiquei a olhá-lo a caminhar pelo meu braço,
Obstinado como de um lutador de aço.
E eu então, como se houvesse despertado,
Vivi, violento, um choque paradoxal.

Considerando o meu vazio existencial,
Estava prestes a acabar com minha vida.
Eu atraído, ele a lutar contra o abismo,
Um vermezinho me mostrou o que é coragem!
Senti-me um fraco, entregue à força da voragem,
E ergui-me, pronto para enfrentar qualquer sismo!
Eu o salvei... E ele salvou a minha vida:
Num vermezinho, achei o meu referencial!

Voltei as costas para o abismo, afinal.
Levei aquele vermezinho para casa,
Dele tratei como se cuida um grande amigo
Cresceu, tornou-se a mais vistosa borboleta.
Vivia eu só, era assim como um asceta,
E ela ficou a esvoaçar sempre comigo.
Naquela vida que eu levava, insossa e rasa,
Foi ela a minha companheira fiel e leal.


Antes de ter, sua curta vida, o seu final,
Ela deixou, pelas folhas, seus ovinhos.
Alegram, hoje, nossa casa e seus caminhos,
Às centenas, suas belas descendentes.
E a minha mulher e os meus filhinhos,
Me fazem repetir, sempre insistentes,
Como aprendi a amar esses bichinhos,
Como salvou a minha vida esse animal.


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