DEUS LHE PAGUE, BORBOLETA !
Vivi enredado em
perigoso tremedal,
Enovelado em
sortilégios de sultana,
Só um a mais em
seu harém de soberana,
Escravo dócil do
seu jogo sensual.
Aprisionado em
seu fascínio sexual,
Fui consumido até
à última energia.
Ela usou-me,
enquanto ainda eu lhe servia,
Depois cansou-se
de mim – foi meu final!
Errei imerso num
vazio espectral,
Por muito tempo
eu vaguei ali perdido,
Perdeu a vida,
para mim, qualquer sentido,
Quis arrojar-me
em um vórtice abismal.
No exato instante
do meu ato terminal,
Eu vi um verme
ali, suspenso no abismo.
Ele lutava, como
um louco em paroxismo,
Suspenso por um tênue
fio, excepcional.
Vi que suas
forças já estavam no final,
E o peguei, tendo
o máximo cuidado,
Fiquei a olhá-lo
a caminhar pelo meu braço,
Obstinado como de
um lutador de aço.
E eu então, como
se houvesse despertado,
Vivi, violento,
um choque paradoxal.
Considerando o
meu vazio existencial,
Estava prestes a
acabar com minha vida.
Eu atraído, ele a
lutar contra o abismo,
Um vermezinho me mostrou
o que é coragem!
Senti-me um
fraco, entregue à força da voragem,
E ergui-me,
pronto para enfrentar qualquer sismo!
Eu o salvei... E
ele salvou a minha vida:
Num vermezinho, achei
o meu referencial!
Voltei as costas
para o abismo, afinal.
Levei aquele
vermezinho para casa,
Dele tratei como se cuida um grande amigo
Cresceu,
tornou-se a mais vistosa borboleta.
Vivia eu só, era
assim como um asceta,
E ela ficou a
esvoaçar sempre comigo.
Naquela vida que
eu levava, insossa e rasa,
Foi ela a minha
companheira fiel e leal.
Antes de ter, sua
curta vida, o seu final,
Ela deixou, pelas
folhas, seus ovinhos.
Alegram, hoje,
nossa casa e seus caminhos,
Às centenas, suas belas
descendentes.
E a minha mulher
e os meus filhinhos,
Me fazem repetir,
sempre insistentes,
Como aprendi a amar
esses bichinhos,
Como salvou a minha vida esse animal.
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