MANIFESTAÇÕES COMUNS DO MACHISMO
MILTON MACIEL
Não é apenas nos focalizando no alto índice de violência contra a mulher que nós vamos fazer face àquilo que a origina, o machismo. Evidentemente precisamos socorrer as vítimas e procurar impedir que o indivíduo violento continue se impondo pela agressão concreta. Mas isso é fazer uma necessária, porém não suficiente carga contra os efeitos exteriores de uma causa interior.
Se queremos chegar a algum lugar nessa luta, nosso combate tem que se situar no campo psicológico e educacional. Veja bem, estou de propósito enfatizando o campo psicológico em primeiro lugar, porque não basta falar, mostrar estatísticas, emocionalizar mesmo, através de atitudes que vão atingir a pessoa de fora para dentro, numa necessária, porém ainda não suficiente intervenção educacional.
É preciso ir mais fundo e procurar atingir o indivíduo de dentro para fora, isto é, levando-o a encontrar sua própria Sombra interior, um conjunto complexo de condicionamentos que o predispõe a comportamentos machistas de intimidação, predação e agressão.
Evidentemente isso, no Brasil de hoje, chega a parecer utópico. Contudo é essencial que se mantenha essa visão mais abrangente como meta a ser alcançada um dia e que ela oriente todos os nossos procedimentos técnicos. Afinal estamos falando de uma condicionante psicológica que se manifesta exteriormente da mesma forma que aquela que conduz ao alcoolismo.
O machista foi condicionado a ter comportamento machista em casa, reforçando com isso a propensão atávica que está no Inconsciente Coletivo da cultura patriarcal machista. Em resumo, machismo vicia. Leva o indivíduo a desenvolver umadependência psicológica da auto-afirmação pelo machismo e a estabelecer, por conseqüência, relações francamente sádicas ou sado-masoquistas.
Podemos exemplificar essa dependência psicológica com diversas formas de sua manifestação exterior. Muito antes que a violência física se manifeste, há inúmeros outros comportamentos sugestivos do machismo nas relações.
A recusa a usar camisinha é um dos mais típicos. É um ato tão primitivo que o troglodita que tenta impor sua vontade naquele momento desconsidera não apenas o risco de gravidez e de infecção com DST a que expõe a parceira, mas também o risco próprio, já que ele pode ser a parte que será infectada. Muito ao contrário, considerando-se o líder natural do ato sexual, o macho-alfa perpétuo ao qual a fêmea tem a obrigação de se submeter, ele prefere os riscos a um eventual decréscimo em seu prazer imediato.
Outra manifestação de machismo, aparentemente branda, mas na verdadepesadíssima pela sobrecarga constante e diuturna que acarreta, por anos e anos afio, é a recusa ou omissão em dividir com a companheira as tarefas domésticas. Isso é ainda mais extenuante quando esta companheira trabalha fora de casa o mesmo número de horas que o homem, tendo que assumir no retorno ao lar todas as tarefas que podem e devem ser compartilhadas. Predomina o pensamento machista que diz que isso é coisa de mulher, que homem não faz tarefas domésticas. Mas é óbvio que, se esse mesmo indivíduo já morou ou tiver que morar sozinho no futuro, ele então se vê obrigado a desempenhar um bom número dessas “tarefas de mulher”.
Na môsca! É bem isso que ocorrer. No entanto, mesmo em tempos nos quais a mulher trabalha igual número de horas que o homem, ainda assim, devido ao contexto cultural machista, é a mulher que passa os primeiros valores aos filhos. Muitas vezes o pai não dialoga.Então, quem acaba educando os filhos é a mulher. Infelizmente, nós, mulheres, viemos educando nossos filhos homens para não fazerem nenhum serviço doméstico ou, quando muito, só a fazer a parte mais light do negócio. Assim sendo, se as mulheres não mudarem de atitude, teremos aí mais uma leva de homens que serão um problemão. Eu sempre soube que a deficiência do homem brasileiro é não saber cortar uma simples rodela de cebola. E, acredite, essas questões domésticas que, do modo como falamos aqui, parecem tão simples, pesam (e muito) nos ombros da mulher depois de um estafante dia de trabalho!
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