OS POEMAS DA SOMBRA – 3
MILTON MACIEL
Introduzindo o
tema EROS E TÂNATOS: Os contrastes profundos da alma, entre a Luz e a Sombra.
Eros é o deus do Amor, é a alegria, a vida, a luz. Tânatos é o deus da Morte, a
tristeza, a Sombra, a escuridão. O primeiro poema, AS DUAS SOMBRAS, do grande mestre Olegário Mariano, mostra bem o necessário encontro de Eros com Tânatos, do Ego
consciente com a Sombra inconsciente. Ao abraçaram-se, Eros e Tânatos realizam
a fusão e o reequilíbrio do ser, refeito em sua inteireza, pela coragem do
mútuo enfrentamento.
O poema
subseqüente MAR REVOLTO é mais um da subsérie que escrevi com o nome “Poemas do
Suicídio” (são 6 ao todo). Eles trabalham Tânatos como pulsão de morte, como
busca do equilíbrio final através da auto-aniquilação. Oportunamente vamos
desenvolver mais o tema suicídio, dentro da série sobre a Sombra.
AS DUAS SOMBRAS
Olegário Mariano
Na encruzilhada
silenciosa do Destino,
Quando as
estrelas se multiplicavam,
Duas sombras
errantes se encontraram.
A primeira falou:
- Nasci de um beijo
de luz; sou
força, vida, alma, esplendor.
Trago em mim toda
a glória do Desejo,
Toda a ânsia do
Universo... Eu sou o Amor.
O mundo sinto
exânime a meus pés...
Sou Delírio...
Loucura... E tu, quem és?
- Eu nasci de uma
lágrima, sou flama
Do teu incêndio
que devora...
Vivo dos olhos
tristes de quem ama
Para os olhos
nevoentos de quem chora.
Dizem que ao
mundo vim para ser boa
Para dar do meu
sangue a quem me queira
Sou a Saudade, a
tua companheira
Que punge, que
consola e que perdoa...
Na encruzilhada
silenciosa do Destino,
As duas Sombras
comovidas se abraçaram.
E, desde então,
nunca mais se separaram.
MAR REVOLTO
MILTON
MACIEL
Falaz sentir,
fantasmagórica romança,
Em que me
encontro, aqui às faldas da falésia.
Contemplo o mar,
que se revolve em feroz dança,
Enquanto eu,
tonto, vivo a dor desta amnésia.
Quem serei eu,
que só escuto este tumulto,
A matraquear pelo
meu cérebro, incessante?
Um tolo amante,
obcecado, o amor oculto
A encandear-me,
em lava, o peito delirante!
E o que sou? Nada
mais do que um fantasma
Esfrangalhado,
mais revolto que este mar.
Por isso espero a
tempestade me engolfar:
O corpo morre e a
alma parte, vil miasma.
E, ao quebrar-me
a onda, meu espanto
Será meu último
sentir: só desencanto.
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