sexta-feira, 11 de janeiro de 2013


OS POEMAS DA SOMBRA – 3  
MILTON  MACIEL 

Introduzindo o tema EROS E TÂNATOS: Os contrastes profundos da alma, entre a Luz e a Sombra. 
   Eros é o deus do Amor, é a alegria, a vida, a luz. Tânatos é o deus da Morte, a tristeza, a Sombra, a escuridão. O primeiro poema, AS DUAS SOMBRAS, do grande mestre Olegário Mariano, mostra bem o necessário encontro de Eros com Tânatos, do Ego consciente com a Sombra inconsciente. Ao abraçaram-se, Eros e Tânatos realizam a fusão e o reequilíbrio do ser, refeito em sua inteireza, pela coragem do mútuo enfrentamento.

O poema subseqüente MAR REVOLTO é mais um da subsérie que escrevi com o nome “Poemas do Suicídio” (são 6 ao todo). Eles trabalham Tânatos como pulsão de morte, como busca do equilíbrio final através da auto-aniquilação. Oportunamente vamos desenvolver mais o tema suicídio, dentro da série sobre a Sombra.

AS DUAS SOMBRAS
Olegário Mariano

Na encruzilhada silenciosa do Destino,
Quando as estrelas se multiplicavam,
Duas sombras errantes se encontraram.

A primeira falou: - Nasci de um beijo
de luz; sou força, vida, alma, esplendor.
Trago em mim toda a glória do Desejo,
Toda a ânsia do Universo... Eu sou o Amor.
O mundo sinto exânime a meus pés...
Sou Delírio... Loucura... E tu, quem és?

- Eu nasci de uma lágrima, sou flama
Do teu incêndio que devora...
Vivo dos olhos tristes de quem ama
Para os olhos nevoentos de quem chora.
Dizem que ao mundo vim para ser boa
Para dar do meu sangue a quem me queira
Sou a Saudade, a tua companheira
Que punge, que consola e que perdoa...

Na encruzilhada silenciosa do Destino,
As duas Sombras comovidas se abraçaram.
E, desde então, nunca mais se separaram.



POEMAS DO SUICÍDIO – 2

MAR REVOLTO
MILTON  MACIEL 

Falaz sentir, fantasmagórica romança,
Em que me encontro, aqui às faldas da falésia.
Contemplo o mar, que se revolve em feroz dança,
Enquanto eu, tonto, vivo a dor desta amnésia.

Quem serei eu, que só escuto este tumulto,
A matraquear pelo meu cérebro, incessante?
Um tolo amante, obcecado, o amor oculto
A encandear-me, em lava, o peito delirante!

E o que sou? Nada mais do que um fantasma
Esfrangalhado, mais revolto que este mar.
Por isso espero a tempestade me engolfar:
O corpo morre e a alma parte, vil miasma.

E, ao quebrar-me a onda, meu espanto
Será meu último sentir: só desencanto.

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