MILTON MACIEL
28 – MULHERES SEM MEDO
Fim do cap. 26: "– Larissa, minha filha Gládis sabe lutar melhor que nós três e que qualquer homem, exceto o Celso. E nem por isso ela é lutadora, não é mesmo? O mesmo acontece com o próprio Celso. Ele sabe tudo de lutas e é instrutor também. Foi ele que nos instruiu e treinou, até ficar satisfeito com o nosso desempenho, como ele dizia, “Até poder confiar que vocês já podem confiar em vocês mesmas”.
– Confiar como?
– Confiar que a gente pode se defender de
qualquer ataque, inclusive com arma branca, porrete e arma de fogo.
– Deus do céu, Carmen, que horror! Armas... Eu
morro de medo.
– Eu também morria, Fofinha, eu também. Foi preciso muito treinamento e muito caldo que
o Celso me deu, para eu perder esse medo. Isso é assim mesmo, eles colocam essa
ideia machista na nossa cabecinha quando a gente ainda é muito criancinha, nos
fazem comprar a ideia que a gente é fraca, frágil, que não pode se defender,
que tem que ser defendida por um homem.
– Mas, Jennifer, e isso não é verdade?
– Claro que não, garotinha. Homem é o cara que
vai nos atacar, isso sim! Pois você não acabou de assistir uma
demonstração completa dada pela Gládis?
– Puxa, é mesmo... Nossa, Jeniffer, você tem
razão!... Mas então...
– Então existe essa coisa feia, horrorosa, que
tenta nos destruir e que se chama MACHISMO. E é o machismo que nos torna
inferiores, porque semeiam isso nas nossas cabecinhas e a gente, indefesa,
cresce acreditando nessa palhaçada.
– Nossa, Jennifer, eu estou de queixo caído,
nunca pensei... Mas você tem razão, depois do que eu vi a Gládis fazer hoje,
não tem como não concordar.
Carmen de Rios comentou:
– E fez, minha filha, com um homem que tinha
acabado de agredir você feiamente mais uma vez.
– Pois é, ele bateu em mim e doze horas depois
apanhou feio dela. Que coisa mais bem-feita, credo, eu não devia pensar assim,
é meu pai, Mas eu não posso ser hipócrita, eu fiquei feliz demais com a surra
que você deu nele, Gládis.
– Ora, Fofinha,
a surra não foi nada. Pior foi o estrago para o cartaz dele.
– Com assim, Gládis? Não estou entendendo...
– Simples, meu bem. Pelo menos umas vinte
pessoas viram o sujeito apanhar de uma
MULHER! E apanhar feio, de sair todo moído, todo desconjuntado. Ora,
tirando a gente aqui, todo o pessoal que estava lá é de Amarante mesmo. Então
imagine só como eles não vão espalhar aos quatro ventos a história do machão
que apanhou de uma mulher, que levou surra de criar bicho, que ficou
desacordado! Ele vai ficar completamente desmoralizado nesta cidade.
– Ai, mas é isso que me assusta mais do que
tudo, Gládis. O meu pai é um homem mau, ele é perigoso, vingativo. Eu tenho
medo que ele queira se vingar de você. E aí... Ai, eu não quero nem pensar, não
tenho coragem de imaginar.
– Pois pode ir ficando tranquila, mocinha...
Sua amiga aqui não corre perigo. Se corresse, já estava sabendo.
– É, Larissa – atalhou Carmen de novo – você
não viu o que ela fez, quando correu para o carro dele?
– Pois é, que coisa, ela foi lá, achou o
revólver e tirou as balas. Como é que pode? Como é que ela sabia?
– Ora, sabendo,
como ela mesma diz, como se isso fosse a coisa mais comum do mundo. Desde que
era uma coisinha deste tamainho aqui, essa menina já me vinha com cada coisa de
arrepiar. Sempre foi uma bruxinha.
– Bem, a coisa foi muito simples. De repente
veio na minha cabeça que ele tinha uma arma no porta-luvas. No mesmo instante
eu corri, peguei o revólver e tirei as balas, a gente teve treinamento com um
monte de armas diferentes.
– Mas você não fica com medo de pegar numa arma
de fogo? Porque eu morro de medo e...
– Medo, medo, medo! ... Ah, minha Fofinha, quanto mal fizeram para você.
Mas deixa estar, eu já falei que vou tirar esses medos todos de você. Você vai
ver.
– Ai, isso me parece uma coisa tão distante,
tão impossível, Gládis...
– Mas não é. E eu garanto que você se livra deles,
é só começar a aprender, a treinar com a gente e com o Celso.
– Com o chefe? Mas, por que ele faria isso? Ele
é um homem tão importante, tão ocupado...
– Fofinha,
ele nunca é ocupado demais para nós, as suas amigas, os esteios da sua equipe.
Ele é um homem muito diferente dos outros, Larissa, ele faz tudo pela gente,
você vai ver.
– Nossa, é uma coisa difícil de imaginar. O
chefe ensinando a lutar. Mas... e por que ele fez isso com vocês? De onde saiu
a ideia? De alguma academia lá na cidade de vocês, Ribeirão Preto?
– Não, bobinha, isso saiu da cidade de Miami,
nos Estados Unidos, foi de lá que o Celso trouxe tudo isso: a ideia, os
métodos, os equipamentos especiais. Lá em Miami, o Celso se interessou,
aprendeu e se tornou instrutor de Autodefesa Feminina
– O que?!!!
– Larissa deu um grito! – Ele aprendeu só para ensinar as mulheres a se
defenderem? É isso? Eu entendi direito?
– Pois é isso mesmo, isso mesmo sim! Pra você ver
quem é Celso Teles, meu bem. Um homem moço, cheio de negócios próprios, muito
rico, que podia passar o resto da vida sem trabalhar e sem se preocupar com os
outros. Pois ele, surpreendentemente, se preocupou muito com as agressões que
as mulheres sofrem. E como ele é Celso Teles e não um homem comum, se ele se
preocupa com alguma coisa, imediatamente ele parte para fazer algo a respeito.
– Minha nossa, que pessoa incrível, que.. Ai, é
de deixar a gente tonta.... comovida...
– Pois para você ver, querida. Ele descobriu um
grande centro de treinamento na Califórnia, em Los Angeles, foi para lá, entrou
no centro, fez todos os diversos cursos que tinham e praticou muito, até se tornar, ele mesmo, um
professor, um instrutor de autodefesa feminina. E aí ele voltou para Miami e
começou a desenvolver o seu próprio grupo, treinou outras mulheres e outros
homens para serem instrutores também. E o mais notável,é que era tudo de
graça. Ele nunca aceitou receber um tostão por esse tipo de trabalho.
– Ai,
chefinho, que amor! Que coisa...
– E ele ia pessoalmente atrás de mulheres
pobres, de latinas, de negras, de haitianas, de imigrantes ilegais, nas
comunidades mais carentes, que lá também tem muito disso. E, falando espanhol e
inglês com perfeição, além do português, ele se fazia entender e acabava
encantando essas pessoas. E elas iam aprender a se defender nos cursos dele. E,
claro, ele passava a ter problemas e correr perigo com os homens dessas
mulheres.
– Nossa, é mesmo! Os caras...
– Os caras estavam acostumados a bater nas
mulheres deles, a obrigar elas a fazer sexo quando não queriam, a espancar as
crianças e os velhos. Tinha muita droga no meio, também.
– Meu Deus, que perigo! Drogados. Como ele é
corajoso!
– Corajoso e muito, muito esperto. Eu falei que
ele treinou outros homens, não falei? Que ele formou um grupo? Pois era um
grupo grande e forte. Tinha homens e mulheres da polícia, tinha militares,
tinha advogados, tinha até um juiz. E vários esportistas, colegas dele do
futebol, não esqueça que ele jogou e dirigiu times ali na Flórida. Então esses homens
tinham muita influência e eles agiam como se fossem um esquadrão de polícia
não-oficial. Iam atrás dos caras que batiam na mulher e a
mulher não tinha coragem ou não queria denunciar para as autoridades. Então
eles iam armados – qualquer um compra arma nos Estados Unidos – num grupo
grande, com os policiais uniformizados, os militares também. Aí enquadravam o
cara, davam um enorme susto nele. O Celso contou que, na maior parte das vezes,
eles pegavam o cara e cobriam de porrada, como ele fazia com a mulher. E
juravam ele de morte, se ele voltasse a agredir.
– E funcionava?
– Em 100% dos casos! O Celso nos explicou que
homem que bate em mulher normalmente é muito covarde na hora de enfrentar outro
homem. Ele contou que cansou de ver machão agressor chorando ajoelhado, pedindo
perdão, suplicando para não apanhar ou para não morrer. E que um grande número
desses caras simplesmente fugiu de Miami, de medo do grupo deles.
– E quando veio para o Brasil, o chefe trouxe
todo esse conhecimento para cá?
– Isso mesmo. E constituiu um pequeno grupo em
Ribeirão Preto. Foi assim que nós, cada uma ao seu tempo, aprendeu tudo o que
sabe hoje de autodefesa feminina. Hoje, se um homem nos atacar, tentar nos
esmurrar ou estuprar, ele tem 90% de chance de sair muito, mas muito machucado.
Como o seu pai hoje ou ainda pior.
– Pior?! E pode?
– Sim, Fofinha,
depende do tipo de agressão que a gente sofrer. Se for tentativa de espancamento,
a gente faz como a Gládis fez com ele. Mas se for agressão sexual, aí coitado
do infeliz, aí a nossa reação é outra, é muito mais pesada.
– Pesada como?
– Bem – falou Gládis – Eu moo os ovos dele até
misturar a clara com a gema. Faço uma omelete dentro do saco dele. Vou fazer o
cara falar fino o resto da vida.
– Não entendi...
– Ela quer dizer – explicou Jeniffer – que ela
vai tentar rebentar os testículos do cara com uma sucessão de golpes
fulminantes e fortíssimos. Imagine aquele golpe que ela deu no saco do seu pai:
Pois multiplica por dez, é pra aleijar mesmo.
– Nossa, que horror!... E o que acontece com o
cara?
– Ele pode ficar sem o funcionamento dos testículos.
Aí começa a falar fino, perder os pelos do corpo, arredondar as formas... tudo por falta de hormônio masculino. Muitos
passam a se interessar por homens depois.
– Sim, a parte em que nós ensinamos a moer os
bagos de um estuprador tem um nome hilário: Chama-se “Como se tornar uma
maldosa fabricante de sopranos”.
Todas riram muito dessa última frase de Carmen,
Larissa entendendo que soprano era o cara que ia passar a falar fino, com
timbre de mulher. Era um horror imaginar Gládis moendo o saco de um sujeito,
batendo ali sem parar. Mas que era bem-feito, ah, era sim! Um estuprador é o
homem mais nojento que se pode imaginar na face da Terra.
– Quer dizer que o chefe ensinou tudo, tudo
para vocês, até mesmo essa coisa de moer os... os... os ovos do estuprador?
– Sim, senhora, tudinho, sem esquecer nada. E
nos ensinou a nos livrarmos dos medos mais profundos, e nos ensinou a termos
muito, muito orgulho de nossa condição feminina. Eu, por exemplo, digo sempre,
levantando as mãos para o céu: “Minha vida tem duas fases bem definidas: – antes e depois de Celso Teles.
– As de todas nós, com certeza...
– Pois eu acho que a minha também, gente. Desde
o bendito dia que eu tive coragem de ir lá naquela academia, pedir emprego para
ele. Desde então tudo vem mudando e depressa. E hoje eu tenho vocês na minha
vida e vocês são as primeiras amigas de verdade que eu tenho. E são as primeiras
mulheres que eu admiro e respeito; Vocês são bonitas também, que nem eu, mas
são muito mais do que eu, são profissionais de respeito, são gente séria, são
pessoas do bem. E são corajosas, não têm medo de nada. Ai, Deus permita que eu
possa viver sempre junto de vocês e que eu nunca faça nada que leve vocês a não
me quererem mais perto de vocês. Ai, eu acho que eu morria.
– Fofinha...
– Gládis enlaçou-a com afeto e deu-lhe um leve beijo na face – Como ela é
sincera, mamita, que coisa mais rara
uma pessoa assim. Eu diria, com o meu dom, que ela é completamente transparente, a criatura mais sem
maldade que eu já conheci.
Nesse exato momento, já dez horas da manhã,
alguém bateu suavemente na porta, abriu-a em parte e enfiou a cabeça para
dentro, dizendo:
– Com licença. Bom dia.
– Chefe!!!
– E Larissa corou fortemente, por causa do grito que tinha dado.
Era Celso Teles, que entrou dizendo:
– O Rondelli foi lá na Academia, foi me contar
o que aconteceu aqui. Eu estou mortificado por tudo. A começar por você,
Larissa, que nunca poderia ter sofrido essa agressão.
E, chegando bem junto dela, fixou o olhar na
feia mancha vermelha no rosto da moça, que ia começando a ficar mais escura. De repente, de maneira lenta e suave, ele
ergueu a mão até o rosto de Larissa e murmurou:
– Você permite?
E virou o rosto dela para a janela, para
iluminar ainda mais o lado esbofeteado, segurando-a suavemente pelo queixo.
Então se deu conta que tinha tocado o rosto lindo de sua musa pela primeira vez
na vida e estremeceu. Forçou-se a disfarçar sua perturbação e gaguejou:
– Que... Que selvageria... Não dá pra
aceitar...
Mas aí viu os olhos lindos de sua espanholita,
que o fitavam como se fossem focos de raio-x, sentiu-se desnudado e exposto. “Ela sabe!” – pensou na hora. Tirou a
mão do rostinho de Larissa imediatamente. Ah, a espanholita-filha e sua visão
de raio-x! É, não era possível esconder nada daquela cabecinha linda, estava na
hora de abrir o jogo com ela, já que não tinha coragem de falar de sua paixão
com o amigo Rondelli. Mas o que ele disse foi outra coisa bem diferente:
– Ainda bem que você deu o merecido castigo
para esse covarde, espanholita. Não sei nem como lhe agradecer. Eu estou muito,
muito, muito orgulhoso de você.
– Orgulho tem a discípula do seu mestre, jefito.
Celso teve um sobressalto e fez um sinal para Gládis
não falar mais aquilo, não queria que Larissa soubesse do assunto dos
treinamentos de luta...
– Ella ya
sabe de todo, jefito! – falou Gládis, cantarolando as palavras em espanhol,
usando um tema de flamenco.
– Anh? Sabe o que?
– Tudo
sobre o seu curso de autodefesa feminina, chefe – atalhou Paula.
–
Tudo?!
–
Tudinho, chefe. A gente dedurou tudo – foi a vez de Jeniffer se divertir com a
cara embasbacada do patrão.
– E eu adorei saber, chefe – disse Larissa
para ele, os olhinhos brilhando.
– Ah... Adorou? Não achou muito... bruto. Feio.
Sei lá.
– Achei bruto, violento, terrível... Mas achei
necessário, nobre, importante, precioso. E por isso achei bonito. O senhor é um
grande homem, chefe, um exemplo para todos os outros, um orgulho para todas
nós.
Falou isso num arroubo, os olhos faiscando
entusiasmo, mas ficando intensamente ruborizada ao mesmo tempo. “Que amor – pensou Gládis na mesma hora
– Ela se entrega, é completamente
transparente, E, ainda por cima, fica vermelha como um pimentãozinho por
qualquer coisa. Mas está tendo coragem de falar, está entusiasmada, está mesmo
orgulhosa dele. Que bom!”
Celso Teles mal podia acreditar:
– Quer dizer que você não achou ruim o que a
gente faz, Larissa?
– Claro que não, chefe. Eu estava lá, eu vi o
que a Gládis fez. E aí fiquei sabendo que ela pode fazer isso porque o senhor
ensinou pra ela.
– Ela pode fazer isso porque ela tem talento para isso, Larissa. O que eu
ensinei foi só um começo. Mas ela cresceu demais por contra própria, ao ponto
de ser uma instrutora maravilhosa agora. Melhor do que qualquer uma que eu
tenha treinado lá nos Estados Unidos. E olhe que foram várias dezenas de
excelentes lutadoras.
– Ai, jefito,
assim você me estraga, vou ficar mascarada. Aí relaxo, achando que sou a tal e
levo a maior surra na primeira vez que tiver que lutar.
– Dessa dor de barriga você não morre, hijita. Acho que ainda está para nascer
o homem que possa surrar você.
– Mamita,
você também?! Os dois querem me estragar é? Pois eu não ouvi nada disso, tá.
Você também, Larissa, não ouviu nada, deleta, deleta.
– Ah, espanholita, você não existe! Você é a
melhor lutadora e a melhor instrutora de autodefesa feminina que eu conheço e
ponto final!
– É isso mesmo, chefe – reforçou Paula – E tem
mais, ela está sempre fazendo a gente se reciclar, volta e meia vem com
novidades, outro golpe, outra técnica, que ela vive estudando na Internet.
E
Jeniffer completou:
– E não dá moleza pra gente. Eu, que sou uma
preguiçosa nata, então... Ela vem e coloca a gente na roda e obriga a fazer os
exercícios e a treinar com frequência. E agora, que a gente está morando todas
no mesmo edifício, em apartamentos com aquelas salas enormes...
– Quer dizer que vocês continuam aprendendo e
praticando sempre? – perguntou uma espantada Larissa.
– Não, só uma vez por semana, minha filha –
explicou Carmen Isso é muito importante,
a gente está sempre pronta para o que der e vier.
– Pois eu estou passada! Nunca que eu ia poder
imaginar que vocês todas, as quatro, sabem fazer isso que a Gládis faz. Vocês
são tão delicadas, elegantes, tão femininas, tão bonitas. Não só eu, ninguém,
mas ninguém mesmo pode acreditar no que eu estive vendo e estou sabendo agora.
Minha nossa!
– Claro, Fofinha
– comentou Gládis – E isso não nos deixa menos femininas, mas nos faz mais mulheres.
Mulheres mais completas, entende? Mulheres SEM MEDO!
– Ai, que maravilha. Que sonho, poder viver sem
ter medo...
– Pois eu não disse que ia tirar os seus medos,
menina? Agora você já sabe como.
– Mas, Gládis, eu não sou como vocês, eu não
tenho força. E não tenho coragem de entrar em luta assim. Eu sou muito covarde.
E morro de medo de levar pancada, de me machucar. Eu nunca ia conseguir...
– Regra número um, mocinha: Nunca diga nunca! E, se você nunca diz
nunca, você consegue se superar e se impor.
– Eu?! Mas justo eu? Ai, você não sabem, na
hora de enfrentar eu tremo, eu travo, morro de medo, eu já disse.
– Não foi bem isso que eu ouvi contar ontem à
noite, Fofinha. Eu soube de uma moça
valente e corajosa que enfrentou um animal que sempre bateu nela e enfiou-lhe
as unhas na cara.
– Ai, Carmen, aquilo foi atípico, não sei o que
deu em mim, quando eu vi eu estava enfrentando ele e dizendo tudo que vinha na
boca, eu nem pensava mais. Acho que nunca mais vou fazer nada assim.
– Não sabe o que deu em você? Pois foi RAIVA,
minha filha. A santa raiva, que é a nossa maior arma para enfrentar quem nos
desrespeita.
– Como assim, Carmen?
– Isso a Gládis ou o Celso podem explicar
melhor para você. Mas, de qualquer forma, como você agora é uma de nós, então
nós vamos ensinar todo que sabemos para você. E aí vagabundo nenhum neste mundo
vai voltar a bater ou ameaçar você.
– Você quer dizer... me ensinar a lutar assim,
como vocês? Mas olhem pra mim, eu não sou forte como vocês. Eu não sou ninguém
perto de vocês. Nem pra luta, nem pra trabalho. Eu sou um zero à esquerda,
eu...
E parou, porque a voz embargou e as lágrimas já
começavam a subir aos olhos.
Celso, que estivera o tempo todo quieto, a
contemplar sua musa com discreção e a ouvir, falou enfim:
– Dá para compreender porque ela é tão insegura
assim, porque ela se desvaloriza tanto. Mesmo sendo uma mulher tão bonita como
é. Você não acham que está na hora da Maria Amália ganhar um convite para vir passar
uns dias em Amarante, com todas as mordomias, num certo apart-hotel de primeiríssima, que nós temos nesta cidade?
– Gênio, chefe! Puta que pariu, gênio!!! Que
ideia do cacete! – explodiu Paula, com sua sutileza habitual de muitos momentos
– Claro, Maria Amália! Ela vem e dá um jeito na Fofinha pra nós.
CONTINUA
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