sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

VOTOS DE ANO NOVO
MILTON MACIEL

Num dia 1º de janeiro nada melhor do que fazer os clássicos votos de Ano Novo. Eu sei que você vem fazendo isso também desde a véspera. Porque todo mundo faz e fica chato você não fazer também. Só que eu não estou falando dos eternos votos de Feliz Ano Novo que você e todos os outros fazemos. Que são geralmente um boca-pra-fora que a gente aprendeu, desde criancinha, que é nossa obrigação fazer.

Por isso você, enquanto se encolhe e pisca, com medo que a rolha da garrafa de champanhe fure sua córnea, esfrega sua face na face daquela falsa da sua cunhada, aquela naja que espalha por aí que você é uma falsa, uma víbora, arma o beicinho para o beijinho no ar e diz, na beatitude do seu melhor sorriso: “Feliz Ano Novo, meu amor”. Ao que ela responde candidamente “Pra você também, querida.” 

Na verdade, você está desejando que ela tenha, em 2016, a mais terrível aterrissagem na rua da amargura. Ao passo que ela, mais sutil e mais bem-educada, está desejando apenas que você se foda. Se possível de verde e amarelo. Se possível numa passeata de verdes-amarelos onde um enorme PM jogue spray de pimenta no seu olho, de preferência no olho do seu... Ah, não, deixa pra lá, não é nada disso que eu quero enfocar aqui. Não é esse tipo de voto de Ano Novo!

O voto de Ano Novo a que me refiro e aquele que você faz todos os Anos-novos desde que ficou adulto. Voto de melhorar, cara. De dar duro para se corrigir, para progredir. Como deixar de fumar, emagrecer aqueles trinta e oito quilinhos a mais, que eram só cinco quando você começou a fazer votos anos atrás;  conseguir chegar no horário, parar de mentir tanto (afinal, como explicou Nelson Rodrigues, “os homens não mentiriam tanto se as mulheres fizessem menos perguntas”); deixar de trair sua mulher com sua amante, deixar de trair sua mulher e sua amante com seu namorado, fazer deste Ano Bom aquele em que, finalmente, como vem se prometendo há tantos outros, você escancara a porta do armário, salta pro mundo e se assume, santa!

O problema com os autovotos de Ano Novo é que a gente nunca consegue cumpri-los. Daí porque eles fazem tanto sucesso: é que eles têm vida eterna. “Não, agora é sério, desta vez vai, desta vez eu digo praquele muquirana que ele enfie esse empreguinho que ele me dá no rabo e vá se ferrar!” Lembra? Foi seu voto de 2008! O bom é que ele ainda está em pé. Como a maior parte dos nossos votos de Ano Novo, aliás. Eh, furada!

Então, sinceramente, eu lhe desejo bons autovotos para 2016 (Não, eu estou rindo de outra coisa, desculpe, não é de você, lembrei de uma piada antiga, só isso.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário