terça-feira, 12 de janeiro de 2016

LUA  OCULTA – 44   
MILTON MACIEL  

44- O AMOR SE TORNA PLENO
Fim do cap. 42: Então, para sua maior angústia, pensou que ele iria dispensá-la da empresa, que ela havia abusado da confiança do seu chefe e salvador, que não havia razão alguma para ele amar uma criatura infantil, imatura e incompetente como ela. 

Seus olhos se encheram de lágrimas e seu semblante começou a mostrar uma expressão assustada. Desconcentrou-se de seu esforço repetido de calar as palavras de Celso com beijos na boca e ele conseguiu finalmente dizer algo. E o que ele disse foi muito curto e mudou tudo o que ela estava pensando.

– Eu amo você, Larissa! Amo como nunca amei outra mulher em toda a minha vida. Amo você!
A emoção foi forte demais, Larissa começou a desfalecer. Mas fez um esforço imenso e, pela primeira vez, conseguiu reagir a tempo, antes de perder os sentidos. Celso Teles dizia que a AMAVA! Amava! E como um homem ama uma mulher, não como um amigo ama uma amiga! Era demais, era felicidade demais, ela não merecia! Mas ele não parava mais de falar agora que tinha os lábios livres.

– Eu estou profundamente apaixonado por você, Larissa, desde que você veio trabalhar aqui, desde antes, desde o dia em que você foi me pedir emprego lá na academia do Nelson. Desde aquele bendito dia eu fiz o que pude para resistir, mas fui me entregando cada vez mais a esse amor. E sofri, sofri com um cão danado, porque eu tinha certeza que você amava o Leon, que ia acabar casando com ele.

Larissa enfim conseguiu falar de novo. Estava encantada, embevecida...

– Pobre amor! Eu amo o Leonzinho como meu grande amigo. Nunca amei ninguém de fato na vida, não um homem quer dizer. Quer dizer, sim, um homem, o padrinho. Ah, já estou me atrapalhando toda! Pronto, é mais fácil dizer: eu amo você, meu chefinho. Amo, amo, amo. E isso é a coisa mais gostosa de dizer na vida, nunca senti nada igual: eu amo, amo, amo, amo, amo!

O beijo que veio a seguir foi o primeiro mais demorado, o primeiro a que os corpos reagiram com excitação. Homem e mulher enfim! Celso tentou se controlar, não queria que Larissa percebesse. Mas era tarde demais. Ao sentir o volume quente e rijo entre suas coxas, ela não deixou que ele se afastasse, apertou-se toda contra o corpo dele e isso a foi deixando morta de tesão.

Celso tinha muitos receios ainda, muito respeito por Larissa também, receava assustá-la ou ser afoito, desrespeitoso. Mas Larissa era só uma criança grande, não tinha tabus nem medos, não se atinha a convenção alguma nessa área. Quando sua excitação chegou ao auge, ela murmurou:

– Ai, chefinho, que tesão! Me come, me come! Ai, urgente, agora, agora!

– Mas... Mas, meu amor, você tem certeza?... Eu posso esperar...

– Mas eu não, chefinho, eu não posso!... Vem comigo pro meu apartamento, pelo amor de Deus! Vem!

Celso olhou ao redor, o homem ferido por ele continuava ali, gemendo e se encolhendo todo, ainda sangrava, embora menos. Pegou o celular e chamou Nicanor.

– Nico, recolhe o cara aqui em baixo. Faz o que você quiser com este traste, eu vou subir para ver uma coisa, daqui um pouco apareço aí onde você está.

Guardou o celular, recolheu nos seus os lábios ansiosos de Larissa, que se apertou toda contra ele de novo, fazendo-o explodir novamente em fogo. Ela se esfregava e gemia, embalada, louca de desejo. Então Celso tomou-lhe a mão e começaram a caminhar, ainda enlaçados, parando a todo momento para se beijar com fogo crescente. No elevador para o terceiro andar, as mãos sôfregas e gulosas foram em busca de pontos mais cálidos, mais tórridos. Entraram no apartamento de Larissa aos encontrões, ela já arrancando a roupa dele, arrancando sua própria roupa. Jogaram-se já nus sobre a cama de solteira dela e ali fizeram amor pela primeira vez na vida.

E para Larissa, foi a primeira vez em que realmente fez amor! Jogou-se inteira, arfando, gemendo, gritando, tomando as iniciativas, como nunca tinha feito antes com Leon. Ah, aquilo era completamente diferente, inacreditavelmente melhor, mais forte! Tanto que teve seis orgasmos sucessivos, algo que nunca tinha lhe acontecido. 

Celso, naturalmente, como homem, só teve um: definitivo, arrasador, enlouquecedor. Contudo, era suficientemente experiente e maduro para reconhecer e ter controle sobre seu próprio orgasmo. Segurou-o enquanto pôde, para deixar Larissa gozar mais e mais. Depois, quando viu que não havia mais como conter o final, retirou-se rapidamente de dentro dela no momento certo e aparou na própria mão a semente que não devia fecundar uma mulher que não havia pedido por isso.

Após esse grand finale, ficaram os dois enlaçados na cama, de frente um para o outro, as mãos dadas, olhos nos olhos, adorando-se mutuamente. Não precisavam dizer mais nada, tudo estava dito, tudo estava claro, transparente. Aquilo era o Amor!

Larissa então teve um movimento espontâneo, ingênuo e sincero como tudo o que vinha dela. Deu um salto da cama. Ficou em pé, deixando que os olhos de Celso vissem pela primeira vez, com perspectiva, em todo o seu esplendor, o corpo totalmente nu de sua amada. Ele ficou de queixo caído, como um voyeur ante uma Afrodite. Mas foi despertado de seu transe pelo gritinho de Larissa e pela frase que ela falou:

– Vamos lá em baixo, vamos contar pra todos, vamos contar pra Gládis!

E demonstrava toda a pureza de sua alma infantil, estava alegre e exultante, louca para contar para todos que eles tinham acabado de fazer amor numa cama. Celso, por sua vez, sentia-se pouco à vontade para fazer tal revelação a todo aquele pessoal, um monte de homens. Ainda se fosse só para a espanholita...

Mas Larissa já estava colocando um vestidinho leve por cima do seu...nada. E fez com que ele se vestisse rapidamente também, ajudando-o a achar as peças e fechar os botões. Aí puxou-o pela mão para o corredor e desceu as escadas correndo, de dois em dois degraus, seguida por ele.

Quando entrou no apartamento de Gládis, só encontrou ali as quatro mulheres. Todas sorrindo maliciosas, todas olhando para ela e Celso com olhares atrevidos.

Larissa gritou:

Ele me comeu! Ele me comeu! Não, coitado, eu que comi ele. A gente se ama! A gente fez amor na minha cama lá em cima, vocês acreditam?

Todas explodiram numa risada geral, perplexas com a simplicidade direta, com a ingenuidade da fala da Fofinha. Celso simplesmente não sabia onde enfiar a cara, estava na maior saia justa, jamais poderia esperar que sua menina fosse assim tão menina, tão sincera, tão direta. E que se mostrasse tão feliz!

Gládis respondeu então:

– Todo nós já sabíamos desse amor, Fofinha. Acho que não há ninguém lá na firma que não saiba que o Celso adora você desde sempre. E eu, particularmente, sabia que você amava o Celso também, mas não era capaz de perceber seu próprio amor.

– Nossa, eu sou uma tapada mesmo, hein, gente! Mas é verdade, sim. Tudo o que a Gládis diz é sempre verdade. Eu já gostava muito dele, agora eu acho que até já tinha ciúmes dele. Mas era burra demais para entender.

Gládis aproximou-se, deu um abraço em sua menina-mulher e perguntou:

– Está feliz agora, Fofinha?

– Nossa, quanto! Até porque, além de tudo, ele é muito melhor de cama que o Leonzinho. Ah, eu preciso contar pra vocês as coisas que ele faz!

– Não, Larissa! Não!!! Por favor, isso é coisa nossa.

– Metade é minha, meu amor. E o que é meu, eu divido com as amigas que eu amo. Que vergonha boba é essa, amor? Elas precisam ouvir como você é bom de cama! Como ele sabe demorar pra gozar, é uma delícia, você  precisam ver!

Ver, Larissa?! VER??!! – reclamou Celso, horrorizado.

A espanholita veio em socorro, com a solução:

Jefito, se manda, eu expulsei os homens daqui, fiz eles arrastarem aqueles porcarias lá pro térreo, juntarem com o cara que você disciplinou. Vai pra lá agora, vai ver o que eles têm que fazer, deixa a mulherada aqui. Porque esta menina aqui está tão enlouquecida por você, que não vai sossegar enquanto não nos contar tudo o que aconteceu entre vocês. Aliás, só precisa contar no elevador e no quarto, porque lá fora, no jardim, a gente viu tudo daqui da janela.

– Nossa, vocês viram, é? Mas como?

– Ora, Fofinha, o jefito vai poder confirmar que fui eu que mandei ele apertar você e não soltar mais, quando você apagou. Não soltar de jeito nenhum. Aí, quando duas pessoas se amam tanto, é só esperar que a natureza siga seu curso. Não podia dar outra.

Desta vez Larissa estava se sentindo tão fantástica, tão livre, tão à vontade, que foi ela mesma que brincou:

– Claro que não podia dar outra. Nada de outra dar pra ele. Só eu que dou agora. E quero dar muito, muito, hoje de novo, a amostra foi boa, mas foi pouco. Não vai sumir por aí, meu amor, vem terminar a noite comigo, no meu apartamento.

As cinco mulheres riram, Celso se sentiu envergonhado de novo e pediu licença para ir ter com seus homens. Era a última coisa que queria fazer, afastar-se um minuto que fosse de Larissa. Mas ordem de Gládis De Rios é para ser ouvida e, se você tem juízo, cumprida. Manda quem pode, obedece quem tem juízo. Na porta, Larissa interceptou-o, deu-lhe um tremendo beijo na boca e uma mordida na orelha:

– Não demore, amor. Aqui eu conto rápido. Depois vou subir, tomar aquele banho pra ficar prontinha pra você. Ai!...

Celso saiu como se andasse nas nuvens. Aquela era Larissa? Como ela podia ter transicionado de uma molequinha tímida e inibida, para aquela amante fogosa e sem qualquer inibição, inclusive na frente das outras mulheres. E, dos outros homens, Celso teve certeza que a garota teria falado e feito exatamente a  mesma coisa se os cinco homens estivessem presentes no apartamento. Ah, bendita espanholita que os tinha mandado passear, bendita maestra, regente dessa orquestra do amor, que soubera reger um paulista medroso e uma catarinense mais que medrosa. Ela, a espanholita, e somente ela, fizera com que os medos fossem todos quebrados naquela madrugada maravilhosa.

Ah, se o miserável do Pitoco pudesse imaginar que, mandando seus capangas assassinar Gládis, tinha criado todas as condições para que ele, Celso, fizesse amor com a filha dele! Era irônico. Mas era gostosíssimo.

Ele tinha visto um autêntico milagre acontecer, em coisa de quinze minutos. Foi o tempo que decorreu entre os dois tiros que deu nas costas do bandido, o desmaio de Larissa, a ordem peremptória de Gládis e o primeiro beijo entre eles. Quinze minutos, talvez muito pouco mais. E acabaram todos os seus medos de nunca ser aceito por Larissa. E acabaram todas as misteriosas coisas que faziam Larissa não perceber que já o amava.

Um milagre, um verdadeiro milagre! E a santa milagrosa atendia pelo nome bendito de Gládis De Rios. Nunca, por mais que vivessem, Larissa e ele seriam capazes de pagar todo o bem que haviam recebido de sua santinha espanhola. Ah, mas ele precisava pedir ajuda a Larissa, juntos tinham que achar uma forma de retribuir tudo o que a espanholita fizera de bom para as vidas deles.

Quando chegou ao térreo, viu que dois dos bandidos estavam tão amarrados em grossas cordas que caiu na gargalhada.

– Puxa, Nicanor, esses seus pacotes pra presente vão dar um trabalhão pro pobre do delegado desembrulhar! E o cara que baleei?

– Está vivo o desgraçado, vaso ruim não quebra. Leva duas balas nas costas e está aí inteiraço, só gemendo como uma mulherzinha. Até já parou de sangrar.

– Mas é natural, Anselmo. Eu não atirei para matar, dei dois tiros de dissuasão, que não atingem partes vitais, mas inutilizam um desgraçado.

– Tiros de que?

– De dissuasão, Nicanor. A gente praticava muito isso lá em Miami. Não esqueça que eu era instrutor de luta e instrutor de tiro lá.

– Mas foram tiros quase no escuro, o alvo se movendo rápido, a moça segura por ele, podendo ser atingida, se um tiro saísse errado.

– Eu não podia errar, Anselmo. E não errei, a vida de Larissa estava em jogo. Mas foi fácil demais, eu estava muito perto, atrás daquele arbusto alto. Foi só esperar o instante certo e pou! Ele soltou a arma dele no primeiro tiro, então dei só mais um, para ele não poder mover os braços mais.

– Porreta, doutor! – falou Nicanor, traindo sua origem nordestina. Isso é que é saber usar uma arma. E, ainda por cima, com silenciador.

Pois é, esse era o revólver do Rondelli, que eu tomei dele, porque ele estava pensando em ir ajustar as contas com o Valdemar hoje de manhã. Fui em casa só para buscar um silenciador para esse revólver. E, claro, voltei para cá e fiquei escondido do outro lado da rua, atrás da banca de revista.

Italiano macho esse, batuta! Ia pro sacrifício, é?

– Ia, Luizão. Acha que já está muito velho, que pode acabar os dias na cadeia, mas livra as meninas do porco do Silva. Mas eu não deixei, é claro. Porque vocês e eu é que vamos fazer esse serviço pro mundo, não precisa o coitado do Rondelli se lascar.

– Muito bem chefe. Pode contar com a gente, o senhor sabe.

– Como sei, Nicanor! Vocês são um bando de gente de primeira, vão me ajudar a botar ordem nesta cidade. E aí eu vou ter o prazer de dar a recompensa que cada um de vocês merece.

– Não carece, doutor. Não carece, A gente não faz isso por dinheiro, faz isso pelo senhor.

 A palavras de Anselmo deixaram Celso Teles sem poder falar, comovido. Esperou um pouco e respondeu, tentando disfarçar a voz embargada.

– Pois é, nós somos uma grande família. Um por todos e todos por um.

– O senhor é que é um grande líder, chefe. Um grande líder e um grande amigo. Poucos chefes no mundo são capazes de ser assim. Um por todos e todos por um!

Os seis homens repetiram a frase dos mosqueteiros de Alexandre Dumas em uníssono. A brigada anti-Valdemar Silva estava mais forte do que nunca!

Nicanor amarrou também o bandido baleado e trancou todos dentro de um dos elevadores. Anselmo, armado, ficou de guarda e os outros foram tirar um cochilo ali mesmo na recepção.

Às seis horas da manhã, Sonia Assad apareceu ali e ficou sabendo de toda a novidade. Correu para acordar seus filhos, que vieram céleres ver os três marginais amarrados como embrulhos, empilhados dentro do elevador.

O filho de Sonia se ofereceu:

– Se vocês quiserem eu pego a moto e vou pra frente da delegacia. Quando chegar o delegado, que eu nem conheço, porque é novo, mas eu me informo, venho correndo avisar vocês. Melhor, já convenço o homem a vir pra cá, por que isso vai ser preciso, não vai?

– Vai sim, rapaz. Você está certíssimo. E, já que o chefe não está por aqui, eu tomo a decisão por ele. Pode ir. Obrigado.

Mas o chefe está por aqui, sim, Nicanor. Eu não vi ele sair do prédio. Deve estar em um dos apartamentos e...

Que ele deve estar em um dos apartamentos, cara, é mais do que certo. Que nesse apartamento deve ter uma certa menina loirinha, também deve ser mais do que certo. A conclusão qual é?

– Que a gente não deve incomodar o chefe!


– Isso mesmo, meu camarada. Então a gente mesmo resolve, tá?

CONTINUA

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