sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

ROBOSVALDO E A BOTÂNICA 
MILTON MACIEL 

Robosvaldo Santana tinha mesmo um nome estranho. O velho Santana não cansava de explicar:

– O nome que a patroa queria para o moleque era Osvaldo. Mas na hora do registro, quando a pessoa do tabelionato perguntou o nome do moleque, eu lembrie do susto que levei, quando vi aquele bebê pela primeira vez no berçário: ele tinha nascido com a cara toda achatada e vermelha; e tinha a pele do resto do corpo toda amarela (me explicaram depois que era uma tal de icterícia, sei lá eu o que é isso!). Aí eu pensei: isso não é um bebê humano, mais parece um robô. E, quando saiu o nome, eu lasquei Robosvaldo. A verdade é que eu queria botar nele só o nome de Robô Santana.                     

Pois o Robosvaldo talvez tenha desenvolvido algum trauma por causa do seu nome. Na escola, os colegas o apelidaram do óbvio: Robô!

Depois de adulto, quando começou a trabalhar numa repartição pública e assumiu, com o passar do tempo, a divisão de compras, os colegas passaram a chamá-lo de Roubosvaldo, insinuando, maldosos, que a rápida ascensão econômica do colega tinha duvidosas origens. Maldito nome que se prestava a tal tipo de trocadilho! Roubosvaldo, veja só!

Pois Robosvaldo ou Roubosvaldo acabou casando e tendo duas filhas. Ficou felicíssimo por terem nascido exatamente duas mulheres. É que Robosvaldo tinha uma paixão secreta pela botânica. Não que ele entendesse algo do riscado: lia, lia e não aprendia nada. Mas decorava os nomes lindos das plantas e de suas classificações. Dois em particular ficaram para sempre em sua cabeça: epífita e equinácea (a da foto!).

Não sabia muito o que eles significavam, apenas que epífita é um tipo de planta folgada e sem vergonha, que vive em cima das outras plantas, só curtindo com a cara delas. Já a tal da equinácea parece que era uma planta que os americanos usavam contra resfriado. Mais ou menos isso. Mas não tinha importância alguma, porque o que importava era só a lindeza dos nomes. Assim, quando suas meninas nasceram, lascou-lhes os nomes de Epífita e Equinácea.

Para esta, a primogênita, o funcionário do cartório não entendeu direito e pensou que o nome da menina era Inácia. E lavrou Equina Inácia. O que ficou sendo um problema para a criança. As colegas na escola a chamava de Eqüina (com trema, na época), Cavalar, Inácia Cavalona e por aí vai.

Já Epífita teve mais sorte durante algum tempo, até que, no secundário, colegas maldosos começaram a chamá-la de Epitáfia, desenhando lápides de túmulos nos seus cadernos e livros. A mãe, condoída da situação, conseguiu em juízo uma alteração de nome, passando a menina a chamar-se Epifalda, em homenagem ao pai. Não foi lá uma grande escolha, por que imediatamente ela passou a ser a Epifralda e os desenhos, agora, eram de pequenos cocôs estilizados.

É, os pais podem causar danos permanentes a seus filhos, por causa dos nomes que escolhem para eles, sem pensarem bem no que estão fazendo. É celebre o caso verídico, no interior de São Paulo, de um pai fascinado com os nomes americanos da fábrica de uma margarina em moda na época, a Anderson Clayton. Escolheu esses nomes para o filho. Mas, quer pelo falar caipira do pai, quer pelo entender caipira do homem do cartório, o menino foi registrado e arrastou vida afora o estrambótico nome de Adérso Creitão.


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