ROBOSVALDO E A BOTÂNICA
MILTON
MACIEL
Robosvaldo
Santana tinha mesmo um nome estranho. O velho Santana não cansava de explicar:
–
O nome que a patroa queria para o moleque era Osvaldo. Mas na hora do registro,
quando a pessoa do tabelionato perguntou o nome do moleque, eu lembrie do susto
que levei, quando vi aquele bebê pela primeira vez no berçário: ele tinha
nascido com a cara toda achatada e vermelha; e tinha a pele do resto do corpo
toda amarela (me explicaram depois que era uma tal de icterícia, sei lá eu o
que é isso!). Aí eu pensei: isso não é um bebê humano, mais parece um robô. E,
quando saiu o nome, eu lasquei Robosvaldo. A verdade é que eu queria botar nele
só o nome de Robô Santana.
Pois
o Robosvaldo talvez tenha desenvolvido algum trauma por causa do seu nome. Na
escola, os colegas o apelidaram do óbvio: Robô!
Depois
de adulto, quando começou a trabalhar numa repartição pública e assumiu, com o
passar do tempo, a divisão de compras, os colegas passaram a chamá-lo de Roubosvaldo, insinuando, maldosos, que a
rápida ascensão econômica do colega tinha duvidosas origens. Maldito nome que
se prestava a tal tipo de trocadilho! Roubosvaldo, veja só!
Pois
Robosvaldo ou Roubosvaldo acabou casando e tendo duas filhas. Ficou felicíssimo
por terem nascido exatamente duas mulheres. É que Robosvaldo tinha uma paixão
secreta pela botânica. Não que ele entendesse algo do riscado: lia, lia e não
aprendia nada. Mas decorava os nomes lindos das plantas e de suas
classificações. Dois em particular ficaram para sempre em sua cabeça: epífita e
equinácea (a da foto!).
Não
sabia muito o que eles significavam, apenas que epífita é um tipo de planta
folgada e sem vergonha, que vive em cima das outras plantas, só curtindo com a
cara delas. Já a tal da equinácea parece que era uma planta que os americanos
usavam contra resfriado. Mais ou menos isso. Mas não tinha importância alguma,
porque o que importava era só a lindeza dos nomes. Assim, quando suas meninas
nasceram, lascou-lhes os nomes de Epífita e Equinácea.
Para
esta, a primogênita, o funcionário do cartório não entendeu direito e pensou
que o nome da menina era Inácia. E lavrou Equina Inácia. O que ficou sendo um problema
para a criança. As colegas na escola a chamava de Eqüina (com trema, na época),
Cavalar, Inácia Cavalona e por aí vai.
Já
Epífita teve mais sorte durante algum tempo, até que, no secundário, colegas
maldosos começaram a chamá-la de Epitáfia, desenhando lápides de túmulos nos
seus cadernos e livros. A mãe, condoída da situação, conseguiu em juízo uma
alteração de nome, passando a menina a chamar-se Epifalda, em homenagem ao pai.
Não foi lá uma grande escolha, por que imediatamente ela passou a ser a
Epifralda e os desenhos, agora, eram de pequenos cocôs estilizados.
É,
os pais podem causar danos permanentes a seus filhos, por causa dos nomes que
escolhem para eles, sem pensarem bem no que estão fazendo. É celebre o caso
verídico, no interior de São Paulo, de um pai fascinado com os nomes americanos
da fábrica de uma margarina em moda na época, a Anderson Clayton. Escolheu
esses nomes para o filho. Mas, quer pelo falar caipira do pai, quer pelo
entender caipira do homem do cartório, o menino foi registrado e arrastou vida
afora o estrambótico nome de Adérso
Creitão.
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