quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

ALLINE DE TROYES – 15ª parte: O Sacrifício do Abade 
MILTON MACIEL 

Fim da 14ª parte:
A fumaça estava totalmente insuportável. Eu já começa a sufocar seriamente e comecei e me sentir muito tonta. Mesmo assim investi com toda a minha força e com todo o meu peso, arrojando-me com raiva contra a pesadíssima mesa. E ela se mexeu! E, ao mover-se, um ruído diferente veio do chão. Ao mesmo tempo, uma faixa do teto e da lateral superior da sala se abriu: ela era feita de metal e disfarçada com tijoletas finíssimas de pedra lavrada. Acima da minha cabeça, estrelas brilhavam. O ar se fez rapidamente puro e a última madeira que queimava se apagou. Eu estava salva do sufocamento!

15ª parte: O Sacrifício do Abade 
– Quer dizer que a tal pedra mágica, a pedra do mecanismo, não estava na parede, estava no chão!

– Exatamente, centurião. Uma das patas da mesa estava engenhosamente encaixada nela. Quando eu me joguei com raiva sobre a mesa, a pedra foi movida para cima e o mecanismo atuou imediatamente. Na hora eu tive certeza que meu druida sabia, de antemão, que eu chegaria nesse ponto, que eu conseguiria ativar o mecanismo de abertura. Ele sempre teve uma capacidade incomum de ver dentro do futuro. Tudo o que ele e Lucius quiseram foi ganhar tempo, um tempo precioso em que eu ficaria trancada e, portanto, longe do palco dos acontecimentos mais dramáticos, longe dos alamanos que poderiam me desgraçar e matar.

– E foi difícil sair do aposento?

– Muito fácil, general. Tomei distância, corri e saltei, consegui me segurar na borda da abertura lateral, na parede. Então suspendi meu corpo e olhei cuidadosamente para todos os lados. Não vi nada nem ninguém. O silêncio era quase total. Tentei avaliar quanto tempo tinha se passado desde que eu fora trancada naquela sala. Algo entre uma hora e meia e duas horas, concluí. Onde estariam agora os invasores? E as pessoas todas? E meu homem e meu mestre?

A seguir saltei de novo para dentro da peça e apanhei um dos arcos que eu tinha levado para ali. Arremessei-o pela abertura para o lado de fora. Apanhei também as três aljavas cheias de setas e fiz a mesma coisa. Depois voltei a correr, tomar impulso e saltar. Passei outra vez pela abertura. E, desta vez, saltei sobre a grama alta que havia do lado de fora. Apanhei, uma por uma, todas as flechas que tinham se espalhado, enchi as três aljavas, escondi duas delas entre os arbustos. Prendi a terceira às costas, coloquei uma flecha no arco e saí andando com cuidado, sem fazer barulho, em direção à frente do prédio da abadia. Ia preparada para o pior. Na certa eu veria dezenas de cadáveres de servidores e de padres. Estremeci ao imaginar, entre os corpos, meu amor e meu druida. E veria os odiosos invasores. Calculei que tinha quatorze setas na aljava. Antes que me matassem, eu haveria de acabar com quatorze daqueles miseráveis.

Mas, ao chegar à entrada do castelo, não vi ninguém. Fiquei estupefata. Onde estariam todos? Onde estariam os corpos? Foi quando um garoto saiu de trás de uma coluna e veio correndo para mim. E ele me contou o que tinha acontecido.

As pessoas, quando surpreendidas pelos gritos e ruídos dos alamanos, correram todas para a igreja, trancando-se lá dentro. Os invasores levaram um certo tempo, entrando em todos os aposentos e procurando coisas para pilhar. O que eles procuravam era, acima de tudo, objetos de ouro, que acreditavam existir no templo dos católicos. Quando enfim encontraram a pesada porta lavrada que dava acesso ao templo, começaram a gritar para que abrissem a porta. Como ninguém fez isso, passaram a se arrojar contra a ela, em grupos, para arrombá-la. Mas a porta nem se mexia, ela é incrivelmente forte e bem encaixada.

Os alamanos foram então cortar uma árvore bem grossa com seus machados e, depois de um tempo mais ou menos longo, chegaram com o aríete improvisado. Começaram a investir contra a porta e esta começou a ceder. Foi quando chegou, pelas costas deles, um homem alto com vestimentas sacerdotais. Junto com ele, um outro sacerdote, este com vestes tipicamente druídicas. Os dois, falando o idioma alamano, negociaram com o chefe do bando, um certo Walmaric. Ofereceram-se como reféns, dizendo que certamente eles valiam muitas vezes mais do que os modestos vasos e objetos de prata lavrada que havia na abadia. Nada ali era de ouro. Os romanos e os gauleses pagariam por eles dois um bom resgate. A única condição que eles impunham é que os alamanos, livres para pegarem todo e o qualquer objeto ou material que os interessassem na abadia, poupassem e respeitassem todos os seres humanos que estavam dentro da igreja. Nesse caso, os dois sacerdotes se ofereciam como escravos e colaboradores dos alamanos. Caso contrário, lutariam até a morte imediatamente. E puxaram suas espadas.

Os alamanos confabularam por um curto espaço de tempo e acabaram aceitando a proposta dos religiosos. Agradou-os muito o fato de terem ali dois intérpretes, para se comunicarem com os gauleses cujas propriedades viessem a saquear a seguir. E que esses dois fossem homens de religião de um alto nível, que seriam respeitados pelos galo-romanos locais. E, com certeza, haveriam de proporcionar muito ouro como valor de seus resgates.

Abertas as portas do templo, Walmaric e seus homens ignoraram as pessoas ali dentro e se dedicaram a colocar os objetos, adornos e crucifixos de prata em grandes sacos. Outros homens vinham de várias direções, com o mesmo tipo de sacos, onde tinham recolhido as poucas coisas de valor que os habitantes da abadia tinham em seu poder. Então mandaram que os dois religiosos preparassem dois cavalos e montassem. E, tão rápido quanto chegaram, foram embora galopando na madrugada gaulesa. Junto levaram o abade de Troyes e o druida Kelvin.

O menino me levou até à frente da igreja, onde todas as pessoas continuavam ajoelhadas, acompanhando preces de louvor e agradecimento conduzidas pelos padres. Seus poucos pertences de valor, assim como os da igreja, haviam sido pilhados. Mas estavam todos vivos e incólumes, sem um único arranhão. Isso jamais teria acontecido, não fosse a intervenção providencial, milagrosa mesmo, de seu abade e do druida celta. Na certa estariam todos mortos agora. Cânticos e preces foram ofertados, rogando proteção aos dois religiosos, que haviam se oferecido em sacrifício, para salvar as vidas de todos os demais. Um autêntico gesto crístico!

– Realmente uma coisa notável, uma atitude não só de grande coragem e sacrifício, mas, acima de tudo, de grande inteligência. De fato, de dois homens de tal envergadura, como Lucius Dracus e o druida Kelvin, só se poderia esperar atitudes lúcidas incomuns, como essa – comentou o general Jovinus.

– Agora está explicado, para mim, porque você se embrenhou na floresta atrás dos alamanos. E porque os combateu com tanta fúria e determinação.

– Tem toda a razão, centurião Marcellus. O que eu fiz foi ficar observando de longe, sem entrar na igreja, que aquilo que o menino tinha me contado era verdade. Eu estava vestida com uma camisola de mulher, mal oculta pelo manto preto que me cobria. Corri então para os aposentos do abade, nossa alcova de amor, e troquei de roupa, reassumindo minha identidade de Gilles de Troyes. Apanhei meu punhal, algumas frutas para comer no caminho e me embrenhei na floresta a cavalo, levando meu arco e as três aljavas de flechas comigo. Segui os rastros abundantes deixados pelos alamanos. Esperei que eles acampassem e os fiquei observando de longe, do alto das árvores. Meu coração quase saltou do peito quando vi meu abade e meu druida ao redor da fogueira, conversando animadamente com os alamanos. Sim, eles estavam vivos e estavam bem, um grande alívio para mim.

– E, a partir daí, o que aconteceu que fez com que você deixasse de seguir os alamanos que tinham seus dois amigos como prisioneiros e viesse aparecer em nosso acampamento?

– General Jovinus, não fazia nem uma hora que eu estava no meu posto de observação, quando sentinelas alamanos anunciaram a chegada de um outro grupo. De fato, várias dezenas de cavaleiros chegaram, desceram dos cavalos e começaram a conversar com os outros. Eu estava longe demais para ouvir o que disseram, mas o abade e druida tudo ouviram, porque os alamanos tinham certeza que eles não poderiam comentar o que ouviram com ninguém fora daquele acampamento, já que eram mantidos prisioneiros e vigiados. Num certo momento, as vozes foram ficando mais elevadas e os ânimos se alteraram. De repente, o homem que parecia ser o líder dos cavaleiros que chegaram sacou da espada e avançou sobre o chefe Walmaric. Mas os outros homens os seguraram e impediram que os dois entrassem em luta. Então os visitantes foram embora, imprecando contra os que ficaram, visivelmente fazendo ameaças.

Continuei firme em meu posto de observação e fui vendo os homens se recolherem para dentro de suas tendas e para debaixo de seus abrigos improvisados. Meus dois homens foram colocados em uma tenda e dois alamanos ficaram do lado de fora, para vigiá-los. Vi que um outro homem entrou na tenda trazendo dois pedaços de corrente e logo após saiu dali sem elas. Era evidente que ele tinha acorrentado os prisioneiros. Então resolvi que eu iria entrar na tenda deles.

– Uma empreitada impossível, moça! Sentinelas na entrada da tenda, um acampamento cheio de alamanos. Como você poderia se aproximar da tenda?

– Ora, general, uma acampamento cheio de alamanos cansados, que dormiam como pedras. Eu tinha que me preocupar era com os sentinelas. Aqueles dois, já que tinham que guardar a tenda dos prisioneiros, ficaram como vigias daquela parte do acampamento também. Eu precisava fazer algo que os distraísse e os fizesse sair do posto. E que não fosse barulhento, para não acordar os outros. Eu poderia abrir a porteira do potreiro improvisado e soltar alguns cavalos, mas isso iria acordar muitos soldados. Pensei, pensei e no fim só vi uma solução. Desci da árvore, retirei e escondi minhas roupas de Gilles. Fiquei só com a roupa de baixo, seminua, o corpo de mulher se oferecendo. E me aproximei sem fazer ruído, até que os dois homens me viram.

– Mas isso foi loucura!

– Mas foi a única loucura que eu podia fazer na hora, centurião: me oferecer para aqueles homens. De longe fiz sinal a eles que não fizessem barulho e mostrei-lhes uma moeda de cobre grande, presa entre meus dedos. Eles entenderam que esse era o meu preço. Vi que eles tiraram a sorte entre eles, com os dedos, e o vencedor, tirando as sandálias, veio pé ante pé até o ponto onde eu estava. Eu saí andando bem devagar mais para o meio do mato, o homem me seguindo e já passando a mão no meu traseiro. Então parei e me voltei para ele. Fiz sinal que ele esperasse um momento e retirei o pano estreito que cobria meus seios, que surgiram se oferecendo. O home os pegou e, como eu esperava, levou a boca a um dos bicos. Nessa hora ele ficou todo meu. Dei-lhe um tremendo golpe de cutelo, ou seja, bati com a mão direita em forma de cutelo exatamente no ponto que o druida tinha me ensinado, entre o pescoço e a nuca. O alamano caiu de joelhos já desacordado. Roubei a bolsa dele e uma pulseira de ouro que ele tinha, para que pensasse, ao acordar, que tinha sido vítima de roubo apenas.

– E o outro sentinela?

– Bem, como o primeiro ia dormir por um bom tempo, fui buscar minhas roupas de menino. Me esgueirei com elas por trás das tendas, bem no limite do acampamento, até chegar à altura da tenda dos prisioneiros. Escondi ali as minhas roupas de Gilles. Fiz um pequeno ruído, suficiente para que o outro sentinela me visse. Ele deve ter estranhado eu estar sem o colega dele. Mas nessa hora eu apelei de vez: deixei cair toda a minha roupa de baixo, fiquei totalmente nua. O homem quase saiu correndo em minha direção, eu tive que fazer sinal para que ele tomasse cuidado, que não fizesse barulho. Quando ele chegou e foi querendo me agarrar, eu peguei a cabeça dele empurrei para os meus seios. Por sorte aquele ali também mordeu a isca. Levou o golpe na parte de trás da nuca, quase no pescoço, e também emborcou de frente, sem dar um gemido. Agradeci mentalmente outra vez a mestre Kelvin pela lição bem dada. Roubei esse outro homem também. Para me divertir ainda mais, roubei o par de sandálias dele!

– Mas você é capaz de cada coisa, Alline! Que cabecinha!

– Não, centurião, sejamos justos: que treinamento! Meus mestres é que foram excepcionais. Bom, com os dois malogrados fregueses da prostituta de Troyes dormindo como anjinhos, o caminho estava livre para a tenda dos meus dois homens. Vesti as roupas de Gilles novamente. Entrei silenciosamente, com o coração acelerado, ia poder rever e beijar o meu amado. Deixei que meus olhos se acostumassem à escuridão e me preparei para acordar o abade Lucinus. Mas uma voz sussurrada suavemente ao meu ouvido me mostrou que meu druida estava acordado:

– Você demorou, Alline de Troyes! Pensei que você fosse dar um jeito nesses dois sentinelas mais rápido. Aplicou o cutelo neles?

– Mestre! O senhor sabia?

– Bem eu senti que você estava rondando por cima das árvores faz um bom tempo. Aí fiquei esperando que você desse um jeito de entrar aqui. E, como o único obstáculo seriam aqueles dois lá fora, o resto foi fácil de imaginar. Afinal, só havia uma coisa a fazer e aposto que não foi o senhor Gilles que fez.

– Não, foi Alline que se ofereceu aos homens.

– Ótima tática! Você continua sendo o meu orgulho maior como discípula. Mas agora vamos de fato acordar esse dorminhoco. Aliás, tive uma ideia melhor. Vou deixar que você acorde o homem e que vocês façam aqui o que bem entenderem. A tenda é de vocês. Eu vou sair um pouco.

– Mas Mestre, o senhor está acorrentado pelo tornozelo!

–Não me decepcione, Alline. Não subestime o seu professor. Ainda está para ser inventada a corrente que consiga prender Kelvin da Bretanha – e, ante meus olhos atônitos, já acostumados à escuridão, o Mestre retirou a corrente de sua perna como se ela fosse um brinquedo. E disse:

– Quinze minutos no máximo, sejam eficientes. Eu volto em seguida para me acorrentar de novo. E para que nós combinemos o que você tem que fazer.

O druida saiu da tenda e eu me atirei em cima do meu Amor, cobrindo-o de beijos e carícias. Ele acordou encantado e nós fizemos amor com arrebatamento e comoção. Quando enfim nos afastamos alguns centímetros, Mestre Kelvin entrou de volta na tenda.

– Muito bem, meninos, agora já chega. Já mataram as saudades. Agora ouça com atenção, Gilles de Troyes, porque é você que tem que agir. Veja bem: o grupo de alamanos que esteve aqui faz parte de uma grande força que está avançando por esta floresta para atacar a legião romana. Eles vão avançar por três direções diferentes. Uma quarta divisão virá de Troyes, pelo sul, para atacar e servir de isca para os romanos. Quando estes estiverem em combate, os outros três grupos alamanos que avançarão pela floresta vão cair sobre a legião e destroçá-la.

Meu general abade completou:

– Meu amor, se isso acontecer, nada mais vai poder impedir o avanço dos alamanos pela Gália, será uma catástrofe total. Você precisa sair daqui imediatamente e localizar esses grupos de alamanos que avançam pela floresta. E, tendo feito isso, precisa dar um jeito de alertar os romanos enquanto é tempo. Se você conseguir fazer isso, a situação pode se inverter. Se os romanos souberem que vão ser atacados e como, eles podem se antecipar e transformar uma provável derrota numa grande vitória e podem nos livrar dessa praga para sempre.

– Eu quero saber uma coisa: Por que estes alamanos que aprisionaram você brigaram feio com os que vieram visitá-los?

–Ah, você viu! Pois eles queriam que Walmaric e seus homens fossem se juntar a eles. Mas este patife se recusou, disse que ele ataca e pilha por conta própria. E que não vai colocar sua tropa em risco, combatendo a legião. Walmaric e seus homens são apenas um bando de salteadores, eles são cerca de quatrocentos e não se submetem nem se unem a outros alamanos. Por isso saiu aquela briga.

– Mais uma pergunta: Por que, já que nosso druida pode se livrar da corrente quando bem entender, vocês não fogem? Venham comigo agora, o que os impede?

– Alline, meu amor, eu e seu mestre Kelvin temos que continuar com este grupo de alamanos, porque nós temos um plano para acabar de vez com a ameaça que ele representa.

– Isso mesmo, minha discípula. Você se encarrega da legião, nós dois vamos dar um jeito nesse bandido Walmaric. Vai valer a pena. No final, com você e nós vitoriosos, os alamanos serão varridos da Gália e teremos paz. Agora despeça-se do seu marido e vá cumprir sua parte da missão.

E foi o que eu fiz!

– Então foram Lucius Dracus e Kelvin da Bretanha que deram essa missão a você! Por deus Marte, além de devermos nossas vidas a você, as devemos a eles também.

– Bem, general, foram eles os que ouviram os planos dos alamanos em primeiro lugar. Depois eu, durante os três dias em que segui os diferentes grupos na floresta, pude ouvir e confirmar que a estratégia seria essa mesma. E o resto os senhores sabem muito bem como aconteceu.

– O resto é a história de como você nos ajudou, salvou e nos encheu de exemplos de qualidades e virtudes que nós já esquecemos há muito tempo. E, por causa de tudo isso, nós a queremos recompensar em nome de Roma. Pensamos em lhe dar terras e uma grande recompensa em ouro. E isso você não poderá recusar, porque não tem nada a ver com sua arte de curar. É a recompensa por ter salvo milhares de vidas romanas.

– Pois eu troco tudo isso, de bom grado, general, por uma única coisa.

– Pois então diga, Alline, pois nós estamos ansiosos para demonstrar a você que Roma sabe ser grata a seus benfeitores.

– General, general, eu sei o quanto Roma foi grata a Lucius Dracus por trinta anos de dedicação a sua defesa: tornou-o proscrito e expropriou todos os seus bens! Pois é este o meu pedido, general: troco toda a recompensa em bens, se o senhor empenhar todo o seu prestígio e de seus amigos senadores e militares, para lograrem a reabilitação do general Lucius Dracus.

– Mas, minha filha, isso significaria entrar em confronto direto com o mais importante conselheiro do imperador Valentiniano, o detestável Constâncio!

– E o senhor não correria tal risco pelo general Lucius Dracus, não é mesmo, general Jovinus?

– Não, não correria tal risco por ele, porque não devo nada a ele. Mas devo TUDO a você, Alline de Troyes: minha vida, minha vitória sobre os alamanos, o grande impulso que isso representa para a minha carreira. Devo a você, Alline e vou pagar correndo todo e qualquer risco que for necessário. Nem que isso seja o fim da minha carreira, nem que isso signifique o confronto direto com Constâncio. Eu lhe prometo e garanto: de hoje em diante farei ouvir minha voz em defesa de Lucius Dracus. E hei de conseguir dezenas de outras adesões importantes. Constâncio não terá que se haver só comigo, mas com uma grande parte das legiões e do senado também.

– E eu entrarei nessa luta também, Alline de Troyes, mesmo sendo apenas um centurião. Mas sei de alguém de grande influência em Roma, Ravenna e Constantinopla que ficará muito contente por poder enfim mostrar sua gratidão a você. Eudorus e sua família podem mover céus e terras em benefício de uma pessoa, quando querem.

Alline não disse nada. Abaixou a cabeça, colocou as duas mãos na testa, encobrindo os olhos e deixou-se ficar assim por um minuto. Quando retirou as mãos e ergueu a cabeça, os dois romanos viram que a face da gaulesa estava banhada em lágrimas. Mais uma vez ela os surpreendia. Tendo a oportunidade de ganhar terras e uma grande quantia em ouro, ela abria mão de tudo isso por outra pessoa. As lágrimas de Alline eram de comoção e eram de gratidão. Agora ela é que estava grata pela demonstração de amizade – por que era isso mesmo o que estava evidente ali – por parte do General Jovinus e do centurião Marcellus.

CONTINUA: O Perverso Walmaric

Nenhum comentário:

Postar um comentário