MILTON MACIEL
– Você tem direito a três pedidos. Mas, por
favor, seja sério. E seja breve.
– Ahnn? Como assim três pedidos?
– Ora, seu bebum inconveniente! Três
pedidos, ora bolas. E ande logo que eu tenho pouco tempo.
Aí eu olhei bem aquele maluco, que devia
ter saído deu uma festa de réveillon, todo fantasiado com uma roupa meio de
bichona:
– Mas quem é você, seu maluco? Que papo
mais doidão! Andou cheirando todas, é?
– Não. Mas você andou bebendo todas, sua
besta. Ande, faça logo seus três pedidos que o tempo está passando?
Aí eu caí na gargalhada:
– Mas você não me disse quem é. E mamãe me
falou para eu não conversar com estranhos.
– E você deu para obedecer a mamãe depois
dos quarenta anos, seu idiota?
– Xi! Você me ofendeu agora! Me chamou de
idiota!
– E você não é?
Tive que concordar. O cara estava certo:
– Sou.
– Ainda bem que reconhece. Mas e os
pedidos?
– Mas quem é você, que sabe que eu sou um
idiota?
– Tá bem, tá bem. Eu me rendo. Só um idiota
para não reconhecer que eu sou um gênio!
– Humm... Não sei se você é tão inteligente
assim. Mas que é muito convencido, isso você é. Um gênio... Ele se acha um
Einstein! Qual é o seu QI, cara?
– Pelas barbas do Profeta! Você é burro
demais ou está bêbado demais? Eu sou o gênio da lâmpada, imbecil!
– Lâmpada? Que papo mais maluco, seu
doidão... Que lâmpada, cara?
– A que você chutou ali na calçada, antes
de tropeçar e se agarrar no poste.
– Ah, a lâmpada do poste! Ué, mas este
poste não tem lâmpada, só tem um porrada de fio.
– Não, seu palerma. A lâmpada mágica que
você chutou, aquele troço que está brilhando lá no chão, dou outro lado da rua.
– Aquilo é uma lata de cerveja!
– Não, imbecil, aquilo é a minha lâmpada.
– Bom, se é sua, então vai pegar. Eu chutei
aquela porra sem querer, vê se não me enche por causa disso.
– E os três pedidos? Vamos lá, por Allah,
os três pedidos!!!
– Allah? Profeta??? Cara, você também foi
ver o Lawrence da Arábia, não é? Pobre do Peter O’Toole, tinha que morrer logo
agora que todo mundo tá passando um porrada de filme dele em tudo que é
lugar...
A voz que veio a seguir, gritada, era de um
sujeito que tinha perdido completamente a paciência:
– Os seus pedidos!!! Faça logo os seus
pedidos!!!
Aí fui eu que me queimei. Eta, sujeitinho
cacete! Ninguém grita comigo assim! Falei no mesmo tom pra ele:
– Pode ser um pedido só?
– Bem, não é regulamentar... Mas... já que
você quer... Na certa é mais um daqueles que acham que basta ter muito dinheiro
para comprar tudo o que querem. Um pateta mesmo.
Quando vi que o abusado tinha me chamado de
pateta, eu o fulminei, encerrando de vez aquele papo pinel:
– Pois eu só quero uma única coisa: Eu
quero que você pare de encher o meu saco e suma de uma vez por todas da minha
frente. DESAPAREÇA DA MINHA VIDA!!!
Aí foi a vez do cara: Ele me olhou como
quem não acredita no que está ouvindo e deu uma sonora, uma enorme gargalhada.
E começou a se desmanchar na minha frente. Virou uma espécie de nuvem de vapor,
que foi diminuindo de tamanho e, atravessando a rua, se enfiou dentro daquela
lata de cerveja vazia lá do outro lado.
Eu caí na gargalhada outra vez:
– Porra! Que porcaria de vodca essa que me
deram lá no Carlão. Olha eu aqui, tão doido que chego a ver um grandão que me
xinga e some numa latinha de cerveja amassada...
Ainda tive a
impressão de ouvir a voz do cara, vindo de dentro da lata de cerveja, lá do outro lado da rua,
– Sua vontade é uma ordem, amo! Ha, ha, ha!!!
Nunca vi alguém tão imbecil em cinco mil anos...
– Ora, lata de cerveja falando!...
Francamente, eu tenho é que parar de beber. Pronto, esse vai ser o meu voto pra
2014! Vou parar de beber e ver se consigo ganhar uma grana pra sair dessa pindaíba
infeliz...
Mas não pude segurar a terceira gargalhada:
– Ora, francamente! Lata de cerveja falando
e eu prometendo deixar de beber... Só rindo mesmo.
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