MILTON MACIEL
Tirei o revolver
do bolso e fiz girar o tambor. Seis balas! Aí olhei outra vez pra garota. Saco! Ela estava tremendo de medo,
escondida no meio daquele monte de palha úmida e mal cheirosa. Tentei
acalmá-la, estava com receio que ela entrasse em pânico e saísse dali ou, pior,
começasse a gritar.
– Fique firme
aí. Pode ser que o cara nem venha pra cá.
Mas o desgraçado
continuava avançando pelo pasto, diretamente na direção deste galpão onde a
gente se meteu. Mais uma vez saquei o revolver do bolso e fiz girar o tambor.
Seis balas era tudo o que eu tinha, não havia munição sobressalente. Pensei
comigo: É a primeira vez que eu vou
atirar num policial. Se eu não acerto o alvo, estou acabado. E a pobre da
garota também. Coitada! Difícil acreditar que ela já tenha dezoito anos…
Ela olhava o revólver na minha mão com os olhos esbugalhados, fazendo que não
com a cabeça, sem parar.
Pra aumentar
nossa tensão, o diabo do tira resolveu parar e fumar um cigarro, na sombra de
um pé de umbu. Mas não tirava o olho do nosso galpão. O maldito tem certeza que
a gente está aqui. E daqui não tem mais lugar algum pra onde correr, ao redor
só tem pasto e vaca leiteira. Daqui a um tempinho o filha da puta recomeça a
andar e vem direto pra boca do lobo. E aí a bala vai comer solta. Eu tenho seis
chances. Ele, provavelmente, tem muito mais, deve ter munição pra recarga, é um
profissional. E, por isso mesmo, deve atirar muito melhor do que eu.
Mas agora nada
disso interessa. O que interessa é que eu tenho seis balas e uma necessidade premente
de tirar esse maldito do caminho. E juro que é até mais por causa da menina do
que por minha causa.
Continuei
olhando por aquele providencial buraco na madeira carcomida do galpão. Quanto
tempo mais eu tinha? Uns três, quatro minutos… Podia acontecer que fossem esses
os meus últimos minutos de vida. Mas podia ser que fossem os últimos daquele
desgraçado, que tinha saído da estrada no nosso encalço, quando nós deixamos o
carro e saímos correndo pelo campo desta fazenda, em direção a este galpão, que
é um velho estábulo minúsculo, possivelmente abandonado.
Afinal, não
tinha mesmo jeito de o meu carrinho conseguir correr mais que o possante
daquele tira. Era questão de minutos e ele nos alcançava. Aí fiquei com medo
que ele, ao nos ultrapassar, atirasse em mim e acabasse acertando a garota ao
meu lado. Resolvi que a gente tinha que correr e tentar a sorte neste pasto.
Tanto ela, quando eu, somos leves e delgados e eu costumo correr meus 10
quilômetros quase todas as manhãs, Já o tira é peso pesado, gordo, barrigudo,
não é páreo pra gente. Mas a menina entrou numa de pavor, quando a gente passou
por este galpão. Ela se enfiou aqui pra
se esconder, uma tremenda roubada, e não teve jeito de convencê-la a sair.
Quando enfim eu estava começando a arrancá-la a pulso daqui, o tira apontou
perto das árvores. Tarde demais. Tá na cara que tinha dado pra nos ver entrando
aqui.
Então, já que
estes podem ser os últimos minutos de vida pra mim, vou aproveitar a trégua e
passar famoso o filminho da minha vida. Tomara que o nojento demore bastante
pra fumar aquele mata-rato.
O trecho de
filme que interessa começa dois anos atrás, somente. Eu estava naquela mediocridade
que era minha vida de sempre. Mas alguma coisa então mudou. De repente, o
negócio em que eu tinha me aventurado na Internet, começou a dar certo. Quase
um ano depois de ter entrado em vários programas afiliados, um deles começou a
vender de verdade e eu peguei o jeito, comecei a ganhar dinheiro mesmo e deixei
logo o meu emprego no banco. Mas a complicação só começou quando eu aluguei um
apartamento maior.
Pouco dias
depois de ter mudado pra lá, me livrando de umas tralhas que o morador anterior
tinha deixado ali, encontrei uma carta endereçada pro sujeito, um tal de
Kleber. Pra você ver como são as coisas. Era só jogar aquela carta no lixo,
junto com tudo o mais. Mas não, eu tinha que abrir e ler aquela coisa!
Cara, a carta
era coisa braba! Uma garota, uma tal de Nely, escrevia pro tal Kleber dizendo
que, com o dinheiro que ele tinha dado pra ela fazer o aborto, ela tinha fugido
de casa e alugado um lugarzinho pra ficar no interior. Aí arranjou um trampo,
teve a criança num hospital público e estava na pior, sem emprego, sem grana
pra ela e pra criança e a família dela não queria ver as duas nem pintadas de
ouro.
Achei que, pelo
jeito, o tal Kleber não tinha dado a mínima. Na carta havia um número de
celular, mas a carta era de dois anos
antes. Será que ainda valia? Bom, eu não tinha nada que me meter, mas… Sei lá,
quando vi eu estava ligando praquele número. E uma voz quente e gostosa atendeu
do outro lado. Era a Nely! Na hora me deu uma vontade maluca de ver como ela
era, dá pra acreditar? Falei que o Kleber tinha me dado o número dela e ela
ficou muito surpresa. Estava morando em Americana. Sem falar mais nada pra ela,
peguei o carro e me toquei prá lá na mesma tarde.
Bem, o que
aconteceu? Aconteceu que eu me enrolei todo com a Nely. Foi amor à primeira vista,
juro. Fiquei com os quatro pneus arriados quando vi como era linda aquela
mulher! Que rosto, que corpo! E ela era
super legal. Tinha 24 anos agora e tinha um trabalho até que razoável, dava pra
se manter bem e a casa que ela tinha alugado era muito maneira. Mas foi quando
eu vi aquele molequinho que eu acabei de me derreter. Ele correu pra mim, pulou
no meu colo, passou o resto da tarde me alugando. Voltei no outro dia, à noite.
E no sábado. E aí já fiquei num hotel, pra estar disponível no domingo cedo e
passear o dia todo com eles. Bom, a coisa pegou fogo. Eu fiquei completamente
entregue àqueles dois.
Uma semana
depois eu acampei na casa dela com o meu escritório central ou seja, apenas um
raquítico netbook e um modenzinho de computador. Isso é, até hoje, tudo o que
eu preciso pra ganhar o meu dinheiro, não importa onde eu esteja, desde que tenha
Internet. Assumi o aluguel da casa, busquei o resto dos meus bagulhos e
entreguei o apartamento de São Paulo.
Cara, eu, de
repente, estava casado na prática, feliz pra caramba, adorando aquela gata e
adorando a criança, o Paulinho. Ele, um grude comigo. Ela, muito boa de cama.
Mas alguma coisa ainda faltava. Com o tempo comecei sacar que a cabeça dela
ainda estava muito parada no tal de Kleber. Um dia não aguentei mais e dei um
aperto nela. Ela chorou e acabou confessando:
– Você não merece isso, você é tão bom pra mim
e pro Paulinho! Ele é o pai do meu filho, mas o pai verdadeiro pro meu filho é
você, você é que está sempre aqui disponível. E você é um amor. Que dó que me
dá, eu ainda não consigo tirar aquela desgraçado do meu pensamento, ainda amo aquele
homem.
Cara, foi duro!
Daquele dia em diante eu não tive mais sossego. Comecei a odiar esse tal de
Kleber! Então o cara engravida a menina, não assume o filho, paga pra ela
abortar e acaba com a vida dela. Ela tem um pai caretão, perde a família, vem
ter o filho sozinha numa cidade estranha, uma barra. E, ainda assim, continua
parada na daquele filho da puta?!
E aí a coisa
ficou muito pior! O tal Kleber era roqueiro, tinha banda e estava começando a
se dar bem, estava faturando e tendo fama agora. Então, numa certa noite, o desgraçado me aparece na televisão, ia se
apresentar em Campinas. A Nely enlouqueceu. Tinha show na sexta e no sábado.
Ela chorou e me pediu perdão, mas disse que precisa ir ver o maldito e levar o
Paulinho, o meu Paulinho, pro pai conhecer! Fiquei absolutamente emputecido. Não
era possível. Já fazia quase dois anos que eu era o homem da Nely e o pai do
Paulinho. De repente pinta aquele animal e ela fica ensandecida. Ia se tocar
pra Campinas no sábado, quando não trabalhava. Ia levar o meu menininho, ia dar
pro maldito, era só o cara estalar os dedos e a trouxa abria as pernas de novo.
E era capaz de voltar outra vez prenhe do sujeito.
Eu tinha que
fazer alguma coisa! A Nely não me amava, mas eu amava a Nely loucamente. E
amava o Paulinho demais, também. Sim, eu tinha que fazer alguma coisa! E tinha que fazer bem feito. Algo definitivo. Foi aí que eu comprei este revólver!
Saí de casa,
falei que ia voltar pra São Paulo. Ela se desesperou, sabia que podia passar
sem mim, se reconquistasse o tal Kleber, mas sabia que o Paulinho não conseguia
mais viver sem mim. Eu também não conseguiria viver sem meu molequinho, mas
fingi e dei uma de durão, botei minhas coisas numa mala e fui embora de carro
pra São Paulo. Que era pra Campinas, na verdade. Isso foi na quarta feira. Tive
dois dias pra reconhecer o lugar do show, consegui entrar ali de dia, era uma
casa de shows anexa a um grande restaurante. Apareci sempre de peruca, óculos
escuros, roupa de metaleiro. Na sexta pensaram até que eu era um dos músicos de
apoio da banda.
Entrei cedo e me
escondi num dos camarins, que eu já sabia de antemão que ia ser onde o cara ia
se arrumar. O melhor ia ser o do meu inimigo, o vocalista, o bonzão da banda. A
peça era uma zona, tinham adaptado aquilo de um depósito de fábrica, tinha
pilhas e pilhas de madeiras e de restos de cenários. Me enfiei por ali, era
escuro pra burro sem a luz acesa. E esperei que o desgraçado aparecesse.
O show estava
marcado pra 11 da noite. O nojento apareceu meia hora depois, atrasado, bêbado ou
cheirado, não sei, mas tava tontão. Entrou com uma garotinha bem novinha, coisa
de uns treze anos e comeu a garota na marra, ali, trepada em cima da mesa de
maquiagem do camarim. Eu tinha feito o meu plano de apagar o sujeito na hora
que ele fosse sair do camarim para o palco. Mas quando vi o que ele estava forçando
aquela quase criança na marra, embolachando a cara dela e tapando a boca da
menina pra ela não gritar, perdi a cabeça. Ia ser agora!!!
No outro dia eu deu
tudo no jornal de Campinas:
Os caras ouviram
dois tiros, vindos do camarim do cantor. Correram pra lá e encontraram o cara
baleado, morrendo, chegou morto no hospital. Bem, desse mal a minha Nely estava
curada!
Mas aí eu tinha
que correr pra salvar a pele. O diabo do tira gordo já estava na nossa cola. Nossa???
Sim, minha e da outra moça, a que atirou no Kleber. Pois veja como são as coisas, amigo: Ali,
naquele enorme camarim, misto de coxia de teatro, além da menina que o boçal
violentou, além de mim e do meu revólver engatilhado, tinha uma terceira
pessoa. E ela também estava armada. E ela também queria matar o tal Kleber. E
ela conseguiu! Foi ela quem atirou à queima roupa, na nuca e nas costas do
maldito, bem na hora que ele estava se retirando da criança. Morreu sem saber do
que, nem por que.
Mas eu entendi
tudo numa fração de segundo: a menina estava visivelmente grávida. Aquele
idiota, pelo jeito, nunca usava camisinha! Na hora eu pensei na Nely, que tinha
passado por isso também, pensei na garotinha que estava aos berros, apavorada,
talvez a caminho de engravidar também. Mas pensei principalmente na menina que
tinha feito o serviço pra mim. Graças a ela, eu não era um assassino!
Ela era! E eu
precisava livrar a cara dela. Ela tinha me aliviado dessa e tinha resolvido o
meu problema com aquele encosto do diabo. O mínimo que eu tinha que fazer era
livrar a cara dela também. Aí, quando eu vi que ela tinha se sentado calmamente
numa cadeira, esperando chegar gente pra se entregar, dei-lhe um enorme
safanão, peguei a dita cuja pelo pulso e arrastei comigo pela outra entrada,
que eu tinha descoberto e limpado pra poder fugir. A garota levou um susto
enorme, não tinha me visto ali até então. Eu fiz sinal pra que ela ficasse
quieta e corresse comigo.
Bom, eu não
tinha nada com o crime dela, era só cair fora e me safar na boa, deixar que a
polícia pegasse a garota e pronto. Mas não deu, amigo! Eu fiquei com a menina.
Saímos pelos fundos, a coisa estava começando a ferver lá dentro. Eu tirei a
peruca e a barba, os óculos escuros, a blusa de metaleiro, enfiei tudo na
mochila. Enfiei também, a arma do crime, que eu tinha arrancado da mão dela no
camarim. Fiquei irreconhecível, era só eu mesmo outra vez. Mas a mocinha tinha
sido vista, evidentemente. Aí apareceu este gordo metido que está terminando de
fumar, a 50 metros daqui. Começou a investigar e, em poucos minutos, já estava
saindo atrás da garota. Esse abelhudo dos infernos, cujo bucho eu espero encher
de chumbo em poucos minutos.
É, meu amigo
imaginário, enquanto eu finjo que converso com você, o rolha-de-poço já está no
fim do cigarro dele. E, portanto, o filminho da minha vida já está acabando
também, Aí vem o letreiro: The End!
Dele? Ou meu? É, tá bem na base do quem
viver verá. Nossa, preciso acalmar essa menina, ela vai ter um troço, treme
como vara verde, vai perder essa criança!
Também, esse jamanta
é mesmo um bom policial. Deve ter conseguido várias descrições da mocinha e,
quando entrou no bar em frente – porque esse merda tinha que inventar de
comprar cigarro justo ali?! – viu a menina comigo. Acho que não ia se tocar, se
eu não tivesse feito a asneira de comentar com a garota que aquele cara era da
polícia, que eu tinha visto quando ele saiu da viatura no beco. Aí a garota
começou a tremer e a dar bandeira. O sujeito marcou a cara dela, lembrou das
descrições, roupa, cabelo, etc. e veio pra cima. O jeito foi correr pra fora. E
aí eu me desgracei todo. O tira me sacou do jeito que eu sou e eu passei a ser
cúmplice pra ele. Eu corri pro meu carro, que eu tinha deixado bem perto dali,
o gordão foi pro dele, cantou pneu atrás de nós. Por sorte, em seguida eu peguei
uma estrada vicinal, de barro, já no início da zona rural.
E é isso, agora
o infeliz está vindo. Agora é ele ou eu. Eu ou ele. Pobre garota, o que vai ser
dela, se o cara acaba comigo? Vai pra cadeia, a coitadinha. Quase uma criança
também, mais uma iludida que vai se oferecer pra artista, sabe-se lá o que o
nojento não prometeu pra ela, pra ela ficar tão emputecida a ponto de arranjar uma
arma e partir pra liquidar o maloqüento!
Pronto, o filha
da mãe acaba de abrir a porteira e está afastando as vacas. Deixa eu pegar
posição de tiro. Bem se vê que ele é uma besta, mesmo: Pra que dar tapa nas
coitadinhas das jérseis? Não tem vaquinha menor nem mais fofinha que uma jérsei.
Amorosa, inofensiva. Desgraçado, vou te enfiar uma bala nesses cornos em nome
dessa vaca que você está chutando. E da bezerrinha também, seu maldito!
O dedo coçou o
gatilho, o olho dormiu na mira. O fator surpresa era meu! Mas justo nessa hora
o cara fez uma tremenda duma burrada. Bem se via que o idiota não manjava nada
de gado leiteiro!
– Não, não, seu
ignorante, isso não é uma vaca, sua besta! Não está vendo que é bem maior? Isso
é um touro! E é um touro jérsei!!!
Cara, se você bater nesse bicho como fez nas vacas…
Bateu!!! O
imbecil bateu com toda força na cara do touro. Justo um touro jérsei! Um
assassino maluco!…
Eu não falei?
Olha ali: o touro imprensou o idiota contra a parede do galpão. Puta, tá dando
cada cabeçada no peito dele! E não pára! Esse tira já era!
– Ei, menina,
pode sair daí. Chegou a cavalaria, estamos salvos. O tira não tem mais peito,
já era, apagou. Morreu na hora. Agora vamos tratar de cair fora. Vamos pro meu
carro na estrada de novo. Vamos pra São Paulo.
E estamos aqui
os dois, agora, num hotelzinho treme-treme da Barra Funda, já faz uma semana.
Um casalzinho novo, pra todos os efeitos. Mulherzinha novinha, grávida. Todos simpatizam
com a gente. Claro que eu respeitei a menina, não ia me aproveitar da desgraça
dela. O nome da garota é Sabrina, está
de cinco meses. Do cara que ela despachou, é claro.
A Nely me ligou
no celular no domingo, me contou que uma moça desconhecida tinha matado o
Kleber, que ela estava livre agora daquela fixação doentia. Me pediu perdão, chorou
muito suplicando que eu volte pra casa. O Paulinho não quer nem comer, disse
ela. Acredito. Eu também estou morrendo de saudade dele. Expliquei que eu
preciso de um tempo, que eu ainda estou muito mexido, muito machucado pelo que
ela me fez. Mas que eu ainda a amo e que vou voltar pra casa, sim, só preciso
de um tempo. Ela concordou e me fez jurar que eu vou dar uma outra chance pra
ela, me garantiu que agora ela vai se entregar de verdade, não só de corpo, mas
de alma também.
Que maravilha! Eu
preciso de um tempo, mesmo. Mas de um tempo pra dar um jeito na Sabrina. Já
disfarcei a bichinha. Bichinha mesmo! Vesti ela de homem, ficou uma bicha
completa, isso é muito feminina. Arranjei um documento falso pra ela viajar,
vou levar a pobrezinha pro Nordeste. Estou levando um documento falso de mulher
também, lá ela deixa de ser o bichinha. Mas também não pode mais ser a Sabrina,
que a polícia tá feito louca atrás dessa aí. Vamos de ônibus até Salvador. Vou
bancar a coitadinha por lá, ajudar à distância pra ela ter a criança, começar
vida nova depois, Deus queira que ache um homem melhor nesta vida. Acho que
numa semana resolvo toda a parada pra ela e aí volto correndo pro meu
molequinho e pros braços da minha Nely.
Que karma esse
meu, de ter que cuidar dos filhos daquele imbecil do Kleber! A propósito,
quando eu voltar a Campinas, vou tentar descobrir quem é a garotinha
que o marginal violentou aquela noite. Quem sabe não tenho um terceiro filhinho
a caminho. Ah, eu adoro crianças!
Como é que eu vou
fazer?Ah, eu dou um jeito. Pode ter certeza.
Também, depois
que, por duas vezes, eu me preparei pra matar um homem e, na última hora, Deus
não deixou - duas vezes não! - acho que vou fazer as pazes com Ele e Ele vai dar um jeito pra eu
arranjar ume esquema e poder cuidar dos meus molequinhos. Com as mãezinhas eu
não quero nada, cara, só quero ajudar. Tudo o que eu quero é a minha Nely e o
meu Paulinho!
Bom, pensando
bem, pra alguma coisa aquele mala do Kleber serviu! Que bom que eu aluguei aquele
apartamento onde o piolhento tinha morado antes! E que não acabei nem furado de bala,
nem mofando numa cadeia. FIM !
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