FINAL COMPANHEIRA
MILTON MACIEL
O velho gaúcho,
na noite voltando,
ao tranco sereno
do seu animal,
à Lua confia
lembranças de quando,
piazito, corria
que nem um bagual.
De volta pro
rancho, tristeza levando
como
companheira... solito no más.
Do moço valente
não resta mais nada.
Do guapo vaqueiro
nem é bom lembrar.
Namoros, peleias,
carreiras, tropeadas,
são coisas que o
tempo só fez carregar.
O rumo prá frente
é fria invernada,
Velhice, sem
volta, reponta de trás.
Quem diz que essa
mão, que mal segura a rédea
Empunhou laço e
espada e lança e punhal.
Deu tapa e
carinho, deu gozo e tragédia,
fez vida, fez
morte, fez bem e fez mal.
E olhando prá
tudo, tirando uma média,
sobrou quase
nada, memória fugaz...
E triste e
sozinho o velho troteia,
levando consigo a
certeza final:
Que a morte, que
é certa, por ali vagueia,
final
companheira, derradeira e leal.
Quem sabe
trazendo, como a Lua cheia,
igual sensação de
descanso e de paz
Salvador, Dez.
1985
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