sábado, 7 de julho de 2012


.OUTRAS MANIFESTAÇÕES DE MACHISMO - 1ª. parte
MILTON  MACIEL

Não é apenas nos focalizando no alto índice de violência contra a mulher que nós vamos fazer face àquilo que a origina, o machismo. Evidentemente precisamos socorrer as vítimas e procurar impedir que o indivíduo violento continue se impondo pela agressão concreta. Mas isso é fazer uma necessária, porém não suficiente carga contra os efeitos exteriores de uma causa interior.

Se queremos chegar a algum lugar nessa luta, nosso combate tem que se situar no campo psicológico e educacional. Veja bem, estou de propósito enfatizando o campo psicológico em primeiro lugar, porque não basta falar, mostrar estatísticas, emocionalizar mesmo, através de atitudes que vão atingir a pessoa de fora para dentro, numa necessária, porém ainda não suficiente intervenção educacional.

É preciso ir mais fundo e procurar atingir o indivíduo de dentro para fora, isto é, levando-o a encontrar sua própria Sombra interior, um conjunto complexo de condicionamentos que o predispõe a comportamentos machistas de intimidação, predação e agressão.

Evidentemente isso, no Brasil de hoje, chega a parecer utópico. Contudo é essencial que se mantenha essa visão mais abrangente como meta a ser alcançada um dia e que ela oriente todos os nossos procedimentos técnicos. Afinal estamos falando de uma condicionante psicológica que se manifesta exteriormente da mesma forma que aquela que conduz ao alcoolismo.

O machista foi condicionado a ter comportamento machista em casa, reforçando com isso a propensão atávica que está no Inconsciente Coletivo da cultura patriarcal machista. Em resumo, machismo vicia. Leva o indivíduo a desenvolver uma dependência psicológica da auto-afirmação pelo machismo e a estabelecer, por conseqüência, relações francamente sádicas ou sado-masoquistas.

Podemos exemplificar essa dependência psicológica com diversas formas de sua manifestação exterior. Muito antes que a violência física se manifeste, há inúmeros outros comportamentos sugestivos do machismo nas relações.

A recusa a usar camisinha é um dos mais típicos. É um ato tão primitivo que o troglodita que tenta impor sua vontade naquele momento desconsidera não apenas o risco de gravidez e de infecção com DST a que expõe a parceira, mas também o risco próprio, já que ele pode ser a parte que será infectada. Muito ao contrário, considerando-se o líder natural do ato sexual, o macho-alfa perpétuo ao qual a fêmea tem a obrigação de se submeter, ele prefere os riscos a um eventual decréscimo em seu prazer imediato.

Outra manifestação de machismo, aparentemente branda, mas na verdade pesadíssima pela sobrecarga constante e diuturna que acarreta, por anos e anos a fio, é a recusa ou omissão em dividir com a companheira as tarefas domésticas. Isso é ainda mais extenuante quando esta companheira trabalha fora de casa o mesmo número de horas que o homem, tendo que assumir no retorno ao lar todas as tarefas que podem e devem ser compartilhadas. Predomina o pensamento machista que diz que isso é coisa de mulher, que homem não faz tarefas domésticas.  Mas é óbvio que, se esse mesmo indivíduo já morou ou tiver que morar sozinho no futuro, ele então se vê obrigado a desempenhar um bom número dessas “tarefas de mulher”.

Na continuação deste texto, vamos abordar as formas de o machismo se manifestar na relação do pai com o cuidado doméstico diário com os filhos. Depois abordaremos como o machismo prejudica seriamente o funcionamento eficiente das empresas. (MM) www.ideleditora.com.br  

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