E-BOOKS: o seu presente e futuro
como leitor e como autor
MILTON MACIEL
Neste artigo vou citar normalmente a Amazon, maior
livraria do mundo, como exemplo de operação do mercado de e-books. Mas esclareço que não sou vendedor dessa empresa e que o
que cito aqui pode, de um modo geral, ser aplicado a outras plataformas
concorrentes dela. Uso a Amazon como exemplo apenas por ter mais experiência
com ela.
Em 2008 a Amazon lançou o Kindle, o aparelho pioneiro dos leitores de livros digitais.
Custava quase 500 dólares. No ano seguinte, 2009, já a comercialização de
e-books para Kindle ultrapassava toda a venda (17%) de livros de capa dura na
Amazon. No ano seguinte, 2010, a venda de e-books na Amazon ultrapassou a venda
de todos os livros físicos de capa mole (brochuras). E no ano passado, na
Amazon, a maior livraria do mundo, a venda de e-books ultrapassou a venda total de livros físicos, brochuras e
capas duras.
É isso mesmo que você leu: mais e-books do que todos
os livros impressos!
O leitor Kindle, modelo inicial, hoje é vendido a 67
dólares. O Kindle Fire, uma espécie de irmão mais novo, um autêntico tablet atual com tela colorida, custa
menos de 200 dólares. E seu preço vai continuar caindo, pois a guerra dos tablets é total e todos eles são
leitores de e-books, não apenas da
plataforma Kindle da Amazon, mas também da plataforma Nook da Barnes and Noble,
da Kobo, da Sony, do Ipad. E ainda temos os leitores no Iphone e nos smart-phones Samsung e outros, que
funcionam com o sistema Android. Eu tenho uma verdadeira biblioteca em cada um
dos meus dois smart-phones Samsung, que
prefiro aos tablets, pois além de tablets
reais, eles também são telefones.
Quando poderia eu imaginar, apenas meia dúzia de anos
atrás, que um dia eu poderia ter no bolso da minha camisa mais de uma centena
de livros, entre eles a obra completa de Carl Gustav Jung, de Dostoievsky, de
Tolstoi, junto com livros da maior atualidade, lançados dias atrás. Imagine-se,
leitora ou leitor amigos, vocês com 112 livros de verdade, de papel e capa
grossa, no bolso da camisa! Não dá, não é?
O que facilita esse processo é que os livros não são
armazenados na memória interna do computador ou dispositivo de leitura, mas
ficam na “nuvem” de dados da Amazon, Barnes & Noble ou da Apple Store, etc.
Para ter acesso a eles, você precisa estar
conectado à Internet (ponto a favor dos smart-phones,
que independem de redes wi-fi no ambiente!). Isso apenas caracteriza o aspecto
pioneiro dos e-books, quanto ao uso das nuvens de armazenamento na rede,
tendência a se tornar totalmente dominante nos próximos anos.
Em outras palavras, a revolução atual dos e-books
veio para ficar. Não matará os livros de papel, as árvores ainda não terão esse
alívio de imediato. Mas a publicação de livros físicos certamente vai declinar.
Em especial, a revolução dos tablets vai atingindo as crianças, que vão se
acostumando rapidamente com essa nova forma de material de leitura, um
dispositivo do tamanho de um livro, porém mais leve e que é, ao mesmo tempo, um
computador. E como esses baixinhos de hoje sabem fazer coisas com um
computador! Agora esse computador lhes dá acesso a um enorme número de livros,
muitos deles interativos, mais revistas e até mesmo jornais para os mais
crescidinhos.
Minha esposa adora minha biblioteca no smart-phone:
posso ler na cama sem precisar deixar a luz de cabeceira acesa, o que atrapalha
o sono dela. Meus filhos também curtem uma outra praticidade do e-book em
celular inteligente: Agora eles vão para o banheiro sempre com os celulares,
não levam mais revistas ou livros. Como todos sabemos, aquele instante sagrado
nos banheiros brasileiros é um dos grandes promotores do salutar hábito de
leitura neste pais.
Por isso tudo recomendo, nos cursos de formação de
escritores que costumo dar, que os candidatos a escrevinhadores se preparem
para ter seus livros publicados no explosivamente crescente mercado de livros
eletrônicos. Ainda mais que esses e-books não são legíveis apenas em tablets, smart-phones, Nooks e Kindles. Você tem
aplicativos gratuitos para fazer downloads
de e-books em qualquer computador: desktop, notebook ou netbook. Um dos meus prazeres,
por exemplo, é conectar um notebook na TV de 52 polegadas, pela entrada HDMI, e
ler livros, revistas e jornais naquele monitor gigantesco, a metros de distância.
É também o melhor substituidor de comerciais que já descobri.
O download de um livro típico no formato Kindle leva
cerca de 2 minutos. Quer dizer, você entra no site da livraria, faz a compra em
3 minutos, o download em mais 2, a instalação local do arquivo em mais 2 e, sete
minutos depois de iniciar o processo de compra, você já está começando a ler.
Isso é... imbatível! Isso sem falar que existem vários milhares de livros de custo
zero para baixar. Dos livros de Jung, o que me custou mais caro, saiu por
2.95 dólares, seis reais hoje.
Uma outra coisa muito importante para os leitores de
português. A Amazon já está publicando livros em diversos idiomas além do
inglês. O português entre eles. Ou seja, agora você pode fazer o upload do seu arquivo para as diversas
plataformas e pouco depois já começa a tê-lo disponível no mercado. No caso da
Amazon, quando encaminho um arquivo de livro em inglês, 48 horas depois o
e-book já está disponível para o planeta
inteiro no formato Kindle.
No caso de um arquivo em português, eles
pedem cinco dias para poder passar o arquivo para a plataforma deles. Ou seja,
menos de uma semana depois de você fazer o upload
do arquivo do seu livro na Amazon, esta o disponibiliza para download em todo o mundo, Brasil incluído, em
português. Comparado com os longos meses (ou mais de ano) que você tem que
esperar até ter seu livro impresso e distribuído da forma convencional...
A produção de livros físicos também vai declinar por
outras razões.
Uma delas é no aspecto quantitativo: Graças ao
processo “printing on demand”
(impressão sob encomenda) não é mais necessário imprimir grandes quantidades de
livros previamente ao lançamento. Ou seja, vai-se imprimindo à medida que
entram os pedidos de livros. Sobre esse assunto falarei em uma próxima
postagem.
A outra razão é no aspecto relativo: Cada vez é maior
o número de títulos lançados como e-books, uma vez que o custo de publicação
tende a zero e os próprios autores podem ser seus próprios editores. Numa ótica
relativa, aumenta o percentual de títulos publicados como e-books, que não
ousariam ir à praça como livros físicos e isso provoca um encolhimento relativo
percentual dos livros físicos.
Mas há um outro fenômeno se observa em constante
crescimento: é cada vez maior o número de títulos que são lançados exclusivamente como e-books. Isto é,
nunca serão impressos! Por que razão? Bem a coisa pega aqui é pelo preço do livro. A maior parte dos
e-books é comercializada com preços abaixo de 10 dólares. O valor mais típico
está mesmo abaixo de 5 dólares, opção em que preferi situar meus próprios
títulos de e-book. Os grandes beneficiados aqui são o autor e o leitor. Por
que?
Tomando o exemplo da Amazon, se você fixa o seu preço
de venda em menos de 10 dólares, o seu royalty vai ser de 70%. Isso mesmo: 70
por cento! Se escolher colocá-lo acima desse valor, o royalty baixa para 30%.
Mesmo assim é muito mais que os magros 10% do preço de capa que o autor pode
obter no livro impresso. Veja que quem define o preço final de venda é sempre o
autor, não a Amazon.
Com custos de produção e distribuição absolutamente
irrisórios, a Amazon pode pagar esses royalties tão altos a ainda lucrar muito
com a parte que lhe toca. Evidentemente, a venda tende a ser muito maior se
você tem, contra a opção do livro físico a 20 dólares (mais frete), a opção do
e-book a 5 dólares; Agora veja o benefício para o autor:
Se ele escolhe seu preço final como 5 dólares e tem
70% de royalty, seu ganho é de $3.50 por livro. Isso equivale a ter que ter o
mesmo livro, se impresso, vendido por 35 dólares, para que ele possa ter o
mesmo royalty de $ 3.50. Agora pense só no potencial de venda de um título a 5
dólares versus a 35 dólares.
Obviamente em qualquer das duas opções, a Amazon irá
fazer o desconto legal do Imposto de Renda norte-americano, o que é
perfeitamente normal. E o pagamento é feito por depósito em uma conta que você
abre em um banco americano ou então pelo envio de um cheque para seu endereço,
todos os meses. E você pode, sim, mesmo não morando nos Estados Unidos,
publicar e receber normalmente os seus royalties da Amazon, pagos em dólares
americanos e descontadas apenas as taxas do IRS (imposto de renda).